PEDAGOGIA DO OPRIMIDO
Escrito no período em que o autor esteve exilado de seu país, o Brasil, durante o perído da Ditadura Militar, o livro oferece um mergulho no pensamento de Paulo Freire sobre seu modo de ver e ler o mundo. Neste livro Paulo Freire esboça caminhos sociais rumo a uma sociedade livre através da extinção da relação de opressão presentes no sistema capitalista. Para Freire, só a libertação dos opressores, feita pela movimentação e conscientização dos oprimidos, poderia ser o elo propulsor para construir uma sociedade de iguais. Neste sentido, a educação aparece com o papel central para efetivar o seu pensamento, pois que através de uma educação libertária, o oprimido poderia tomar consciência de sua situação e buscar sua liberdade bem como a de seu opressor. Para tal, propõe que o educador conheça em profundidade cada comunidade que irá educar, conheça a realidade e as palavras que são significativas para cada grupo de pessoas. Desta forma, as palavras que serão ensinadas na escrita e na leitura, são justamente as que fazem parte do cotidiano destas pessoas. Assim, Freire acredita que ao conhecer a sua palavra e transformá-la em ação e posterior reflexão, o oprimido passaria de um estágio ingênuo para um estado consciente de sua situação social e tentaria suplantá-la. É importante saber que a pedagogia não deve ser elaborada para o sujeito, e sim, a partir dele, pois a prática da liberdade está inserida em um modo de transmissão de conhecimentos, pela qual o indivíduo possa refletir, para tornar-se sujeito de sua própria história; Esses vocábulos permitem o domínio da palavra escrita, e “o mais eficaz engajamento de quem a pronuncia com a força pragmática que instaura e transforma o mundo humano”.(FREIRE, 1987, p.11) A combinação dos elementos básicos destas palavras permite a formação de outras, sempre oriundas do próprio universo vocabular do alfabetizando, para que ele possa ver sua experiência e começar a decodificar; Nesta descoberta, ou ainda nesta busca por um horizonte que dê conta do seu ser, o homem problematiza sua realidade, constata assim a desumanização percebida principalmente como realidade histórica: A violência dosopressores dos opressores também é desumanizadora, instaurando em algum momento a luta dosoprimidos dos oprimidos com quem os fez menos; E aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores. Estes, que oprimem, exploram e violentam, em razão de seu poder, não podem ter, neste poder, a força de libertação dos oprimidos nem de si mesmos”.(FREIRE, 1987, p.30).E esta é a grande contradição dos opressores e oprimidos: sua superação. A debilidade dos oprimidos será o que dará força a libertação de ambos, o que acaba causando uma falsa generosidade pelos opressores, na tentativa de manter os oprimidos dependentes de sua generosidade e assim manter-se a permanência da injustiça. “A ‘ordem’ social injusta é a fonte geradora, permanente, desta ‘generosidade’ que se nutre da morte, do desalento e da miséria”; Embora essas ações devam partir dos oprimidos e daqueles que realmente solidarizam-se, buscando a restauração da generosidade verdadeira e, por fim, da humanidade. O “medo da liberdade” pode impulsioná-los a serem opressores ou mantê-los aprisionados ao “status” de oprimidos. É relevante entender que o comportamento dos oprimidos pode ser qualificado por prescrito, pois um dos elementos básicos no intermédio de opressores-oprimidos é a prescrição; A alienação da prescrição se dá no sentido da consciência recebedora possuir o hóspede da consciência opressora. Os oprimidos que seguem a sombra dos opressores temem a liberdade, pois a liberdade exigirá a expressão dessa “sombra” e o preenchimento do vazio deixado por ela. Para superar essa situação opressora, se torna necessário o reconhecimento crítico da mesma situação e, assim, outra situação que possibilite a busca do ser mais se instaura através de uma ação transformadora. O homem que nasce deste parto é um homem novo que só é viável na e pela superação da contradição opressores-oprimidos, que é a libertação de todos”. Para tanto, é preciso reconhecerem-se oprimidos e engajem-se na luta por sua libertação. “Dessa forma, esta superação exige a inserção crítica dos oprimidos na Essa pedagogia, para ser realmente libertadora, deve ficar próxima dos oprimidos, pois estes serão exemplos para si mesmos; para tanto, esta proposta prevê a utilização do vivencial, como forma de valorização de todo tipo de cultura, ou seja, valendo-se da cultura do oprimido, cria possibilidades para que este, por meio da educação, consiga libertar-se, sendo esta proposta alicerçada na participação da comunidade envolvida. A libertação dos oprimidos causa nos opressores umarealidade opressora, com que, objetivando-a, simultaneamente atuam sobre ela”. sensação de opressão, pois estes não se reconhecem realmente livres. E essa é uma das características da consciência opressora, coisificando os oprimidos, que
acabam por não ter finalidades senão as prescritas pelos opressores. Embora isso, cabe aos oprimidos o papel de libertar-se e libertar os opressores, assumindo uma forma nova de “estar sendo”, pois já não podem atuar como antes, nem permanecer como “estavam sendo”. O modo de comportamento dos oprimidos reflete, em muitos momentos, a estrutura da dominação. Está na falta do identificar claramente essa “ordem” que serve aos opressores, o que faz com que oprimidos exerçam algum tipo de violência para agredir seus semelhantes, ou seja, pessoas que se encontrem na mesma situação de oprimidos. Outra característica dos oprimidos é a autodesvalia. Seu saber, na maioria das vezes não é o institucionalizado, devido à pressão vigente acabam também por menosprezá-lo, se utilizam dos critérios do saber convencionais, embora isso, seja uma das primeiras alterações de mudança em uma situação de opressão, acontecem na transformação dessa autodesvalia. Essa precisa ser uma descoberta baseada na práxis, por meio de um diálogo crítico e libertador que suponha a ação, nunca um diálogo que provoque fúria ou repressão maior do opressor. É importante que vejamos os oprimidos como capazes de pensar certo. Já a ação libertadora, reconhecendo essa dependência por parte dos oprimidos, tenta, através da reflexão e da ação, transformá-la em independência. “Não podemos esquecer que a libertação dos oprimidos é libertação de homens e não de ‘coisas’. Para um trabalho de libertação, o caminho não é o ato de “depositar” crenças, ou seja, “propaganda” e sim, o resultado da conscientização dos oprimidos de que devem lutar por sua libertação; Pois é como homens que os oprimidos precisam lutar e nunca como coisas.“É que esta luta não se justifica apenas em que passem a ter liberdade para comer, mas liberdade para criar e construir, para admirar e aventurar-se”.
A opressão contida na sociedade e no universo educativo, em especial na educação/alfabetização de adultos. A opressão é apresentada como problema crônico social, visto que as camadas menos favorecidas são oprimidas e terminam por aceitar o que lhes é imposto, devido à falta de conscientização, sem buscar realmente a chamada Pedagogia da Libertação. A libertação é um “parto” conforme afirma o autor, pois a superação da opressão exige o abandono da condição “servil”, que faz com que muitas pessoas simples apenas obedeçam a ordens, sem, contudo questionar ou lutar pela transformação da realidade, fato motivado especialmente pelo medo. A dicotomia encontrada neste universo vai justamente no despertar da conscientização, onde as realidades são, em sua essência, domesticadoras, ou seja, é cômodo para o opressor que o oprimido continue em sua condição de aceitação. Neste sentido o autor faz uso do pensamento de Marx quando se refere à relação dialética subjetividade- objetividade, o que implica a transformação no sentido amplo – teoria e prática, conscientizar para transformar, pois a opressão é uma forma sinistra de violência. Assim a Pedagogia do Oprimido busca a restauração, animando-se da generosidade autêntica, humanista e não “humanitarista”, pois se propõe à construção de sujeitos críticos, comprometidos com sua ação no mundo. A educação exerce papel fundamental no processo de libertação, pois é apresentada a concepção “bancária” como instrumento de opressão. Nesta visão o aluno é visto como sujeito que nada sabe, a educação é uma doação dos que julgam ter conhecimento. O professor, nesse processo, “deposita” o conteúdo na mente dos alunos, que a recebem como forma de armazenamento, o que constitui o que é chamado de alienação da ignorância, pois não há criatividade, nem tampouco transformação e saber, existindo aí a “cultura do silêncio”, isto porque o professor é o detentor da palavra, criando no aluno a condição de sujeito passivo que não participa do processo educativo. “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, esta famosa frase pareceu, a princípio, ter um efeito bombástico entre os educadores porque denunciou toda opressão contida na educação, em especial na concepção bancária, que na sua essência torna possível a continuação da condição opressora. O grande destaque para a superação da situação é trabalhar a educação como prática de liberdade, ao contrário da forma “bancária” que é prática de dominação e produz o falso saber, ou
seja, aquele incompleto ou sem senso crítico. Assim é apontada a educação problematizadora, onde a realidade é inserida no contexto educativo, sendo valorizado o diálogo, a reflexão e a criatividade, de modo a construir a libertação. O diálogo aparece no cenário como o grande incentivador da educação mais humana e até revolucionária. O educador antes “dono” da palavra passa a ouvir, pois “não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. Isto é justamente o que foi chamado de mediatização pelo mundo, espaço para a construção do profundo amor ao mundo e aos homens. Contudo é preciso que também haja humildade e fé nos homens. O diálogo começa na busca do conteúdo programático. Para o educador-educando, dialógico, problematizador o conteúdo não é uma doação ou uma imposição, mas a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. É proposto que o conteúdo programático seja construído a partir de temas geradores, uma metodologia pautada no universo do educando que requer a investigação, “o pensar dos homens referido à realidade, seu atuar, sua práxis”, enfatizando-se o trabalho em equipe de forma interdisciplinar. Para a alfabetização (de adultos) o destaque é feito através de palavras geradoras, já que o objetivo é o letramento, porém de forma crítica e conscientizadora. A teoria antidialógica citada é a ideologia opressora, a manipulação das massas e da cultura através da comunicação, por isso a revolução deve acontecer através desta pelo diálogo das massas. Uma das principais características da ação antidialógica das lideranças é dividir para manter a opressão, o que cria o mito de que a opressão traz a harmonia. Em contrapartida, é mostrada a teoria da ação dialógica embasada na colaboração, organização e síntese cultural, combatendo a manipulação através da liderança revolucionária, tendo como compromisso a libertação das massas oprimidas que são vistas como “mortos em vida”, onde a vida é proibida de ser vida, isto devido às condições precárias em que vivem as massas populares, convivendo com injustiças, misérias e enfermidades, onde o regime as obriga a manter a condição de opressão. Neste cenário é necessário unir para libertar, conscientizando as pessoas da ideologia opressora, motivando-as a transformar as realidades a partir da união e da organização, instaurando o aprendizado da pronúncia do mundo, onde o povo diz sua palavra. Nesta teoria a organização não pode ser autoritária, deve ser aprendida por se tratar de um momento pedagógico em que a liderança e o povo fazem juntos o aprendizado, buscando instaurar a transformação da realidade que os mediatiza. O que fica evidente é que o opressor precisa de uma teoria para tornar possível a ação da opressão, deste modo o oprimido também precisa da teoria para sua ação de liberdade, que deve ser pautada principalmente na confiança no povo e na fé nos homens, para que assim “seja menos difícil amar”.
O livro mostra que por falta de conscientização, as camadas mais pobres da sociedade são oprimidas ao extremo, chegando mesmo a acatar sem discussão o que lhes é imposto pelas classes dominantes. Assim, os “esfarrapados do mundo”, obra para quem é dedicada pelo autor, vivem uma verdadeira opressão social, e especialmente, no universo educativo no campo educação/alfabetização de adultos. Desconhecedoras de seus direitos, nunca lutam pela chamada Pedagogia da Libertação. O autor compara essa libertação necessária às classes menos favorecidas com um “parto”, onde elas precisam definitivamente abandonar a condição servil em que vivem. Ele menciona que por conta
do medo imperante essas classes se submetem a todo tipo de “ordens” sem ao menos questioná-las. O autor propõe que neste universo sombrio de opressão e domesticação seja trabalhada a conscientização como forma de resgatar essas pessoas da condição de aceitação em que vivem. Fazendo uso do pensamento marxista quando se refere à relação dialética subjetividadeobjetividade – o que implicaria numa transformação total – teoria e prática, Freire enfatiza a necessidade da conscientização com objetivo de libertar os oprimidos da violenta opressão a que estão submetidos. É a busca de uma restauração completa do homem, o conduzindo para um viver generosamente autêntico, crítico, humano e não “humanista” comprometido com seu mundo, que se propõe ‘Pedagogia do Oprimido’. Freire enfatiza que é usada uma concepção “bancária” como instrumento de opressão às classes menos favorecidas, condição da qual somente seriam libertas, mediante o fundamental papel da educação. Por esse prisma, o estudante é visto como indivíduo que não sabe de nada, alguém que recebe “conhecimento” daqueles que se julgam sabedores de tudo. O aluno é aquele que recebe “depósitos” na mente e os armazena daquele que se diz professor. O autor chama esse processo de alienação, uma vez que não há criatividade, nem tampouco saber transformador. Impera mesmo, a “cultura do silêncio” pelo fato de o professor detentor da palavra, criar no aluno a condição de sujeito passivo que não participa do processo educativo. Para denunciar toda opressão contida na educação, Freire escreveu a bombástica frase: “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. O autor expõe as vísceras da educação “bancária” quando denuncia que ela torna possível a continuação da condição de opressora. Para reverter essa cruel realidade, seria necessário trabalhar a educação como prática da liberdade, o contrario da “bancaria”, que produz saber sem significação, incompleto e desassociado de senso crítico. Aponta ainda que para construir a libertação deveria ser trabalhada uma educação problematizadora, valorizando o diálogo, a reflexão e a criatividade. Para se alcançar uma educação mais humana e revolucionária deve entrar no cenário, o diálogo. “... não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, na ação reflexiva”, diz Freire. Assim, antes “proprietário” da palavra, o professor também é obrigado a aprender a ouvir. O conteúdo repassado em forma de doação ou impositivo é substituído por um processo de educação organizada, sistematizada, acrescida de
elementos bem estruturados. Assim, é pautado o trabalho do educadoreducando, dialógico e problematizador. O trabalho a ser feito deve ter conteúdo programático, construindo temas geradores, metodologicamente, pautado na realidade do aprendente. (...) “o pensar dos homens referido à realidade, seu atuar, sua práxis”, enfatizando-se o trabalho em equipe de forma interdisciplinar. Para a alfabetização (de adultos) o destaque é feito através de palavras geradoras, já que o objetivo é o letramento, porém de forma crítica e conscientizadora. A que se trabalhar a teoria dialógica, contrária à manipulação das classes menos favorecidas pela “cultura” através dos meios de comunicação. As massas precisam ser conduzidas ao dialogo, canal de libertação da harmoniosa opressão imperante. Freire diz ainda que uma das principais características da ação antidialógica das lideranças é a divisão para manutenção da opressão. A teoria da ação dialógica pautada pela organização e síntese cultural é forte arma de combate à manipulação se usada pela liderança revolucionária. Por isso, a que se ter compromisso no processo de libertação das classes oprimidas, vistas como “mortos em vida”, devido às condições precárias em que vivem. Essas massas convivem com, além da miséria e as enfermidades físicas, as injustiças, vítimas de um regime que as mantém em condições indignas. Paulo Freire destaque que nessa situação, os educadores devem assumir uma postura revolucionaria passando a conscientizar as pessoas da ideologia opressora. Trabalho sério com o objetivo de motivar as massas para a organização e o aprendizado da pronúncia do mundo, onde todo cidadão e/ou cidadã pode falar usa própria palavra. O autor observa que essa organização não pode ser autoritária. Deve ser aprendida nos moldes pedagógicos, onde povo e lideranças aprendem a fazer juntos, buscando instaurar a transformação da realidade que os mediatiza. O autor enfoca que se o opressor precisa de uma teoria para manter a ação dominadora, os oprimidos igualmente, precisam também de uma teoria para alcançar a liberdade. Uma liberdade baseada na confiança nas pessoas e na fé em todos os cidadãos e cidadãs, para que “seja menos difícil amar”.