Minicurso
Mudança linguística e Ortografia Prof. Cesar Casella Setembro, 2013
EMENTA Este minicurso visa mostrar aos participantes como a mudança linguística afeta a ortografia da língua portuguesa utilizada no Brasil. A mudança linguística, conceito chave da inguística !ist"rica, denomina o fen#meno da variaç$o diacr#nica das línguas, isto %, o ine&or'vel processo de alteraç$o das línguas ao longo do tempo. Este processo atinge os v'rios níveis (fon%tico, morfol"gico, sint'tico, etc) de an'lise linguística e ser' visto, neste minicurso, em seus efeitos so*re a ortografia. +ara isto mostraremos um *reve hist"rico da implementaç$o da ortografia oficial, intentando esta*elecer a noç$o de ue a ortografia % convencional e ar*itr'ria, regida por decretos e leis, e ue por isso mesmo varia e muda conforme as necessidades e conhecimentos, press-es e resistncias de cada período hist"rico. Al%m disto, apresentaremos dados, impressos e manuscritos ue co*rem o período de /012 a 34/1, ue permitam visualizar a mudança linguística efetivamente ocorrida na ortografia do portugus.
Mudança lin#u"stica “(...) por ser um instrumento de interaço entre os indi!"duos dentro de uma comunidade, as l"n#uas naturais tendem a !ariar e a mudar com o tempo. $m outras pala!ras, % parte da nature&a essencial da l"n#ua a e'istncia de !ariaço (formas de e'presso alternati!as, ue coe'istem em um mesmo per"odo de tempo) e mudança (sur#imento de no!as formas de e'presso, com o poss"!el desaparecimento de outras mais anti#as)* M+rio $duardo M-$/ (2011, 1)
s !+rios n"!eis lin#u"sticos mudança en!ol!e diferentes n"!eis lin#u"sticos. m e'emplo (M-$/ 2012, 2124), % a mudança de em boa hora 5 embora, ue transformou uma e'presso ad!erbial modo temporal em uma con6unço concessi!a. ponto de partida, em boa hora, era uma e'presso ad!erbial de !alor temporal #eralmente acrescida, por sinceridade ou cortesia, a frases optati!as ou imperati!as.
s !+rios n"!eis lin#u"sticos Como era muito usada, a e'presso passou por um fen7meno fon%ticofonol8#ico, comum na fala menos monitorada, c9amado reduço fon%tica (o mesmo ue ocorre com alá : ;ol9a l+; ou ossó : ;ol9a s8;). Mas o sentido continua!a< (01) =a>te em*ora, ou na m+ 9ora. o mesmo tempo, ocorre a a#lutinaço, no n"!el morfossint+tico, e a e'presso !ira uma ?nica pala!ra. @ o processo de uni!erbaço.
s !+rios n"!eis lin#u"sticos Com o tempo, o sentido ori#inal foi assumindo dois !alores distintos, num processo de distinço semAntica< (02) $les uiseram ir em*ora. (03) Em*ora isto se6a en#raçado, ele no riu. $m (02) temos um ad!%rbio com sentido de afastamento e ue no se li#a mais a !erbos est+ticos. $m (03) temos uma con6unço de !alor concessi!o. $m ambos 9+ um enfrauecimento do !alor temporal do ori#inal.
s !+rios n"!eis lin#u"sticos Para ue a con6unço concessi!a se estabili&e foi preciso ue ocorresse um direcionamento pra#m+tico, uma ne#ociaço de sentidos feita entre interlocutores em conte'tos comunicati!os, ue passa a ser aceita e reutili&ada. m momento em ue a e'presso aduire um se#undo padro de uso, amb"#uo em relaço ao ori#inal. (04) -ia em*ora uem uiser, ue eu em meu siso estou.
Bramaticali&aço “(...) esse processo de mudança en!ol!endo embora caracteri&a o ue c9amamos de gramaticalização, ou se6a, um tipo de de alteraço de !alor da e'presso lin#u"stica ue a le!a a assumir funçes de car+ter #ramatical, t"pico de con6unçes, preposiçes e outras cate#orias de elementos ue a6udam a or#ani&ar o te'to nas diferentes situaçes de comunicaço.* (M-$/ 2012, 24)
rto#rafia “ orto#rafia de uma l"n#ua consiste na padroni&aço da forma #r+fica de suas pala!ras para o fim de uma intercomunicaço social uni!ersalista (...). Portanto, compete ao poder p?blico oficiali&ar mudanças nas con!ençes orto#r+ficas, mas tais alteraçes no si#nificam mudanças lin#u"sticas (...)* “ padroni&aço #r+fica das pala!ras reflete uma ima#em de unidade e de uniformidade em si mesma artificial, !isto ue tal unidade nunca se reali&ou, no se reali&a e 6amais se reali&ar+ na fala corrente.* DESD EFED GDSS (200H, 13)
Periodi&aço da /"n#ua Portu#uesa Para efeitos de estudo, a l"n#ua portu#uesa pode ser di!idida em trs per"odos< 1. Pr%9ist8rico (S%c. =I=D J DK) 2. Proto9ist8rico (S%c. DK J KDDD) 3. Gist8rico 3.1. Lase rcaica (S%c. KDDD J K=D) 3.2. Lase Moderna (S%c. K=D J KKD) Lonte< DESD EFED GDSS (200H, 11H)
Ciclos da orto#rafia orto#rafia da l"n#ua portu#uesa % estudada a partir de trs ciclos< 1. rto#rafia fon%tica (S%c. KDDD J K=D)< a escrita basea!ase na pron?ncia. 2. Ciclo pseudoetimol8#ico (S%c. K=D J 1N04)< a escrita tem como modelo a #rafia do latim. 3. Lase simplificada (1N04 J 9o6e)< a escrita baseiase em an+lises da e!oluço da l"n#ua Lonte< DESD EFED GDSS (200H, 1H1N)
-e#ulamentaçes orto#r+ficas “s mudanças orto#r+ficas ue ocorreram ao lon#o do tempo foram formali&adas, apenas em 1N04, por Bonçal!es =iana, com a publicaço da obra rto#rafia Eacional, oficiali&ada pelo #o!erno portu#us em 1N11, pois at% ento no 9a!ia re#ras oficialmente estabelecidas (...)* “Eo Orasil, o primeiro mo!imento de simplificaço orto#r+fica aconteceu em 1N0, proposto por Medeiros de lbuuerue intermediado pela cademia Orasileira de /etras J O/.* E-$Q CMPS (2012, R)
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