=;85 Terceiro Manifesto Camp 1
“Tudo que é profundo gosta da máscara.” Friederich Nietsche !"omente as pessoas superf#ciais n$o %u&gam pe&as apar'ncias. ( mistério do mundo está no )is#)e&* n$o no in)is#)e&.! (scar +i&de !
,or )i)ermos numa sociedade onde tudo que se refere ao indi)idua& está t$o presente* no gosto* no comportamento* na cu&tura* esquecemos* ou nos faem esquecer* esquecer* que o indi)#duo é uma constru-$o e n$o dado inerente ao humano. ( prprio mito do /omem emergiu na 0récia c&ássica em oposi-$o ao mito miceno cretense e egeoanat&io de 2ioniso 3"(46* 7. de 19:;* 1<=>. ,ortanto* criar uma cu&tura antropoc'ntrica e metaf#sica em meio ao teocentrismo genera&iado foi a grande re)o&u-$o grega* o que imp&icou pe&a primeira primeir a )e a separa-$o entre naturea e cu&tura. ( indi)idua&ismo* como um desdo?ramento histrico do mito do /omem* é uma ideo&ogia moderna* ou se%a* um con%unto de representa-@es comuns* espec#ficas da ci)i&ia-$o moderna* em forma-$o a partir do Aenascimento. ( indi)idua&ismo destaca o indi)#duo do mundo contrapondose a uma perspecti)a hostica. N$o é que o indi)#duo enquanto su%eito emp#rico se%a uma caracter#stica no)a da modernidade* mas sim enquanto ser mora&* autBnomo e essencia&mente n$o socia& 324M(NT* . 1985* <:98D>* o que o?)iamente causa tens@es em sociedades* como as modernas* constru#das so?re esses no)os )a&ores. ,or um &ado* o indi)#duo tornouse um sustentácu&o da sociedade capita&ista* da ?urguesia* 1
( t#tu&o fa uma refer'ncia ao &i)ro Second Manifeste Camp de ,atricE Mauris. 7ste ensaio te)e partes pu?&icadas em Gragoatá* ;*
=R encarnado no apogeu do &i?era&ismo pe&o !se&fmade man!. ( indi)idua&ismo possi?i&itou* em K&timo grau* até mesmo a eLp&ora-$o e co&onia-$o de todo o mundo conhecido* a?rindo no)os mercados consumidores 7uropa e aos 7stados 4nidos. Mas* por outro &ado* o indi)idua&ismo traia em si sua prpria crise* %á presente no artista moderno do sécu&o passado 3dos u&traromnticos e Oaude&aire aos decadentistas e sim?o&istas>* ao mo&dar o comportamento de recusa do socia&* ou pe&o menos* da sociedade ?urguesa* por parte das )anguardas. 7ssa sensa-$o de insatisfa-$o frente ao socia& se a&astrou por todo o sécu&o PP* particu&armente com a sociedade de massas* nos diferentes estratos sociais. 6 su?%eti)idade* que se pretendia &i?erta da sociedade* fragmentouse* de forma crescente* até o processo de perda perda de de uma uma identidade identidade indi)idua& indi)idua& c&aramente c&aramente definida. definida. ( &eque de aná&ises so?re a su?%eti)idade contempornea é ?astante amp&o e di)ersificado* mas tem como principa& pro?&ema a re&a-$o entre homem e mundo. 6 tese Público 31988> é que medida que o principa& de Aichard "ennett em O Declínio do Homem Público 31988> espa-o pK?&ico foi psico&ogiado* ou se%a* )i)ido em termos pessoais* o espa-o pri)ado se )iu crescentemente crescentemente reduido* iso&ado e destitu#do de significado. No compraerse compraerse em confiss@es caudais* o indi)#duo perdeu* paradoLa&mente* o senso de sua diferen-a* pois esta s pode ser esta?e&ecida em re&a-$o a um outro. 6 perspecti)a de "ennett n$o esconde sua )is$o de )i)'ncia do espa-o pK?&ico nos &imites inaugurados pe&os ideais democráticos do sécu&o PQGGG* constatando na sociedade intimista de ho%e um acop&amento entre narcisismo e comunidade destruti)a* destruti)a* segregadora* segregada segregada e ?airrista. Mesmo em um tra?a&ho posterior* posterior* que tenta &an-ar pontes so?re no)as )i)'ncias do espa-o pK?&ico* "ennett enfatia o iso&amento do desenho ur?ano* em detrimento das tentati)as de superar as fronteiras reais entre ?airros e guetos* possi?i&idade que e&e )is&um?ra na arte 31991* <=1>. 6 n$o ser pe&a arte* o espa-o pK?&ico parece tri)ia&iado pe&o consumo e turismo* despro)ido de uma eLperi'ncia humana 3idem* PGGIPGGG>.
=585 No &ugar de um indi)#duo autBnomo* conquistador* emerge um eu m#nimo* defensi)o* narc#sico. "egundo Cristopher asch 3198:>* o narcisismo frutifica n$o s como uma atitude eListencia& mas tam?ém cu&tura&. 6o se fechar dentro de si* ainda que por uma estratégia de so?re)i)'ncia* a su?%eti)idade se perde mais. 6 capacidade de ser outro* de compreender um outro se rarefa. asch tem o mérito de a?ordar uma pro?&emática )incu&ada a um ma&estar frente ao consumismo em sociedades de massas* mas sua tend'ncia apocaptica é ?astante uni&atera&. No que asch e "ennett )'em um pro?&ema* o 3neo>indi)idua&ismo* ipo)etsES 31988> )' uma so&u-$o. Qa&oria a moda* como uma espécie de sina& do ef'mero erigido em sistema permanente e fator de incenti)o a )a&ores democrático&i?erais. 6 &gica da moda* do ef'mero imp&ica a autonomia do su%eito num cu&to do hedonismo* da p&ura&idade. por essa perspecti)a que de)e ser encarada a sociedade* ou se%a* atra)és da mesc&a do ef'mero e da fantasia* da readapta-$o permanente* do tempo que urge e do espa-o que se aproLima midiaticamente. 6 moda n$o é s quest$o de consumo mas de identidade. "er n$o é ter mas parecer. No entanto* quem me&hor caracteria as possi?i&idades de supera-$o do impasse narcisista e desen)o&)e no)as perspecti)as de encena-$o do espa-o pK?&ico* de reencantamento do mundo para a&ém de uma esfera pri)ada* #ntima é Miche& Maffeso&i. 7m?ora ha%a uma tend'ncia em sua o?ra de su?estimar as quest@es decorrentes do narcisismo e seu confronto com outras su?%eti)idades* de fato re&e)antes ho%e em dia* sua defesa de um neotri?a&ismo 3198:> a?re no)as possi?i&idades. Tratase de uma ordem* ta&)e até mais pro%eti)a do que presente* em que a tati?i&idade* o sens#)e& s$o )a&oriados em detrimento de associa-@es mais instituciona&iadas. ( su%eito contemporneo n$o segue o mode&o do indi)idua&ismo c&ássico* seguramente inserido no conteLto de redes sociais c&aramente de&ineadas* de onde sua identidade tam?ém c&aramente definida emergiria. Tam?ém diferente
== do Narciso entrincheirado na sua intimidade* os primiti)os dessa no)a era cartografam em grupos e tri?os a paisagem das metrpo&es em crise. 7 nesse peram?u&ar noturno toa pe&os ?ares* ruas* festas* criase um no)o )a&oriar do espa-o pK?&ico* distinto da tradi-$o i&uminista* centrado em mo)imentos poticos organiados como partidos* sindicatos* aproLimandose mais de uma tradi-$o popu&ar* espontane#sta* ce&e?ratria. Gntroduir a fic-$o na )ida cotidiana é uma manifesta-$o de resist'ncia que escapa temática !ati)ista! da &i?era-$o 3M6FF7"(G* M. &98R* =9>. ( desafio desse no)o su%eito é articu&ar suas máscaras em constante troca* seu eu mutante* sem se deiLar disso&)er no puro mo)imento* na )e&ocidade* no mercado de imagens. ( que tam?ém eLige a configura-$o de um “paradigma estético” para a compreens$o da cria-$o e da composi-$o de perceptos e afetos mutantes 3046TT6AG* F. 199<* 11=>. importante &em?rar que Maffeso&i apontou em mais de um momento a sociedade ?rasi&eira como )erdadeiro &a?oratrio para esta socia?i&idade. 6&guns de seus muitos disc#pu&os no Orasi& t'm amp&iado suas suget@es. 6inda seria o caso de &em?rar que a prpria defini-$o euroc'ntrica de pK?&ico e pri)ado tem sido rea)a&iada para outros pa#ses como o Orasi&. N$o é meu propsito aprofundar esta discuss$o* no momento* mas tenho consci'ncia da genera&idade de minhas afirmati)as* nesta introdu-$o que apenas dese%a co&ocar o camp num horionte transnacioa& a que e&e de fato pertence. U 2entro desse no)o paradigma é que o camp ganha mais interesse* para o que é necessário redimensionar a pro?&emática da homosseLua&idade posta deri)a. ( camp* nas suas origens* n$o pode ser chamado de fundamenta&mente gaS* mas especia&mente nesse sécu&o tornouse um e&emento definidor* sem ser tota&iador* da identidade homosseLua&. 6pesar disso* o camp s emerge teoricamente no c&ássico ensaio de "usan "ontag* “Notas so?re o Camp” 319=R>* simu&taneamente a um corte na histria dos mo)imentos e representa-@es
=:85 homosseLuais* representado pe&o inf&uLo da Contracu&tura nos anos =D* que procurou dar mais )isi?i&idade e mesmo assimi&ar comportamentos originários de tradi-@es cu&turais mais di)ersificadas e “menores” dentro da histria ocidenta&* momento decisi)o para a dissemina-$o do camp para &onge dos guetos homosseLuais. ( termo é de dif#ci& tradu-$o para o portugu's* ainda que muito presente na nossa cu&tura. 7nquanto comportamento* o camp pode ser comparado fecha-$o* atitude eLagerada de certos homosseLuais* ou simp&esmente afeta-$o. Já enquanto quest$o estética* o camp estaria mais na esfera do ?rega assumido* sem cu&pas* t$o presente nos eLageros de muitos dos #cones da M,O* especia&mente o cu&to a certas cantoras e seus f$s. Mas ho%e em dia* “a cha)e para definir o camp está em reconci&iar sua essencia& margina&idade com sua e)idente u?iqVidade* mantendo sua di)ersidade* em?ora faendo sentido disso tudo” 3O((T/* M. 198;* 11>. ( camp se caracteria por uma predi&e-$o pe&o artificia& e pe&o eLagero* por um tipo de esteticismo* uma forma de )er o mundo como um fenBmeno estético 3"(NT60* ". &98:*;&8I
. 6 estetia-$o da )ida cotidiana imp&ica uma re)ita&ia-$o &Kdica da comunica-$o* da representac$o* artif#cio de sedu-$o e &i?era-$o de uma identidade indi)idua& Knica. 6 apar'ncia do )estuário fa do prprio corpo a&go indeterminado* indefinido* f&uido. 6 )a&oria-$o da afeta-$o* da apar'ncia n$o é a simp&es reedi-$o de um dandismo esteticista e pardico na sociedade de massas* mas um aspecto da forma-$o de uma socia?i&idade sustentada por cdigos espec#ficos de uma ética do estético em contraponto a uma mora& uni)ersa& 3)er M6FF7"(G* M. &989* &>. 6 )ida s tem um sentido quando dese%amos forta&ecer no cora-$o de outrem a imagem do que nos parece ?e&o 3C6A2("(* . &9=;* R. Mais do que uma forma de recep-$o* “categoria de gosto cu&tura&” 3A(""* 6. 199;* 55> ou modo de comportamento 3O((T/* M. 198;* 1:9>* o camp é uma categoria que esta?e&ece media-@es* transita entre o?%etos cu&turais e o con%unto do socia&* é mutá)e& no
=8 decorrer do tempo e possui uma histria e uma concre-$o de&imitá)eis* constituindo um con%unto de imagens e atitudes* que por ora podemos chamar n$o de uma tend'ncia art#stica* um esti&o* mas de um imaginário que tem um pape& singu&ar e re&e)ante. 6 re&a-$o entre camp e cu&tura pop foi #ntima desde o in#cio. “( pop camp emerge como &eitura dominante da práLis homoertica 3 queer >” diante do discurso dominante 3M7W7A* M. 199R* 1;>. 6 partir dos anos :D* o camp passa a ser centra& na arte pop < e na mKsica pop; X do g&am rocE R ao neY romantics* da disco 5 a house 3C4AAG2* O. 1995* 1=5I19=> X* ?em como re&e)ante para a determina-$o de uma narrati)a de ps)anguarda* se%a no cinema de 2ereE Jarman* Aainer Fass?inder e ,edro 6&mod)ar* se%a na &iteratura de Caio Fernando 6?reu. 7sta capacidade de perce?er o mundo como teatro n$o fa do camp apenas uma percep-$o fri)o&amente desimportante e a&ienante* um riso fáci& e ner)oso incapa de &idar com as diferen-as* um gosto eLc&udente e depreciati)o* apenas uma “forma de humor dec&inante* produto da opress$o* segrega-$o e autodio” 37dmund +hite apud O7A0M6N* 2. 199;* =>* perpetuador do esteretipo afeminado do homosseLua&* “nega-$o de especificidade de um dese%o homoertico”* na medida em que é definido a partir de um mode&o hetero 3TW7A* C. 6. 1991* ;5> e* ao mesmo tempo* misgino 3idem* R1>* num momento em que as mu&heres ?uscam romper sua imagem como associada eLc&usi)amente ao mundo das apar'ncias* passi)idade* su?miss$o* fragi&idade e afeti)idade. ( camp “seria decorrente da condi-$o de oprimido do homosseLua&* que torna poss#)e& que e&e enLergue a naturea artificia& de categorias sociais e a ar?itrariedade dos padr@es de
Qer Juan "uare 3199=> e Jennifer 2oS&e et a&. 3199=>.
<
2o ponto de )ista do %orna&ismo musica&* )er Jon "a)age 31995>* John 0i&& 31995>* Aichard "mith* 31995> e
;
MarE "impson 31999>. Qer o fi&me “Qe&)et 0o&dmine” de Todd /aSnes 31998>.
R
Qer o romance Dancer from te Dance de 6ndreY /o&&eran.
5
=985 comportamento 3M6CA67* 7. 199D* <;1>* sem pretender a idea&ia-$o que seria considerar o camp* so?retudo na sua associa-$o com tra)estimento* como ?asicamente transgressor 3O4T7A* J. 199;* 1<5 e <;5>* ao in)és de )a&oriar sua situa-$o inter)a&ar* corrosi)a* para a&ém da insta?i&ia-$o entre mascu&ino e feminino. ( camp “está )incu&ado a uma sensi?i&idade gaS* n$o necessariamente a pessoas gaSs” 3O6O4"CG(* J. 199;* * “é uma in)as$o e su?)ers$o de outras sensi?i&idades* tra?a&hando )ia pardia* pastiche e eLagero” 32(M(A7* J. 1991* ;11>* o que afirma uma coneL$o entre heterosseLuais e homosseLuais* fato eLtremamente re&e)ante na medida em que os mo)imentos homosseLuais querem atuar no con%unto da esfera pK?&ica* sem apagar suas especificidades e discutir a importncia de suas pro?&emáticas fora de guetos. ,ara a&ém de uma eLpress$o eLc&usi)amente homosseLua&* o camp se co&oca
como “uma estratégia
situaciona&” 3N7+T(N* 7. 19:9* 1D5>* um instrumenta& precioso para a inter)en-$o dos homosseLuais* dos estudos gaSs e &és?icos na de&imita-$o de su?%eti)idades contemporneas. Na medida em que o camp se situa num espa-o de deri)a entre categorias* )istas em outros conteLtos como antitéticas X como* de um &ado* teatra&idade* ironia e percep-$o do a?surdo dos sentimentos eLtremos*e* de outro* autenticidade* intensidade e afirma-$o dos sentimentos eLtremos X* o que e&e enuncia é um desafio mesmo para a constitui-$o de no)as afeti)idades* diante do decnio do amor romntico heterosseLua&* das mudan-as de papéis decorrentes dos processos de modernia-$o scioeconBmica que ocorreram nos K&timos dois sécu&os e do desen)o&)imento do mo)imento feminista* &i?erador de gri&h@es da fam#&ia patriarca& mas que parece margina&iar o sentimenta&ismo. Mesmo a crescente norma&ia-$o do meio homosseLua& tende a recha-ar o camp* como se pode )er pe&a su?stitui-$o da ?icha &ouca 3,7A(N0/7A* N. 199:* 85I9D> pe&a figura do macho gaS 37QGN7* M. 1998>* como mistura de idea& e autoimagem. ( que nos anos :D foi uma resposta criati)a ao esteretipo gaS de a&mas femininas em corpos
:D mascu&inos ou de pessoas incomuns* &onge do cotidiano 3TW7A* C. 6. 1991* ;=>* ho%e é so?retudo um e&emento da indKstria do corpo perfeito* reafirma-$o impositi)a da imagem do “gaS saudá)e&” 3"720+GCZ* 7. 199R* 15=>. 6 quest$o seria ent$o se des&ocar de um discurso em torno da diferen-a* entendida como uma a&teridade radica&* que possi?i&ita tanto a cu&tura do gueto quanto a da !to&erncia mascarada por indiferen-a* cinismo e )io&'ncia! 3C("T6* J. 199<* 1==>* e passar para um discurso do estranho* que há em ns e nos outros. ( camp redimensiona o espa-o pK?&ico atra)és do &udismo das massas* do gosto pe&a fantasia no cotidiano e da )a&oria-$o da ?e&eaH nesse sentido* é um dos herdeiros de uma atitude aristocrática na sociedade de massas. !( comportamento aristocrático* dise* é aque&e que mo?i&ia todas as ati)idades secundárias da )ida* situadas fora das particu&aridades sérias de outras c&asses e in%eta nessas ati)idades uma eLpress$o de dignidade* poder e a&ta categoria! 30(FFM6N* 7. 1989* ;9>* ainda que n$o represente necessariamente o comportamento de uma aristocracia como c&asse* mas de uma aristocracia estética. 7sta tradi-$o tem origens medie)ais* mas seu apogeu se deu na corte de u#s PGQ* onde a etiqueta representa)a uma hierarquia-$o e ao mesmo tempo uma estetia-$o do socia& 3AGO7GA(* A. 198;>* e sofreu um des&ocamento a partir do sécu&o PGP* quando os )a&ores ?urgueses de uma ética do tra?a&ho se firmaram em detrimento de uma estética do cio* o dinheiro ocupou o &ugar de uma forma-$o 3 !ildung > e o modismo consumista* o &ugar da e&egncia. No)os )a&ores que s se tornaram )itoriosos a partir da ,rimeira 0uerra Mundia& 3 M7W7A* 6. 198:>. 4ma &inhagem de estetas da )ida* artistas ou n$o* foi de&ineada* dos poetas ma&ditos romnticos aos dndis decadentistas e punEs gticos. Mo&douse uma ética estética que nutre a atua&idade* se%a na forma-$o de tri?os de %o)ens ou no prprio camp* am?os decorrentes de uma cu&tura&ia-$o do potico e de uma estetia-$o do cotidiano. U
:185 ( tra)esti* cindido entre o eLagero da afeti)idade e a festa das apar'ncias* o ?ri&ho da noite e a so&id$o dos quartos* o 'Ltase da mKsica e a )io&'ncia do cotidiano* a máscara e o corpo marcado* a a&egria e a me&anco&ia* é por eLce&'ncia o ser de um mundo simu&acra&. !,or trás da maquiagem do tra)esti n$o há nenhuma mu&her ou homem )erdadeiro. ( )erdadeiroIfa&so perde o sentido* pois %á n$o se pode fa&ar em cpias* mode&os ou imita-$o em refer'ncia ao tra)esti 3T7AT(* Q. 1989* 5;IR> que sa?e que a mu&her a ser imitada é s uma apar'ncia* produto da imagina-$o mascu&ina. No tra)esti n$o ha?ita uma dua&idade homemImu&her* e sim “uma pu&s$o de simu&a-$o” que constitui seu prprio fim 3"6A24W* ". 1981* 9>. Mais do que copiá&a* tentar ?uscar uma identidade ou ess'ncia* o tra)esti ?usca na mu&her a for-a de sua metamorfose 3T7AT(* Q. 1989* 59>* mas que está para a&ém da mu&her 3"6A24W* ". 1981* 1=>* “de onde sua intensidade de su?)ers$o X captar a superf#cie* a pe&e* o en)e&ope* sem passar pe&o que é centra& e fundador* a Gdéia” 3idem* <1>. "em querer simp&esmente ecoar a )oga dos estudos gaSs e &és?icos nos 7stados 4nidos* para os quais o tra)estimento se tornou num “em?&ema condensado para todo o pro%eto de g'nero e construti)ismo seLua&”* no ataque a perspecti)as essencia&istas 3"720+GCZ* 7. 199R* <<=>* o tra)esti seria n$o s um grupo socia&mente identificado* mas tam?ém a metáfora máLima da tens$o entre memria e o&har* ef'mero e identidade* con%ugando duas atitudes eListenciais uma* a nosta&gia da unidade do eu representada pe&a so&id$o narc#sica ou um retorno a )a&ores tradicionais* em gera&* no ?o%o do neoconser)adorismo mora&H e outra* a ades$o a teias fugaes onde a su?%eti)idade reencontra a dimens$o do %ogo socia&. ( tra)esti é o personagem a&egrico = de uma modernidade inconc&usa e em crise* a que mais !dramatia* pro?&ematia* distende e comenta a prpria no-$o de )i)'ncia de pape& socia&! 3"GQ6* /. 199;* p. 1;>* figura da am?igVidade que tem )árias encarna-@es* dos Lam$s : aos ci?orgues 8* das amaonas
Nas páginas :RI:5 de meu &i)ro "#s os Mortos$ Melancolia e "eo%!arroco* procurei desen)o&)er esta no-$o.
=
Qer Cardin 3198R>.
:
:< aos eunucos* das dames aos onnagata 9* dos castratti 1D s di)as da pera* do cinema e da mKsicaH do andrgino 11 origina& a deuses hermafroditas* do an%o ao ado&escente* dos homens u&tra muscu&osos s drag queens e drag Eings 1<. 6 assimi&a-$o simp&ificadora das drag queens no centro da indKstria de entretenimento* se%a no cinema ou na te&e)is$o* so?retudo no que se refere ao humor cáustico e fantasia de am?igVidade seLua& 3O4"C/* C. 1995>* mesmo que se%a tam?ém uma forma de se fa&ar em transeLua&idade* ao in)és de homosseLua&idade 3TW7A* C. 6. 1991* ;=>* é um eLemp&o ?)io de circu&a-$o do camp para a&ém das comunidades gaSs* em que pese a dificu&dade que o tra)esti tem na )ida rea&* &onge dos pa&cos &uminosos. Mesmo o riso do qua& é )#tima pode ser “a mais pura forma de opress$o praticada contra o homosseLua&” em )e de uma forma de aceita-$o de diferen-as* “pri)andoo de um poder m#nimo* mesmo o de amea-ar. ( riso su%eitao a uma má tradu-$o suprema. "ua eList'ncia é trágicaH em todo &ugar é perce?ida como engra-ada” 3(N0* ". 199;* :8I9>. 6 eLc&us$o dos tra)estis* como de outras práticas menos aceitas socia& e midiaticamente 3o sadomasoquismo e a pedofi&ia* por eLemp&o>* desen)o&)ese no seio mesmo de organia-@es homosseLuais* )itimadas por um crescente ?om mocismo e “assimi&acionismo de gaS e &és?ica de c&asse média” 3M7W7A* M.
Muito %á se foi dito a partir do Manifesto Ci?org de 2onna /araYaS e* para a&ém* em torno das re&a-@es entre
8
corpo e tecno&ogia* o pshumano e o inumano* dentro e fora do Orasi&. ,ara a re&a-$o entre tra)estimento e arte* )er 0ar?er 3199;>* OaEer 3199R> e Cortés 3199:>.
9
Qer o romance Porporino de 2ominique Fernande.
1D
,ara a re&a-$o androginia e arte* )er Ao?erto 7cha)arren 3199:> e 0ar?er 3199:>.
11
1<
6pesar da intensa produ-$o acad'mica so?re tra)estimento* as drag queens ti)eram um 'Lito comercia& que
n$o foi acompanhado pe&os drag Eings ou &és?icas mascu&iniadas* como no ?e&o misto de depoimento e fic-$o de es&ie Fein?erg* Stone !utc !lues. "eria importante tam?ém &em?rar que tem emergido uma forte produ-$o de caráter potico em torno ao transg'nero* nome mais amp&o do que tra)esti* como em Fein?erg 3199=> no)amente e Namaste 3199=>* mas tam?ém transitando para a arte como em Chris "traaSer 3199=> e no fi&me “0'neronautas” de MoniEa Treut.
:;85 199R* <>* dese%osas de se integrarem a qua&quer custo no status quo* enfatiando mais uma inc&us$o &ega&ista e respeitosa do que a procura de uma sociedade mu&ticu&tura&. ( camp aparece como uma estratégia corrosi)a da ordem*
no momento em que
poticas utpicas e transgressoras parecem ter se es)aiado de qua&quer ape&o* e para os que n$o querem simp&esmente aderir no)a )e&ha ordem g&o?a& do consumismo* em que a diferen-a é oferecida a todo momento* em cada esquina* em cada propaganda. 2e qua&quer modo* o foco deste ensaio n$o está tanto no tra)esti como s#m?o&o de am?igVidade seLua&* da desconstrutu-$o da dua&idade mascu&inoIfeminino* prLimo s discuss@es feministas so?re o feminino como máscara 3 masquerade>* nem tam?ém no tra)esti como encarna-$o das am?igVidades e tens@es eListentes nas identidades marcadas pe&a “m#mica do su%eito co&onia&” 32(M(A7* J. 1991* ;1<>* pe&os hi?ridismos psco&oniais ou pe&a deri)a de su%eitos desterritoria&iados. "em eLc&uir despo&itiar a discuss$o* o que me interessa
essas possi?i&idades ou
mais é perece?er o tra)estimento como
)a&oria-$o do artif#cio enquanto categoria centra&* em estética 3)er A(""7T* C. 1989 e "C6A,7TT6* 0. 1988> e na composi-$o de uma identidade performati)a do su%eito contemporneo 1;. ( tra)estimento nos atra)essa* n$o nos fa&a apenas de um outro distante* mesmo quando nosso )iinho. U Nessa perspecti)a* gostaria de apresentar a categoria do artif#cio. ( artif#cio possui um )asto campo semntico* da teatra&idade ?arroca simu&a-$o midiática* da tradi-$o do tra)estimento nas artes c'nicas aos desafios da performati)idade do su%eito contemporneo. ,ara esta?e&ecer a genea&ogia de uma estética do artif#cio contempornea* antinatura&ista e antiaut'ntica* seria necessário re)isitar n$o s o Oarroco* a partir da metáfora do teatro do mundo 3(,7"* 2. 1999* 9 e esti&os prLimos* como o Maneirismo* o Aococ* o
Qer 0offman 3198=>* Out&er 3199D* 199;>* ,arEer e "edgYicE 31995>.
1;
:R ,reciosismo e* por eLtens$o* o NeoOarroco* como tam?ém* o esteticismo decadentista 3M4CCG* . 199D>* o art nou)eau e o dandismo 1R na mKsica pop. Mas antes de fa&ar so?re uma estética do artif#cio na contemporaneidade* é importante desen)o&)er o principa& termo que atua&ia o artif#cio o simu&acro 15. [uando se fa&a em simu&acro* enfatiase a indistin-$o entre rea&idade e imaginário como um tra-o a&ienante da atua&idade* sendo constantes as cr#ticas uti&ia-$o desse conceito por Oaudri&&ard* como as de inda /utcheon na sua perspecti)a* a rea&idade é inacess#)e& a n$o ser )ia discurso 3/4TC/7(N* . 1989* 189> pro)isrio* historiciado e n$o é &ugar de origem 3idem* 19;>. 6 quest$o estaria n$o na nega-$o do referente* mas na sua pro?&ematia-$o “de quem é a rea&idade que está sendo apresentada\” 3idem* <;<>. 6o que Oaudri&&ard poderia responder que afirmar a rea&idade %á é uma estratégia de poder 31991a* ;<>. 7m?ora se%a tentador identificar o simu&acro como categoria tota&iante na o?ra de Oaudri&&ard* e&e se constitui fundamenta&mente numa )ia para procurar responder aos pro?&emas espec#ficos de nossa época deri)ados do inf&uLo dos meios de comunica-$o de massa na )ida cotidiana* “resu&tado de uma transforma-$o cu&tura&* associada condi-$o ps moderna” 3/4W""7N* 6. 199:* :=I:>. 7m contraposi-$o perspecti)a das massas enquanto ?uraconegro* fim do potico* do econBmico* do socia&* do histrico* enfim* do sentido* que fata&mente se destruirá* t$o popu&ariado no seu manifesto nii&ista & Sombra das Maiorias Silenciosas* Oaudri&&ard desen)o&)eu* nos anos 8D* uma maior positi)idade do simu&acro* n$o como se e&e fosse a&go pro)isrio* mas como a&go constitui)o da contemporaneidade. 6 quest$o do simu&acro está &onge de se distinguir eLc&usi)amente pe&as cita-@es estéticas do passado* por pastiches. 6s conseqV'ncias do simu&acro como eiLo de uma época* ,ara a&ém dos ensaios de Oaude&aire* das rea)a&ia-@es de (scar +i&de 3 "GNFG72* 6. 199R> e Jo$o do Aio*
1R
seria interessante re)er o dandismo so? a perspecti)a de g'nero 3C6A7GCZ* A. 1998>* atua&iandoo dentro do uni)erso pop 3O((N* ,. 199;>. Como di)ertida introdu-$o ao tema* consu&tar 7co 3198:> ou ainda o de&icado diário de )iagens de Oaudri&&ard
15
3198=>* com ressonncias no tra?a&ho de Ne&son Orissac ,eiLoto 31989>.
:585 e n$o s como uma caracter#stica estética* imp&icam no decnio de parmetros como rea&Iirrea&. Tratase de uma cr#tica no-$o de representa-$o 1=. onge de um simp&es modismo entre inte&ectuais* o simu&acro é uma mudan-a na forma de )er o mundo 1:. Como nas sociedades primiti)as* o irrea& e o rea& )o&tam a se fundir. ,redom#nio do mito so?re a histria\ N$o é que n$o ha%a distin-$o entre )ida cotidiana e um fi&me na TQ* mas as imagens midiáticas permeiam de ta& forma o mundo que se tornam refer'ncias t$o ou mais ?ásicas de informa-$o do que o cotidiano* a ponto de nossa )is$o do cotidiano ser fi&trada pe&o cinema* pe&a te&e)is$o e por outros meios de comunica-$o de massa. ( simu&acro n$o é nossa perdi-$o* é nosso continente. ( mundo do simu&acro é feito de imagens fugaes* superficiais pro%etadas numa te&a* se%a um apare&ho de TQ ou um %ane&a de um meio de transporte. Nosso prprio o&har tornou se uma te&a para nossa sensi?i&idade. 2iante da )e&ocidade n$o nos detemos diante de nada* nem de ninguém. 6o menos é o esperado. Contemp&a-$o e rapide parecem antitéticas. 6 rea&idade se torna um %ogo de imagens em su?stitui-$o frenética. "imu&ar n$o é dissimu&ar. “2issimu&ar é fingir n$o ter o que se tem. "imu&ar é fingir ter o que n$o se tem” 3O642AG6A2* J. 199:* <;>. "imu&ar imp&ica na perman'ncia do %ogo*
6inda que* do ponto de )ista fi&osfico* o tema se%a comp&eLo* a compreens$o de simu&acro de Oaudri&&ard
1=
dia&oga com toda uma produ-$o art#stica contempornea* em que a centra&idade da imagem reproduida tecnicamente em?ara&ha os &imites entre o rea& e a fic-$o* como em Simulacros de "érgio "ant]6nna* 'eatro de Oernardo Car)a&ho* “6 ^&tima Tempestade” de ,eter 0reenaYaS* “6té o Fim do Mundo” de +im +enders* “( Fundo do Cora-$o” de Francis Coppo&a* “( "hoY de Truman” de ,eter +eir e “MatriL” dos irm$os +archaYsES e em Cenários em (uínas de Ne&son Orissac ,eiLoto. 2e&eue 31998> &he dá um sentido forte* ao co&ocar o simu&acro na ?ase de sua cr#tica ao p&atonismo*
1:
metaf#sica e a consequente des)a&oria-$o da apar'ncia e da imagem enquanto ta& 3<<=I:>. ( simu&acro passa a ser entendido n$o como cpia* mas a&go que p@e em quest$o as prprias no-@es de cpia e mode&o 3<=1>* n$o um #cone infinitamente degradado* mas uma imagem sem seme&han-a 3;=;>. "eria mesmo poss#)e& fa&ar de uma a&egria do simu&acro em 2e&eue. ,ara uma outra )is$o* em que a simu&a-$o seria so?retudo uma “técnica de representa-$o” e “uma mode&ia-$o”* consu&tar uis C&áudio Martino 3199:* ;.
:= da encena-$o* sem fim de pe-a* sem ?astidor* a n$o ser com a morte. 4m caminho é representar o me&hor poss#)e&. 6&go se )is&um?ra a&ém da perda dos sentidos a sedu-$o. Mais que procurar as origens do simu&acro para eLtirpá&o* aceito seus desafios. Na medida em que a simu&a-$o corri a refer'ncia e por conseguinte a &gica da representa-$o 3idem 1991?* 1=>* o sentido se torna fachada* espetácu&o* ru#na. 2epois da atitude de fasc#nio frente ao es)aiamento de sentido* presente na )a&oria-$o da pu?&icidade* de formas desérticas e indiferentes* como proceder em meio s apar'ncias se n$o seduir e se deiLar seduir 3idem* <<9>\ 6 sedu-$o n$o deiLa de ser uma no)a forma de atuar na contemporaneidade* na ordem do simu&acro* em oposi-$o a uma ordem da produ-$o do rea& 3idem 198R* ;< e =9>. 6 comp&eta genera&ia-$o X tudo é potico* seLua&* estético* ou se%a* nada é potico* seLua&* estético etc 3idem 199D* 15> X condu por sua )e a uma indiferencia-$o* a um 'Ltase do consumismo* re)erso de um trnsito permanente de )a&ores 3um e outro> e do neutro 3nem um nem outro> que procria* na esfera dos simu&acros. “"eduir é morrer como rea&idade e produirse _?arrocamente` como engano” 3idem* 1991?* :9>. "eduir imp&ica radica&iar os cdigos em trnsito* a incertea. preciso articu&ar )a&ores e)anescentes* difusos. "er mais e)anescente que o e)anescimentoH simu&ar* hiperrea&iar ao in)és de e)ocar uma re)o&ta crit#ca* negati)a* catastrfica* da crise. 6rtif#cio do corpo em paiL$o* do signo sedutor* am?i)a&'ncia dos gestos* e&ipse na &inguagem* máscara no rosto e tirada que a&tera o sentido 3idem 199D* =D>. 7sse no)o espa-o de encena-$o tensiona um tempo m#tico* do presente midiático* com uma mu&tip&icidade de tempos histricos passados e presentes. 6 identidade pode &e)ar pris$o de uma uni)ersa&idade homog'nea e autoritária. 6 diferen-a eLacer?ada &e)a aos iso&acionissmos* autoritarismos das minorias* ?airrismos. 6 indiferen-a se dá quando os &imites entre eu e outro* &onge e perto* passado e presente se
::85 disso&)em. 6 sedu-$o está para a&ém da indiferen-a* está no estranho 3idem* 199D* 159>* no meio entre o igua& e o diferente* ao mesmo tempo* dentro e fora de ns. "edu-$o* estratégia de um su%eito desreferencia&iado e descentrado num mundo de apar'ncias indefinidamente re)ers#)e&. 6 sedu-$o* na 'nfase da apar'ncia* cria no)os rituais* no)as formas de )a&oria-$o do espa-o pK?&ico e de sua re&a-$o com o pri)ado* se é que ainda podemos usar estes termos* )a&oria um mistério deri)ado da atra-$o pe&o supérf&uo* pe&o )aio 3idem* 85>. 6 sedu-$o é um %ogo mK&tip&o contra a po?rea do seLo ?ana&* heterosseLua& ou homosseLua&. 6 sedu-$o é transeLua& por transitar da diferen-a seLua& para a indiferencia-$o dos p&os* do seLorei para o artif#cio no corpo* nos sentimentos 3idem* <:>. 6 sedu-$o cria uma ética da apar'ncia* uma ética estética* em que reside a possi?i&idade do dese%o de estar %unto. 4ma estética do artif#cio contempornea poderia soar demasiado datada nos anos 8D* quando o paradigma da arte como simu&acro te)e seu grande momento* marcadamente em fun-$o das idéias de Jean Oaudri&&ard 18* em contraposi-$o a uma po&itia-$o da su?%eti)idade* ao retorno do rea& na sua ?ana&idade quanto na sua materia&idade* como um paradigma da arte dos anos 9D. Mas se o fasc#nio pe&a rea&idade for mais do que uma edi-$o de estéticas natura&istas* que ainda ?uscariam documentar um mundo transparente* a pro?&emática do artif#cio ainda continua atua&* para a&ém das orgias metatetLtuais e dos cansa-os psutpicos* como um mo)imento centra& na arte contempornea. ,ortanto* pensar uma estética do artif#cio imp&ica retomar a a?ertura propiciada por C&ément Aosset e 0uS "carpetta* desen)o&)'&a como uma afirma-$o mais positi)a e prof#cua da espetacu&aria-$o do rea&* em que o artif#cio n$o s n$o aparece como dissimu&a-$o* mentira* mas descontri a dua&idade entre naturea e cu&tura* nem como a&go a ser sistematicamente atacado e destru#do. 4ma estética do artif#cio* marcada por uma &udicidade [uanto a suas ref&eL@es so?re arte* so?re o transestético* seria interessante consu&tar ) )rte da Desapari*+o.
18
:8 constante de sentidos e imagens* afeti)idades e corpos* pe&a di)ers$o que rima com ref&eL$o 32W7A* A. 199<> 19 e pe&o espetácu&o que n$o rima necessariamente com tota&itarismo* remete decisi)amente a uma tradi-$o ?arroca do mundo como grande e permanente teatro* ant#doto negati)idade com que cr#ticos contemporneos como Jean Oaudri&&ard* ao menos na parte mais conhecida de sua o?ra e de forma am?i)a&ente* e 0uS 2e?ord* mais panf&etário e contestador . 7nquanto as drag queens simp&esmente eLpressam a incongruidade* o camp rea&mente usao para rea&iar uma s#ntese maior 3idem>. ( camp “está situado no ponto de emerg'ncia do artificia& no rea&* da cu&tura na naturea* ou me&hor* quando e onde o rea& se desagrega em artif#cio* a naturea em cu&tura. ( camp restaura )ita&idade ao artif#cio* e )ice ,ara uma )is$o histrica da ascens$o da di)ers$o na sociedade norteamericana* sem grandes ref&eL@es
19
tericas* )er 0a?&er 31999> Como na s#ntese conhecida “( espetácu&o é o capita& em ta& grau de acumu&a-$o que se torna imagem”
327O(A2* 0. 199: * <5>.
:985 )ersa* deri)a o artificia& do rea&* a&imentandoo de )o&ta ou como se o rea& fosse rea&” 32(M(A7* J. 1991* ;1<>. U 2iferente do Orasi&* onde o termo com eLce-$o de refer'ncias esporádicas e pouco desen)o&)idas* estudo do camp enquanto categoria anatica te)e um certo crescimento de interesse no meio uni)ersitário norteamericano* especia&mente dentro dos estudos gaSs e &és?icos* na medida em que “torna o g'nero uma quest$o estética” 32(M(A7* J. 1991* ;11>* ?em como na sua radica&ia-$o terica e potica* dentro dos chamados estudos queer * %á introduidos no primeiro ensaio. Nos anos 9D* a pu?&ica-$o de tr's co&etneas de ensaios 3O7A0M6N* 2. 199;* M7W7A* M. 199R e C7T(* F. 1999> e )ários artigos so?re o camp co&ocam como pro?&ema centra& as re&a-@es entre arte e potica* seu uso por di)ersos atores sociais* se%a ao criarem no)os fatos poticos e inter)en-@es midiáticas* se%a por diá&ogos esta?e&ecidos com o Eitsch e o trash. No quadro de uma sociedade de massas* o camp em?ara&ha* desqua&ifica a distin-$o entre cu&tura a&ta e cu&tura ?aiLa* pe&a seriedade da sua postura estetiante e afeti)a* mesmo na derris$o. ( camp n$o considera a a&ta cu&tura como padr$o do que seria o ?om gosto* como no caso do Eitsch* cu%a pretens$o em imitá&a decorre de um dese%o de ascens$o dos estratos médios 3A(""* 6. 199;* =;>. ( camp tam?ém n$o se confunde com o praer trash eLtra#do do mau gosto e seu cu&to* marcado pe&o sarcasmo* sintetiado no &ema quanto pior* me&hor. ( camp tra a&go reca&cado na arte e cr#tica modernas a afeti)idade* mesmo a identifica-$o com a o?ra e com seu autor. ( que há de estranho nos tre%eitos* no gosto pe&a disco* pe&as can-@es francesas ou por me&odramas é menos o rid#cu&o do eLagero e mais nosso fasc#nio pe&o sentimenta&ismo que insistimos em re)e&ar de outra forma* enco?rindoo pe&a ironia e pe&o cinismo* considerandoo um escapismo idea&iante. ( que é dif#ci& de ser enunciado na contemporaneidade* re)e&ase no camp* so? a capa do humor ferino o medo de ser afeti)o ocu&ta o medo de ser feminino* e*
8D por eLtens$o* o medo de ser gaS* especia&mente em conteLtos t$o decisi)amente machistas como o ?rasi&eiro* ou ainda* de forma mais amp&a* o temor que se%a prefer#)e& ser sentimenta& do que n$o ter ou demonstrar nenhum sentimento. 7 n$o estaria a# toda nossa pouca capacidade de de)anear* sonhar* ser singu&ar* enfim* em tempos de redundncia informaciona&\ (nde a de&icadea\ ( grande escnda&o* %á disse Caetano Qe&oso em uma can-$o* é a so&id$o. Norma&mente um em?ara-o para a cu&tura gaS ps"toneYa&&* o camp se tornou potico* n$o s por sua margina&idade inicia&* como cdigo espec#fico para pessoas iso&adas* eLc&u#das ou so&itárias 3(N0* ". 199;* 89I9D>* forma de so?re)i)'ncia* “num mundo dominado pe&o gosto e interesses daque&es a quem se ser)e” 3A(""* 6. 199;* =<>* um “hero#smo de pessoas n$o chamadas a serem heris” 3C(A7* ,. 198R*15>* até passar a ser uti&iado em passeatas e manifesta-@es de mi&itantes gaSs 3M7W7A* M. 199R* 1>* mas pe&a centra&idade do afeti)o. 6pesar do riso* o camp é “sentimento terno”* as pessoas que o apreciam rea&mente se identificam com e&e 3"(NT60* ". 198:* ;;=>. /o%e* o camp eLpressa n$o o dese%o de afirma-$o do esteretipo en)e&hecido da ?icha &ouca* mas o dese%o de empreendermos todos* das mais di)ersas seLua&idades e sensua&idades* uma no)a educa-$o sentimenta&* n$o pe&a ?usca da autenticidade de sentimentos cu&ti)ados pe&os romnticos* mas pe&a )ia da teatra&idade* quando* apesar da so&id$o* para a&ém da dor maior da eLc&us$o* da rai)a e do ressentimento* possa ainda se fa&ar em a&egria* em fe&icidade. Fa-a uma pose. 7u fa-o. 6gora.
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