ESCOLA SECUNDÁRIA DE MEM MARTINS Ano Lectivo 2008 / 2009
Prof.
11º ano Rodrigues
Paulo
GRUPO I (100 pontos) A Leia, atentamente, o seguinte excerto de Frei Luís de Sousa.
(...) MARIA – (saindo pela porta da esquerda e trazendo pela mão a Telmo que parece vir de pouca vontade) – Vinde, não façais bulha, que minha mãe, ainda dorme. Aqui, nesta casa é que quero conversar. E não teimes, Telmo, que fiz tenção, e acabou-se! TELMO – Menina!... 5
MARIA – “Menina e moça me levaram de casa de meu pai” – é o princípio daquele livro tão bonito que minha mãe não entende; entendo-o eu. Mas aqui não há menina nem moça; e vós, senhor Telmo Pais, meu fiel escudeiro, “faredes o que mandado vos é”. E não me repliques, que então altercamos, faz-se bulha, e acorda minha mãe, que é o que eu não quero. Coitada! Há oito dias que aqui estamos nesta casa, e é a primeira noite que dorme com sossego. Aquele palácio a arder,
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aquele povo a gritar, o rebate dos sinos, aquela cena toda... Oh! tão grandiosa e sublime, que a mim me encheu de maravilha, que foi um espectáculo como nunca vi outro de igual majestade!... À minha pobre mãe aterrou-a, não se lhe tira dos olhos; vai a fechá-los para dormir e diz que vê aquelas chamas enoveladas em fumo a rodear-lhe a casa, a crescer para o ar e a devorar tudo com fúria infernal... o retrato de meu pai, aquele do quarto de lavor, tão seu favorito, em que ele
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estava tão gentil homem, vestido de cavaleiro de Malta com a sua cruz branca no peito, aquele retrato não se pode consolar de que lho não salvassem, que se queimasse ali. Vês tu? Ela, que não cria em agoiros, que sempre me estava a repreender pelas minhas cismas, agora não lhe sai da cabeça que a perda de retrato é prognóstico fatal de outra perda maior, que está perto, de alguma desgraça inesperada, mas certa, que a tem de separar de meu pai. E eu agora é que faço
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de forte e assisada, que zombo de agouros e de sinas... para a animar, coitada!... que aqui entre nós, Telmo, nunca tive tanta fé neles. Creio, oh! se creio! Que são avisos que Deus nos manda para nos preparar. E há... oh! há grande desgraça a cair sobre meu pai... decerto! e sobre minha mãe também , que é o mesmo. TELMO (disfarçando o terror de que está tomado) – Não digais isso... Deus há-de fazê-lo por
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melhor, que lho merecem ambos (cobrando ânimo e exaltando-se). Vosso pai, D. Maria, é um português às direitas. Eu sempre o tive em boa conta; mas agora, depois que lhe vi fazer aquela acção, que o vi, com aquela alma de português velho, deitar as mãos às tochas e lançar ele mesmo o fogo à sua própria casa; queimar e destruir numa hora tanto de seu haver, tanta coisa de seu gosto, para dar um exemplo de liberdade, uma lição tremenda a estes nossos tiranos... Oh,
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minha querida filha, aquilo é um homem! A minha vida, que ele queira, é sua. E a minha pena, toda a minha pena é que não o conheci, que não o estimei sempre no que ele valia. Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett
Prova Escrita de Português 11º ano – Fevereiro de 2009
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Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem. 1. Situe o excerto nas estruturas interna e externa da obra e justifique a sua resposta. (15 pontos) Este excerto localiza-se no início do acto II,no salão do palácio de D. João de Portugal. Neste diálogo entre Telmo e Maria, ficamos a conhecer o que se passou entre o momento após o incêndio do palácio de Manuel de Sousa Coutinho e o momento antes do aparecimento do Romeiro, logo este excerto localiza-se na segunda parte da peça, ou seja, no conflito. 2. Refira de que forma este excerto contribui para o adensar do ambiente trágico e de fatalidade. Justifique a sua resposta recorrendo a exemplos textuais. (20 pontos) Este excerto contribui para adensar o ambiente trágico e de fatalidade, na medida em que podemos constatar vários indícios que nos levam a adivinhar a catástrofe final: a referência à obra de Bernardim Ribeiro “Menina e Moça” que simboliza a separação de Maria dos pais - “«Menina e moça me levaram de casa de meu pai»; à destruição do palácio onde a família vivia feliz (mesmo que aparentemente) – “Aquele palácio a arder(...)” e do retrato de Manuel de Sousa Coutinho, uma morte metafórica, - “(...) que a perda do retrato é prognóstico fatal de outra perda maior, que está perto, de alguma desgraça inesperada, mas certa, que a tem de separar de meu pai.” – que representa também a separação de Madalena e Manuel de Sousa Coutinho. Além disso, as palavras de Maria, uma criança precoce para a idade e com um carácter visionário, que acredita numa desgraça iminente – “Creio (...) há grande desgraça a cair sobre meu pai...(...) e sobre minha mãe também (...)” 3. Mostre de que forma a segunda fala de Maria nos revela uma personagem tipicamente romântica. (20 pontos) Maria é uma personagem tipicamente romântica, representa a mulher-anjo, e simboliza o nacionalismo pelo empolgamento face à atitude do pai de incendiar o palácio – “Aquele palácio a arder (...) Oh! Tão grandiosa e sublime, que a mim me encheu de maravilha, que foi um espectáculo que nunca vi outro de igual majestade!...(...)”. Além disso, é uma personagem que acredita em agoiros e pressagia o futuro – (...) que sempre me estava a repreender pelas minhas cismas,(...)”, “(...) que zombo de agouros e sinas... para a animar(...) que aqui entre nós, Telmo, nunca tive tanta fé neles.”
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4. Exemplique e interprete o recurso à exclamação, à repetição e à frase suspensa. (15 pontos) A conjugação do recurso à exclamação – “Menina!...”, à repetição – “Creio, oh! se creio!” e à frase suspensa – “Não digais isso...” sublinha a forte tensão emocional vivida por ambas as personagens, o desconforto e angústia do pressentimento da desgraça.
B Num texto, entre 80 e 120 palavras, refira a importância do tempo na obra Frei Luís de Sousa. (30 pontos) Tópicos a desenvolver:
Tempo histórico Tempo representado O simbolismo de referências temporais:Sexta-feira; ambiente crepuscular / nocturno (...)
Nota: para efeitos de contagem consultar a nota de rodapé da última página.
GRUPO II (50 pontos) Releia o excerto de Frei Luís de Sousa. Para responder aos itens de 1 a 6, escreva, na folha de respostas, o número do item seguido da letra identificativa da alternativa correcta. 1. “entendo-o eu”. (linha 6). A palavra sublinhada é... A. um pronome pessoal com função de complemento directo. X B. um pronome pessoal com função de complemento indirecto. C. um pronome pessoal reflexo. D. um pronome pessoal com função de sujeito. 2. “Vosso pai, D.Maria, é um português às direitas.” (linha 25). A expressão sublinhada é uma forma de tratamento... A. académica. B. eclesiástica. C. honorífica. D. nobiliárquica. X 3. “(...) não façais bulha” (linha 2). A forma verbal sublinhada encontra-se... A. no modo conjuntivo. B. no modo imperativo. X C. no modo indicativo. D. no modo infinitivo.
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4. “(...) tão grandiosa e sublime” (linha 10). O adjectivo encontra-se no grau... A. superlativo absoluto sintético. B. superlativo relativo de superioridade. C. comparativo de igualdade. X D. comparativo de superioridade. 5. “E não teimes, Telmo, que fiz tenção, e acabou-se! ” (linha 3). Esta frase constitui um acto ilocutório... A. assertivo. B. expressivo. C. directivo. X D. declarativo. 6. “Creio, oh! Se creio!” ( linhas 20 e 21). Na frase predomina a função da linguagem: A. poética. B. fática. C. apelativa. D. emotiva. X 7. Atente no texto que se segue e indique a veracidade (V) ou falsidade (F) das afirmações que se seguem: Quando Manuel de Sousa Coutinho teve conhecimento que os governadores pretendiam ocupar a sua casa, decidiu atear-lhe fogo, pois ele queria mostrar-lhes que era um homem de honra e coragem. Embora lho custasse, tudo era preferível a ser ocupada tiranamente pelos governantes. Com efeito, Manuel de Sousa Coutinho mostrou ser um homem valente e determinado. a) b) c) d) e) f) g) h)
As palavras sublinhadas são conectores do discurso. V A palavra “embora” exprime uma ideia de causa. F A palavra “quando” não pode ser substituída por uma expressão equivalente. F O pronome pessoal “lho” está a substituir Manuel de Sousa Coutinho. F A conjugação perifrástica “ pretendiam ocupar” exprime certeza. F A palavra “sua” é um pronome possessivo. F A palavra “ele” é um pronome pessoal sujeito. V A frase “(...) tudo era preferível a ser ocupada tiranamente pelos governantes” está na voz passiva. V
GRUPO III (50 pontos)
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Redija um texto argumentativo, entre 200 e 300 palavras, em que demonstre que Frei Luís de Sousa não é uma verdadeira tragédia. Tópicos a desenvolver:
Género híbrido; tragédia no conteúdo / drama na forma Características da tragédia clássica na obra; Características do drama romântico na obra. (...)
Observações 1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2008/). 2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até cinco pontos) do texto produzido.
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