Esquerda, Direita e Governo: A ideologia i deologia dos partidos partido s pol´ pol´ıticos brasileiros brasilei ros∗ Cesar Zucco Jr. Princeton University
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25 de novembro de 2009
Este cap´ cap´ıtulo apresenta uma atualiza¸c˜ c˜ao a o e corr corre¸ e¸c˜ c˜ao ao das estima estimativ tivas as de posicio posicionam namen ento to ideol´ ogico ogico dos principais partidos Brasileiros no per´ per´ıodo p´os-constituinte os-con stituinte,, utiliza u tilizando ndo o m´etodo etod o proposto por Power & Zucco Jr. (2009), mas incorporando resultados da PLIO 2009 e fazendo uso de dados mais completos acerca dos parlamentares que responderam mais de uma edi¸c˜ao ao da pesquisa. O presente trabalho trabal ho examina exa mina tamb´em, em, ainda que brevemente, br evemente, o poss´ıvel ıvel significado sig nificado substansubstan tivo dessas posi¸c˜ c˜oes, oes, e o papel de ideologia no comportamento dos parlamentares no plen´ario. Para a primeira primeira destas quest˜ quest˜oes, oes, o trabalho compara os resultados obtidos a partir das perguntas acerca de localiza¸c˜ c˜ao ao ideol´ ogica ogica com uma pergunta “substantiva” “substantiva” inclu´ inclu´ıda em diversas (mas n˜ ao ao todas) as edi¸c˜ coes o˜es da Pesquisa Pesquisa Legislativ Legislativa. Na discuss˜ discuss˜ao ao da segunda quest˜ao, ao, as posi¸c˜ c˜oes oes ideol´ogicas ogicas estimadas a partir dos surveys s˜ao ao incorporadas `a an´ alise alise das vota¸c˜ coes ˜oes nominais na 53a legislatura, legislatura, possibilitando possibilitando o estudo estudo do comportamen comportamento to dos parlamen parlamentares tares.. H´ a uma estabilidade estabilidade na maneira maneira pela qual os parlamenta parlamentares res vˆeem eem a si mesmos mesmos e aos seus pares, pares, mas esta estabilidade estabilidade mascara mascara uma significativ significativaa mudan¸ mudan¸ca ca no significado substantivo das posi¸c˜ c˜oes oes ideol´ogicas ogicas e ao relativamente pequeno impacto dessas classifica¸c˜ c˜oes oes ideol´ogicas ogicas no comportamento portamento legislativo. legislativo. Esquerda Esquerda e direita direita ainda est˜ ao claramente associadas a maior e menor ao interven¸c˜ c˜ao ao do Estado na economia, respectivamente, mas houve uma consider´avel avel retra¸c˜ c˜ao ao das posi¸c˜ c˜oes oes mais `a esquerda. Al´em em disso, o cap´ cap´ıtulo mostra evidˆ encia encia de que ideologia n˜ao ao ´e a Preparado para o Semin´ario ario “Legislator Views of Brazilian Brazilian Governanc Governance”, e”, Universidad Universidadee de Oxford, Setembro Setembro de 2009. O presente cap´ cap´ıtulo inclui material or iginalmente em outros trabalhos. Parte dos dados utilizados foram coletados por Tim Power e Leˆoncio oncio Martins Rodrigues. Rodrigues. ∗
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principal clivagem nas vota¸c˜oes realizadas na Cˆamara de Deputados.
Estimando a “real” posi¸ c˜ ao dos partidos A PLIO 2009, assim como todas as edi¸c˜oes anteriores das Pesquisas Legislativas (Power 2000), inclu´ıram quest˜oes de classifica¸c˜ao ideol´ ogica, onde parlamentares se auto-classificar e classificavam todos os principais partidos em uma mesma escala ideol´ogica de 1 a 10. 1 Embora a ordem dos partidos seja bastante consistente entre os respondentes, parlamentares utilizam esta escala de maneira bastante variada. Enquanto alguns utilizam a escala completa, outros concentram a grande maioria dos partidos em alguma regi˜ao da escala. Embora este seja um problema bastante conhecido (Aldrich & McKelvey 1977, Poole 1996, King, Murray, Salomon & Tandon 2004), ele nem sempre ´e levado em conta nas an´alises de surveys. Al´em disso, a compara¸c˜ao de resultados de surveys tomados em legislaturas diferentes pode tamb´em ser problem´ atica, pois o significado da escala pode muito bem variar ao longo do tempo. Um exemplo do primeiro destes problemas pode ser visto na Tabela 1 (reproduzida de Power & Zucco Jr. (2009))) que mostra as respostas `a pergunta de classifica¸c˜ao ideol´ ogica dos partidos dadas por trˆ es parlamentares em 1990 (a filia¸c˜ao partid´ aria e o estado dos legisladores s˜ao reais). As respostas de Fulano (PT–SP), Beltrano (PFL–MS), e Sicrano (PMDB–PE) sugerem um ordenamento bastante semelhante dos partidos, mas a escala de resposta foi utilizada de maneira muito diferente por cada um. Fulano espalhou os partidos de 1 a 10 (com consider´avel distˆancia entre os partidos da direita e o demais), Beltrano usou somente a primeira metade da escala e Sicrano utilizou somente o centro da escala. ´ poss´ıvel que os legisladores utilizem Um problema similar aflige os dados no tempo. E diferentes segmentos da escala em diferentes per´ıodos, sem que o ordenamento dos partidos ´ poss´ıvel que o que esteja nem o seu significado substantivo tenham realmente mudado. E mudando seja simplesmente o uso que se faz da escala. Uma tentativa de solucionar este problema consistiria em ancorar as escalas de distintos anos em alguns pontos fixos. Os pontos fixos, como explico a seguir, s˜ao os legisladores que responderam a mais de um survey. Para tentar lidar com ambos estes problemas, Power & Zucco Jr. (2009) aplicaram dois procedimentos de transforma¸c˜ao das respostas dos parlamentares `as perguntas de classifica¸c˜ao ideol´ ogica para obter estimativas das posi¸c˜oes ideol´ogicas dos partidos que s˜ao compar´ aveis 1
Seria melhor utilizar uma escala de 0 a 10, j´a que 5, neste caso, seria efetivamente a posi¸ca ˜o de centro. No entanto, optou-se p or preservar a comparabilidade com surveys anteriores.
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Tabela 1: Examples of Individual Scale Effects
Fulano PT-SP
Beltrano PFL-MS
Sicrano PMDB-PE
Esquerda PCdoB PT PDT PCB 1 PSB 5 2 PT PDT PCdoB PSB PCB 2 1 PT, PC do B, PCB PDT, PSB 3
Centro
Direita
PSDB PMDB 4 6
PFL, PDS, PRN PTB, PL, PDC 10
PSDB PMDB 3
PFL, PDS, PRN PTB, PL, PDC 5
PSDB PMDB 4
PTB PL 5
PFL PDS PDC 6
PRN 8
Notes: Esta tabela ´e reproduzida de Power & Zucco Jr. (2009). Os n´umeros sob os partidos ou grupo de partidos
indicam as posi¸co ˜es efetivamente dadas pelos legisladores. Os termos “Esquerda,” “Centro,” e “Direita” s˜ao meramente ilustrativas, e n˜ ao fizeram parte do survey . Os trˆ es legisladores s˜ ao identificados pelos n´ umero 246, 230, e 199 na base de dados do survey de 1990.
entre surveys. O primeiro procedimento visa separar a varia¸ca˜o no uso da escala da varia¸c˜ao nas posi¸c˜oes do partido em um dado survey, separa¸c˜ao esta que ´e poss´ıvel porque que cada legislador classificou os mesmos partidos. O segundo procedimento utiliza o fato de que v´arios parlamentares participaram de mais de um survey para colocar as respostas a diferentes surveys em um mesmo espa¸co. As posi¸co˜es ideol´ogicas de todos os respondentes de todos os surveys s˜ao convertidas para uma u ´ nica escala comum, permitindo assim compara¸c˜oes diretas. Muito sumariamente, assume-se que cada partido tem uma “real” posi¸c˜ao ideol´ ogica que n˜ ao ´e observ´avel por n´os, analistas. Legisladores observam esta posi¸ca˜o com algum erro, e interpretam a escala de resposta de maneira diferente. Assim, observamos apenas a posi¸c˜ao P ij
∈
[1 , 10] que o legislador i (i = 1, . . . , N ) atribui ao partido j ( j = 1, . . . , M ) . Modelamos
estas respostas como P ij = α i + β i π j + ij
(1)
onde π j ´e a “verdadeira” posi¸c˜ao de cada partido, αi e β i s˜ a o parˆ ametros individuais que “movem” e “esticam” as escala, e ij ´e um dist´ urbio aleat´ orio (ou erro). Em seguida, definimos P ii
∈
[1 , 10] como sendo a autoclassifica¸ca˜o declarada de cada legis-
lador. Assumindo que cada legislador utiliza a mesma escala para posicionar que ele(a) utiliza
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para posicionar a si mesmo, a real posi¸c˜ao de cada legislador ´e ( πi ) definida por: πi =
P ii − αi β i
(2)
Uma vez obtidas as estimativas dos parˆametros da Equa¸c˜ao 1 ´e trivial calcular πi . A Equa¸c˜ao 1 ´e an´aloga a uma regress˜ao sem vari´avel independente, pois o π j n˜ao ´e observado, e ´e estimada por m´axima verossimilhan¸ca. Em alguns anos encontramos um ou dois parlamentares cujas respostas s˜a o t˜ ao inconsistentes com as dos demais respondentes que suas posi¸c˜oes estimadas s˜ao irrealisticamente extremas. Nestes poucos casos, optamos por truncar suas posi¸c˜oes. De posse das estimativas das posi¸c˜oes dos partidos e dos parlamentares em cada survey, selecionamos apenas os parlamentares que responderam a mais de uma edi¸c˜ao da pesquisa para o segundo procedimento. Este novo conjunto de dados ´e composto de uma matriz de posi¸c˜oes estimadas dos parlamentares selecionados πit e uma matriz de posi¸c˜oes estimadas dos partidos π jt , onde i e j s˜ ao definidos como antes e t = (1, . . . , T = 6), indicando o survey a partir do
qual as posi¸c˜oes foram estimadas. Aplicamos, ent˜ ao, o procedimento proposto por Groseclose, Levitt & Snyder Jr (1999), e estimamos a “posi¸c˜ao m´edia” de cada legislador em cada ano (πi )
da seguinte forma: πit = γ t + δ t πi + εit
(3)
De forma an´aloga ao procedimento anterior, assumimos que cada uma destas posi¸co˜es pode sofrer uma transforma¸c˜ao linear a cada edi¸ca˜o de modo a produzir os dados que efetivamente observamos (πit ). A premissa impl´ıcita ´e de que cada legislador est´a sujeito aos mesmos “choques” anuais. As estimativas dos efeitos de cada ano (γ t e δ t ) podem ser usados para converter as posi¸c˜oes dos parlamentares (πit ) e dos partidos (π jt ) para um “espa¸co comum” a todas as edi¸co˜es dos surveys. Estas novas estimativas — indicadas por — s˜ao obtidas por πit = ∗
∗
πit −γ t δt
e π jt = ∗
πjt −γ t . δt
Da mesma forma que antes, a Equa¸c˜ao 3 ´e estimada por m´axima verossimilhan¸ca.2
A Ideologia dos Partidos O resultado mais b´asico deste procedimento pode ser visto da Tabela 2. De acordo com os dados da PLIO, e como seria de se esperar, o PSOL ´e o partido mais `a esquerda do espectro 2
O Apˆendice traz uma tabela com as posi¸co ˜es estimadas da cada partido.
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Tabela 2: Partidos de Esquerda para Direita: 1990–2009 R2
Year 1990 1993 1997 2001 2005 2009
PDC PFL PDS PRN PT PL PC do B PSB PPS PDT PSDB PMDB PP PTB PPR PRN PSTU PFL PC do B PT PCB PSB PDT PSDB PMDB PTB PL
PC do B PT PSB PPS PDT PMDB PSDB PTB PL PFL PPB PMDB PL PFL PPB PSDB PTB PSB PMDB PTB PFL PC do B PPS PDT PT PSDB PL PP PSB PMDB PSOL PC do B PDT PV PPS PTB PR PP DEM PT PSDB PC do B PT PSB PDT PPS
0.91 0.88 0.98 0.86 0.79 0.87
Notes: Partidos empilhados, em qualquer ano, indicam que as diferen¸c as entre suas posi¸co ao ˜es estimadas n˜
s˜ ao significativas ao n´ıvel de 0.05. O teste de significˆ ancia entre todos os outros pares de partidos adjacentes 2 retornaram p-valores < 0.05. O R indica o encaixe do modelo (Eq. 1) aos dados.
ideol´ ogico brasileiro. Pela primeira vez em vinte anos, o DEM/PFL aparece a direita do PP (e seus antecessores). Esta mudan¸ca ´e, tamb´em, intuitiva considerando-se os esfor¸cos de renova¸c˜ao do DEM, e a dilui¸c˜ao ideol´ o gica do PP em fun¸c˜a o da alian¸ca com o governo Lula. Outra mudan¸ca digna de nota ´e a continuada caminhada do PPS (ex-PCB) para a direita. O PPS ´e o u ´nico partido a ter “saltado” sobre dois partidos adjacentes no atual per´ıodo democr´atico, estando hoje claramente `a direita do PSB e do PDT.3 Por fim, o PSDB ainda aparece em uma posi¸c˜ao estatisticamente indistingu´ıvel a do PMDB. Nossa an´ alise, no entanto, fornece estimativas mais detalhadas do que somente o ranking dos partidos. A Figura 1(a), por exemplo, mostra as estimativas das posi¸co˜es dos partidos — e os respectivos intervalos de confian¸ca (ao n´ıvel de 0.05) — para os principais partidos do per´ıodo. Para cada partido, as estimativas aparecem cronologicamente ordenadas de cima para baixo. Nesta figura, o PSDB e especialmente o PPS se destacam como os partidos que mais claramente moveram-se para a direita. Em geral, a maioria tanto dos partidos de direita quanto dos de esquerda est˜ao hoje mais pr´oximos do centro. A sugest˜ao, aqui, ´e que teria havido consider´avel convergˆencia no posicionamento ideol´ogico dos partidos no per´ıodo estudado. A Figura 1(b) mostra os resultados para o PT e o PSDB em maior detalhe. A regularidade emp´ırica mais interessante nesta figura ´e que nos ultimo cinco surveys, o partido na oposi¸c˜ao move-se para 3
Pode-se debater qu˜ao real ´e esta mudan¸ca, e o fato do partido ter feito oposi¸ca ˜o ao governo Lula durante boa parte dos dois mandatos pode confundir ainda mais a quest˜ao. No entanto, parece bastante plaus´ıvel que o PPS seja hoje um partido muito menos `a esquerda do que o PCB do final dos anos 80.
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PP
1990
Mediano PT PSDB
DEM PR
1993
PTB PMDB
1997
PSDB PDT
2001
PPS PSB
2005
PT PCDOB
2009 ←
Esquerda
Direita →
←
(a) Todos os Partidos
Esquerda
Direita →
(b) PT, PSDB e o Legislador Mediano no Congresso
Figura 1: Posi¸c˜oes ideol´ogicas: 1990–2009
a esquerda, enquanto que o partido no governo move-se para a direita — muito embora todos os movimentos de um survey para o outro estejam dentro do intervalo de confian¸ca da estimativa. As causas desta regularidade mereceriam um estudo mais aprofundado, mas deixamos esta tarefa para futuros trabalhos. Por fim, visitamos outra curiosa regularidade emp´ırica revelada pelos dados. A tendˆ encia de parlamentares brasileiros se declararem `a esquerda de onde “realmente” est˜ao localizados continua operando. Este fenˆ omeno j´ a foi h´a muito tempo identificado pela literatura como a “Direita Envergonhada” (Pierucci 1987, Rodrigues 1987), n˜ao parece ser uma exclusividade do caso brasileiro (Gonz´alez 1991). Mas a PLIO 2009 fornece evidˆencia que a direita continua envergonhada, e esta evidˆencia pode ser vista de diversas formas diferentes (Figura 2). A distribui¸ca˜o das autclassifica¸c˜oes convertidas, por exemplo, ´e consideravelmente mais “centrista” do que a distribui¸c˜ao das respostas n˜ao transformadas do parlamentares. Enquanto apenas 13.5% dos parlamentares se colocam a direita de onde colocam seus pr´oprios partidos, 25.5% se colocam mais a esquerda. Finalmente, e o que talvez seja mais impressionante, 88% dos parlamentares se posicionam `a esquerda da reputa¸c˜ao do seu partido, onde reputa¸c˜ao ´e entendida como a posi¸ca˜o m´edia do partido entre os n˜ao membros. Em termos hist´oricos, o resultado da PLIO 2009 ´e bastante semelhante ao de surveys anteriores. Embora a propor¸c˜ao de parlamentares que se coloca `a esquerda de onde posiciona 6
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a t i e r i D
4 . 1 2
o d i t r a o r P t n o e d C o ã ç a t u p e R
4
o ˜ a c ¸ a t u p e R ) c (
7 . 5 3
a d r e u q s E
1 3
9 . 7
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o d i t r a P o d o ã ç a t u p e R à a v i t a l e R o ã ç a c i f i s s a l c − o t u A
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o e r d i i t D r a P o i r p ó r P o d o r o t ã n ç e a C c i f i s s a l C a d r e u q s E
8 . 7 2
6 . 1
9 . 5 1
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d e l a c s w e a R R
9
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0 0 . 0 0
s a t s o p s e R e d o ˜ a c ¸ i u b i r t s i D ) a (
. o ) c o t d n ( i e 2 t r m a i r a d u p e i c g u o F e s r p A o o d . o o m r d o i b c t m o r a e d p r m o u o c e a a s ˜ s e o o d d ˜ a s a o n d ˜ a e ¸ u a c a q m c i fi s t e s i t e s s n a e s l a c d c i a n g i o ´ o r p l p s o ´ e e o r r d i p s o . s e a . ˜ u s o . c¸ s a n a i e s d o a p a p a h s m o o a c d n d o r n g o o a r ˜ a d r e e i c ¸ a d i v u l s i s n b g n i e o E t r l c s a i a o u d d d i n a a c t i r t e a n m p d o o c o a C s c d a i a i o c g i t o d l i g ´ ´ o o ´ e e e r l o d i e i m o D d i o t ˜ a s A e c¸ n e o a : ˜ m c c ¸ 2 a i fi a c s n o a fi s i r i c a i l u s s c s g a o o i l t p F c o u o t a u a a m s a o a r c d a r o o p d ˜ a m a c ¸ o l i s u c i g ) b e i b l r t ( a 2 s i d d a a a r u c g e a r i d a F o p ˜ A a c ¸ m o . a c c e fi ) t i a n s ( e s a 2 m l r c a o o r i u r t g e u i t a F n a a A a o r t : i s r a a c p t o s e m o N d c
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seu pr´oprio partido tenha diminu´ıdo em rela¸c˜ao ao pico desta s´ erie em 1997, a propor¸c˜a o de parlamentares que se coloca `a direita foi, tamb´ em, a mais baixa de todos os surveys. Em que pese eventuais problemas de representatividade do survey, esta tendˆ encia tem implica¸c˜oes interessantes para se pensar a pol´ıtica brasileira. Imagina-se, e h´a espa¸co para se testar esta hip´otese at´e mesmo em perspectiva comparada, que a direita envergonhada esteja associada `as heran¸cas da ditadura militar, e ao desconforto que tais heran¸cas podem causar ao pol´ıtico que abertamente se apresenta como de “direita”. O curioso, e o que merece ser estudado, ´e por que mesmo depois de mais de duas d´ecadas este “desconforto” continua existindo. Recentemente, o antigo PFL iniciou um processo de “moderniza¸c˜ao,” que incluiu a indica¸c˜ao de figuras mais jovens para posi¸c˜oes de destaque do partido e a pr´opria mudan¸ca no nome e sigla do partido. Certamente uma resposta ao fortalecimento do PT em regi˜oes antigamente controladas por pol´ıticos tradicionais, tal esfor¸co parece estar direcionado `a cria¸c˜ao de uma for¸ca pol´ıtica democr´atica — o novo nome n˜ao foi escolhido `a toa — e abertamente de direita. Ainda assim, a PLIO 2009 n˜ ao captou nenhuma mudan¸ca significativa na conota¸c˜ao do termo “direita,” muito embora, como mostramos a seguir, grande parte dos parlamentares brasileiros tenham preferˆ encias compat´ıveis com este termo. Neste sentido, ser´a realmente interessante observar os resultados da pr´oxima pesquisa, em 2013, para saber se o termo “direita” adquiriu uma conota¸c˜ao mais positiva. Tabela 3: A Direita Envergonhada no Tempo: 1990–2009 ˜ o relativa ` a Rep(a) Auto-classifica¸ca ˜o relativa `a Classifica¸ca ˜o do Pr´oprio (b) Auto-classifica¸ca uta¸ca ˜o Partid´ aria do Partido
1990 1993 1997 2001 2005 2009
` Esquerda A 26.50 18.30 34.00 35.10 30.10 25.40
A Mesma 59.40 63.90 48.40 50.00 56.60 61.10
` Direita A 14.20 17.80 17.60 14.90 13.30 13.50
1990 1993 1997 2001 2005 2009
` Esquerda A 85.40 85.80 78.40 78.40 79.60 88.10
` Direita A 14.60 14.20 21.60 21.60 20.40 11.90
Notas: A Tabela reporta os mesmos dados apresentados nas Figuras 2(b) e 2(c) para todas as rodadas da
Pesquisa Legislativa. A Tabela da esquerda, compara a auto-classifica¸ca ˜o de legisladores com a classifica¸ca ˜o que eles mesmos fazem do seu pr´oprio partido. A Tabela da direita compara a auto-classifica¸ca ˜o de legisladores com a reputa¸ca ˜o do seu pr´oprio partido, definida como a posi¸c˜ ao m´edia que os demais legisladores atribuem ao partido.
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Ideologia e Sistema Econˆ omico Muito embora alguns partidos tenham se movido em rela¸c˜a o aos demais, a an´alise da autoclassifica¸c˜ao ideol´ ogica de parlamentares reportada na se¸c˜ao anterior sugere uma certa estabilidade nos padr˜oes de resposta ao longo do tempo. O resultados, no entanto, mostram apenas que h´a uma estabilidade na maneira pela qual os parlamentares se vˆ eem, e vˆ eem os demais atores pol´ıticos no legislativo. Como os dados utilizados no processo de convers˜ao das posi¸c˜oes ideol´ ogicas n˜ ao est˜ao ancorados em nenhuma quest˜ao substantiva, os resultados n˜ao excluem a possibilidade de mudan¸cas no significado dos termos esquerda e direita. Assim, continuamos sem saber se esta estabilidade ´e uma estabilidade de cren¸cas e ideologia, ou simplesmente uma estabilidade epifenomenal induzida pelo h´ abito e refor¸cada pelo sistema.4 Para explorar o significado substantivo desta escala ideol´ogica, utilizaremos a pergunta da PLIO 2009 que indaga acerca do “tipo de sistema econˆomico seria mais adequado para o Brasil.” S˜ ao quatro as op¸co˜es de resposta: “Uma economia predominantemente de mercado com a menor participa¸ca˜o poss´ıvel do Estado,”, “um sistema econˆ omico em que houvesse uma distribui¸c˜ao eq¨uitativa entre uma parte de responsabilidade das empresas estatais e outra das empresas privadas”; “uma economia em que as empresas estatais e o Estado constitu´ıssem o setor principal mas sem que a participa¸c˜ao da economia do mercado fosse eliminada”; e, finalmente, “uma economia em que o capital privado fosse totalmente afastado dos principais setores econˆomicos, passando as grandes empresas para o controle estatal”. De modo a facilitar a exposi¸c˜ao, referiremos a estas respostas como modelos “de mercado”, “de equil´ıbrio”, “com predom´ınio do Estado”, e “puramente estatal”. Al´ em do Survey de 2009, esta pergunta foi inclu´ıda tamb´ em nas rodadas de 2005, 2001 e 1997. Embora n˜ ao fizesse parte do primeiro survey de 1990, esta pergunta foi retirada ipsis litteris de um survey realizado na mesma legislatura por Leˆoncio Martins Rodrigues. Embora
os instrumentos deste Survey tenham se perdido desde ent˜ao, foi poss´ıvel recuperar as respostas para esta e outras perguntas a partir de publica¸c˜oes feitas `a ´epoca (Rodrigues 1987), e incorpor´alas ao survey de 1990.5 Como os dados de Rodrigues foram coletados no in´ıcio da legislatura, 4
Conv´ em notar que a aparente estabilidade da estrutura ideol´ogica do sistema partid´ario brasileiro revelada na se¸ca ˜o anterior n˜a o deixaria de ser um fenˆomeno interessante a ser explicado, ainda que fosse puramente epifenomenal. 5´ E importante notar que o survey de LMR foi realizado quase trˆ es anos antes do survey de Power, e que incluiu somente deputados. Assim, ao contr´ ario dos demais anos, a an´alise dos dados de 1987/1990 inclui somente os deputados que participaram dos dois surveys.
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referiremo-nos, no restante deste trabalho, aos dados de “1987”.6 Como resultado, podemos analisar cinco dos seis surveys cobrindo mais de duas d´ecadas de democracia Brasileira. As an´alises que seguem s˜ao baseadas em regress˜oes log´ısticas ordenadas, com a vari´avel de resposta podendo assumir tantos valores quanto s˜ao as respostas, ordenadas em uma escala de mais para menos interven¸ca˜o estatal na economia. Tabela 4: “Explicando” Preferˆ encias Acerca de Sistema Econˆomico
IDEOLOGIA ANO=1997 ANO=2001 ANO=2005 ANO=2009 IDEO×ANO=1997 IDEO×ANO=2001 IDEO×ANO=2005 IDEO×ANO=2009
Coef. 0.89 1.89 1.67 2.08 1.68 -0.18 -0.27 -0.32 -0.32
Erro Padr. 0.12 0.75 0.70 0.69 0.66 0.18 0.17 0.17 0.16
Estat´ıstica t 7.39 2.52 2.38 3.03 2.57 -1.02 -1.59 -1.91 -1.98
avel dependente Notas: Tabela mostra os coeficientes estimados de uma regress˜ ao log´ıstica ordenada onde a vari´
´e a escala ordinal de resp ostas ` a pergunta acerca das preferˆencias em rela¸ca ˜o aos sistema econˆomico prefer´ıvel. A escala combina as quatro respostas poss´ıveis em trˆ es (Estatal + Predom´ınio Estatal, Equil´ıbrio entre Estado e Mercado, e uma Economia de Mercado). As vari´ aveis independentes s˜ao simplesmente a posi¸ca ˜o ideol´ ogica convertida de cada legislador, um indicador do ano, e um termo de intera¸c˜ ao entre elas.
Embora tabelas de coeficientes sejam de dif´ıcil interpreta¸ca˜o em modelos como este, vale a pena estudar brevemente a Tabela 4. O modelo inclui, al´em da posi¸ca˜o ideol´ ogica convertida de cada legislador, indicadores bin´ arios para os anos, e termos de intera¸c˜ao entre ano e o efeito de ideologia, permitindo que se estime a varia¸c˜ ao do efeito de ideologia ao longo do tempo. O significado exato dos efeitos estimados ser˜ao esmiu¸cados a seguir, mas ´e evidente desde j´a que o efeito de ideologia (medido pelo primeiro coeficiente em combina¸c˜ao com os coeficientes no termo de intera¸c˜ao), ´e sucessivamente menor a medida em que o tempo passa. Esta ´e evidˆencia preliminar que ideologia, hoje, tem uma rela¸c˜ao mais tˆenue com preferˆencias acerca do sistema econˆomico do que era o caso em 1987. Antes de prosseguir, ´e importante salientar que a defesa de uma economia puramente estatal jamais foi a posi¸c˜ao predominante em nenhum segmento do espectro ideol´ogico. Como pode ser visto na Figura 3, mesmo em 1990 esta op¸c˜ao n˜ ao era preferida nem mesmo pelos parlamentares localizados no extremo esquerdo do espectro ideol´ogico. Estes tinham uma probabilidade de 6
Os dados est˜ ao dispon´ıveis gra¸cas ao esfor¸co de Tim Power.
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eooga = 1
1
8 . 0
6 . 0
4 . 0
eooga = 1
2 . 0
Probabilidade de Resposta
eoog a = 1
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MERCADO
MERCADO
EQUILIBRIO
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(a) Probabilidade Previstas para 1987
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(b) Probabilidade Previstas para 2009
Figura 3: Esquerda e Direito em Dois Momentos Notas: As figuras mostram as probabilidades previstas de cada resposta para parlamentares cujas posi¸ co ˜es
convertidas s˜ ao extremas (1 ou 10) em 1987 e 2009. Estas probabilidade previstas foram estimadas a partir da regress˜ ao log´ıstica ordenada reportada na Tabela 4.
cerca de 0.55 de preferir uma economia predominantemente estatal, e essencialmente a mesma probabilidade (0.2) de preferir tanto uma economia mista equilibrada quanto uma economia puramente estatal. Desde ent˜ ao, esta op¸c˜ao perdeu ainda mais relevˆancia, sendo hoje ainda mais impopular entre os esquerdistas do que um modelo de mercado puro! Por isso, na an´alise que se segue, incorporamos as poucas respostas indicando preferˆ encia por um modelo econˆomico puramente estatal `as respostas de estado dominante, e utilizamos uma escala de apenas trˆ es pontos. A Figura 3, ainda, mostra tamb´em, a essˆencia da mudan¸ca ocorrida desde 1987. Embora as preferˆ encias de parlamentares de direita tenham permanecido basicamente inalteradas, houve uma consider´avel reconfigura¸ca˜o da esquerda. Em 1987, preferˆ encias por uma economia com predom´ınio estatal ou puramente estatal eram amplamente predominantes, enquanto que agora h´ a as posi¸ca˜o de equil´ıbrio entre p´ublico e privado predomina. Se ao inv´es de olharmos para parlamentares no extremo da escala ideol´ogica — como ´e o caso da Figura 3 — olh´assemos para parlamentares um pouco mais moderados, posi¸c˜oes pr´o-mercado seriam ainda mais predominantes. Embora intuitiva, a Figura 3 esconde grande parte da varia¸ca˜o que nossos dados permitem captar, tanto ao longo da escala ideol´ogica, quanto ao longo do tempo. Por isso, apresentamos resultados bastante mais detalhados na Figura 4. Percebe-se, inicialmente, que a grande mudan¸ca nos padr˜oes de resposta ocorreu entre 1987 e 1997. Neste sentido, ´e bastante lament´avel que o survey de 1993 n˜ao tenha inclu´ıdo a pergunta, pois poder´ıamos averiguar se tal mudan¸ca 11
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Zucco
ocorreu antes ou a reboque do plano estabiliza¸c˜ao de 1994. Em termos substantivos (i.e, sem levar em considera¸c˜a o a escala ideol´ogica), poderia-se definir arbitrariamente esquerda como o conjunto de parlamentares que com maior probabilidade de preferir um economia com estado dominante a qualquer outro tipo de arranjo. Similarmente, o de direita seriam caracterizados por uma preferˆencia prevista maior em rela¸ca˜o a um modelo de mercado puro, e os de centro seriam aqueles cuja maior probabilidade de resposta residiria na categoria de um modelo de equil´ıbrio entre estado e mercado.7 Embora exista, ainda, uma clara associa¸c˜ao entre a pergunta substantiva e a escala ideol´ogica, as posi¸c˜oes substantivas tidas como de direita e centro pela classifica¸c˜ao acima dominam hoje quase a totalidade da escala ideol´ogica. De 5 em diante, parlamentares tendem a preferir arranjos de mercado a qualquer interven¸c˜a o estatal. Entre 2 e 5, h´ a uma maior probabilidade de preferir um sistema de equil´ıbrio entre p´ublico e privado `as demais op¸co˜es. Somente parlamentares no extremo esquerdo da escala se dividem igualmente entre predom´ınio do estado e o equil´ıbrio entre p´ublico e privado. O survey de 1990 revelava um figura significativamente diferente dos demais anos porque existia, ainda, um grupo claramente de esquerda. Em v´arios aspectos, 1997 representou o apogeu da hegemonia do pensamento de mercado, mas desde ent˜ao observa-se muito mais uma estabilidade do que um crescimento das posi¸c˜oes substantivas de esquerda. Ainda que o legislador mediano pare¸ca estar mais a esquerda na escala ideol´ogica (Figura 1(b)) — provavelmente por conta do aumento da representa¸c˜ao de partidos de esquerda — estes parlamentares nominalmente mais a esquerda n˜ao devem estar representando posi¸c˜oes substantivamente mais a esquerda.
Ideologia ou Governismo? Independentemente do lastro substantivo da auto-classifica¸c˜ao ideol´ ogica, n˜ ao deixa de ser interessante indagar acerca das origens ou das conseq¨uˆencias destas auto-percep¸c˜oes compartilhadas entre as elites pol´ıticas do pa´ıs. Nesta se¸c˜ao, discutimos algumas das conseq¨ uˆencias. Em trabalho anterior, encontramos evidˆencia de que ideologia, nos u ´ ltimos anos, tem se tornado um determinante bastante fraco do comportamento legislativo na Cˆamara de Deputados (Zucco Jr. 2009). Na verdade, os mesmos resultados n˜ao excluem a possibilidade de que ide7
Pode-se, ainda, claramente subdividir a categoria centro em centro-esquerda e centro-direita, dependendo da segunda resposta mais prov´avel.
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ologia jamais tenha sido um determinante forte de comportamento.8 Esta quest˜ao continua em aberto por conta de dificuldades emp´ıricas em separar os incentivos providos pelo governo das predisposi¸co˜es ideol´ogicas dos deputados nos anos do governo de Fernando Henrique, mas durante os governos Lula, quando as colis˜oes de governo foram incoerentes do ponto de vista ideol´ ogica, pode-se sim separar os dois incentivos. Zucco Jr. & Lauderdale (2009) desenvolveram, recentemente, uma varia¸c˜ao em um dos modelos cl´assicos de estima¸c˜ao de pontos ideais de parlamentares (Clinton, Jackman & Rivers 2004) que utiliza n˜ao somente vota¸co˜es nominais mas incorpora, tamb´ em, dados de surveys de classifica¸c˜ao ideol´ ogica de parlamentares. Este modelo, essencialmente, realiza o mesmo procedimento de recupera¸c˜ao das posi¸c˜oes dos partidos descrito anteriormente concomitantemente com a estima¸ca˜o dos pontos ideais dos parlamentares em duas dimens˜oes a partir de vota¸c˜oes nominais. Diferentemente de outros procedimentos, este modelo utiliza as posi¸c˜oes ideol´ogicas dos partidos como priors sobre a posi¸c˜ao dos membros do partido na primeira dimens˜ao. Na pr´atica, o modelo for¸ca a primeira dimens˜ao a representar a clivagem esquerda-direita, sem impor nenhuma estrutura na segunda dimens˜ao. Pode-se, posteriormente, identificar a relevˆancia relativa das duas dimens˜oes atrav´ es do estudo das freq¨ uˆencia com que vota¸co˜es separam esquerda-direta e/ou governo-oposi¸ca˜o. Em termos bastante sum´arios, o modelo cl´assico (IRT) pode ser expresso como
P r (Y ij = 1) = Φ σ
−
1
(β j 1xi1 − β j 2 xi2 − β j 0 )
(4)
onde Y ij ´e o voto de cada legislador i em cada voto j , Φ ´e a distribui¸ca˜o cumulativa da normal, os β j ’s s˜ao parˆ ametros de cada voto e os x i s˜ao as posi¸c˜oes dos parlamentares em cada dimens˜ao. O que fazemos ´e simplesmente estipular que os xi1 de cada legislador sejam sorteados de uma distribui¸ca˜o normal centrada na posi¸ca˜o estimada do partido πk , se modo que: xi1
∼Normal
(πk , σx1 )
(5)
As posi¸c˜oes dos partidos, por sua vez, s˜ao estimadas a partir das perguntas de classifica¸c˜ao ideol´ ogica da PLIO. Assumimos, como antes, que existe uma posi¸c˜ao “verdadeira” para cada partido (πk ), mas que parlamentares individuais distorcem a escala de resposta linearmente 8
Embora padr˜ oes de comportamento durante a d´ ecada de 1990 parecem ser ideol´ogicos, ´e poss´ıvel que o real determinante de comportamento tenha sido a atua¸ca ˜o do governo, mas que esta seja colinear com ideologia.
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(µm0 e µm1 ) gerando os dados que s˜ao efetivamente observados ( P mk ). Assim, o modelo estima tamb´em os parˆametros da seguinte equa¸c˜ao: P mk = µ m0 + µm1 πk + mk
(6)
onde assume-se que mk seja normalmente distribu´ıdo. Os π k estimados desta forma informam a estima¸c˜ao dos xi 1, conforme mencionado anteriormente. O modelo ´e estimado simultaneamente por MCMC utilizando RBugs. Estimamos este modelo usando os dados da PLIO 2009 e todas as vota¸c˜oes nominais realizadas na 53a legislatura. O resultado mais b´asico ´e a bastante intuitiva Figura 5. Esta Figura mostra, em cinza claro, a posi¸ca˜o de cada legislador. Em destaque aparecem as posi¸c˜oes estimadas dos partidos. A cor dos c´ırculos dos partidos indica a freq¨ uˆencia com que cada um deteve pelo menos uma cadeira ministerial: os partidos em branco estiveram sempre representados no gabinete, os partidos em preto n˜ao estiveram jamais no gabinete, e os em cinza tiveram ministros por algum tempo. A utiliza¸c˜a o dos dados do survey “gira” o gr´afico que ´e gerado por modelos padr˜ a o de estima¸c˜ao de pontos ideais (i.e, Nominate e Ideal), de modo que a primeira dimens˜ao (horizontal) passa a corresponder ao que imaginamos ser ideologia. Note que as posi¸c˜oes estimadas pelo modelo n˜ a o s˜ao idˆenticas a`s posi¸c˜oes estimadas usando somente o survey. Estas informam a estima¸c˜ao daquelas, mas aquelas incluem informa¸co˜es retiradas das vota¸c˜oes nominais. Assim, por exemplo, o PSDB aparece mais `a direita do que sua ideologia pura e simples, talvez porque o partido tenha particulares incentivos para atuar de forma mais radical do que o esperado na legislatura. A segunda dimens˜ao (vertical) que emerge do modelo parece estar muito bem alinhada com o grau de “governismo” de cada partido. O PT e o PSDB aparecem como elementos extremos nessa dimens˜ao, o que seria de se esperar considerando quem s˜ao os dois partidos com reais pretens˜oes presidenciais. Os partidos de oposi¸c˜ao, incluindo a oposi¸ca˜o a` esquerda do PT (PSOL) aparecem claramente separados dos partidos governistas. Estes, por sua vez, apresentam consider´avel varia¸c˜ao ideol´ ogica e varia¸ca˜o no seu grau de governismo. O PV, caso bastante complexo durante o governo Lula, aparece, como seria de se esperar, como o menos governista dos partidos governistas. Cada vota¸c˜ao poderia ser representada graficamente por uma linha que corta a figura em
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diferentes dire¸c˜oes. Embora tenhamos omitido estas linhas da Figura 5 para facilitar sua visualiza¸c˜ao, ´e importante reportar que a maioria das linhas separam governo de oposi¸ca˜o e n˜ao esquerda de direita. At´e a reda¸c˜ao deste cap´ıtulo 443 vota¸co˜es nominais haviam sido realizadas na 53 a legislatura. Em 256 delas, o lado minorit´ario obteve pelo menos 10% dos votos. Consideramos apenas estes votos como “contestados,” e dividindo a linhas de corte em horizontais, verticais e diagonais, observa-se que mais de 71% da linhas de cortes s˜ao horizontais, ou seja, vota¸c˜oes n˜ao ideol´ ogicas que separam governo de oposi¸c˜ao. Por outro crit´erio, 93% das vota¸co˜es contestados tem um parˆametro de discrimina¸c˜ao na segunda dimens˜ao (β j 2) significativo estatisticamente (ao n´ıvel de 0.05) , enquanto que para apenas 46% dos votos o parˆametro de discrimina¸c˜ao da primeira dimens˜ ao β j 1 ) ´e significativo. Em termos bastante gerais, a incorpora¸c˜ao de informa¸ca˜o de surveys pode melhorar bastante a estima¸ca˜o de pontos ideais, gerando resultados que s˜ao mais intuitivos e informativos sobre a legislatura a ser estudada. No que diz respeito ao caso espec´ıfico da 53 legislatura brasileira, parece ser o caso que a principal clivagem ´e mesmo governo-oposi¸c˜ao, e n˜ao esquerdadireita. Esta evidˆencia ´e compat´ıvel com a id´eia de que quando h´a conflito entre as preferˆencias ideol´ ogicas dos parlamentares e os incentivos pol´ıticos gerados pelo executivo, estes ´ultimos tendem a predominar.
Conclus˜ oes O presente trabalho, de car´ater eminentemente emp´ırico, examinou alguns aspectos de ideologia dos parlamentares Brasileiros a partir de dados da PLIO 2009 e das rodadas anteriores da Pesquisa Legislativa. Perguntas sobre classifica¸c˜ao ideol´ ogica realizadas em todas as edi¸co˜es da pesquisa revelam que h´a bastante estabilidade na forma como os parlamentares se vˆeem, e como vˆeem os seus pares. Os partidos brasileiros aparecem ordenados no espectro ideol´ogico de forma bastante compat´ıvel com o que seria esperado pela comunidade acadˆemica 9 , e exceto pelo PPS, nenhum partido exibiu grandes varia¸c˜oes de posi¸c˜ao ao longo do tempo. O PSOL ´e o partido mais `a esquerda, o DEM aparece, pela primeira vez, como partido mais `a direita e o centro ´e ocupado pelo PMDB, em companhia do PPS e do PSDB. A hist´oria se complica um pouco, no entanto, quando levamos em considera¸c˜ao uma pergunta 9
A compara¸ca ˜o de dados de edi¸co ˜es anteriores da Pesquisa Legislativa com “expert surveys” como os Wiesehomeier & Benoit (2009), encontrou um correla¸ca ˜o bastante forte (Power & Zucco Jr. 2009).
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PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PT PR PT PT PT PT PT PT PR PT PT PT PT PT PT PT PTPT PP PT PT PT PT PT PT PRPR PT PT PT PT PT PR PR PT PT PT PP PR PT PT PT PR PT PTPT PR PR PMDB PT PMDBPTB PR PP PP PTB PR PT PR PT PR PR PR PTBPPPTB PT PT PR PT PTB PCDOB PR PP PR PTB PR PR PR PR PMDB PP PT PT PT PP PR PR PMDB PTB PR PT PMDB PDT PMDB PMDB PR PT PP PR PP PCDOB PTB PMDB PTB PT PTB PT PMDB PMDB PMDB PTB PP PRPR PMDB PSB PMDB PR PMDB PMDB PMDB PCDOB PT PTB PTB PR PMDB PTB PTB PP PMDB PMDB PMDB PR PT PMDB PMDB PP PR PMDB PMDB PTB PMDB PMDB PCDOB PT PTPSBPMDB PMDB PTB PP PTB PTB PP PT PMDB PMDB PP PCDOB PP PMDB PCDOB PSB PDT PMDB PMDB PR PCDOB PMDB PP PCDOB PSB PT PT PMDB PTB PSB PTB PCDOB PCDOB PMDB PTB PP PMDB PP PR PMDB PMDB PSB PMDB PMDB PTPDT PT PMDB PMDB PSB PMDB PP PTB PDT PTB PCDOBPSB PMDB PMDB PMDB PP PMDB PMDB PMDB PSB PR PDT PTB PSB PR PMDB PP PT PSB PDT PMDB PMDB PMDB PR PR PMDB PMDB PDT PMDB PSB PMDBPP PMDB PMDB PR PMDB PCDOB PMDB PP PP PDT PMDB PR PMDB PSB PDT PMDB PMDB PP PT PSB PMDB PTB PRPR PSB PP PMDB PMDB PMDB PSB PDT PDT PSB PP PDT PP PTB PR PMDB PDT PMDB PMDB PSB PSB PMDB PMDB PSB PP PSB PSB PDT PP PT PP PDT PMDB PTBPR PSB PSB PMDB PMDB PMDB PSB PP PP PMDB PDT PTB PMDB PMDB PDT PSB PDT PDT PV PMDB PMDB PSB PP PP PDT PDT PMDB PV PDT PMDB PDT PMDB PPPR DEM PDT PMDB PDT PV PP PR PV PDT PV PMDB DEM PMDB PMDB PMDB PV PDT PV PP PV DEM PSB PDT PVPTB PDT PMDB PSB PMDB PMDB PSBPMDB PP PDT PMDB PPSPTB PV DEM PMDB PSB PMDB DEM PV DEM DEM PSB PSDB PSB PMDB PSDB DEM DEM PPS PPS PSOL PPS PPS PMDB PP PT DEM PV PSOL DEM PSOLPTB PSOL PSDB PPS DEM PPSDEM DEM DEM PPS DEM PSDB PPS PSDB PSDB PSDB DEM DEM PSDB PSDB DEM PPS DEM PPS DEM PPS PSDB PSDB PSDB PSDB PSDB PPSDEM DEM DEM PPS PPS DEM PPS PSDB PSDB PSDB PSDB DEM PSDB DEM PSDB PSDB PSDB PMDB DEM DEM PSDB PSDB DEM DEM DEM DEM PSDB DEM PSDB DEM DEM PSDB DEM PSDB DEM DEM DEM PSDB PSDB DEM PSDB DEM DEM DEM DEM PSDB DEM DEM PSDB DEM DEM DEM DEM DEM PSDB DEM PSDB DEM PSDB PSDB PSDB DEM PSDB PSDB PSDB PSDB DEM PSDB DEM PSDB DEM DEM PSDB PSDB PSDB DEM PSDB PSDB PSDB PSDB PSDB PSDB DEM PSDB PSDB PSDB PSDB PSDB DEMPSDB PSDB PSDB PSDB PSDB PSDB PSDB DEM
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DEM PSDB
PPS
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Figura 5: A Cˆamara em Duas Dimens˜oes: Ideologia e Governo–Oposi¸ca˜o Notas: A figura mostra o posicionamento de legisladores e partidos em duas dimens˜ o es, na 53a legislatura,
estimado de acordo com o modelo definido acima. O modelo foi estimado utilizando todas as vota¸c˜ oes nominais na Cˆ amara at´ e o momento de reda¸ca ˜o deste cap´ıtulo (Fev. 2007– Set. 2009), e as classifica¸co ˜es ideol´ ogicas dos partidos da PLIO 2009.
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de car´ater substantivo sobre a preferˆ encias dos parlamentares acerca do modelo econˆomico ideal. Embora a direita tenha permanecido bastante est´avel em sua associa¸c˜ao ao modelo de mercado, a transitou significativamente de uma preferˆ encia por modelos predominantemente estatais para a aceita¸c˜ao de modelos de equil´ıbrio entre p´ ublico e privado. Em essˆ encia, o que era esquerda em 1987 praticamente desapareceu, o centro e a direita ocupam quase a totalidade da escala ideol´ ogica. Por fim, e possivelmente causado por este maior consenso substantivo entre esquerda e direita, a clivagem estrat´egica e n˜ao-ideol´ ogica entre governo e oposi¸c˜ao parece ter ocupado o papel predominante na estrutura das disputas pol´ıticas na Cˆamara dos Deputados. O quadro que se desenha, portanto, ´e um onde elites pol´ıticas continuam reconhecendo uma estrutura ideol´ogica em seu meio, mas onde preferˆ encias e comportamento est˜ao muito menos associadas a esta estrutura do que no passado.
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