O que devemos fazer
Liev Tolstoi
Livro onde autor fala dos problemas do uso do dinheiro e das semelhanças do trabalho assalariado com a escravidão; da inecácia
da esmola como forma de diminuir a miséria; das incoerências da teoria da divisão do trabalho; das falhas da ciência e da arte; da grande importância da autonomia (há uma grande ênfase neste assunto! dentre outras coisas" #ntes de divulgar o ar$uivo em outros sites acho $ue seria melhor fa%er uma revisão" #lguém gostaria de fa%er isso&
')*+)# '#T+ ,ue fa%er& -+./01# '#T+ # -olução # vida na cidade # vida do campo #cerca do destino da ciência e da arte -obre o trabalho e o lu2o 3onte4 http455taborita"blogspot"com"br5678957:5o$uedevemos fa%er"html
da esmola como forma de diminuir a miséria; das incoerências da teoria da divisão do trabalho; das falhas da ciência e da arte; da grande importância da autonomia (há uma grande ênfase neste assunto! dentre outras coisas" #ntes de divulgar o ar$uivo em outros sites acho $ue seria melhor fa%er uma revisão" #lguém gostaria de fa%er isso&
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,ue fa%er& ) 'assei toda minha vida no campo" +m 8<<8 fui viver em *oscou! e a miséria $ue reinava nesta cidade me encheu de admiração" =onhecia o $ue era a indigência nos povoados; mas a das cidades me era absolutamente desconhecida! e não podia e2plicála" > imposs?vel sair @ rua em *oscou sem encontrar a cada passo mendigos! mas mendigos de um tipo particular! $ue não se pareceu de modo algum aos dos povoados" +stes vão carregados com sacolas e têm constantemente nos lábios o nome de =risto4 a$ueles! pelo contrário! não levam sacolas nem pedem esmola" # maioria! $uando os vêem! cru%a o olhar com o seu e! conforme o efeito $ue lhes produ%! ou os pedem esmola ou passam reto" =onheço um mendigo deste gênero! e $ue é de origem nobre" > velho4 anda devagar! mancando intencionalmente! ora com o pé direito! ora com o es$uerdo" ,uando os vê! se apAia em um deles de modo $ue parece $ue os saBda4 se se detêm! leva a mão ao gorro! se inclina! e os pede uma esmola; mas! se passam reto! trata de fa%êlos crer $ue a inclinação obedeceu a seu defeito f?sico e segue seu caminho inclinandose de igual modo sobre o outro pé" > um verdadeiro mendigo de *oscou $ue conhece seu of?cio" 'ergunteime! 'ergunteime! desde logo4 'or$ue 'or$ue essas pessoas agem assim& *ais tarde me dei conta do motivo; mas me foi dif?cil sempre compreender sua posição" 0otei um dia! ao atravessar a rua de #fanassievsCD! #fanassievsCD! $ue um policial fa%ia entrar numa carruagem um homem do povo! hidrApico e esfarrapado" 'erguntei 'erguntei ao agente $ue delito havia cometido a$uele suEeito e me respondeu $ue o havia detido por mendigar" F +stá proibido mendigar& F perguntei" F > provável! F me respondeu o agente" # carruagem levou o hidrApico" *ontei em minha carruagem e os segui" ,uis saber se era verdade $ue estava proibido mendigar e $uais eram os termos da proibição" #pesar de todos meus esforços! não podia compreender compreender $ue estivesse proibido $ue um ser humano pedisse algo a seus semelhantes! e menos podia persuadirme disso ao ver os mendigos aos montes por *oscou" +ntrei no $uartel onde haviam condu%ido o hidrApico" /m homem! com o sabre ao lado e o revAlver na cintura! estava sentado ali de frente a uma mesa"
'ergunteilhe por $ue haviam detido o muEi$ue" G do sabre e da pistola me olhou com severidade e me disse4 F ,ue tens $ue ver com isso& 0o entanto! Eulgando necessário darme algumas e2plicaçHes! acrescentou4 F 0ossos chefes mandam $ue se detenha a essa classe de pessoas! e é provável $ue tenham suas ra%Hes para isso" etireime" Ii na antecâmara o agente $ue havia detido o hidrApico4 estava apoiado no marco de uma Eanela e e2aminava com severidade as páginas de um caderno" #pro2imeime a ele e lhe perguntei4 F > verdade $ue se lhes pro?be aos mendigos implorar a caridade em nome de =risto& G agente saiu de sua abstração; se 2ou em mim4 voltou a abstrair se! ou melhor dito! a cochilar! e murmurou4 F ,uando os chefes o ordenam! é por$ue convém" #poiouse de novo na Eanela e voltou a e2aminar seu livreto" -ai do $uartel e me dirigi a minha carruagem4 o cocheiro me perguntou4 F G prenderam& +ra evidente $ue se interessava pelo assunto" F -im! F respondi! F o capturaram" G cocheiro balançou a cabeça" F > verdade! pois! $ue em *oscou se lhes pro?ba aos mendigos pedir esmola pelo amor de 1eus& > poss?vel saber por $uê& =omo entender $ue sendo um mendigo de =risto o levem preso& F #tualmente é proibido mendigar" +m mais de uma ocasião me sucedeu ver aos agentes da pol?cia deter aos mendigos! condu%ilos @ prevenção e dali @ casa de )ussupoJ" /m dia encontrei na rua de *iasnitsCaia um grupo de trinta mendigos! condu%idos por agentes de pol?cia" 1irigime a um destes e lhe perguntei4 F ,ue delito motivou essas detençHes& F G de mendigar! F me respondeu" 1edu%iase disso $ue em *oscou! na nossa segunda capital! a lei proibia mendigar a todas essas gentes $ue se amontoavam pelas ruas e $ue formavam normalmente largas las diante das igreEas durante os of?cios religiosos! e! sobretudo! na ocasião de enterros" *as por $ue eram detidos uns e se dei2ava em liberdade outros& )sso era o $ue não me e2plicavam" +ntre a$ueles mendigos! havia legais e ilegais& +ram em tal nBmero $ue não lhes podia pegar a todos! ou @ medida $ue se prendia uns iam chegando outros& +2iste em *oscou um nBmero de mendigos de todo gênero4 há os $ue fa%em de mendigar um of?cio! e há outros $ue são realmente indigentes; $ue havendo ido a *oscou por um motivo $ual$uer! não podem dei2ar a cidade por falta de recursos! e $ue se encontram na miséria mais espantosa"
+ntre os mendigos desta categoria se veem aldeHes e aldeãs com seus traEes do povo! e fre$uentemente os encontrei" #lguns! ao sair do hospital onde estiveram enfermos! careciam de recursos para sua subsistência e para regressar a seu pa?s4 outros caram arruinados em um incêndio; havia também os propensos ou dados @ bebida! e este era provavelmente o caso do hidrApico de $ue falei antes" Também vi mulheres carregadas de crianças novas! e homens vigorosos $ue podiam trabalhar" +stes mendigos! $ue go%avam de boa saBde! me interessavam singularmente! e eis a$ui a ra%ão" 1esde minha chegada a *oscou! e como medida higiênica! tomei o costume de ir todos os dias trabalhar com dois muEi$ues $ue serravam madeira em Iorobiovu .orD (*ontes dos pardais" #$ueles aldeHes se pareciam em tudo aos mendigos $ue se amontoavam pelas ruas" /m deles! chamado 'iotr! natural do governo de Kaluga! havia sido soldado4 o outro! chamado -imion! eram um aldeão do governo de Iladmir" 0ão possu?am mais $ue a roupa do corpo! e os braços para trabalhar" .anhavam! com seu trabalho duro! de $uarenta a cin$uenta cope$ues por dia e ainda encontravam um meio de economi%ar algo da$uele salário" 'iotr acabava de comprar um casaco! e -imion deseEava reunir dinheiro suciente para regressar ao seu povo" 'or isso! $uando encontrava na rua dois homens em iguais circunstâncias! me interessava por eles e me di%ia4 'or $ue uns trabalham e outros mendigam& ,uando encontrava um destes Bltimos! lhe perguntava pelas causas $ue o haviam redu%ido @$uela situação" /m dia vi um muEi$ue de barba grisalha e em bom estado de saBde! $ue me pediu uma esmola! e lhe perguntei4 F =omo te chamas e de onde vens& espondeume $ue vinha de Kaluga em busca de trabalho; havia sa?do de seu pa?s com um camarada4 encontraram desde logo ocupação e fa%iam lenha no bos$ue; mas seu patrão dei2ou um dia de necessitálos! e os despediu4 buscaram novo trabalho inutilmente4 seu camarada regressou ao povoado! e ele! depois de $uin%e dias em $ue consumiu o economi%ado! carecia de meios para comprar um machado ou uma serra" 1eilhe o suciente para $ue comprasse uma serra e lhe indi$uei um lugar onde lhe dariam trabalho" aviame posto de acordo com 'iotr e -imion! $ue me haviam prometido acolher um camarada e encontrarlhe um companheiro para o trabalho" F =onto contigo! F disse ao mendigo F e não te faltará o $ue fa%er" F 0ão se preocupe! irei4 não mendigo por gosto4 tenho forças para trabalhar" #$uele muEi$ue me deu palavra de concorrer ao trabalho4 me pareceu franco e bemintencionado"
M manhã seguinte fui ver meus dois amigos e lhes perguntei por seu novo companheiro; mas não haviam visto a ninguém" + como por este! fui enganado por muitos outros aldeHes" #lguns me disseram $ue unicamente deseEavam reunir o dinheiro necessário para regressar a seus povoados4 dei! e oito dias depois voltei a vêlos em *oscou4 a maior parte me reconhecia e me es$uivava! mas alguns até se es$ueciam de minha sionomia e voltavam a me pedir esmola" #ssim foi como me convenci de $ue a$uela categoria de mendigos inclu?a muitos de má fé; mas até os mais mentirosos inspiravam pena! por$ue todos estavam fracos! miseráveis e doentes" M$uela classe de mendigos pertencia! ao di%er dos periAdicos! os $ue morriam de fome ou se suicidavam" )) ,uando eu falava desta miséria @s pessoas da cidade! me respondiam4 F GhN G $ue você viu não é nada ainda" Iá ao mercado de Khitrovo e entre numa de seus dormitArios4 ali encontrará a companhia dourada8" /m humorista me disse $ue a companhia se havia convertido Eá num regimento completo; tão numerosos eram os miseráveis! e a$uele humorista tinha ra%ão! mas teria sido mais Eusto di%er $ue a companhia dourada formava em *oscou um e2ército inteiro! cuEo contingente se elevava! pela minha conta! a cin$uenta mil pessoas" Gs habitantes da cidade me falavam com certa reali%ação da$uela miséria e parecia $ue se vangloriavam ao demonstrarme $ue conheciam a$uele estado de coisas" ecordo ter observado! durante minha estadia em Londres! $ue os habitantes da cidade pareciam vangloriarse também da miséria de Londres" F IeEa F pareciam di%er F como vão as coisas por a$ui afora" ,uis ver a miséria de $ue me falaram" Tentei ir algumas ve%es ao mercado de Khitrovo; mas $uei com certo desconforto e certo escrBpulo" F 'ara $ue serve ir observar os sofrimentos de pessoas a $uem não pode socorrer& F me di%ia uma vo% interior" F 0ão! F me di%ia outra vo% F Toda ve% $ue habita nesta cidade e vê seus esplendores! contempla também suas misérias" /m dia no festival do mês de de%embro de 8<<6! em $ue gelava atro%mente e corria um vento glacial! me dirigi ao mercado de Khitrovo" +ram $uatro da tarde" 0a rua de -oliannCa comecei a encontrar indiv?duos de cor enferma! vestidos de um modo raro com traEes $ue certamente não haviam sido feitos para eles! e calçados de uma maneira muito particular" G nBmero da$ueles indiv?duos aumentava @ medida $ue eu ia me apro2imando ao ponto onde $ueria ir4 o $ue mais me chamou a atenção foi seu despre%o a tudo o $ue lhes rodeava"
+nvolto cada um em um traEe estranho! $ue a nenhum outro se parecia! todos andavam com ar desdenhoso e sem preocuparse com o espetáculo $ue ofereciam" Todos se encaminhavam ao mesmo lugar" -em informarme de um caminho $ue não conhecia! lhes segui e cheguei ao mercado de Khitrovo" #li vi mulheres $ue tinham o mesmo aspecto; $ue ofereciam a mesma aparência esfarrapada! as mesmas botas ou os mesmos sapatos sem calcanhar! e $ue! apesar da irregularidade de suas vestimentas! tinham igual desenvoltura" Ielhas e Eovens! umas sentadas vendendo diversas mercadorias! e as outras andando da$ui para lá! discutiam vomitando inEurias" avia pouca gente na praça" +ra evidente $ue havia terminado a venda! e a maior parte dos transeuntes não fa%iam mais $ue atravessar o mercado e seguir mais acima! sempre na mesma direção" -eguios! e @ medida $ue avançava! a concorrência ia sendo maior" 1epois de atravessar o mercado! tomei uma rua adEacente e alcancei duas mulheres4 uma velha e outra Eovem" #mbas iam envoltas de farrapos de cor cin%a! e falavam de um negAcio" # cada uma das palavras necessárias @ conversação! acrescentavam uma ou duas inteiramente inBteis e das mais obscenas" 0ão estavam embriagadas! e o negAcio de $ue falavam as fa%ia ser desconadas" Gs homens $ue cru%avam com elas ou $ue iam a diante não prestavam atenção alguma @$uela maneira de e2pressarse tão estranha para mim +ra evidente $ue na$uele lugar todos se e2pressavam da$uele modo" M nossa es$uerda! cavam muitas casas para dormir! pertencentes a particulares! e alguns desgraçados iam entrando nelas4 os demais seguiam seu caminho" =hagando ao nal da rua! nos apro2imamos de uma casa grande $ue formava es$uina4 o maior nBmero dos pedestres se deteve ali" +m toda e2tensão da calçada! nos ladrilhos e até na neve da rua! se mantinham! de pé ou sentadas! muitas pessoas $ue tinham o mesmo aspecto $ue meus companheiros de caminho" #s mulheres estavam @ direita e os homens @ es$uerda4 passei diante de todos4 eram algumas centenas! e eu me detive onde terminava a la" # casa ante cuEa porta aguardavam todos era o asilo noturno gratuito! fundado por Liapine4 a multidão era composta de pessoas sem domic?lio $ue esperavam $ue se abrisse a porta; esta se abriu @s cinco e por ela se dei2ou entrar $uantos $uiseram" M$uela casa era aonde se dirigiam $uase todos a$ueles a $uem eu me havia adiantado" +u me havia detido no e2tremo da la de homens" Gs $ue estavam mais perto me olharam! e seu olhar e2erceu atração sobre mim" Gs farrapos $ue envolviam seus corpos ofereciam notável variedade4 mas a e2pressão dos olhares $ue a$uelas pessoas me dirigiram foi a mesma"
+m todas li esta pergunta4 F 'or $ue ra%ão tu! $ue pertences a outra esfera! paras a nosso lado& ,uem és& /m magnata cheio de arrogância $ue $uer divertirse com nossa miséria e dissipar seu fast?gio atormentandonos" Gu então4 -erá acaso! o $ue não é nem pode ser! um homem $ue tem pena de nAs& Todos me impressionavam4 $uando seus olhos $ue encontravam com os meus! os voltavam a outro lado" Tinha deseEos de conversar com um deles e! no entanto! me custou muito decidirme" *as Eá hav?amos apro2imado nossos olhares! sem se$uer ter nos falado ainda" 0ão obstante a distância $ue a vida havia posto entre nAs! ambos compreendemos $ue éramos homens! e Eá não tivemos medo um do outro" G $ue estava mais prA2imo era um homem de rosto rechonchudo e barba avermelhada" Levava nos ombros uma tBnica furada! e seus pés imundos medidos em sapatos sem calcanhar! e isso $ue fa%ia uns oito graus abai2o de %ero" 0osso olhar se encontrou pela terceira ou $uarta ve%! e tão disposto me senti a falarlhe! $ue o $ue me envergonhava não era dirigirlhe a palavra! mas não havêlo feito ainda" 'ergunteilhe de $ue pa?s era; respondeume e seguimos a conversa4 os demais se apro2imaram de nAs" +ra do governo de -molensCi e havia vindo a *oscou em busca de trabalho para ganhar o pão e poder pagar os impostos" F 0esses tempos falta trabalho" F me disse F Gs soldados monopoli%aram tudo" 0ão faço mais $ue ir seguindo" 3a% dois dias $ue não como" )sto o disse timidamente e tratando de sorrir" 'erto de nAs estava um velho soldado! comerciante de sbiten64 %lhe sinal $ue se apro2imasse" +ncheu um copo $ue o homem tomou muito $uente! e logo esfregou as mãos" 3eito isso! me fe% o relato de suas aventuras" -ua histAria se parecia @ dos demais4 esteve empregado por algum tempo; logo faltou trabalho! e para aumentar as desgraças! lhe haviam roubado no asilo noturno o soco em $ue guardava o dinheiro e o passaporte! de sorte $ue não podia sair de *oscou" 1isseme $ue! durante o dia! entrava nas tabernas onde se a$uecia e se mantinha com as migalhas de pão $ue os paro$uianos dei2avam" #lgumas ve%es o dei2avam entrar e outras não4 as noites! as passava no asilo" G Bnico $ue deseEava era $ue a ronda de pol?cia desse com ele e o enviasse por etapas a seu pa?s! por não ter passaporte" F -egundo di%em! F acrescentava como conclusão F na prA2ima $uintafeira virá por a$ui a ronda e me certamente de deterá" =ontanto $ue eu possa esperar até láN # prisão e a viagem em etapas lhe pareciam a terra prometida" +n$uanto contava sua histAria! três ou $uatro homens dos $ue ali
estavam haviam conrmado suas palavras! e acrescentado $ue também se encontravam em igual situação" /m Eovem! pálido! de cabelos longos! vestido unicamente com sua camisa rasgada nos ombros e com a cabeça coberta com um boné sem viseira! abriu passo por entre a multidão e chegou até mim" G frio lhe fa%ia tremer horrivelmente! apesar do $ue tratava de sorrir desdenhosamente en$uanto os muEi$ues falavam" Gferecilhe sbiten; tomou um copo; a$ueceuse também as mãos! e começou a falar! mas em seguida lhe apartou um indiv?duo de alta estatura! moreno! com nari% $ue bico de águia! sem nada @ cabeça! e levando como Bnico abrigo uma camisa indiana e um colete" G homem de nari% de bico de águia me pediu $ue lhe desse de beber" Logo chegou um velho alto! de barba terminada em ponta! vestido com um paletA atado @ cintura com uma corda e calçado com lapOs9" +stava embriagado" Ii em seguida um homem de rosto volumoso e olhos lacrimosos $ue levava vestido um casaco de tecido branco! e cuEos Eoelhos saiam pelos furos da calça (de verão rigoroso; Eoelhos $ue tremiam de frio e batiam um contra o outro" G pobre diabo tremia tanto! $ue derramou sobre si o conteBdo do copo" =obriramno de inEBrias" =ontentouse com sorrir de um modo triste e seguiu tremendo" 1epois vi passar sucessivamente ante meus olhos um ser disforme e curvado! coberto de farrapos e com os pés nus medidos em botas sem solas; outro! $ue se assemelhava a um antigo ocial; outro $ue tinha traços de sacerdote! e um $uarto! a $uem lhe faltava o nari%; e todos eles suplicantes! humildes! torturados pela fome e pelo frio! se estreitavam ao meu redor cobiçando sbiten" #cabaram com o $ue restava! e um deles me pediu dinheiro4 dei; mas logo me vi assediado por tal nBmero de solicitantes! $ue a$uilo se converteu em um caos" G porteiro da casa vi%inha gritou @ multidão para $ue sa?sse da calçada em frente da sua casa! ordem $ue foi obedecida na hora" 1a multidão mesma sa?ram alguns $ue restabeleceram a ordem e me tomaram sob sua proteção4 $uiseram abrirme caminho para $ue sa?sse de entre as massas; mas estas! $ue se estendiam ao longo da calçada! romperam suas las e se amontoaram ao meu redor" Todos me olharam e me suplicaram! e a e2pressam dos sofrimentos! da ansiedade e do respeito! pintado em seus semblantes! causava pena" 1eilhes tudo o $ue levava comigo! $ue não era muito; uns vinte rublos! e entrei com a multidão no asilo" +ste era imenso e estava dividido em $uatro seçHes4 as dos homens ocupavam o piso alto e a das mulheres o bai2o" +ntrei nesta Bltima! $ue era um vasto salão! todo ele cheio de beliches dispostos em duas linhas! uma sobre a outra" *ulheres de estranho aspecto! com os vestidos feito farrapos! umas Eovens e outras velhas! entravam e ocupavam os postos $ue encontravam livres"
#lgumas! dentre as velhas! se persignavam e re%avam pelo fundador do asilo; as demais riam e se inEuriavam" -ubi ao piso alto no $ual os homens estavam aloEados de igual maneira! e vi a um da$ueles a $uem havia dado dinheiro" #o verlhe! me senti envergonhado e me apressei a andar" -a? da$uela casa e entrei depois na minha! com a consciência de haver cometido um crime" -ubi a escada coberta de tapeçarias! e entre na antecâmara; tirei a peliça e me sentei @ medida $ue dois Eovens criados! vestidos de preto! me serviram os cinco pratos $ue constitu?am minha comida" 3a% trinta anos! vi guilhotinarem um homem em 'aris! diante de milhares de espectadores" -abia $ue o réu era um temido malfeitor! e não ignorava as ra%Hes $ue desde a séculos vêm sendo apresentadas para desculpar ou e2plicar semelhantes atos" -abia $ue a$uilo se fa%ia com intenção! conscientemente; mas no momento em $ue o corpo e a cabeça caram separados! e2alei um grito" =ompreendi! não por discernimento! não por sensibilidade! mas com todo meu ser $ue todos os sosmas $ue havia ouvido! relativos @ pena de morte! não eram mais $ue infames tolices" ,ual$uer $ue fosse o nBmero dos espectadores e o nome $ue se dessem! compreendi na$uele momento $ue acabavam de cometer um assassinato! o crime maior $ue se pode cometer no mundo! e $ue eu! por minha presença e por minha não intervenção! acabava de tomar parte nele e de aproválo implicitamente" 1e igual modo ali! em presença da fome! do frio e da humilhação da$ueles seres humanos! me convenci de $ue a e2istência de tais pessoas em *oscou era também um crime" + en$uanto isso nAs nos presenteávamos com carnes e pei2es re$uintados! e cobr?amos nossas habitaçHes e nossos cavalos com ricas tapeçarias e belos revestimentos" 1igam $uanto $ueiram os sábios do mundo acerca da necessidade de tal ordem de coisas! a$uilo era um pecado $ue se cometia incessantemente e no $ual eu participava com meu lu2o! pecado de $ue não apenas era eu culpado por complacência! mas por cumplicidade" # meu modo de ver! não havia mais $ue uma diferença entre a$uelas duas impressHes4 no primeiro caso! tudo o $ue eu pudera fa%er era interpelar aos assassinos $ue estavam perto da guilhotina e haviam ordenado o assassinato! di%endolhes o mal $ue fa%iam! na certe%a de $ue minha intervenção não houvera evitado a comissão do crime4 no segundo caso! não apenas podia dar o dinheiro $ue levava no bolso! mas também minha peliça e tudo $uanto tinha em minha casa" +! no entanto! não faço assim! e então me acreditei! e me acredito agora! e me acreditarei sempre cBmplice do crime $ue se comete constantemente! e essa responsabilidade recairá em mim en$uanto desfrute de uma alimentação supérPua en$uanto outros morrem de fome! e en$uanto eu tenha duas roupas e haEa $uem não tenha nenhuma" )))
=onfessei minhas impressHes a um amigo! vi%inho de *oscou! e se pQs a rir e me disse $ue a$uilo era conse$uência natural da vida das grandes capitais e $ue sA a meus preconceitos de provinciano devia atribuirse a$uela maneira de considerar as coisas" #sseguroume $ue a$uilo havia ocorrido! ocorria e seguiria ocorrendo sempre! por ser conse$uência inevitável da civili%ação" +m Londres ainda era pior a situação""" 'ortanto! não havia ali nada mau! nem motivo para $uei2arse" =omecei a refutar meu amigo! e o % com tanto calor e tão nervosamente! $ue minha mulher acudiu para inteirarse do $ue ocorria" 'arece $ue! sem me dar conta disso! me animava bruscamente e e2clamava com vo% comovida4 F 0ão se pode viver assim" > imposs?vel4 não se pode viver assimN 3ui repreendido por meu ê2tase inBtil! por não saber discutir com calma! e por irritarme de uma maneira inconveniente" 1emonstraramme! além disso! $ue a e2istência da$ueles desgraçados não podia ser uma ra%ão para envenenar a vida dos demais! $ue também eram meus prA2imos" =ompreendi $ue a$uilo era muito Eusto! e não repli$uei; mas interiormente sentia $ue eu tinha ra%ão também! e não lograva acalmarme" # vida da cidade! $ue até então me era estranha e me parecia estranha fe%se desde a$uele instante tão odiosa! $ue os pra%eres da vida lu2uosa e confortável! tidos como tais até a$uela data! converteramse para mim em tormentos" 'or mais $ue buscasse em minha alma uma ra%ão $ual$uer $ue desculpasse nossa vida! não podia ver sem me irritar meu salão e os salHes dos outros! nem podia ver uma mesa suntuosamente servida! nem uma carruagem! nem as loEas! nem os teatros! nem os c?rculos! por$ue não podia dei2ar de ver! Eunto a tudo a$uilo! os habitantes do asilo Liapine! torturados pela fome! pelo frio e pela humilhação" +rame imposs?vel desfa%er a ideias de $ue a$uelas duas coisas tinham perfeito enlace e de $ue uma era conse$uência da outra" ecordo $ue este sentimento subsistiu em mim sem modicação alguma! tal como se manifestou no primeiro instante! mas $ue veio outro a mesclarse com ele e a dei2álo em segundo plano" ,uando falava a meus amigos ?ntimos e a meus conhecidos! da impressão $ue me havia causado a visita ao asilo de Liapine! todos me respondiam no mesmo sentido $ue o amigo com $uem tão violentamente discuti; mas! depois! todos aprovavam minha bondade e minha sensibilidade! dandome a entender $ue a$uele espetáculo não havia produ%ido sobre mim tal impressão senão por$ue eu era um ser muito bondoso e uma e2celente pessoa" + eu acreditei neles de boa vontade" + instantaneamente surgiu em minha alma um sentimento de satisfação por crerme virtuoso e pelo meu deseEo de demonstrálo! sentimento $ue substituiu o de censura e os remorsos $ue me haviam atingido por minha conduta"
F Ierdadeiramente! F me di%ia F não é em mim nem no lu2o com $ue vivo onde recai a responsabilidade do $ue acontece! mas antes nas condiçHes inevitáveis da vida" 1e fato! a variação de minha maneira de viver não podia remediar o mal $ue havia visto" -e %esse como pensava! não conseguiria mais $ue fa%er desgraçados os meus parentes! sem melhorar por isso a situação dos outros" 1a? $ue meu dever não consistia em mudar de vida! mas em contribuir desde logo! na medida do poss?vel! a melhorar a situação dos desgraçados $ue haviam e2citado minha compai2ão" # Bnica coisa certa é $ue eu era um e2celente homem $ue deseEava lavrar o bem de meu prA2imo; e me pus a meditar em um plano de benecência mediante o $ual poderia provar minha virtude" 0a$uela época aconteceu o censo" +ra uma ocasião prop?cia para reali%ar meus proEetos" =onhecia muitas instituiçHes e sociedades benécas em *oscou; mas me pareceu nula sua atividade e mal dirigida para o $ue eu $ueria fa%er" 1ecidime a inspirar nos ricos simpatia aos pobres da cidade e logo a coletar dinheiro! aliando para isso pessoas de boa vontade" +ra preciso! também! aproveitarse do censo para visitar todas as tocas dos pobres; entrar em relação com os desgraçados; conhecer suas necessidades! e levarlhes socorros em dinheiro ou em trabalho" +ra preciso! também! leválos para fora de *oscou; colocar seus lhos nas escolas e os idosos! tanto homens $uanto mulheres! nos hospitais e nos asilos" #creditei $ue seria fácil constituir uma sociedade permanente cuEos associados se repartissem os bairros da cidade de *oscou e velassem para $ue não se engendrasse de novo neles a pobre%a nem a miséria! em cuEo caso atenderiam desde o princ?pio em sua remediação! tanto por meio de cuidados como fa%endo observar a higiene na miséria urbana" )maginava $ue em seguida Eá não haveria nem pobres nem necessitados na cidade e $ue tudo isso seria devido a meus esforços" #ssim poder?amos os ricos sentarnos tran$uilamente em nossos salHes! comer nossos cinco pratos e ir aos teatros e @s reuniHes em carruagem! sem $ue turbassem nossa tran$uilidade espetáculos semelhantes ao $ue eu havia presenciado perto do asilo Liapine" 1esde $ue tracei meu plano e redigi um artigo sobre o assunto! me dedi$uei! antes de imprimir o artigo! a visitar todos a$ueles amigos meus cuEa contribuição esperava obter" # todos $uantos vi a$uele dia (me dirigi especialmente aos ricos lhes repeti o mesmo! $ue era! mais ou menos! o conteBdo do artigo $ue publi$uei mais tarde" +u propunha utili%ar o censo para conhecer a miséria de *oscou e fa%er de sorte $ue não houvesse pobres em *oscou! com o $ue poder?amos go%ar os ricos! com a consciência tran$uila! do bemestar a $ue estávamos acostumados" Todos me escutavam com atenção! mas! $uando compreendiam do $ue se tratava! se rubori%avam! por mim! das bobagens $ue eu di%ia; mas a$uelas bobagens eram de tal nature%a! $ue não se atreviam a darlhes esse nome"
Terseia dito $ue alguma ra%ão estética obrigava aos $ue me escutavam a mostrar a mim uma indulgência e2cessiva" F #h! simN =ertamente""" )sso seria muito bom! F me di%iam" F > imposs?vel não se interessar por isso" F -im4 sua idéia é bela" +u também pensei sobre este estado de coisas! mas""" somos! em geral! tão indiferentes! $ue não convém contar com um ê2ito grande" 'elo mais! me encontro disposto a prestálos meu concurso no $ue você e2perimenta" Todos me respondiam de um modo análogo! mas imaginei $ue consentiam! não por$ue eu lhes houvera persuadido nem por$ue eles partilhassem do mesmo deseEo! mas por um motivo e2terior $ue não lhes permitia negarse" Também observei $ue nenhum dos $ue me haviam oferecido seu concurso me indicava a $uantidade com $ue se propunha contribuir" 1evia eu determinála e pedila" + eu a 2ava em 977! 677 ou 6R rublos" 0inguém me deu dinheiro! e digo isso por$ue tais pessoas se apressaram geralmente a dar a $uantidade $ue deseEam" 'ara ter um palco numa representação de Karah Sernhardt! pagase no ato com o obEetivo de não perder a função" #$ui! ao contrário4 de todos os $ue consentiram em abrir a bolsa e me e2pressaram sua simpatia! nem um sA me deu o dinheiro no ato" Limitaramse a aceitar silenciosamente a cifra $ue lhes 2ei" 0a Bltima casa $ue visitei a$uele dia havia muitas pessoas" # senhora ocupavase em atos benécos fa%ia muitos anos" Iiamse carruagens estacionadas ante a escada e criados em traEe de gala na antecâmara" 0o grande salão senhoras e senhoritas! vestidas com pretensão! estavam sentadas e vestindo bonecas" #lguns Eovens as acompanhavam" #s bonecas deviam ser postas @ venda em benef?cio dos pobres" G aspecto do salão e das pessoas $ue estavam nele me produ%iu uma impressão bastante penosa" -em ter em conta a fortuna da$uelas pessoas! $ue poderia valorarse em muitos milhHes; sem falar dos interesses de seu capital! gasto em traEes! bron%es! EAias! carruagens! cavalos e te2turas! os gastos feitos para a$uela noite em luvas! velas! chá! açBcar e bolos subiam a cem ve%es o valor da$uilo feito por a$uelas damas" #o ver tudo a$uilo! suspeitei $ue não encontraria ali simpatias para minha causa! mas eu havia ido para propor meu assunto e por penoso $ue me foi o e2pus! mais ou menos como o e2plicava em meu artigo" +ntre todas a$uelas pessoas! sA uma me ofereceu sua contribuição metálica di%endome $ue sua sensibilidade não lhe permitia visitar por si mesma aos pobres; mas nem me disse $uanto daria nem em $ue momento" Gutras duas pessoas! uma delas Eovem! me ofereceram seus serviços! $ue não aceitei" /ma senhora! a $ual me dirigi mais especialmente! me disse $ue não podia fa%er grande coisa por$ue dispunha de poucos recursos! e $ue sucedia isto por$ue todos os ricos de *oscou estavam aborrecidos! por haver dado Eá $uanto podiam para os pobres"
'or outra parte! haviamse distribu?do Eá aos benfeitores graduaçHes! medalhas e outras classes de honras! e para lograr algum resultado tocante @ $uestão monetária seria preciso obter das autoridades novas distinçHes" +mbora dif?cil! a$uele era o Bnico meio de obter recursos" #o regressar @ minha casa a$uela noite! voltei com o pressentimento de não poder reali%ar minha idéia" #lém disso! me encontrava confuso! por estar convencido interiormente de $ue durante todo o dia estivera fa%endo algo mau e vergonhoso" 0o entanto! nem por isso desisti" G negAcio se havia posto em marcha! e o amor prAprio me impediu de abandonálo4 #lém disso! o ê2ito! e ainda $uando não e2istia! sA o fato de perseguilo me permitia viver nas condiçHes atuais de minha e2istência! $ue era o $ue eu temia inconscientemente" 0ão dava crédito @$uela vo% interior! e seguia adiante com minha empresa" 1epois de haver dado meu artigo @ imprensa! li uma cApia dele ao conselho da cidade" +ncontravame tão confuso! $ue $uei corado e gagueEei ao lêlo" *eus ouvintes estavam! igualmente! cheios de confusão" ,uando terminei a leitura! e propus aos diretores do censo $ue utili%assem suas funçHes para ser os intermediários entre a sociedade e os necessitados! fe%se na sala um silêncio embaraçoso" Logo pediram a palavra dois oradores" -eus discursos dissiparam o desgosto $ue causou minha proposta! pois! dandome neles testemunho de grande simpatia! declararam impraticável minha idéia! idéia $ue em princ?pio haviam aprovado todos" -entiramse aliviados de um grande peso" 1eseEando esclarecer a $uestão! perguntei aos diretores se consentiam em e2aminar! durante o senso! as necessidades dos desgraçados e permanecer em funçHes para servir de intermediários entre os pobres e os ricos" -entiramse desgostosos de novo e seus olhares pareciam di%erme4 F 'or consideração a ti! reparamos há pouco a tolice $ue cometeste; e ainda segues incomodandonos& Tal era a e2pressão de seus semblantes" 0o entanto! me disseram de viva vAs $ue aceitavam minha proposta! e dois ou três! como se houvessem se colocado de acordo! me disseram separadamente4 F 'or nossa parte! cremonos moralmente obrigados a fa%er isso" 3alei também do assunto aos estudantes $ue se haviam encarregado dos trabalhos do censo! e minhas palavras produ%iram neles a mesma impressão! $uando lhes disse $ue a$ueles trabalhos teriam um duplo obEetivo4 o da estat?stica e o da benecência" #o tocarlhes este ponto! observei $ue me olhavam como se costuma olhar um homem $ue di% tolices" *eu artigo produ%iu no redator do periAdico a $uem o entreguei o mesmo efeito $ue em meu lho! em minha mulher e em outras pessoas" +mbora a todos lhes desgostasse! acreditaramse no caso de aprovar minha idéia em si mesma! mas adicionando $ue era de resultado muito duvidoso! e $uei2andose! não sei por $uê! da
indiferença e frie%a de nossa sociedade e do mundo! e2cetuandose eles! por suposto" =ontinuei sentindo em minha alma $ue não era a$uilo $ue devia fa%erse! e pressentindo $ue os resultados seriam nulos! apesar do $ue o artigo viu a lu% e eu me inscrevi para tomar parte nos trabalhos do censo" avia elaborado o proEeto do assunto! e este me arrastava" )I # meu pedido! fui nomeado para vericar o censo em um bairro do distrito de KhamovniCi! pero do mercado de -molensCi! na ua de 'rototchnD! entre a via Seregovoi e o Seco 0iColsCD" 0esse bairro encontravamse as casas ou fortale%a de EanoJ" #$uelas casas! $ue em outra época pertenceram ao comerciante EanoJ! agora eram da propriedade de imine" avia ouvido di%er! fa%ia tempo! $ue a$uela era a região da maior miséria e da maior libertinagem! e por isso solicitei o cargo $ue me conaram" avendo recebido ordens do conselho municipal! fui so%inho dar uma volta por meu $uartel! antes de acontecer o censo" =omecei pelo Seco 0iColsCD" +m sua e2trema es$uerda elevavase uma casa sombria! sem porta @ rua" #divinhei! pelo aspecto e2terior! $ue era uma das $ue eu buscava" 0a rua encontrei mole$ues de de% a cator%e anos! vestidos com camisola e paletA! desli%andose sobre ambos os pés ou sobre um sA patim pelo declive e seguindo o curso da água gelada ao longo da calçada da casa" #$ueles meninos estavam cheios de farrapos e eram! como os mole$ues de todas as cidades! ágeis e resolutos" 1etiveme a olhálos" /ma velha! com as bochechas ca?das e a te% amarela! dobrava a es$uina e se dirigia ao mercado de -molensCi bufando a cada passo $ue dava! como um cavalo cansado" 1etevese perto de mim" +m outro lugar! haveria me pedido dinheiro; mas ali se limitou a di%erme4 F IeEa! F e me indicou os meninos F chegarão a ser rEanovtsiU como seus irmãos" /m dos pivetes ouviu a a$uelas palavras e se deteve" F 'or $ue insultas a gente& F gritou @ velha F Tu! tu sim $ue és a v?bora de EanoJ" +u perguntei ao menino4 F Iives a$ui& F -im! e ela também! a ladra! $ue roubou o cano de uma bota! F disse gritando o rapa% e lançandose! com um pé adiante! afastouse" # velha prorrompeu em inEurias $ue interrompia seus ata$ues de tosse" 0isto descia um velho de cabelos brancos como a pluma do cisne! todo coberto de farrapos4 descia pelo arroio balançando os braços e tra%ia na mão pães de diversas formas! alguns deles amarrados com uma corda"
G velho tra%ia o aspecto do homem $ue tomou uma taça e cou com calor" #o escutar a velha vomitar inEurias! tomou sua parte" F *altrapilhos! F disse F tenha muito cuidado; F e fa%endo como $ue se dirigia contra eles! passou por diante de mim e tomou a calçada" -e eu houvesse topado com a$uele velho na ua de #rbate! haveria chamado minha atenção por sua velhice! sua fra$ue%a e sua pobre%a! mas ali não era mais $ue um trabalhador alegre $ue se retirava para casa terminados seus afa%eres" Tomou a es$uerda da ua de 'rototchnD! e depois de ultrapassar a casa e a porta! meteuse numa cantina" M rua davam duas portas de garagem e as de um restaurante! uma taverna e um mercado" #$uela era a fortale%a de EanoJ Tudo nela era de cor cin%a! suEo e hediondo4 as casas! os $uartos e as pessoas" # maior parte dos $ue ali encontrei iam esfarrapados e a meio vestir" uns passavam! outros corriam de uma porta a outra! e dois dentre eles arrumavam roupas" 1ei a volta no edif?cio a partir do Seco 'rototchnD e da via Seregovoi! e $uando a completei! detiveme Eunto @ porta de uma das casas" 1eseEava entrar nela para ver o $ue se passava no interior! mas tinha vergonha" F ,ue responderia se me perguntassem $ue era $ue eu ia fa%er ali& 0o entanto! depois de um momento de vacilação! decidime a entrar" Tão logo cheguei ao pátio! percebi um odor repugnante" Iireime para um lado e ouvi sobre minha es$uerda! num corredor de tábua! o ru?do de passos precipitados" Logo se fe% ouvir a$uele ru?do na escada" +m pouco tempo saiu uma mulher correndo com as mangas arregaçadas! vestindo uma tBnica desbotada cor de rosa e os pés nus em botas gastas" #trás dela corria um homem com os cabelos em desordem e os sapatos feito chinelos4 uma camisa colorida e uns calçHes muito folgados constitu?am sua veste" #$uele indiv?duo alcançou a mulher logo $ue esta desceu a escada" F 0ão me escapará! F disselhe rindo" F 1iabo de vesgoN F e2clamou ela! a $uem! parecia! agradava a perseguição; mas nisto me viu e me gritou colérica4 F ,ue $ueres& =omo eu nada $ueria! me virei e andei" #$uilo não tinha nada de particular; mas como eu acabava de ver fora a velha mal falada! o alegre ancião e os mole$ues patinando! a$uela cena me fe% ver sob um novo aspecto o assunto $ue me havia proposto" +ntão compreendi pela primeira ve% $ue todos a$ueles infeli%es a $uem $ueria fa%er bem! apesar dos momentos $ue passavam esperando! acossados pela fome e pelo frio a permissão para entrar na casa! tinham ainda tempo de sobre $ue empregavam em algo" =ada dia tinha vinte e $uatro horas" +ra toda uma vida na $ual eu não havia pensado"
=ompreendi $ue a$uelas pessoas! apesar de seu deseEo de pQrse ao abrigo do frio e de acalmar a fome! deviam passar de algum modo as vinte e $uatro horas do dia" =ompreendi $ue a$ueles seres deviam irritarse! entediarse! intimidarse! sentir triste%as e momentos de alegria; e por estranho $ue pareça! vi então pela primeira ve% $ue minha empresa não devia limitarse a vestir e alimentar um milhar de pessoas como se fosse um milhar de carneiros aos $ue há $ue alimentar e pQr no curral! mas $ue havia $ue lhes fa%er mais bem ainda" + $uando compreendi $ue cada um! entre a$ueles milhares de pessoas era um homem com o mesmo pensamento! as mesmas pai2Hes! os mesmos erros! as mesmas idéias! em uma palavra! o mesmo homem $ue eu! pareceume tão dif?cil a reali%ação do meu proEeto! $ue conheci minha impotência para leválo @ prática; mas havia dado Eá princ?pio a ele e nele perseverei" I 0o dia em $ue começaram as operaçHes do censo! os estudantes vieram verme pela manhã" +u! o benfeitor! não estive pronto até meiodia" Levanteime @s de%! tomei o café e fumei um rapé para fa%er a digestão" =heguei @ porta da casa de EanoJ! e um agente da pol?cia me indicou uma cantina na via Seregovoi! @ $ual os empregados do senso haviam dito $ue foram os $ue perguntaram por eles" +ntrei na$uele estabelecimento! $ue encontrei suEo! fedorento e sombrio" G balcão estava em frente4 @ es$uerda uma sala! e nela várias mesas cobertas com guardanapos e toalhas de limpe%a duvidosa; @ direita outra sala! com colunas e com mesas! postas de igual modo! perto das Eanelas e ao longo das paredes" Iiamse ali alguns homens sentados @s mesas4 uns esfarrapados; outros convenientemente vestidos como trabalhadores ou como pe$uenos industriais4 também havia algumas mulheres entre eles" # cantina estava desalinhada! mas sabiase em seguida $ue o dono devia fa%er bom negAcio! a Eulgar pela forma como estava ocupado a$uele $ue servia no balcão! e pela atividade dos rapa%es" 0ão bem cheguei! um destes se dispQs a tirarme o paletA e a servirme no $ue pedisse" +ra evidente $ue tinham o hábito de um trabalho ativo e regular" 'erguntei pelos do censo" F IâniaN F gritou um homem vestido @ alemã! $ue punha em ordem alguma coisa no armário situado do outro lado do balcão" +ra o dono da cantina! um muEi$ue de Kaluga! chamado )van 3edAtitch! $ue tinha tomado em aluguel a metade dos $uartos das casas imine e $ue então as realugava" #cudiu um rapa% de uns de%oito anos! de nari% de águia e de te% amarelenta" F =ondu%a ente cavalheiro a onde estão os senhores do censo4 piso principal! acima do poço"
G rapa% soltou o avental4 vestia camisa e calça branca4 colocou em cima um paletA! colocou um gorro com viseira! e andando a passo curto! me condu%iu por uma porta traseira! cheia de roldanas! @ co%inha! $ue não cheirava nada bem" 1esde ali passamos pelo vest?bulo onde encontramos uma velha $ue levava com cuidado umas entranhas infectadas envoltas em trapos velhos" #o sair do vest?bulo! descemos a um pátio em declive! cheio de prédios de madeira sobre fundaçHes de pedra" 'ercebiase na$uele pátio um odor repugnante; os espaços comuns! $ue cavam continuamente lotados de gente! eram o centro da$uelas insalubres emanaçHes4 até os banheiros pareciam indicar unicamente o lugar perto do $ual se defecava" +ra imposs?vel não reconhecer a e2istência da$ueles lugares ao passar por a$uele pátio e perceber a$ueles vapores infectos" G rapa%! encolhendo a calça branca! me fe% passar por entre e2crementos! em sua maior parte congelados! e se dirigiu a um da$ueles edif?cios de madeira" Todos $ue passavam pelo pátio ou pelo corredores se detinham para observarme4 sabese $ue um homem ordenadamente vestido era ali coisa nunca vista" *eu guia perguntou @ uma mulher se sabia onde estavam os $ue fa%iam o censo" Três homens lhe responderam na hora" /m disse4 V+stão acima do poçoV" Gutro acrescentou $ue haviam estado ali! mas $ue haviam sa?do e $ue lhes encontraria na casa de 0iCita )vánovitch" /m velho! $ue por todo traEe levava uma camisa $ue estava remendando Eunto aos lugares es$uecidos! disse $ue se encontravam no nBmero 97" G rapa% dedu%iu $ue este Bltimo dado era o mais veross?mil! e condu%iume ao nBmero 97! $ue se encontrava sob o alpendre do piso bai2o4 a$uele estava muito escuro e se percebia ali um odor muito distinto do $ue se notava no pátio" 1escemos e seguimos ao longo de um corredor obscuro! de soalho terroso" ,uando passávamos pelo corredor abriuse uma porta bruscamente e vi um velho! bêbado e de camisa! $ue não tinha aparência de ser um muEi$ue" /ma lavadeira! com as mangas arregaçadas e os braços cheios de espuma de sabão! e2pulsava do $uarto a$uele homem lançando gritos penetrantes" Iânia! meu guia! apartou o alcoAlatra e lhe repreendeu asperamente" F =omo se atreve a causar tal escândalo F disselhe F sendo um ocialN +m seguida fomos ao nBmero 97" Iânia abriu a porta! cuEas dobradiças rangeram ao abrirse" Iimosnos envoltos em densos vapores e percebemos o odor corrosivo dos maus alimentos e do tabaco" +stávamos ocultos em sombria escuridão" #s Eanelas estavam do lado oposto" 'e$uenas portas colocadas em diversos pontos davam entrada a vários $uartos feitos com divisArias de tábuas nas e pintadas de branco"
Iiase @ es$uerda! no $uarto escuro! uma mulher $ue se lavava em uma tina" M direita! uma velha espiava através de uma portinhola" +m outro lada descobri um muEi$ue barbudo com o rosto corado e sapato de cânhamo! sentado sobre uma dessas camas de for$uilha chamadas narD! com as mãos postas nos Eoelhos! agitando os pés e o olhar 2o neles com ar sombrio" 0o e2tremo do corredor se via uma pe$uena porta $ue dava entrada ao $uarto em $ue estavam os do censo" # donadecasa de todo o nBmero 97 possu?a também a$uele $uarto" G citado nBmero lhe estava subarrendado por )van 3edAtitch e ela a voltava a subarrendar por meses ou por uma sA noite" 0a$uele pe$ueno $uarto encontravase sentado! debai2o de uma imagem de ouro falso! um estudante $ue tinha em suas mãos as folhas para o censo! e perguntava! como pudera havêlo feito um Eui% de instrução! a um homem em mangas de camisa e colete" +ra o amante da donadecasa! $ue respondia @s perguntas! em ve% dela" +ncontravamse ali também a velha in$uilina do nBmero 97 e outros dois vi%inhos atra?dos pela curiosidade" +ntrei e desli%eime até a mesa4 cumprimentei o estudante e este continuou o interrogatArio" 'ara conseguir meu obEetivo! comecei por perguntar e e2aminar aos habitantes da$uele primeiro $uarto" 0ão encontrei nela homem algum em $uem poder e2ercer a caridade" +mbora me comovessem a miséria! a insignicância e a suEeira do local! comparado com o palácio $ue eu habitava! a donadecasa vivia comodamente em comparação com os pobres das cidades" -ua e2istência haveria parecido abundância e lu2o ao lado da dos pobres das aldeias $ue eu tanto havia estudado" 'ossu?a na cama um colchão de plumas! um cobertor duplo! uma co%inha portátil! e louça fechada no armário" G amante da donadecasa tinha o mesmo aspecto de bemestar e possu?a um relAgio com sua corrente" Gs in$uilinos eram pobres; mas nem um sA dentre eles necessitava au2?lio imediato" #lguns reclamavam recursos! e eram4 a mulher $ue estava se lavando na tina; outra $ue havia sido abandonada por seu marido e por seus lhos; em terceiro lugar! uma viBva de idade $ue di%ia não ter meio algum de subsistência! e por Bltimo! o muEi$ue com sapatos de cânhamo $ue me disse não haver comido nada em todo o dia" # investigação me fe% conhecer $ue a$uelas pessoas não careciam em absoluto do necessário! e $ue para aEudarlhes era preciso conhecêlos melhor" ,uando lhe ofereci @ mulher abandonada colocar seus lhos em um asilo! consternouse! pQsse pensativa! e me agradeceu; mas é verdade $ue não lhe agradou meu oferecimento4 preferiria $ue lhe desse dinheiro" -ua lha maior a aEudava a lavar e a pe$uena cuidava do bebê" # velha deseEava entrar em um hospital4 depois de e2aminar seu $uarto! vi $ue não se encontrava na miséria4 era proprietária de um cofre e de $uanto este encerrava! de um bule e de uma cai2a de bombons *ontpensier! contendo dois pacotes! um de chá e outro de
açBcar; fa%ia meias e luvas e recebia de uma benfeitora um socorro mensal" ,uanto ao muEi$ue! tinha mais necessidade de aguardente $ue de alimento! e haveria gastado na taberna $uanto se lhe houvesse dado" 0ão havia! portanto! na$uele local! ninguém a $uem pudesse socorrer com dinheiro" #$ueles pobres pareceramme suspeitos" Tomei nota do nome da velha! da outra mulher com lhos e do muEi$ue! e resolvi não fa%er nada por eles senão em segundo lugar! ou seEa! depois de atender aos verdadeiramente necessitados $ue eu acreditava encontrar na$uela casa" +u $ueria proceder com método4 distribuir os socorros aos desgraçados! e atender em segundo lugar aos outros" *as nos outros $uartos me sucedeu o mesmo $ue na$uele4 encontrei pessoas $ue devia conhecer mais ao fundo antes de socorrêlas4 não havia ali nem um sA miserável a $uem poder fa%er feli% com dinheiro" Tenho vergonha de di%er $ue me desagradou não encontrar na$uelas casas nada parecido ao $ue eu esperava" +sperava encontrar ali seres pouco comuns e diante dos $ue ali havia eram! mais ou menos! como a$ueles com $uem eu me relacionava" #ssim com entre nAs! havia ali pessoas mais ou menos boas! mais ou menos más ou menos feli%es ou menos desgraçadas" +ram indiv?duos cuEa desgraça não dependia de circunstâncias e2teriores! mas $ue estava neles mesmos! de tal sorte! $ue não lhes podia socorrer com dinheiro" I) Gs habitantes da$uelas casas pertenciam @ escAria do povo! $ue conta em *oscou mais de cem mil almas" avia pe$uenos empregadores! cordoeiros! barbeiros! carpinteiros! torneiros! alfaiates! ferreiros e cocheiros $ue trabalhavam por sua conta! assim como revendedores! usureiros! Eornaleiros sem prossão determinada! pobres e prostitutas" avia ali muitos da$ueles a $uem eu havia visto na porta da casa Liapine; mas estes estavam dispersos entre os trabalhadores" 'or outro lado! eu os havia visto no momento cr?tico em $ue todos haviam comido e bebido" Wogados dos restaurantes! tinham fome e frio e esperavam como um maná do céu! a permissão para entrar no asilo de noite! logo a entrada na prisão! e por Bltimo o envio ao pa?s natal" #li! ao contrário! vios entre trabalhadores! tendo! por um meio ou por outro! de três a cinco cope$ues ganhados para o pagamento da cama e com fre$uência rublos para comer e beber" #inda $uando pareça estranho $ue eu o diga! não e2perimentei ali nada parecido ao sentimento de $ue falei a propAsito da casa Liapine" 'elo contrário! durante a primeira e2ploração! os estudantes e eu e2perimentamos uma sensação $uase agradável"
+ por $ue digo $uase agradável! não sendo assim& G sentimento provocado por nossas relaçHes com a$uelas pessoas! foi francamente agradável" *inha primeira impressão foi $ue a maior parte dos habitantes eram trabalhadores e boas pessoas" # $uase todos lhes surpreendemos trabalhando! @s lavadeiras Eunto a suas bacias; aos carpinteiros no banco! aos sapateiros em sua cadeira" #s redu%idas habitaçHes estavam cheias de gente! e nelas se trabalhava com satisfação e energia" 0as dos sapateiros aspiravase odor de suor e de couro! e o aroma de serragem nas dos carpinteiros" =om fre$uência se ouvia o eco de uma canção! e se viam braços musculosos! com as mangas da camisa levantadas! fa%endo com prontidão e agilidade os movimentos prAprios do of?cio de cada um" 'or todas as partes recebiamnos de um modo alegre e afável; nossa incursão na vida ordinária da$uelas gentes não e2citava sua ambição nem o deseEo de dar a conhecer sua importância e de admirar! como sucedia @ aparição dos empregados do censo nas casas das pessoas acomodadas; pelo contrário! respondiam naturalmente a nossas perguntas sem concedêlas demasiada importância" 0ossas perguntas lhes serviam sA de prete2to para rego%iEarse e brincar! di%endo $ue os grossos deveriam ser contados como dois e $ue dois fracos não deviam ser contados senão como um sA" -urpreendemos a vários comendo ou tomando o chá e! ao saudar lhes! nos respondiam4 V-eEam bemvindosV! e até nos davam lugar na mesa" +m ve% dos antros e da população Putuante $ue acreditávamos encontrar! encontramos na$uela casa habitaçHes ocupadas pelos mesmos in$uilinos fa%ia muito tempo" /m carpinteiro e um sapateiro com seus operários habitavam as suas a de% anos" G local do sapateiro era muito suEo e muito estreito! mas se trabalhava nele alegremente" 'rocurei travar conversação com um trabalhador a m de conhecer por ele suas desgraças e o $ue devia a seu patrão; mas não me compreendeu e me falou em muito bons termos de sua vida e de seu mestre" avia um $uarto ocupado por um velho e uma mulher madura! $ue vendiam maçãs; era limpo e a$uecido" Tinham as divisArias cobertas com esteiras de palha $ue se encontravam no depAsito das maçãs" Tinham cofres! armários! co%inha portátil e louça" 0um ângulo do $uarto tinham imagens e ante elas penduradas duas lâmpadas" 'enduradas na parede e cobertas com um resto de tela para preserválas do pA! viamse alguns casacos" # mulher tinha a testa sulcada de rugas como os raios de um astro4 era afável! lo$ua% e parecia satisfeita de sua bela e pac?ca e2istência" )van 3edAtitch! primeiro in$uilino da$ueles $uartos! reuniuse conosco para acompanharnos" Srincou afavelmente com muitos vi%inhos! chamandolhes por seus nomes e descrevendonos brevemente suas caracter?sticas"
+ram todas pessoas comuns4 *artin -em?onovitch! 'iotre 'etrAvitch! *ar?a )vanovna""" 0ão se criam desgraçados e se estimavam4 efetivamente! eram semelhantes aos outros" 0ão esperávamos encontrar ali mais $ue coisas horrorosas e! pelo contrário! v?amos algo bom $ue e2citava involuntariamente nossa estima" avia ali tanta gente boa! $ue os esfarrapados! os perdidos e os ociosos com $ue tropeçávamos de ve% em $uando! não modicavam a impressão geral" Gs estudantes não caram menos surpreendidos $ue eu" eali%avam simplesmente um trabalho Btil em interesse da ciência e fa%iam suas observaçHes por casualidade; mas eu era um benfeitor levado ali para assistir aos desgraçados! aos perdidos e aos depravados $ue pensava encontrar na$uela casa" + em ve% de depravados! desgraçados e perdidos! encontrei! em sua maioria! trabalhadores! pessoas tran$uilas! contentes! alegres e afáveis" + senti mais vivamente a$uela impressão! $uando encontrei em alguns da$ueles $uartos a necessidade $ue me havia proposto remediar" + tratei de ver na$uelas casas $ue a necessidade havia sido Eá mais ou menos remediada" ,uem havia levado recursos @$uelas pobres pessoas& #$ueles mesmos $ue eu supunha desgraçados e a $uem $ueria salvar haviamno feito! melhor do eu o poderia fa%er" +m um porão estava acostado um velho! doente de tifo" 0ão tinha parente algum" /ma mulher viBva e com lhos! para ele estranha! mas $ue era sua vi%inha! cuidavao! assistialhe! davalhe chá e compravalhe medicamentos com seu prAprio dinheiro" +m outro $uarto havia uma mulher enferma de febre puerperal! e uma prostituta lhe embalava o lho! lhe dava mamadeira e havia abandonado por ele seu of?cio fa%ia Eá dois dias" # fam?lia do alfaiate! $ue tinha três lhas! havia acolhido uma Arfã" avia! apesar de tudo! muitos desgraçados4 os ociosos! os desempregados! os copistas! os lacaios sem ocupação! os mendigos! os alcoAlatras e as prostitutas! a $uem não se podia socorrer com dinheiro! posto $ue era preciso conhecêlos bem antes de aEudarlhes" +u buscava simplesmente desgraçados; buscava pobres a $uem socorrer dandolhes o $ue a nAs sobrava! e ia me convencendo de $ue ali não e2istiam a$ueles desgraçados" Gs $ue havia reclamavam muito tempo e muitos cuidados" I)) 1ividi em três grupos os nomes dos $ue inscrevi em meu caderno! a saber4 os $ue haviam perdido posiçHes vantaEosas e esperavam recuperálas (estes pertenciam igualmente @ classe bai2a e @ classe erudita; em segundo lugar! as prostitutas! $ue eram numerosas em tais casas! e em terceiro lugar! as crianças" G maior nBmero dos $ue ia inscrevendo pertencia ao primeiro grupo4 eram pessoas $ue haviam perdido seu emprego; a maioria havia sido
ociais e vi%inhos de uma cidade! e deles havia bastante nas casas de EanoJ" )van 3edAtitch nos di%ia em $uase todos os $uartos $ue visitávamos4 F Gs podeis dispensar de escrever nas folhas4 o $ue vive a$ui pode fa%êlo por si mesmo! e ainda não bebeu hoEe" + )van 3edAtitch chamava em vo% alta ao in$uilino por seu nome e sobrenome" +ra! em geral! um da$ueles $ue haviam descendido de sua alta classe" M chamada do patrão! viase sair de algum rincão sombrio algum cavalheiro rico ou ocial! a maior parte do tempo ébrio e sempre esfarrapado" -e não estava bêbado! ocupavase de bom grado no assunto $ue se lhe oferecia; me2ia a cabeça com e2pressão! fran%ia a testa! fa%ia observaçHes em termos eruditos! e dava voltas! entre suas mãos suEas e trêmulas e com ar de car?cia retida! ao cartão re$uintado impresso em papelão cor de rosa! olhando com orgulho e despre%o os $ue viviam com ele" 'arecia trinfar dos $ue lhe haviam humilhado tantas ve%es! por meio da superioridade de sua instrução" ego%iEavase a olhos vistos de suas relaçHes com o mundo onde se fa%em imprimir cartHes em papel cor de rosa! com a$uele mundo em $ue se havia encontrado em outro tempo" ,uase sempre $ue lhes perguntávamos! nos contavam com fogo a novela aprendida de memAria dos infortBnios $ue lhes haviam oprimido e falavam da posição $ue ocupariam e deveriam ocupar pelo sA fato de sua educação" #$uelas gentes estavam dispersas por todos os rincHes da casa de EanoJ" aviam uma habitação ocupada e2clusivamente por eles! homens e mulheres" ,uando chegamos a ela! nos disse )ván 3edAtitch4 F +ste é o departamento dos nobres" aviam nele uns $uarenta indiv?duos" 0ão era poss?vel encontrar em toda a casa pessoas mais deca?das! mais desgraçadas! mais velhas! mais pobres nem mais perdidas" 1irigi a palavra a alguns" =ontavam sempre a mesma histAria! desenvolvida em diferentes graus" Todos haviam sido ricos4 seus pais! seus irmãos ou seus tios ocupavam ainda brilhantes posiçHes! ou então eles tiveram altos empregos" Logo haviam sofrido uma desgraça por causa dos inveEosos e de sua prApria bondade! ou havia ocorrido um caso imprevisto $ue lhes havia feito perder $uanto possu?am! até o ponto de verse obrigados a viver em uma situação $ue lhes era odiosa! indigna deles! comidos de piolhos! cheios de farrapos! em uma sociedade de alcoAlatras e de libertinos! alimentandose com f?gado e com pão e""" pedindo esmola" Todas as recordaçHes! todas as idéias e todos os deseEos da$uelas pessoas se dirigiam ao passado4 o presente lhes parecia pouco natural! disposto a fa%er decair o ânimo! e valia a pena prestar a atenção a eles"
0enhum deles tinha presente; sA conservavam a memAria do passado! e $uanto ao futuro! unicamente concebiam deseEos! aspiraçHes $ue podiam reali%arse a cada momento! e cuEa reali%ação dependia de muita pouca coisa; mas faltava a$uela coisa insignicante e a vida se ia correndo em vão atrás dela! a uns ao primeiro ano! a outros ao $uinto! e a alguns aos trinta" /m não tinha outra necessidade $ue a de vestirse comme Ofaut! para apresentarse na casa de uma pessoa $ue lhe era muito afeta" Gutro deseEava unicamente poder vestirse bem! pagar suas d?vidas e mudarse para Grel" /m terceiro carecia de recursos para seguir uma ação Eudicial $ue devia falhar em seu favor e restitu?lo a sua vida de outro tempo" Todos di%iam $ue sA lhes faltava o aspecto e2terior para reintegrarse na posição afortunada $ue chegaram a alcançar e $ue lhes era devida" -e não me houvesse guiado o orgulho de fa%er o bem! havermeia bastado e2aminar um pouco suas sionomias! Eovens ou velhas! débeis e sensuais em geral! mas boas! para compreender $ue não havia maneira de remediar seu infortBnio por meios e2teriores! e $ue não podiam ser ditosos! $ual$uer $ue fosse sua posição! sem mudar seu modo de ver a vida" 0ão eram seres e2traordinários em condiçHes singularmente desgraçadas! mas homens! como nAs e os $ue nos rodeiam por toda parte" Lembro $ue me sentia desgostoso $uanto tratava com a$ueles desgraçados" #gora conheço o por$uê4 me via neles como em um espelho; se houvesse comparado minha vida com a das pessoas $ue me rodeavam! haveria visto $ue entre uma e outras não havia diferença alguma" -e os $ue agora vivem perto de mim em grandes apartamentos ou em suas prAprias casas em -ivt%oJ IraEeC e na ua 1imitrievna! e não na casa EanoJ! comem e bebem bem! e não se limitam a f?gado! aren$ues e pão! não lhes impedirá isso de seguir sendo desgraçados" Também estão eles descontentes em sua posição! também sentem saudades do passado e deseEam o $ue não tem" #$uela melhor posição a $ue tendem é a mesma pela $ual suspiram os habitantes da casa EanoJ! isto é! uma posição na $ual poderiam trabalhar menos e aproveitarse mais do trabalho de outros" Toda a diferença reside no grau e no momento" 1everia compreendêlo assim; mas não havia rePetido ainda e perguntava @$uelas pessoas e escrevia seus nomes! propondome a socorrêlas depois de conhecer os pormenores de sua posição e suas necessidades" 0ão compreendia então $ue não há mais $ue um meio de socorrer a tais homens! e é o de mudarlhes sua maneira de ver as coisas" + para mudar a maneira de ver do prA2imo! há $ue conhecer o melhor modo de considerar as coisas e viver segundo seus princ?pios! en$uanto $ue eu vivia e as considerava sob o mesmo aspecto $ue era preciso mudar! a m de $ue a$uelas pessoas dei2assem de ser desgraçadas"
0ão via $ue a miséria da$ueles indiv?duos não provinha da falta de alimento substancial! mas de $ue seus estQmagos estavam estragados e necessitavam de aperitivos4 para aliviálos era preciso curarlhes! antes de tudo! o estQmago" #nteciparmeei a registrar $ue não socorri a nenhum da$ueles cuEos nomes escrevi" 3i%! no entanto! em favor de alguns! o $ue deseEavam e eu podia fa%er! isto é4 colocálos em condiçHes de regenerarse! e até poderia citar particularmente a três $ue! depois de várias reabilitaçHes e de outras tantas $uedas! encontramse hoEe na mesma situação $ue há três anos" I))) # segunda categoria de desgraçados a $uem $ueria socorrer eram as prostitutas! muito numerosas na casa de EanoJ" +ntre elas havia de todas as idades! desde as muito Eovens até as velhas de traços murchos! feias e horr?veis" G deseEo de socorrer @$uelas mulheres! $ue em princ?pio não havia entrado em meus cálculos! fe%se sentir em mim depois do fato seguinte4 +stávamos na metade de nossa tarefa" av?amos ad$uirido Eá a rotina do of?cio" ,uando chegávamos a um novo local! $uer?amos saber imediatamente $uem era o chefe da fam?lia4 um de nAs tomava assento e se preparava a fa%er as inscriçHes; o outro ia de um lado para outro! perguntava individualmente a cada um e transmitia os dados ao primeiro" +ntramos na habitação e um estudante foi buscar o in$uilino dela; eu comecei a perguntar aos $ue ali se encontravam" # habitação estava disposta dste modo4 em meio de uma peça $uadrada encontravase a lareira! dali partiam $uatro divisArias formando $uatro pe$uenos $uartos" 0o primeiro! $ue era preciso atravessar para ir aos demais e no $ual havia $uatro camas! vimos um velho e uma mulher; entramos em seguida em outro $uartinho longo no $ual estava um Eovem muito pálido $ue levava um gibão de tecido cin%a! chamado 'addiovCa" G terceiro compartimento estava situado @ es$uerda e nele encontravamse4 um homem adormecido e provavelmente bêbado e uma mulher de casaco russo! solto na frente e preso atrás" 'elo $uarto do dono entravase na $uarta peça" G estudante se foi ao $uarto do dono e eu me detive na antecâmara fa%endolhes perguntas ao velho e @ mulher" +le era operário impressor! sem trabalho no momento! e ela esposa de um co%inheiro" 'assei @ terceira peça e perguntei @ mulher da blusa acerca do homem adormecido" +la me disse $ue era um hAspede" # minha pergunta4 F + você! $uem é& espondeu $ue era aldeã do governo de *oscou" F ,ual é sua prossão& 'Qsse a rir e me respondeu4 F 'asso o tempo na cama" 0ão compreendi o sentido da$uela resposta e lhe perguntei de novo4 F ,uais são os seus recursos& *as se contentou com rir sem responder"
0a $uarta peça! na $ual ainda não hav?amos estado! riam várias mulheres" G camponês! $ue estava ali como patrão! saiu de seu cub?culo e apro2imouse de nAs4 provavelmente havia ouvido minhas perguntas e as respostas da mulher" Glhoua com serenidade e me disse4 F > uma prostituta" F e o disse como $ue encantado de haver usado corretamente a$uela frase na linguagem dos ociais" 1isse isto ao mesmo tempo em $ue se desenhava em seus lábios um sorriso respeitoso! dirigiuse @ mulher" G rosto desta mudou na hora" 3aloulhe brusca e apressadamente! sem tála! como se fala a um cão! e lhe disse4 F 'or $ue fala sem rePetir& V'asso o tempo na camaV""" 'ois bem4 se passa o tempo nela! diga o $ue deves di%er4 V-ou prostitutaV" 0ão sabe ainda o $ue ésN #$uele tom incomodoume" F 0ão temos direito de constrangêla! F disse F se todos vivêssemos como 1eus manda! não haveria prostitutas" F -im! isso é verdade" F disse o chefe com sorriso forçado" F 0ão devemos dirigirlhes censuras! mas ter pena delas" -ão! na realidade! culpadas& 0ão me recordo bem em $ue termos o disse4 recordo unicamente $ue me revoltou o tom depreciativo da$uele homem! dono de um local cheio de mulheres de tal classe" Tive pena da$uela criatura e e2pressei minha indignação" *al disse a$uilo! $uando rangeram as tábuas das camas no $uarto em $ue eu havia ouvido os risos e por cima da divisAria! $ue não chegava ao teto nem muito menos! surgiu uma cabeça com o cabelo emaranhado! com os olhos pe$uenos e inchados e com a pele enrugada! e logo apareceu outra! e até uma terceira" +ra provável $ue a$uelas mulheres se haviam posto de pé em suas camas4 as três alongaram o pescoço e nos taram silenciosamente! com rme atenção e contendo a respiração" G silêncio se fe% embaraçoso" G estudante! $ue um momento antes sorria! se pQs sério; o chefe perturbouse e bai2ou os olhos; as mulheres seguiam sem respirar! as mulheres seguiam sem respirar! se 2avam em mim e esperavam" +u estava mais confuso ainda $ue todos eles4 Eamais havia acreditado $ue uma palavra! dita fortuitamente! causasse tanto efeito" #ssim foi como o campo de morte de +%e$uiel! coberto de ossos! tremeu ao contato do +sp?rito! e como os mortos se estremeceram" 'ronunciei! sem rePetir! a palavra de amor e lástima! e a$uela palavra fe% tal impressão em todos! $ue parecia ser o suciente ouvila para dei2ar de ser cadáver e reanimarse com nova vida" Todos me tavam esperando $ue pronunciasse as palavras e reali%asse os atos! em virtude dos $uais a$ueles ossos poderiam Euntarse! cobrirse de carne! e reanimarse @ vida" *as eu compreendia $ue me faltavam as palavras e as açHes $ue deviam seguir @$uelas com $ue havia começado4 compreendi! em meu interior! $ue mentia; $ue eu era como eles; $ue nada tinha a
di%er! e comecei a registrar nas folhas os nomes e as prossHes de todos os $ue habitavam a$uele departamento" #$uele fato indu%iume a um novo erro e inspiroume a idéia de $ue a$ueles desgraçados podiam ser socorridos" *inha presunção apresentavame a$uilo como coisa fácil de reali%ar" +u me di%ia4 V)nscrevamos também estas mulheres e depois nos ocuparemos delasV! e não me dava conta claramente do $ue signicava a$uele nos" )maginava $ue os mesmos $ue haviam redu%ido e redu%iam as mulheres @$uele estado durante muitas geraçHes podiam reparar algum dia o mal causado" +! no entanto! para compreender toda a loucura de semelhante suposição! haveria bastado recordar a conversa $ue tive com a prostituta $ue balançava o berço da criança Eunto @ cama de sua mãe doente" ,uando vimos a$uela mulher com a criança! acreditamos $ue esta era sua lha" # nossa pergunta4 V,uem é&V respondeunos francamente""" o $ue era" 0ão disse prostituta4 unicamente o dono do local empregou tão dura palavra" =omo supunha $ue a criança era sua! ocorreume a idéia de mudar sua posição! e! com efeito! lhe perguntei4 F +sta criança é sua& F 0ão4 é da doente" F 'or $ue! pois! o está embalando& F 'or$ue ela me pediu""" e está morrendo" #inda $ue minha suposição houvesse resultado falsa! segui falando lhe no mesmo sentido! e comecei a perguntarlhe $ue era antes! e como havia deca?do a tal estado" =ontoume resumidamente sua histAria4 avia nascido em *oscou; era lha de um operário de fábrica; cou Arfã e uma tia a acolheu4 vivendo com esta! começou a fre$uentar os restaurantes4 a tia morreu depois" ,uando lhe perguntei se $ueria mudar de vida! pareceu não lhe interessar minha pergunta" 'ara $ue interessarse por suposiçHes imposs?veis& -e pQs a rir e me disse4 F + aonde haveria de ir eu com uma carta amarelaR& F 'oderia encontrar um lugar para co%inhar" Gcorreume isso ao vêla forte e corada! com a cara redonda e o ar bondoso! tipo $ue havia observado em muitas co%inheiras" Gbservei $ue minhas indicaçHes não lhe agradaram! e me disse sorrindo e repetindo a palavra co%inheira4 F 0ão sei nem ainda assar o pão" #creditei perceber! por seu semblante! $ue considerava a$uela prossão como uma prossão inferior" #$uela mulher! como a viBva do +vangelho! havia sacricado tudo pela doente! e! no entanto! considerava o estado trabalhador como bai2o e despre%?vel" avia vivido até então sem trabalhar! e a gente de sua classe consideram isso muito natural" + nisso consiste sua desgraça"
'or isso havia ca?do na posição $ue tinha e por isso perseverava nela" 'or isso devia viver no bordel" ,uem entre nAs! homens ou mulheres! modicará sua falsa maneira de considerar a vida& Gnde estão! entre nAs! essas pessoas $ue crêem $ue uma vida de trabalho é prefer?vel a uma vida ociosa e $ue! convencidas disso! dão seu reconhecimento @s pessoas $uem têm tal convicção& -e eu houvesse pensado nisso! haveria podido compreender $ue nem eu nem ninguém pod?amos curar a$uela enfermidade" averia podido compreender também $ue a$uelas cabeças admiradas e comovidas! $ue surgiam por cima da divisAria! não demonstravam outra coisa $ue admiração em presença da simpatia $ue lhes demonstrava! e de maneira alguma deseEo nem esperança de ser arrancadas da imoralidade" +las não encontravam nada de imoral em seu gênero de vida4 viam $ue as despre%avam e $ue as inEuriavam; mas não poderiam compreender a causa da$uele despre%o" aviam levado desde sua infância a$uela vida! entre as mesmas mulheres $ue! como se sabe muito bem! e2istem sempre e indispensavelmente na sociedade; e tanto é assim! tão indispensável as consideram! $ue há empregados do governo encarregados de regulamentar sua e2istência" #demais! sabem $ue e2ercem supremacia sobre os homens! e $ue os suEeitam! e com fre$uência lhes dominam mais $ue as outras mulheres" Iêem $ue nem os homens! nem as mulheres! nem as autoridades desconhecem nem negam sua posição! ainda $ue falem mal dela! e por isso não podem compreender $ue devam se arrepender nem corrigirse" 1urante a$uela e2cursão! soube pelo estudante $ue em uma das habitaçHes vivia uma mulher $ue negociava a sua lha! $ue sA contava tre%e anos" Sus$uei a mulher com o propAsito de salvar a menina" #mbas viviam na maior miséria" # mãe! bai2a! morena! de uns $uarenta anos! era uma prostituta! de cara feia! desagradavelmente feia! e a menina não era mais bela $ue sua mãe" Ms perguntas indiretas $ue % @ mãe! referentes @ sua vida! me respondeu com desconança e em tom seco e breve! adivinhando em mim um inimigo chegado ali com perversa intenção" # lha se calava a tudo! e sem tar se$uer a sua mãe! se conava de todo a ela" +m ve% de e2citar minha piedade! provocaram minha repulsão! não obstante o $ue me decidi a salvar a lha! utili%ando para isso o interesse e a simpatia $ue a triste situação das duas mulheres inspiraria com segurança @s damas! e enviando estas ali" *as se houvesse ponderado sobre o longo passado da mãe! sobre a maneira como veio ao mundo a menina e como havia sido esta educada na posição da primeira! provavelmente sem recursos e impondose pesados sacrif?cios; se houvesse pensado na maneira $ue ela tinha de considerar a vida! haveria compreendido $ue não haviam sido más nem imorais as açHes da mãe! e $ue havia feito e fa%ia por
sua lha $uanto podia! isto é! tudo o $ue lhe parecia prefer?vel a ela mesma" 'oderia se retirar a$uela lha da sua mãe devido @ violência; mas seria imposs?vel persuadir a mãe de $ue fa%ia mal tracando o corpo de sua lha" # mãe era a $ue se necessitava salvar desde logo lhe fa%endo reticar seu modo de considerar a vida! modo aprovado por este mundo onde a mulher pode viver fora do matrimQnio! isto é! sem procriar e sem trabalhar! satisfa%endo unicamente a sensualidade" -e eu houvesse pensado assim! haveria compreendido $ue a maior parte das damas $ue eu $ueria enviar ali para salvar a$uela menina! não sA viviam elas também assim! mas educavam conscientemente suas lhas pelo mesmo caminho" /ma das mães levava sua lha ao bordel! a outra ao baile" #mbas tinham o mesmo modo de ver; as duas pensavam $ue a mulher devia satisfa%er a lu2Bria do homem! em troca de ser alimentada! vestida e lamentada" + com tais idéias! como haveriam podido corrigir a$uelas damas a mulher ou a sua lha& )X *inhas relaçHes com as crianças foram ainda mais estranhas" +m meu papel de benfeitor! prestava também atenção @$uelas! e deseEando salvar os seres inocentes $ue pereciam na$uele antro de lu2Bria! tomei seus nomes para poder me ocupar delas em seguida" =omoveume! sobre todos! um menino de do%e anos chamado -erioEa4 era inteligente e resoluto! e me compadeci dele com todo meu coração" +ncontravase na case de um sapateiro! $uando prenderam este! e cou sem moradia4 decidi protegêlo" Iou contar como acabou meu propAsito benéco para com ele! por$ue a histAria da$uele menino demonstra $uão falso era meu papel de benfeitor" Leveio a minha casa e o instalei na co%inha" =omo se compreende! não podia admitir a$uela criatura piolhenta entre meus lhos" Todavia consideravame bom e caridoso encarregando de sua manutenção a co%inheira e fa%endoo se vestir com roupas usadas" -erioEa permaneceu em minha casa oito dias" 0eles lhe dirigi! de passagem! algumas palavras em duas ocasiHes! e fui ver! durante meu passeio! um sapateiro $ue conhecia! para rogarlhe $ue admitisse em sua casa o rapa% como aprendi%" /m muEi$ue! $ue havia ido visitarme! convidoulhe a ir a sua casa situada no campo" -erioEa recusou o convite! e oito dias depois desapareceu de minha casa" 3uime a casa de EanoJ para ter informaçHes dele" avia partido durante minha ausência e havia voltado" Levava dois dias indose a 'resnensCié 'rudD (bairro de *oscou! onde ganhava trinta cope$ues! aliado a uma $uadrilha de selvagens $ue e2ibiam um elefante vestido" #$uele dia fa%iam uma apresentação pBblica"
Ioltei de novo @ casa! mas o menino era tão ingrato! $ue se escondia e evitava encontrarse comigo" -e eu houvesse comparado então a vida da$uele rapa% com a minha! teria sido fácil compreender $ue sua corrupção provinha de ter aprendido a maneira de viver alegremente sem fa%er nada! e $ue havia perdido o hábito do trabalho" + eu o havia levado a minha casa pensando enchêlo de benef?cios e corrigilo" *as $ue havia visto em minha casa& # meus lhos! mais ou menos de sua idade! $ue não somente não trabalhavam por si mesmos! mas $ue utili%avam o trabalho dos outros; $ue suEavam e estragavam tudo ao redor deles; $ue se empanturravam de coisas doces e salgadas; $ue $uebravam os pratos! e $ue davam aos cães comidas $ue haveriam sido um deleite para a$uele rapa%" #o tomálo da toca em $ue estava e leválo a uma boa casa! era natural $ue assimilasse a maneira $ue tinham de considerar a vida na$uela casa e $ue compreendesse! por sua prApria observação! $ue era necessário comer e beber bem! e viver alegremente e sem trabalhar" 1epois de tudo! ignorava $ue meus lhos estudassem penosamente as regras das gramáticas grega e latina! e tampouco teria podido compreender o obEeto de seu estudo; mas é evidente $ue! de têlo compreendido! o e2emplo de meus lhos houvesse agido com mais força sobre ele" averia visto $ue! se no momento eram educados aparentemente sem fa%er nada! no porvir se encontraria em condiçHes de trabalhar o menos poss?vel! graças a seus diplomas e t?tulos acadêmicos! e de go%ar dos bens da vida na medida $ue fosse poss?vel" +m ve% de irse com o muEi$ue cuidar dos animais! comer batatas e beber Cvass! preferiu vestirse de selvagem e condu%ir o elefante no Eardim %oolAgico por trinta cope$ues" Teria eu podido compreender o ilAgico de minha pretensão de corrigir as pessoas $ue denhavam de ociosidade na casa de EanoJ! casa $ue eu $ualicava de antro! en$uanto $ue eu mesmo criava meus lhos no lu2o e na mesma ociosidade4 no entanto! na casa de EanoJ três $uartos das pessoas trabalhavam! fosse para elas! fosse para seus patrHes" 0as casas imine havia muitas crianças no estado mais vergonhoso; eram lhos de prostitutas! ou Arfãos! ou criaturas pe$uenas $ue os mendigos levavam pelas ruas! e todos eram dignos de piedade" *as a e2periência feita com -erioEa me demonstrou a impossibilidade em $ue me encontrava de acudir em sua aEuda! e $ue me minha vida se opunha a isso" +n$uanto a$uele garoto esteve em minha casa! notei $ue me esforçava em ocultarlhe meu modo de viver e! sobretudo! o de meus lhos" =ompreendia $ue todos meus esforços para dirigilo a uma vida boa e laboriosa se chocavam com o meu e2emplo e o de minha fam?lia" > muito cQmodo amparar o lho de uma prostituta ou de uma mendiga4 para $uem tem fortuna é fácil cuidálo! limpálo! vestilo com decência! darlhe de comer e ensinarlhe diferentes ciências; mas
ensinarlhe a ganhar a vida não é apenas dif?cil! é imposs?vel! a nAs $ue vivemos sem fa%er nada! por$ue nosso e2emplo lhes ensina o contrário do $ue lhes $ueremos ensinar por preceito" 'odese pegar um cachorro! um cão Eovem; se pode acariciar! alimentar! ensinar o cão $ue leve diferentes obEetos e $ue e2presse sua alegria; mas tudo isso é insuciente para o homem4 a este é preciso ensinar a viver; isto é! a tomar menos do $ue dê; e! no entanto! ensinamos o contrário @ criança! tanto se a temos em nossa casa! $uanto se a colocamos num asilo" X Wá não sentia a$uele impulso de compai2ão pelos outros e de desgosto por mim mesmo $ue havia sentido na casa Liapine" 1eseEava ardentemente reali%ar meu proEeto; fa%er bem aos desgraçados" =oisa estranhaN 3a%er bem! dar dinheiro aos necessitados constitu?a! a meu parecer! uma boa ação $ue devia produ%ir o reconhecimento das pessoas" + no entanto! havia produ%ido algo diametralmente oposto e a$uilo despertava em mim um sentimento de aversão para com os homens" +m minha primeira visita! ocorreu a mesma cena $ue na casa Liapine e! no entanto! provocou em mim outro sentimento distinto" +m certo local encontrei um desgraçado $ue necessitava de au2?lios imediatos; depois encontrei uma mulher $ue não havia comido a dois dias" 1ormiam ali pela noite" 'erguntei a uma velha se conhecia pessoas tão pobres $ue não tivessem o $ue comer" # velha rePetiu e nomeou dois! e depois! reconsiderando! indicoume uma cama ocupada" F #? tens uma mulher $ue me parece $ue vai morrer de fome" F )mposs?velN""" + $uem é ela& F /ma prostituta $ue Eá não encontra clientes" # dona se $uei2ava dela constantemente! mas agora $uer e2pulsála de sua casa" F #gaaN #gaaN F gritou a velha" #pro2imamosnos e #gaa saiu da cama" +ra uma mulher de cabelos grisalhos e postos em desordem! fraca com um es$ueleto! coberta com uma camisa rasgada e com os olhos muito 2os e muito brilhantes" -eu olhar se cravou em nAs sem ver nos; tomou de detrás dela um gibão para cobrir com ele seu peito ossudo! vis?vel sob os farrapos de sua camisa" #rticulou4 V,ue! $ue&V como se ladrasse" 'ergunteilhe acerca de sua vida" 0ão me compreendeu! e me disse4 F +u mesma não sei4 vão me e2pulsar da casa" 'ergunteilhe (a pena resiste a escrevêlo se era verdade $ue não tinha nada $ue comer! e me respondeu com precipitação febril e sem me olhar4 F 0ão comi nem ontem nem hoEe"
G aspecto da$uela mulher me comoveu! mas de maneira distinta $ue me havia comovido na casa Liapine" #li! na$uele momento! tive vergonha de minha compai2ão por a$uelas pessoas4 a$ui! ao contrário! me rego%iEava por haver encontrado o $ue buscava! isto é! um ser faminto" 1eilhe um rublo! e recordo $ue me agradou $ue a$uele ato de generosidade tivesse testemunhas" # velha! $ue viu isso! me pediu dinheiro! e tanto pra%er tinha em dá lo! $ue a atendi no ato! sem rePetir se o necessitava ou não" # velha me acompanhou logo até o corredor4 os $ue transitavam por ele ouviram $ue me agradecia" 'rovável é $ue minhas perguntas referentes @ miséria houvessem e2citado os deseEos! por$ue alguns nos seguiam" #inda nos encontrávamos no corredor $uando se apro2imaram pedindome algum dinheiro" +ra evidente $ue! entre os $ue pediam! havia alguns alcoAlatra $ue despertavam em mim um sentimento repulsivo; mas! havendolhe dado dinheiro @ velha! não tinha direito a negálo aos demais" 0isso! me acossaram por todas as partes e me vi cada ve% mais rodeado de gente4 produ%iuse um movimento geral4 nas escadas e nas galerias apareceram pessoas $ue foram atrás de mim" ,uando sa? ao pátio! um menino $ue havia descido as escapas para fugir introdu%iuse pela gente! gritando! sem ter me visto4 F 1eu um rublo @ #gaschCa" Logo me viu e me pediu dinheiro" -a? @ rua e entrei numa loEa! onde roguei $ue me dessem de% rublos em moeda pe$uena4 Eá havia repartido o dinheiro $ue levava" #li se produ%iu a mesma cena $ue na casa Liapine" einou a mesma confusão4 os velhos! os nobres! os muEi$ues e as crianças se aglomeraram Eunto da loEa estendendome suas mãos" 1eilhes dinheiro; perguntei a alguns sobre suas vidas! e tomei notas" G loEista! com a gola de peles de seu casaco levantada! e sentado! como uma estátua! olhava alternadamente a multidão e a mim" +ra evidente $ue considerava rid?cula a$uela cena! ainda $ue não o dissesse" 0a casa Liapine me horrori%ou a miséria e a humilhação das pessoas; acrediteime culpado disso e me considerei com o deseEo e os meios de melhorar meu modo de ser4 na porta da loEa! a cena produ%ia em mim um efeito contrário" -entia algo de repulsivo por a$ueles $ue me cercavam e me perturbava a idéia do $ue poderiam pensar de mim o loEista e os porteiros" ,uando entre em minha casa a$uela noite! me senti enoEado4 tinha a intuição de $ue o $ue acabava de fa%er era estBpido e imoral" *as como ocorre sempre $ue se tem uma preocupação interior! falei muito do assunto! como se não duvidasse de seu bom ê2ito" 0o dia seguinte fui so%inho visitar as pessoas inscritas $ue me pareceram mais dignas de pena e de mais fácil socorro4 mas! como Eá disse antes! não pude socorrer a nenhuma4 era coisa mais dif?cil do $ue eu cria no primeiro momento"
#ntes de terminar as operaçHes do censo! fui várias ve%es @ casa de EanoJ! e em todas elas se reprodu%iu a mesma cena4 me acossava uma turba de solicitantes e me considerava perdido em meio deles" Iiame impossibilitado de fa%er algo em seu favor devido ao nBmero! e é poss?vel $ue o nBmero e2cessivo e2cessivo me desgostasse; mas é certo $ue nenhum me inspirava simpatias" Gbservei $ue não me di%iam todos a verdade e $ue não viam em mim mais $ue uma bolsa da $ual podiam sacar dinheiro" 'areciame 'areciame $ue a $uantidade $ue cada um da$ueles indiv?duos levava piorava sua situação em ve% de melhorála" ,uanto mais visitava a$uelas casas! $uanto mais iniciava relaçHes com seus habitantes! tanto mais evidente era a impossibilidade de tentar algo; mas não abandonei minha empresa até o Bltimo dia das operaçHes do censo4 ainda me envergonho de recordar recordar a$uele dia" +u fa%ia so%inho! sempre! minhas visitas particulares! e a$uela ve% éramos umas vinte pessoas" Ms sete! todos os $ue haviam manifestado deseEos de tomar parte na$uela Eornada de noite! $ue era a ?ntima! começaram a chegar a minha casa" # maior parte da$uelas pessoas me era desconhecida" +ram estudantes! um ocial e dois conhecidos meus na sociedade; estes! depois de di%er em francês sacramental4 V=Yest tres intéressantNV intéressantNV me rogaram $ue os admitisse em minha companhia" Todo Todo mundo achava $ue $ue era o caso de comparecer comparecer vestidos de Ea$ueta e botas de cano alto alto e pesadas como se estivessem estivessem indo @ montanha caçar" Levavam consigo cartHes de forma singular e enormes canetas" +ncontravamse nesse estado particular de e2citação $ue se tem em uma montaria! em um duelo ou uma ação de guerra" 'or eles se compreendia! mais $ue por ninguém! o falso e pueril de nossa situação; mas a todos se passava o mesmo4 todos estávamos no mesmo caso" #ntes de marchar deliberamos! @ maneira dos conselhos de guerra! sobre o ponto por onde dever?amos começar! a maneira de nos dividirmos! etc" # deliberação tomou o mesmo caráter $ue num conselho! numa assembleia ou num comitê! isto é! $ue todos falavam! não pela necessidade de di%er ou ensinar algo! mas por$ue ninguém $ueria ser menos $ue os demais" 0a$uela discussão! ninguém aludiu ao caráter benéco $ue devia ter a e2cursão e do $ue tantas ve%es eu havia falado" =omo me envergonhava ao ver $ue era necessário levar a conversa @$uele terreno e fa%er compreender $ue dev?amos ir tomando nota de todos a$ueles $ue encontrássemos em um estado lastimoso e miserávelN -empre me perturbou fa%er tais recomendaçHes! mas na$uele momento! e em meio da e2citação produ%ida nos ânimos por a$ueles preparativos preparativos de campanha! apenas pude falar disso" 'areciame 'areciame $ue todos escutavamme com triste%a! e ainda $ue todos se manifestassem de acordo comigo! acreditei compreender $ue Eulgavam como uma tolice minha minha empresa! e $ue $ue não daria resultado resultado
algum" ,uando terminei meu discurso! todos falaram por sua ve% de coisas estranhas" + assim continuaram até $ue sa?mos" =hegamos a uma cafeteria! e depois de haver despertado o garçom! começamos a ordenar nossas folhas" ,uando nos disseram $ue os habitantes! sabendo da nossa chegada! evacuavam seus aloEamentos! rogamos ao patrão $ue fechasse @ chave a porta da garagem! e nos fomos ao e2tenso pátio para assegurar aos $ue tentavam irse $ue não e2ig?amos seus passaportes" #inda recordo a impressão penosa $ue a$uelas pessoas alarmadas produ%iram em meu ânimo" #o ver a tantos homens desastrados ou seminus! @ lu% de uma lanterna! todos me pareceram de estatura colossal na$uele pátio sombrio" #ssustados e terr?veis em meio a seu espanto! mantinhamse de pé! agrupados perto dos lugares comuns! e escutavam nossas palavras tran$uili%adoras sem concedêlas crédito" +ra evidente $ue se encontravam dispostos a tudo! para escapar! como as bestas fero%es" -enhores! agentes de pol?cia em cidades e aldeias! Eu?%es de instrução acossam a$ueles miseráveis durante toda sua vida! tanto nas estradas como nas ruas! de igual modo nas cafeterias como nos albergues" 1e repente chegam esses mesmos senhores e mandam fechar a porta da garagem com o Bnico obEetivo de contálos" Tão Tão dif?cil era fa%êlos crer crer nisso! como persuadir persuadir os coelhos de $ue os os cães não tentam pegálos" Gs habitantes voltaram sobre seus passos ao ver fechada a porta e nAs! divididos em grupos! nos pusemos em ação" *eus dois conhecidos da boa sociedade e dois estudantes caram comigo" Iânia marchava adiante de nAs com uma lanterna na mão" 3omos aos locais $ue me eram conhecidos4 também conhecia alguns de seus habitantes! mas a maior parte era recémchegados" recémchegados" G espetáculo $ue a$uela noite ofereceu a meus olhos foi mais horr?vel $ue o da casa Liapine" Todos os $uartos estavam lotados; todas as camas estavam ocupadas por um e fre$uentemente por dois homens" G espetáculo era horr?vel! em atenção @ e2iguidade dos locais para o nBmero de homens e mulheres aglomerados nos mesmos" #inda $ue as mulheres não estivessem perdidamente embriagadas! dormiam com os homens em uma mesma cama" *uitas da$uelas infeli%es! com seus lhos! dormiam em camas estreitas com homens desconhecidos" 3i$uei perple2o ante a miséria! a suEeira! o traEe esfarrapado e o aspecto de todas a$uelas pessoas e! sobretudo! por seu nBmero" Iisitamos um local! depois outro! um terceiro! um décimo! um vigésimo! e em todos nos seguiram o mesmo fedor! as mesmas emanaçHes! a mesma e2iguidade! a mesma mescla de se2os! a mesma embriague% de homens e mulheres até perder o conhecimento! o mesmo espanto! igual humilhação e igual temor em todos os semblantes" -enti a mesma vergonha e a mesma dor $ue no asilo Liapine"! e compreendi $ue o m $ue perseguia era mal! estBpido em seus procedimentos e! por m! impraticável"
Wá não interroguei interroguei ninguém; não tomei tomei Eá nota de nome algum! convencido de $ue não obteria nenhum resultado" #$uela convicção me fe% muito dano" 0a casa Liapine me encontrei na situação do homem $ue descobriu por casualidade uma Blcera aberta no corpo de um semelhante" =ompadecese com o desgosto de não havêla visto antes! mas com a esperança de aliviar o doente" *as a$ui me encontrava no caso do médico $ue vai com seus unguentos e poçHes @ casa do doente; descobrelhe a Blcera! a e2amina cuidadosamente! e se vê obrigado a reconhecer $ue tudo $uanto faça será inBtil! e $ue seus remédios serão em vão! por$ue de nada servem" X) #$uela visita deu o golpe de misericArdia a minhas ilusHes4 persuadi me de $ue minha fantasia era rid?cula e ruim" *as acreditei! apesar disso! $ue não podia abandonar no ato a totalidade da empresa e $ue estava no dever de continuar o ensaio! em primeiro lugar! por$ue meu artigo! minhas visitas e minhas promessas promessas haviam encoraEado os pobres! e em segundo lugar! por$ue havia despertado também! com meu artigo e minhas palavras! a simpatia dos benfeitores! muitos dos $uais me haviam oferecido seu concurso pessoal e recursos monetários" #lém disso! esperava $ue uns e outros pedissem minha opinião sobre o assunto" ecebi mais de cem cartas assinadas por pobres! ou por ricopobres! se é $ue posso chamálos assim" Iisitei alguns! e os demais dei2ei sem resposta; mas não me foi poss?vel socorrer nenhum" Todas a$uelas cartas me haviam sido dirigidas por pessoas $ue se encontravam antes em posição privilegiada (e denomino assim a$uela em $ue as pessoas recebem mais do $ue dão! e $ue! havendoa perdido! $ueriam recuperála" /m tinha necessidade de du%entos rublos para sustentar seu comércio! $ue corria riscos! e para terminar a educação de seus lhos; outro deseEava criar um gabinete fotográco; um terceiro $ueria pagar suas d?vidas e desempenhar o traEe dos dias de festa; o $uarto necessitava de um piano para aperfeiçoarse aperfeiçoarse na mBsica e sustentar sua fam?lia dando liçHes" # maior parte não pedia uma $uantidade determinada! mas! simplesmente! $ue os aEudassem" + conforme ia e2aminando as e2igências! ia notando $ue as necessidade aumentavam em ra%ão direta dos recursos! de sorte $ue não se podiam satisfa%er" epito4 talve% fosse por torpe%a minha! mas no caso não pude socorrer ninguém apesar de meus esforços" ,uanto @ aEuda $ue me prestaram os benfeitores! me sucedeu algo estranho e inesperado" 1e todas as pessoas $ue me haviam oferecido dinheiro e até haviam 2ado a $uantidade! nem uma sA me enviou um rublo para dar aos pobres"
-egundo o $ue me haviam prometido! poderia contar com mais de três mil rublos; mas nenhum da$ueles lantropos $ueria lembrar da oferta! e entre todos não me deram nem um cope$ue" Gs estudantes foram os Bnicos $ue puseram a minha disposição os do%e rublos $ue lhes atribu?ram por seus trabalhos do censo" +m ve% das de%enas de milhares de rublos com $ue os ricos deveriam contribuir para arrancar da miséria e da depravação milhares de seres! tive de me contentar ao $ue eu havia distribu?do! sem bastante rePe2ão! @s pessoas $ue tinham me levado com habilidade! e também aos do%e rublos $ue os estudantes me deram e outros vinte e cinco $ue o conselho municipal me deu por haver dirigido os trabalhos do censo em meu $uartel" + em verdade não sabia como distribuir esta soma" G assunto havia terminado" 0a véspera do carnaval! antes de viaEar para o campo! fui @ casa de EanoJ para desembaraçarme dos meus trinta e sete rublos e distribu?los aos pobres" Iisitei os $uartos de meus conhecidos e não encontrei mais $ue a um sA doente! a $uem dei cinco rublos" =omo ia desprenderme do resto& =ompreenderseá $ue muitos me pediram dinheiro com insistência; mas como não os conhecia então melhor do $ue antes! decidi consultar )van 3edAtitch! a m de saber por ele a $uem poderia socorrer com os trinta e dois rublos" +ra o primeiro dia de carnaval" Todo mundo ia com sua roupa dos dias de festa; todos haviam comido! e muitos estavam Eá embriagados" 0o pátio! perto do ângulo da casa! estava um velho vestido com um gibão andraEoso e calçado com sapatos de cânhamo4 era um catador4 parecia ainda robusto e se entretinha em classicar sua pilhagem e reunila numa cesta4 punha num lado o cobre! o ferro e outras coisas! cantando com bela vo% uma canção alegre" *e apro2imei dele e conversamos" *e disse $ue tinha setenta anos e $ue era solteiro" -eu of?cio bastava para sua manutenção" 0ão pensava em $uei2arse por$ue comia e bebia até car ébrio" ,uis informarme por ele de $uem eram os mais particularmente desgraçados" -e incomodou e me disse $ue! fora os preguiçosos e os alcoAlatras! não conhecia outros necessitados! mas $uando conheceu minhas intençHes! me pedia cinco cope$ues para beber na taberna" 3ui ver )van 3edAtitch para encarregálo $ue distribu?sse o resto do dinheiro" # taberna transbordava de gente4 as prostitutas! com suas melhores roupas! iam de uma porta a outra4 todos os $uartos estavam ocupados" avia muito alcoAlatra! e em um pe$ueno $uarto tocavam um harmQnio e a seu compasso dançavam duas pessoas" )van fe% $ue se suspendesse o baile por respeito a mim e tomou assento a meu lado numa mesa desocupada" 1isselhe $ue me haviam encarregado $ue distribu?sse uma pe$uena $uantidade! e $ue! como ele conhecia seus in$uilinos! rogavalhe $ue me indicasse os mais necessitados"
G amável taberneiro (morreu ano passado! mesmo ocupado em seu estabelecimento! se pQs a minhas ordens; mas cou perple2o e pensativo" /m dos garçons! homem Eá de idade! ouviu nossa conversa e Euntou se a ela" =omeçaram a revisar as pessoas necessitadas (eu conhecia algumas e não puderam pQrse de acordo" F 'aramnovna F disse o garçom" F -im! esta @s ve%es não tem o $ue comer; mas vai se casar" F + $ual o problema& #inda assim se deve socorrêla" #lém disso! -piridon )vánovitch tem lhos e lhe faria um bem""" *as )van pQs em dBvida a miséria de -piridon" F #Culina&""" mas essa Eá foi socorrida" *elhor seria dar esse dinheiro ao cego" ,uanto a este! fui eu $uem % a obEeção" #cabava de vêlo4 era um velho de cerca de oitenta anos $ue não se sabia de onde era" 1evia presumirse $ue sua situação fosse mais precária $ue a de nenhum outro! e no entanto! acabava de vêlo deitado sobre um colchão de plumas; estava embriagado e dirigiase com vo% rouca e horr?vel @ sua $uerida! $ue era relativamente Eovem" 3alaram também de um Eovem manco e de sua mãe! e observei $ue )van estava retra?do por seus escrBpulos! por$ue sabia perfeitamente $ue tudo o $ue dessem @$uela gente seria mal gastado em sua taberna" *as como eu necessitava desfa%erme dos trinta e dois rublos! insisti e os distribu?mos bem ou mal" Gs $ue receberam o dinheiro iam! na maior parte! bem postos4 não houve necessidade de ir buscálos muito longe! por$ue estavam ali mesmo! na taberna" G manco chegou com botas ao lacaio! com um gibão vermelho e um colete por cima" #ssim terminou minha crise de benecência e me fui ao campo revoltado com os outros! como sempre ocorre! por causa das tolices $ue eu mesmo havia feito" *eus propAsitos benécos se converteram em fumaça! e a$uilo se concluiu para sempre! mas a marcha dos sentimentos e das idéias $ue em mim se despertaram! não somente não se deteve! mas ad$uiriu maior impulso" X)) ,uando vivia no campo! mantinha relaçHes cont?nuas com os pobres das cidades" =omo necessito ser muito franco para $ue todos possam compreender o curso dos meus pensamentos e de minha maneira de sentir! confesso $ue fa%ia bem pouco em prol dos desgraçados" -uas e2igências! no entanto! eram tão modestas! $ue o pouco $ue fa%ia lhes era Btil e criava ao meu redor uma atmosfera de simpatia e de solidariedade com meus semelhantes" 1esse modo tran$uili%ava minha consciência! $ue se rebelava contra o ilegal de minha vida"
'retendia vivêlo de igual maneira $uando me mudei para a cidade; mas me encontrava nela com uma miséria $ue! sendo menos verdadeira! era mais e2igente e mais atro% $ue a dos povoados" G $ue mais me comoveu e me chamou a atenção foi o grande nBmero de desgraçados com $ue tropecei" G vivo e sincero sentimento $ue me produ%iu minha visita @ casa Liapine me fe% compreender toda a infâmia de minha e2istência" #pesar disso fui tão fraco! $ue temi a revolução $ue a$uele sentimento devia provocar em minha vida! e tratei de fa%er um acordo com minha consciência" 1esde $ue o mundo e2iste se vem repetindo $ue não há nada de mal na ri$ue%a e no lu2o! $ue esses presentes são dados por 1eus! e $ue! vivendo na abundância! se pode socorrer aos pobres" Todos meus amigos me disseram assim! e eu dei fé a suas palavras e me dei2ei convencer" +ntão foi $uando escrevi meu artigo e $uando % um chamamento aos ricos para $ue acudissem em aEuda dos pobres" Todos se acreditavam moralmente obrigados a ser de minha opinião; mas nenhum fe% nada pelos desgraçados" +ntão foi $uando comecei a visitar a estes" Ii em suas tocas gente em au2?lio das $uais me era imposs?vel ir; trabalhadores acostumados ao trabalho e @s privaçHes $ue viviam mais alegremente $ue eu4 também encontrei outros $ue! a meu ver! haviam perdido o gosto e o costume de trabalhar para ganhar a vida; estes adoeciam da mesma desgraça $ue eu! e tampouco podia fa%er nada por eles" ,uanto a desventurados $ue tivessem fome ou frio! ou $ue estivessem enfermos! a $uem poder socorrer no ato! não encontrei mais $ue a #gaa" =onvencime de $ue era $uase sempre imposs?vel dar com a$ueles miseráveis! em atenção a $ue estavam socorridos por a$ueles em meio dos $uais viviam! e $ue não era com dinheiro $ue lhes podia mudar a e2istência" +stava convencido disso; mas! por uma vergonha mal entendida! por não desistir da obra reali%ada! prossegui com esta até $ue se anulou por si mesma! até o ponto em $ue me custou desfa%erme! por mediação de )ván 3edAtitch! dos trinta e sete rublos $ue devia distribuir" > verdade $ue bem pudera ter continuado a$uela obra e terlhe dado caráter lantrApico; $ue teria podido convencer aos $ue me haviam oferecido dinheiro e terlhes obrigado $ue o dessem! e $ue me teria sido fácil distribuir seus donativos e car satisfeito de minha virtude; mas compreendi $ue nAs! os ricos! não $uer?amos dar aos pobres uma parte do $ue nos era supérPuo" T?nhamos tantas necessidades pessoais a satisfa%erN""" =ompreendi também $ue não havia ninguém a $uem socorrer precisamente! se $ueria fa%er o bem em consciência e não distribuir o dinheiro @s tontas e @ louca! como eu havia feito na taberna de EanoJ" 1e tal modo abandonei o assunto por completo $uando me fui ao campo" ,uis publicar um artigo descritivo de $uanto havia visto e demonstrar por $uê minha empresa havia fracassado" Tive deseEos de Eusticar o $ue havia escrito e me censuravam! sobre o censo; denunciar a
indiferença da sociedade; indicar as causas geradoras da miséria nas cidades! e propor os meios de combatêla" =omecei a escrever o artigo com o propAsito de condensar nele muitas coisas importantes; e não obstante meus esforços! a pesar da abundância dos assuntos! não pude reali%ar meu trabalho4 tal era o estado de irritação em $ue me encontrava! $ue me impedia tratar as coisas com serena imparcialidade! e por isso não consegui conclu?lo até o começo do ano atual" Gcorre com fre$uência na vida moral um fato curioso e pouco notado" -e conto a um ignorante o $ue todos sabemos! sobre geologia! astronomia! histAria! f?sica ou matemática! ad$uirirá noçHes novas; mas seguramente não me dirá4 F 0ão me ensinais nada novo4 isso todo mundo sabe! e eu também" *as diga a um homem a mais alta verdade moral; apresentea numa forma clara e precisa como ele não ouviu Eamais! e até o mais imbecil! o $ue menos se interesse nesse gênero de $uestHes! dirá4 F ,uem pode ignorar isso& 3a% Eá muito tempo $ue todo mundo o disse e o sabe" +! com efeito! a$uele homem crê estar certo de ter ouvido a$uela verdade! e2pressada em iguais termos" /nicamente os $ue se interessam de uma maneira real nas $uestHes morais! compreendem o alcance e a e2tensão de uma modicação $ual$uer na denição das idéias! e sabem apreciar o laborioso trabalho por meio do $ual se chega a tal resultado" /ma hipnose obscura! um deseEo indeterminado! puderam transformarse em a2iomas claros e bem denidos $ue e2igem o cumprimento de certos atosN Temos o costume de crer $ue a moral é uma coisa trivial e irritante $ue não pode conter nada novo e interessante! e no entanto! toda a vida humana e todos os ramos de sua atividade! como pol?tica! ciências! artes! etc" não têm mais $ue um obEetivo4 o de clarear cada ve% mais! o de simplicar! arraigar e propagar a verdade moral" ecordo $ue um dia! ao passar pelas ruas de *oscou! vi um homem sair de sua casa4 se 2ou atentamente nas pedras da calçada! escolheu uma e se agachou sobre ela" 'areceume ver $ue a esfregava e $ue a polia @ custa de grandes esforços! e me perguntei4 F ,ue fará& #pro2imeime mais dele e vi $ue era um empregado de um açougue! $ue estava aando sua faca" 0ecessitava fa%êlo para cortar a carne! e eu acreditei $ue tratava de polir as pedras da calçada" # humanidade não se ocupa senão aparentemente no comércio! nos tratados! nas guerras! nas ciências e nas artes4 sA há uma coisa $ue lhe interesse e na $ue se ocupa sem cessar! e é em darse conta das leis morais $ue regem sua vida" +stas leis e2istiram sempre e a humanidade procura ainda esclarecêlas e elucidálas" )sso parece pouco oportuno ao $ue não necessita da lei moral nem $uer fa%er dela a bBssola de sua vida; mas esse esclarecimento é não sA a ação principal! mas a ação Bnica de toda a humanidade" + essa ação é tão impercept?vel @ vista! como a diferença $ue e2iste entre uma faca $ue corta! e outra $ue tem o o gasto"
/ma faca é sempre uma faca! e o $ue não se serve delas para cortar! não observa a diferença $ue e2iste entre uma e outra; mas o $ue sabe $ue toda sua vida depende! por assim di%er! do o $ue tenha! compreende $ue é de primeira necessidade $ue o instrumento esteEa bem aado! e $ue não será Btil en$uanto $ue não corte o $ue deve cortar" + isso foi o $ue me sucedeu ao escreveu meu artigo" 'areciame conhecêlo todo! compreendêlo todo! no $ue se refere @s idéias $ue me havia sugerido minha visita @ casa Liapine; mas $uando tratei de concebêlas bem e de e2pressálas! comecei a ver $ue minha faca não cortava e $ue devia aála" )sso fa% três anos! e até agora não pQde cortar o $ue eu $ueria $ue cortasse! e! no entanto! nada de novo aprendi nesses três anos" *inhas idéias são as mesmas; mas em outro tempo estavam gastas! se apagavam e não convergiam em um foco Bnico; careciam de o! e não condu%iam a uma resolução clara e simples! como condu%em hoEe" X))) ecordo $ue! durante a tentativa $ue % para acudir em au2?lio dos desgraçados! acreditei parecerme a um homem atolado $ue tentava tirar outro do mesmo pântano" Todos meus esforços me fa%iam compreender a pouca consistência do terreno no $ual tinha posto os pés4 compreendia $ue me encontrava sobre o lodo! e não analisava com atenção o piso em $ue me apoiava" Suscava incessantemente um meio e2terior para combater o mal $ue via ao meu redor" -abia $ue minha e2istência era má e! a pesar disso! não dedu%ia a clara e simples conclusão de $ue era preciso $ue eu reformasse minha vida; ao contrário! estava persuadido de $ue era necessário corrigir e reformar a das outras pessoas para $ue melhorasse a minha" abitava a cidade e $ueria melhorar a maneira de viver de seus habitantes" F G $ue é $ue caracteri%a a vida e a miséria das cidades& 'or $ue não pude socorrer aos desgraçados F me perguntava" + me respondi $ue minha tentativa havia fracassado por duas ra%Hes4 a primeira! por$ue os pobres eram muito numerosos no mesmo local! e a segunda! por$ue eram muito distintos da$ueles dos povoados" Todos $uantos não encontravam sustento nos campos se reuniam nas grandes populaçHes em torno dos ricos! e por isso eram tão numerosos" Ierdade é $ue nas cidades há pobres nascidos nas mesmas! ou cuEos pais e avQs nasceram nelas; mas também é $ue seus descendentes vieram @s cidades para buscar nelas o sustento" ,ue $uer di%er Vbuscar o sustento na cidadeV& á nisso! se bem se rePete! algo $ue parece uma piada" =omo pode ser $ue se venha dos campos! isto é! dos campos onde se produ%em todas as ri$ue%as da terra! para viver nas cidades onde nada se produ% e tudo se consume&
Lembrome de centenas! de milhares de pessoas com as $uais falei a propAsito disso! e todas me disseram o mesmo4 V+ssas pessoas vêm a *oscou em busca de sustentoV" #li não se semeia! ali não se colhe; mas ali se vive na opulência; ali é onde unicamente podem encontrar o dinheiro de $ue necessitam nos campos para comprar pão! casa! cavalos e todos os obEetos de primeira necessidade" +! no entanto! o campo é o manancial de todas as ri$ue%as! posto $ue produ% o trigo! a madeira! os cavalos e tudo mais" 'ara $ue! pois ir @s cidades para buscar nelas o $ue produ% a terra& 'ara $ue e2portar desde os povoados @s cidades o $ue os camponeses necessitam& 'ara $ue levar a elas a farinha! a vaia! os cavalos e o gado& Tive ocasião de falar disso muitas ve%es com os lavradores $ue vivem em *oscou! e compreendi $ue a$uela acumulação de aldeHes! é! em parte! obrigada! por não poder ganharse a vida de outro modo! mas $ue em parte é também arbitrária e devida @s seduçHes $ue oferece a cidade" Ierdade é $ue o aldeão! para fa%er frente a todas as e2igências e a todas as necessidades da vida! se vê obrigado a vender a$uele trigo e a$uele gado de $ue necessitará depois! e $ue! por bem ou por mal! terá $ue ir @ cidade para ganhar nela o pão" *as devemos di%er também $ue o lu2o da cidade e os meios $ue esta oferece para ganhar mais facilmente o dinheiro atraem o aldeão e lhe fa%em acreditar $ue trabalhará pouco! comerá bem! tomará chá três ve%es ao dia! se vestirá bem! e poderá entregarse ao alcoolismo e ao escândalo" +m um e outro caso! o motivo é o mesmo4 a concentração da ri$ue%a nas cidades e sua transmissão das mãos dos produtores @s dos não produtores" 1esde princ?pios do outono! tudo o $ue o campo produ%iu se acumula nas cidades! por$ue há necessidade de satisfa%er as e2igências dos impostos! do recrutamento e dos demais encargos" +ssa é também a época dos casamentos e das festas" =hegam os açambarcadores4 as ri$ue%as dos aldeHes consistem então em gado comest?vel e de trabalho! em cavalos! porcos! galinhas! ovos! manteiga! linho! aveia! trigo! centeio! etc"! e tudo passa a mãos estranhas $ue em seguida o transportam @ cidade" Gs habitantes dos povoados se vêem obrigados a vender para satisfa%er as cargas $ue pesam sobre eles" -obrevém em seguida o décit! e necessitam ir ali onde foram acumuladas suas ri$ue%as para tratar de reunir algum dinheiro com $ue fa%er frente @s primeiras necessidades do campo" -edu%idos pelos atrativos $ue oferece a cidade! alguns permanecem nela" G mesmo sucede em toda Bssia e no mundo inteiro4 as ri$ue%as dos produtores passam @s mãos dos comerciantes! dos grandes proprietários rurais! dos açambarcadores! dos fabricantes! e os $ue as ad$uirem deseEam aproveitarse delas! e para isso necessitam residir nas cidades" +m primeiro lugar! é dif?cil encontrar nos campos os meios de satisfa%er todas as necessidades da gente rica4 não há neles estBdios de pintores! grandes arma%éns! bancos! restaurantes! c?rculos! nem
teatros4 em segundo lugar! os ricos não podem satisfa%er no campo a vaidade! o deseEo de sobrepuEar os outros! $ue é um dos maiores go%os da ri$ue%a" Gs camponeses não sabem apreciar o lu2o! e não há nada $ue possa maravilhálos" 0inguém contempla nem inveEa os apartamentos! as pinturas! os bron%es! as carruagens nem as caças do $ue habita no campo4 os aldeHes não têm critério suciente para Eulgar essas coisas" +m terceiro lugar! o lu2o em tais condiçHes até é desagradável e perigoso para todo homem medianamente delicado" =usta trabalho tomar banhos de leite ou dálo aos cães! ali onde as crianças carecem dele; é triste edicar pavilhHes e traçar par$ues em meio de pessoas $ue vivem em cabanas rodeadas de esterco e $ue carecem de lenha para a$uecerse" 0inguém poderia manter a ordem entre os muEi$ues nem impedir $ue cometessem bobagens por sua ignorância" 'or isso os ricos se concentram nas cidades onde a satisfação dos gostos é mais renada e está garantida por uma pol?cia numerosa e vigilante" Gs primeiros habitantes das cidades foram empreiteiros do +stado4 ao redor deles se agruparam os artesHes! os industriais e por Bltimo as pessoas ricas! $ue! possuindo tudo! não têm mais $ue deseEar as coisas! e $ue rivali%am em lu2o uns com os outros! para eclipsar e admirar os outros" + sucede $ue o milionário $ue se envergonha de rodearse de lu2o no campo! não tem na cidade os mesmos escrBpulos! e acha incQmodo e irritante não viver como todos os milionários $ue lhe rodeiam" G $ue Eulga penoso e imprAprio no campo lhe parece natural?ssimo na cidade" =onsome tran$uilamente! sob a salvaguarda da autoridade! o $ue o camponês produ%iu! e este se vê obrigado a concorrer @ festa eterna dos ricos4 poderá recolher as migalhas $ue se caem de suas mesas& + ao contemplar a$uela vida suntuosa! alheia de cuidados! estimada por todos e protegida pela autoridade! o camponês $uer também trabalhar o menos poss?vel e aproveitarse amplamente do trabalho dos outros" + veEao atra?do na cidade! tratando de estabelecerse @ imediação do rico! e suportando todas as situaçHes em $ue este $uer colocálo" #Eudalhe a satisfa%er todos seus caprichos; pHese a seu serviço no banho e no restaurante! é seu cocheiro! e lhe proporciona mulheres" #ssim é como os homens aprendem dos ricos a viver como eles! não por meio do trabalho! mas por um cBmulo de subterfBgios e sugando com habilidade as ri$ue%as acumuladas dos outros; e como é natural! se pervertem e se perdem" 'ois bem4 a$uela população de miseráveis era a $ue eu $uis socorrer" Sasta rePetir um pouco acerca da situação da$uelas pessoas para admirarse de $ue muitos dentre eles sigam sendo trabalhadores honrados e não se tenham convertido em aventureiros correndo atrás de uma presa fácil; em vendedores ambulantes! em mendigos! em prostitutas! em golpistas e em bandidos"
0As! $ue tomamos parte nessa orgia eterna das cidades e $ue podemos estabelecer nossa vida @ nossa vontade! cremos muito natural viver num apartamento de cinco $uartos! temperados por uma $uantidade de lenha $ue bastaria para a$uecer vinte fam?lias; dar um passeio de meia versta com dois cavalos de trote e dois homens; cobrir o pavimento de nossos $uartos com tapetes! e gastar de cinco a de% mil rublos em um baile! ou vinte e cinco mil rublos em uma árvore de 0atal" G $ue necessita de% rublos para o pão de sua fam?lia! da $ual embargaram a Bltima ovelha para satisfa%er sete rublos de um imposto vencido! e $ue não pode economi%álos apesar de um trabalho duro! esse não pensa! seguramente! como nAs" =remos $ue aos pobres lhes parece muito natural tudo isso e alguns somos tão simples! tão inocentes! $ue até pretendemos $ue os pobres nos devem estar agradecidos por$ue lhes proporcionamos os meios de ganhar a vida" *as esses deserdados da fortuna não perdem o senso comum pelo fato de encontrarse na miséria! e raciocinam e2atamente como nAs" ,uando chega a nAs a not?cia $ue um personagem $ual$uer perdeu de% ou vinte mil rublos! nos formamos em seguida a idéia de $ue a$uele homem foi um imbecil $ue sacricou sem proveito tanto dinheiro! $uando poderia empregálo em edicaçHes ou em benef?cio da cultura geral" Gs pobres raciocinam do mesmo modo ao ver os suntuosos e loucos desperd?cios dos ricos! e seu racioc?nio é tanto mais Eusto! $uanto $ue eles necessitam de dinheiro! não para satisfa%er um capricho $ual$uer! mas para socorrer as mais urgentes necessidades" +stamos em erro ao crer $ue! raciocinando assim! permanecem indiferentes ao lu2o $ue lhes rodeia" 1esde seu ponto de vista! não é Eusto $ue uns vivam em festa cont?nua! e $ue os outros trabalhem e EeEuem fre$uentemente" 0o primeiro momento se admiram e se sentem ofendidos pelo espetáculo; mas compreendem logo $ue tal estado de coisas é legal! e procuram es$uivar o ombro ao trabalho e participar da festa" /ns o conseguem; outros se acercam dela pouco a pouco; mas a maioria cai antes de chegar a seu obEetivo! e como perderam Eá o hábito do trabalho! enchem as casas de prostituição e os albergues" 3a% três anos $ue tomamos a nosso serviço! no campo! um aldeão Eovem como garçom da sala de Eantar; incomodouse com o valete e se foi" +ntrou em seguida ao serviço de um comerciante $ue lhe agradou! e hoEe passeia elegantemente vestido! com corrente de ouro e botas de couro" -ubstitu?moslhe com outro aldeão casado4 este se dedicou @ bebida e ao Eogo" -ucedeulhe um terceiro! e fe% o mesmo $ue antecessor! e depois de gastar o $uanto tinha! caiu na miséria mais espantosa e parou nos albergues" 0osso co%inheiro! $ue é um velho! cou enfermo em conse$uência de sua cont?nua embriague%" /m de nossos criados $ue! durante cinco anos havia observado uma conduta e2emplar no campo! se dedicou
em *oscou @ bebida em ausência de sua mulher! e se perdeu também" /m Eovem de nosso povoado era garçom de meu irmão" -eu avQ! cego! veio a minha casa e me rogou $ue aconselhasse a seu lho $ue lhe remetesse de% rublos para pagar os impostos! pois do contrário lhe venderiam a vaca" G velho me di%ia $ue seu neto $ueria se vestir e se calçar bem! e $ue pensava em comprar um relAgio" + ao di%er a$uilo! enunciava a hipAtese mais louca $ue poderia imaginar! a respeito das intençHes do garçom" #$uele pobre ancião não teve a%eite em toda a $uaresma! nem pode tampouco encontrar um rublo e vinte cope$ues para comprar lenha" +! no entanto! reali%ouse a louca hipAtese do velho4 o Eovem veio a minha casa vestido com sobretudo preto e botas $ue lhe haviam custado oito rublos" 3a% poucos dias pediu emprestados de% rublos a meu irmão para comprar mais calçado! e meus lhos $ue conhecem esse mole$ue me asseguraram $ue tratava de comprar um relAgio" Tinha bom caráter! mas acreditava $ue ririam dele se não usasse relAgio" 0este mesmo ano! nossa babá! Eovem de de%oito anos! teve relaçHes ?ntimas com um cocheiro! e foi despedida" /ma criada $ue temos em casa fa% muitos anos! e a $uem falei da$uela desgraçada! me lembrou de outra Eovem $ue eu havia es$uecido e $ue foi igualmente despedida de casa fa% de% anos por ter relaçHes com meu valete" #cabou sua vida numa casa de prostituição e morreu de s?lis em um hospital antes de completar vinte anos" Sasta $ue se olhe ao redor para $ue se horrori%e ante o contágio $ue comunicamos @$ueles a $uem $ueremos aEudar! não somente com o trabalho em estabelecimentos e fábricas ao serviço de nosso lu2o! mas pelo mero e2emplo de nossa vida lu2uosa" + havendo compreendido o verdadeiro caráter da miséria nas cidades! miséria $ue eu não havia podido socorrer! vi $ue a principal causa dela consistia em $ue eu tomava dos habitantes dos povoados e das aldeias o $ue lhes era necessário! e em segundo lugar! por$ue na cidade se consumia o $ue eu havia sacado dos povoados" +u sedu%ia e pervertia com meu lu2o insensato as pessoas $ue vinham com o obEetivo de recuperar uma parte do $ue se lhes havia tirado" X)I M mesma conclusão me levava um caminho diametralmente oposto" #o recordar minhas relaçHes com os pobres! notei $ue uma das causas $ue me haviam impedido socorrêlos era a de $ue a$uelas pessoas não haviam sido francas nem sinceras comigo4 não me consideraram como um homem! mas como um meio" 0ão podia apro2imarme delas4 talve% eu agisse mal; mas! como careciam de sinceridade! o socorro era imposs?vel" =omo aEudar um homem $ue oculta sua situação& =omecei a censurálos (é tão cQmodo censurar os outrosN; mas uma sA palavra
de um homem notável! de -iutaieJ! $ue veio visitarme! iluminou minha inteligência e me fe% ver $ual era a causa de meu fracasso" ecordo $ue as palavras $ue me disse me impressionaram; mas até muito tempo depois não compreendi todo seu alcance4 eu me encontrava então no per?odo culminante de minhas ilusHes" +ncontreime com -iutaieJ na casa de minha irmã! e esta me perguntou como ia eu em minha empresa" espondilhe! como sucede sempre $uando não se tem conança em um assunto! falandolhe com calor e entusiasmo do $ue fa%ia e do resultado $ue pensava obter! repetindolhe a cada passo $ue proteger?amos os Arfãos e os anciãos; $ue reintegrar?amos aos povoados de origem os aldeHes $ue haviam vindo arruinarse em *oscou; $ue dev?amos facilitar o caminho do arrependimento aos pervertidos! e $ue se a empresa tivesse bom ê2ito! não restaria na cidade um desgraçado $ue não fosse socorrido" *inha irmã me escutava satisfeita4 durante nossa conversa! eu olhava com fre$uência a -iutaieJ" =onhecendo o cristianismo de sua vida e a importância $ue dava @ caridade! esperava sua aprovação e falei de maneira $ue pudesse ouvirme e compreenderme! pois minhas palavras iam especialmente dirigidas a ele" G ancião permanecia imAvel em sua cadeira! envolto em sua peliça de pele de cordeiro $ue conservava posta na sala! como todos os muEi$ues" 'arecia pensar em seus assuntos e não escutar nossas palavras4 seu olhar não brilhava! como se estivesse abstra?do" ,uando me cansei de falar! lhe perguntei o $ue pensava de meu assunto" F Tudo isso são tolices F me disse" F Tolices""" 'or $ue& F 'or$ue nada bom resultará disso" F =omo assim& F repli$ueilhe F seriam tolices se socorremos milhares! ou ainda $ue não seEa mais $ue centenas de infeli%es& G +vangelho pro?be vestir o desnudo ou dar de comer ao faminto& F +u sei! eu sei; mas tu não fa%es isso4 tu passeias" #lguém te pede vinte cope$ues e lhe das" )sso é uma esmola& G $ue necessita é um socorro moral4 instru?lo; mas lhe das dinheiro para $ue te dei2e tran$uilo" )sso é o $ue tu fa%es" F 0ão! não é isso4 $ueremos estudar e conhecer a fundo a miséria! e depois! socorrer os desgraçados com dinheiro e com boas açHes! e proporcionarlhes trabalho" F 0ão podes socorrer a essas pessoas de tal maneira" F ,ueres! então! $ue as dei2emos morrer de fome e de frio& F 'or $ue morrer& -ão tão numerosos a$ui& F + me perguntas& F disse! pensando $ue considerava o assunto da$uela maneira por$ue ignorava $uantos desgraçados havia F -abes $ue há em *oscou cerca de vinte mil famintos& + $uantos não haverá em -ão 'etersburgo e nas demais cidades& -orriu" F Iinte milN""" + $uantas casas de lavradores há na Bssia& averá um milhão&
F -im; mas o $ue isso tem a ver& F ,ue tem a ver& F repetiu! e seus olhos brilharam e seu semblante se animou F 'ois bem4 tomemolos nAs! e levemolos a nossas casas" +u não sou rico! e! no entanto! posso acolher dois" Tu trou2este um rapa% a teu serviço4 eu lhe convidei $ue fosse a minha casa e não $uis" #inda $uando fossem de% ve%es mais do $ue são! recebamolos em nossas casas; trabalhemos Euntos; sentemolos em nossa mesa; $ue ouçam boas palavras! e $ue veEam bons e2emplos" )sso será uma esmola4 todo o resto é tolice" #$uelas palavras tão simples me comoveram! e tive de reconhecer sua Eustiça! e no entanto! ainda acreditava na utilidade de minha empresa; mas $uanto mais adiante a levava! $uanto mais me apro2imava dos pobres! mais importância iam ad$uirindo para mim a$uelas palavras" +! efetivamente! encerravam uma grande verdade" =hego a meu carro vestindo uma rica peliça! ou então! alguém $ue não tem sapatos vê meu apartamento $ue custa dois mil rublos4 doulhe sem pesar cinco por$ue de repente me dá esse capricho; mas ele sabe $ue lhe dou o $ue tomei de outros com facilidade ",ue pode ver em mim além de um da$ueles $ue tomaram o $ue lhe deve pertencer& ,uero apro2imarme dele; $uei2ome de $ue não seEa franco! e! no entanto! eu temo sentarme no bordo de sua cama por medo de encherme de piolhos! e ele! o pobre! me espera na antecâmara e! @s ve%es! no vest?bulo" ,ue o homem mais cruel trate de encherse com uma refeição de cinco pratos em meio de pessoas $ue têm o estQmago va%io ou $ue não comem senão pão de centeio" 0ão haverá $uem tenha coragem para fa%êlo" 'ara comer bem $uando alguém se encontra entre pessoas $ue passam fome! é de essencial necessidade ocultarse delas" + é o $ue nAs nos acostumamos a fa%er" =onsiderando simplesmente nossa e2istência! observei $ue nossa apro2imação com os pobres não é dif?cil por pura casualidade! mas por$ue arranEamos nossa vida de modo $ue o seEa" Gbservei também $ue tudo o $ue chamamos de nosso bemestar é profundamente distinto entre nAs e os pobres" Todas essas diferenças em nossa alimentação! em nossas roupas! em nossas casas! e até em nossa instrução! têm! como principal obEetivo! diferenciarnos dos desgraçados" + dedicamos mais de noventa por cento de nossa fortuna a estabelecer esse muro impenetrável" 1esde $ue um homem chega a ser rico! dei2a de comer os mesmo pratos; fa% servirem seus talheres! e se separa da co%inha de seus criados" 3a% $ue estes comam bem para $ue não tomem seus pratos; mas come so%inho! e como isso lhe incomoda! inventa um montão de coisas para melhorar sua mesa" #té o modo de servir a comida é assunto de vaidade e de orgulho! e até os manEares se convertem em meio para separálo dos outros" /m rico não pode convidar um pobre a sua mesa"
> preciso saber apresentarse @ sua senhora! saudar! sentarse! comer! e unicamente os ricos sabem fa%er tudo isso" G mesmo sucedo no vestir" -e o rico levasse um traEe ordinário com o Bnico obEetivo de cobrir seu corpo contra o frio! sobretudo! peliça! botas de couro ou de feltro! colete! calças! camisa! etc"! teria necessidade de muito pouco! e se possu?sse duas peliças! não poderia negar uma a $uem a necessitasse" *as o rico usa traEes prAprios para certos atos e certas ocasiHes $ue não podem! portanto! servir ao pobre4 tem traEes negros! coletes! fra$ues! botas de couro enverni%ado! golas! sapatos de tacão @ francesa! tudo de Bltima moda! traEes de casa! de viaEem! etc"! $ue não podem usarse senão em condiçHes estranhas completamente @ vida dos trabalhadores" # moda estabelece mais uma distinção" 'ara ocupar um apartamento de de% peças um homem sA! não é preciso $ue o veEam as pessoas $ue se reBnam na mesma peça" ,uanto mais rico o homem! tanto mais dif?cil é encontrálo em sua casa! e mais %eladores e criados se interpHe entre ele e os pobres" 0ão permite $ue estes pisem nos tapetes nem $ue tomem assento em suas cadeiras de cetim" /m muEi$ue seria um malvado se se negasse a admitir em seu ve?culo um caminhante fatigado! se não faltar lugar para ele; mas $uanto mais rica é a carruagem mais imposs?vel se fa% dar algum assento nela" 'or algum motivo deram o nome de ego?stas aos carros mais elegantes" G mesmo sucede com a limpe%a" ,uem não conhece essas pessoas! essas mulheres! sobretudo! $ue consideram como uma alta virtude sua limpe%a! $ue não tem limites! por$ue a obtêm com o trabalho alheio& =om $uanto trabalho se acostumam os iniciantes a esse cuidado do corpo $ue conrma o provérbio4 V#s mãos brancas gostam $ue as demais trabalhemV" # limpe%a e2ige hoEe $ue se mude de camisa e $ue se lave o pescoço! a cara e as mãos todos os dias4 amanhã e2igirá $ue se mude de roupa interior duas ve%es ao dia! e $ue se tome um banho perfumado" #o tomar um valete é de necessidade $ue tenha as mãos muito limpas4 alguns dias depois usará luvas para dar a seu senhor as cartas e cartHes numa bandeEa" 0ão há limites nisso de limpe%a! $ue nada signica! mas $ue serve para distinguir umas pessoas de outras e fa%er imposs?veis as relaçHes entre elas" *as isso não é tudo" #profundando no assunto! me convenci de $ue o $ue se denomina ordinariamente instrução se encontra no mesmo caso" G povo chama homem instru?do ao $ue se veste @ moda! tem conversação na! as mãos brancas e certa limpe%a em sua pessoa" +m um meio ambiente algo mais elevado! se tem as mesma ideias a respeito da instrução! mas adicionando @$uelas condiçHes saber tocar piano! conhecimento da l?ngua francesa! escrever com ortograa e
melhor continente" 0as classes superiores se e2ige ademais o conhecimento do inglês e um t?tulo universitário" *as! em suma! a instrução é a mesma coisa nos três casos4 o conEunto de conhecimentos e de aparências $ue devem distinguir uns dos outros" + seu obEetivo é o mesmo $ue o da limpe%a4 separarnos da multidão dos pobres com o m de $ue estes! famintos e tiritando de frio! não possam ver a ociosidade de nossa vida" *as nos é imposs?vel ocultálo" 'or isso estou convencido de $ue a causa da impossibilidade de aEudar os pobres das cidades reside nas diculdades $ue se oferecem para apro2imarmonos deles! e $ue nAs criamos com o modo de ser de nossa vida e com o uso $ue fa%emos de nossas ri$ue%as" +ntre os pobres e os ricos se eleva uma alta muralha de limpe%a e de instrução fabricada por nAs com o au2?lio de nossas ri$ue%as" -e $ueremos socorrer os desgraçados! devemos destruir essa muralha e aplicar logo o remédio indicado por -iutaieJ4 VLevar os pobres a nossas casasV" + veEa por onde! seguindo distinto caminho! cheguei @ mesma conclusão! buscando a causa da miséria das cidades! causa $ue é a conse$uência de nossas ri$ue%as" XI 1edi$ueime a e2aminar essa $uestão desde outro ponto de vista essencialmente pessoal" +ntre os fatos $ue me impressionaram desde $ue me dedi$uei @ lantropia! havia algo estranho $ue não me pude e2plicar por muito tempo" +is a$ui de $ue se tratava" Todas as ve%es $ue tinha ocasião de dar! na rua ou em minha casa! uma moeda a um pobre sem entrar em conversação com ele! parecia me ver $ue o semblante da$uele homem rePetia alegria e gratidão! e eu e2perimentava uma sensação agradável" Iia $ue havia satisfeito seu deseEo" *as se me detinha e falava com ele! se o interrogava sobre sua vida anterior ou sobre sua vida atual! e entrava mais ou menos em detalhes de sua situação! compreendia $ue não me era poss?vel dar lhe alguns cope$ues! e vacilava a respeito da $uantidade $ue deveria darlhe" + $uanto maior a $uantia $ue recebia o pobre! mais descontente se ia" ,uer di%er; $ue $uanto mais me apro2imava dos desgraçados! mais vacilava a respeito do socorro $ue lhes devia dar! e $ue $uanto maior era este! mais sombrios e descontentes me parecia $ue cavam" 'ela regra geral! notei em casos análogos uma viva contrariedade no semblante dos pobres e! ao mesmo tempo! certa animosidade contra mim" /m dia em $ue dei a um de% rublos! se foi sem me agradecer e como se lhe houvesse ofendido""" +u me senti desgostoso! e até culpado"
-e eu me ocupava em um pobre durante semanas ou meses! se lhe aEudava! se lhe fa%ia participante de minhas opiniHes e me apro2imava a ele! minhas relaçHes pareciam um supl?cio! e me despre%ava" + compreendia $ue tinha ra%ão" -e me encontrava na rua e me pede! como os demais transeuntes! três cope$ues e se os dou! passo a seus olhos como um homem de bom coração e me bendi% sinceramente" *as se me detenho! se lhe falo! se lhe demonstro $ue $uero ser para ele mais $ue um mero transeunte; se! como sucede com fre$uência! chora e me conta suas desgraças! verá em mim o $ue $uero eu $ue veEa4 um homem de coração" *as! se é assim! minha bondade não se deve limitar a vinte cope$ues! nem a de% rublos! nem a de% mil" 0ão se pode ser bom pela metade" #dmitamos $ue lhe dei muito; $ue pus em ordem seus assuntos; $ue o vesti; $ue o pus em condiçHes tais $ue possa viver sem o socorro de ninguém; mas $ue por uma causa $ual$uer! por uma desgraça! por fra$ue%a ou por v?cio! encontrase de novo sem vestimentas! sem roupa branca! sem dinheiro! sofrendo outra ve% de fome e frio! e vem procurarme""" 'or $ue hei de rechaçálo& -e eu tivesse um propAsito determinado! por e2emplo! darlhe tanto dinheiro ou tal vestimenta! poderia! uma ve% feita a doação! permanecer tran$uilo; mas meu propAsito não foi esse4 o motivo de minha ação foi a bondade4 $uero ver em cada homem um semelhante meu" #ssim é como se compreende a caridade" 'ortanto! se se gastou vinte ve%es em bebida o $ue recebeu; se de novo tem fome e frio; se eu sou! em realidade! bom! não posso negar lhe nada e devo darlhe! en$uanto possuir mais $ue ele" *as! se retrocedo! demonstro! ao retroceder! $ue todo o $ue % até então não teve por motivo a bondade! mas o deseEo de fa%er alarde de minha boa ação aos olhos dos outros" + neste caso eu retrocedia ao dei2ar de socorrer @$uelas pessoas; renegava minha virtude e e2perimentava um sentimento penoso" + senti a$uela vergonha na casa Liapine e $uando cheguei a dar dinheiro aos pobres" +ncontravame no campo" 0ecessitava de vinte cope$ues para socorrer a um peregrino e enviei meu lho para buscálos4 trou2e os vinte cope$ues e me disse $ue os havia tomado emprestados de nosso co%inheiro" #lguns dias depois chegaram outros peregrinos4 tive também necessidade de mais vinte cope$ues4 levava no bolso um rublo! e lembrando $ue devia ao co%inheiro! me fui @ co%inha para buscar o $ue necessitava" 1isse ao co%inheiro4 VTomei emprestados vinte cope$ues4 a$ui tens um rublo"""V #inda não havia conclu?do a frase e o co%inheiro Eá havia chamado sua mulher! di%endolhe4 F 'arascha4 olhe""" tome" 'ensando $ue ela havia compreendido do $ue se tratava! lhe dei o rublo" á $ue ter em conta $ue a$uelas pessoas não estavam a meu serviço a mais $ue oito dias! e $ue! ainda $ue Eá houvesse visto a mulher! todavia não lhe havia dirigido a palavra"
,uis di%erlhe $ue me desse o troco; mas! antes $ue eu pudesse abrir a boca! se inclinou para segurar minha mão crendo! sem dBvida! $ue lhe havia dado o rublo""" Salbuciei algumas palavras e sa? da co%inha" 3a%ia tempo $ue não havia sentido vergonha semelhante" *eus nervos se crisparam e notei $ue % uma careta contra a minha vontade" #$uele sentimento! $ue me pareceu pouco merecido! me lastimou! sobretudo! por não havêlo e2perimentado há tempo! e acreditava $ue minha vida não devia merecer semelhante humilhação" 3i$uei consternado pelo $ue acabara de se passar! e! ao referilo a meus amigos e a meus parentes! todos me disseram $ue! em meu lugar! haveria e2perimentado a mesma sensação $ue eu" 1edi$ueime a averiguar a causa da$uela impressão! e uma aventura $ue me ocorreu em outro tempo em *oscou me deu a solução do problema" *editava na$uele incidente e compreendi a$uela vergonha $ue havia sentido ante a mulher do co%inheiro e outras muitas ve%es $uando e2ercia de lantropo e dava algo aos outros! e2ceto a$uela pe$uena esmola $ue por costume dou aos mendigos e aos peregrinos! não como ato de caridade! mas como de decoro e de pol?tica" -e um homem pede fogo! deves darlhe um fAsforo! se o tens" -e alguém pede três! ou vinte cope$ues! e ainda $ue seEa alguns rublos! deves dálos! se os tens" +ste é um ato de urbanidade! e não de lantropia" +is a$ui o $ue me sucedeu4 Wá falei dos aldeHes com os $uais serrava madeira há três anos" /m sábado pela tarde! por ocasião da oração! iam eles @ casa de seu patrão para cobrar seu salário e eu os acompanhei até a cidade" #o chegar @ ponte de 1ragomilov! encontramos um velho $ue me pediu esmola e a $uem dei vinte cope$ues" #creditei $ue minha ação fosse do agrado de meus companheiros! com $uem ia falando de assuntos religiosos" -imion! o muEi$ue do governo de Iladimir! $ue tinha em *oscou mulher e três lhos! se deteve! levantou a tBnica! tirou sua carteira! procurou nela! tirou três cope$ues e os deu ao velho di%endolhe $ue lhe desse dois de volta" G velho mostroulhe o dinheiro $ue levava $ue eram duas moedas de três cope$ues e uma de um" -imion olhou; $uis tomar a de um; mas! mudando de parecer! tirou o gorro! persignouse! e seguiu seu caminho dei2ando ao velho os três cope$ues" +u sabia $ual era a situação nanceira de -imion4 todas suas economias constitu?am em seis rublos e meio4 as minhas na$uela época eram Z77"777 rublos" +u tinha mulher e lhos! meu companheiro também4 ele era mais Eovem $ue eu e sua fam?lia menos numerosa; mas todos seus lhos eram pe$uenos! en$uanto $ue dois dos meus eram Eá adultos e aptos para o trabalho" 0ossa situação! e2cetuando as economias! era $uase a mesma" +le possu?a Z77 cope$ues e dava três4 eu possu?a Z77"777 rublos e dava vinte cope$ues"
'ara ser tão generosos como -imion! deveria dar ao velho 9777 rublos! pedirlhe 6777 de volta! e em caso em $ue o velho não pudesse me dálos! dei2álos todos! persignarme e seguir meu caminho tran$uilamente falando da vida da fábrica e do preço do feno no mercado de -molensCi" Tal foi a ideia $ue surgiu em meu cérebro na$uele momento! mas até muito tempo depois não dedu%i sua conse$uência inevitável" +sta conclusão parece tão e2traordinária e tão rara! $ue não obstante sua e2atidão matemática! não pude aceitála no ato" =rêse sempre $ue há erro de cálculo; mas tal erro não e2iste! e isso demonstra $ue todos vivemos em cont?nuos e2travios $ue são a causa de espantosas trevas" ,uando cheguei a tal resultado e me convenci de $ue era absolutamente certo! e2pli$ueime minha vergonha ante a mulher do co%inheiro e ante os pobres aos $uais dava e sigo dando esmola" 1e fato4 o valor desta era uma parte tão pe$uena de minha fortuna! $ue era até imposs?vel e2pressála por meio de uma cifra a -imion e @ mulher do co%inheiro" era uma milionésima parte ou algo apro2imado" 1ava tão pouco! $ue a$uele ato não era nem podia ser de modo algum uma privação! mas uma distração $ue me permitia! $uando o tinha por conveniente" + isso é o $ue compreendeu a mulher do co%inheiro4 se eu dava ao primeiro $ue me encontrava na rua vinte cope$ues! por $ue não lhe daria a ela também um rublo& #$uela distribuição de dinheiro havia produ%ido nela o mesmo efeito $ue outra diversão dos senhores! como Eogar @ multidão pães de gengibre4 um passatempo agradável para as pessoas $ue possuem uma grande fortuna" +u haviame envergonhado! por$ue o erro da mulher do co%inheiro me havia feito conhecer a opinião $ue formavam de mim os pobres" V1á muit?ssimo dinheiro! um dinheiro $ue não ganhou com seu trabalhoV" +! de fato! $ue são minhas ri$ue%as e de onde procedem& Gbtive uma parte delas vendendo a terra $ue me dei2ou meu pai e pela $ual o muEi$ue vendeu até sua Bltima ovelha e sua Bltima vaca para car em pa% comigo4 a outra parte de minha fortuna provém do $ue me deram por meus livros" -e estes são maus! se são nocivos! os compram por sedução e o dinheiro $ue recebo por eles é mal ganho; mas se! pelo contrário! são Bteis! todavia é pior" 0ão os dou aos outros! mas lhes digo4 V1ême de%essete rublosV" + do mesmo modo $ue o muEi$ue vendeu sua Bltima vaca! o estudante e o professor! $ue são pobres! privamse do necessário para darme seu dinheiro" + eisme a$ui de posse de uma fortuna ad$uirida desse modo; $ue faço dela& Levo esse dinheiro @ cidade e não o dou aos pobres mais $ue para $ue satisfaçam meus caprichos vendo limparem por mim as calçadas! as lâmpadas! lustrar a minhas botas! e trabalhar nas fábricas! e trato de darlhes pouco e de obter deles o mais poss?vel"
+ de repente! de improviso! começo a dar graciosamente esse mesmo dinheiro aos mesmo pobres! e não a todos! mas @$ueles a $ue me apra%" =omo não $ueres $ue cada um deles não se creia ser amanhã um dos favorecidos! um desses com $uem eu me divirto Eogandolhes meu dinheiro& #ssim me consideram todos e assim me considerou a mulher do co%inheiro" + tão e2traviado andava eu! $ue apelidava bem a este duplo ato4 tomar com uma mão milhHes de rublos e dar com a outra alguns cope$ues a $uem dava vontade" +stava envergonhado! e nada tinha de particular $ue o estivesse" -im4 antes de fa%er o bem! é preciso desprenderse do mal e pQrse em condiçHes $ue permitam agir bem" 1e outro modo a vida será má" -e eu desse 877"777 rublos! não me encontraria ainda nessas condiçHes! por$ue me restariam ainda R77"777" ,uando nada tiver! será $uando poderei fa%er algum bem" 0ão foi isso o $ue fe% a prostituta ao cuidar durante três dias da enferma e de seu lho& + eu! $ue pensava em fa%er o bem! vi a$uilo sem conceder lhe importância algumaN +u era culpado; eu era causa de todas a$uelas misérias! e viver como vivia era imposs?vel! imposs?vel""" +is a? o $ue senti pela primeira ve% ao ver os famintos ante a casa Liapine! e o $ue senti foi a e2pressão da verdade" Sem4 $ue fa%er& XI) ,uantas diculdades não encontrei para chegar a esta conssãoN *as! uma ve% feita! me horrori%ei do erro em havia vivido" +ncontravame metido até o pescoço na lama e pretendia tirar os outros dela" 'or$ue eu deseEo $ue os homens não tenham fome nem frio! e $ue possam viver segundo a ordem natural" +u $uero isso e veEo $ue! graças @ violência! ao engano! aos es$uemas em $ue tomo parte! subtraise dos trabalhadores o $ue lhes é necessário4 por outra parte! as pessoas ociosas! entre as $uais me conto! aproveitamse! até o e2cesso! do trabalho dos outros" IeEo $ue este go%o dos bens alheios é tal! $ue $uanto mais complicada e hábil é a astBcia $ue empregamos! tanto mais são os bens de $ue nos aproveitamos e menos é nosso trabalho" á $ue colocar em primeira linha os -tiglit%! os 1emidoJ! os *orosof! os )ussupoJ! e depois os grandes ban$ueiros! os grandes proprietários rurais! os primeiros magistrados" 1epois vêm os pe$uenos ban$ueiros! os negociantes! os empreiteiros e os médios proprietários! entre os $uais me conto eu" -eguem os pe$uenos proprietários! os pe$uenos comerciantes! os vendedores! os usurários! os policiais! os professores! os sacerdotes! os funcionários; depois os porteiros! os lacaios! os cocheiros! os distribuidores de água! os entregadores! e por Bltimo! a classe
trabalhadora! os operários das fábricas e os aldeHes! $ue formam noventa por cento do total" IeEo $ue a vida das nove décimas partes da classe trabalhadora e2ige! por sua prApria nature%a! esforços e trabalho; mas sua e2istência se fa% dia a dia mais dif?cil e mais cheia de privaçHes por efeito dos subterfBgios $ue lhes subtraem o $ue lhes é necessário e os pHem em condiçHes penosas! en$uanto $ue a nossa! a das pessoas ociosas! se fa% cada ano mais confortável e mais atraente graças ao concurso das artes e das ciências dirigido a tal obEetivo" # vida da classe trabalhadora! e sobretudo a dos anciHes! mulheres e crianças! atroase hoEe! esgotada como está por um trabalho forte e uma comida insuciente! e sem nenhuma segurança de poder satisfa%er suas primeiras necessidades" #o contrário! a e2istência dos $ue não trabalham e dos $ue formo parte! transborda do supérPuo e de lu2o; cada dia está mais segura! e chegou a este grau de solide% $ue os antigos contos nos apresentavam como um sonho! como o do homem $ue possui constantemente um rublo! gaste o $ue gaste; esse estado em $ue o indiv?duo! não somente se emancipou da lei do trabalho para sustentar sua vida! mas $ue tem os meios sucientes para go%ar! sem diculdade alguma! de todos os bens e para legar a seus lhos a bolsa $ue encerra o rublo fantástico" G 'roduto do trabalho se transmite cada ve% mais dos $ue trabalham aos $ue estão ociosos" # pirâmide do edif?cio social se reconstrAi! digamos assim4 as pedras da base se transladam ao alto! e a velocidade da translação se verica em progressão geométrica" IeEo $ue ocorre algo parecido ao $ue ocorreria em um formigueiro! se a sociedade das formigas vitoriosas arrastasse os produtos de seu trabalho desde o fundo até o alto e obrigasse aos vencidos $ue a aEudassem4 a parte alta do formigueiro se iria alargando e ao mesmo tempo se iria estreitando a parte bai2a" #nte os homens se levanta! em ve% do ideal de uma vida de trabalho! o da bolsa do famoso rublo $ue nAs ricos criamos! e para aproveitarmos dele! nos transladamos @ cidade onde nada se produ% e tudo se consume" Gs desgraçados trabalhadores! roubados para enri$uecer a outros! correm @ cidade seguindo as pegadas destes" +les também usam da astBcia! e de duas coisas lhes ocorre uma4 ou saem adiante e criam uma posição $ue lhes obriga a trabalhar pouco e lhes permite go%ar muito! ou não podem vencer4 sucumbem na luta! e caem no nBmero! sempre crescente! desses desgraçados $ue padecem de fome e frio e dormem nos albergues" +u pertenço @ categoria das pessoas $ue arrebatam dos homens laboriosos o $ue lhes é necessário! e $ue se criaram desse modo o rublo fantástico $ue sedu% a esses mesmos desgraçados" ,uerendo socorrer os outros! claro é $ue não devo roubarlhes nem sedu%ilos; e! no entanto! empregando toda classe de artif?cios! consegui criarme uma posição $ue me permite viver sem fa%er nada! e fa%er trabalhar para mim centenas de milhares de homens" .ravito sobre os ombros de um indiv?duo $ue esmago com meu peso e lhe peço $ue me leve! e sem soltálo! digolhe $ue tenho muita
pena dele e $ue tenho vivos deseEos de melhorar sua situação por todos os meios poss?veis" +! no entanto! não desço de seus ombros" -e $uero aEudar os pobres! $uer di%er! proceder de sorte $ue não esteEam na miséria! não devo ser a causa de sua pobre%a" > certo $ue dou! por puro capricho! aos pobres $ue se e2traviaram no caminho da vida um! de%! cem rublos; mas é também $ue! ao mesmo tempo! arru?no os $ue ainda não estão arruinados! e os afundo na desgraça e na lama" +ste racioc?nio é muito simples! e! no entanto! foime muito dif?cil fa%êlo sem reservas nem operaçHes $ue pactuassem com minha situação! mas desde $ue confessei meus erros! tudo o $ue antes me pareceu estranho! complicado! obscuro e insolBvel! fe%se repentinamente claro" ,uem sou eu! $ue $uero socorrer os outros& Levantome ao meiodia! afeminado e débil por uma noite passada no Eogo! e2igindo os au2?lios e a aEuda de uma porção de gente! e pretendo ocuparme nos $ue se levantam @s cinco! dormem sobre duras tábuas! alimentamse com pão e brotos! sabem lavrar! rastelar! pQr cabo num machado! podar as árvores! domar o gado e co%inhar" +sses homens são mil ve%es mais fortes $ue eu! por sua força f?sica! seu temperamento! seu of?cio e sua sobriedade" ,ue outro sentimento $ue o da vergonha podia eu e2perimentar a seu contatoN G mais fraco de todos eles! o alcoAlatra! o habitante da casa de EanoJ! a$uele a $uem eles mesmos tratavam de vadio! é cem ve%es mais laborioso $ue eu" -eu balanço! chamemos assim! a relação entre o $ue toma dos outros e o $ue lhes dá! é mil ve%es prefer?vel @ minha" + é esse homem $ue eu $uero aEudarN ,ual de nAs dois é em realidade mais pobre& +u não sou mais $ue um parasita $ue para nada serve! $ue não pode e2istir senão em condiçHes verdadeiramente e2cepcionais; $ue não pode viver en$uanto $ue milhares de homens não trabalhem para sustentar sua vida inBtil" -ou semelhante ao pulgão $ue devora as folhas de uma árvore e $ue pretende! não obstante! cuidar do crescimento e da robuste% da plantaN +m $ue passo a vida& =omo! falo! escuto! Eogo! como outra ve% e durmo" )sso é o $ue faço todos os dias! e não sou capa% de fa%er outra coisa" + para $ue eu possa viver assim! é preciso $ue trabalhem desde a manhã os porteiros! os muEi$ues! a co%inheira! o mordomo! o cocheiro! os lacaios! a lavadeira! e não falo dos trabalhos $ue fa%em outras pessoas e $ue são necessários para obter os instrumentos e os obEetos da co%inha! os machados! os barris! as escovas! a louça! os mAveis! o vidro! a cera! o Aleo! o feno! a lenha e os alimentos" + toda essa multidão encontrase encurvada pelo trabalho todo o dia! a m de $ue eu possa falar! Eogar! comer e dormir"
+ imaginava $ue eu! pobre de mim! podia au2iliar os $ue me alimentavamN > singular $ue não somente não haEa socorrido ninguém! mas $ue me ocorresse ideia tão absurdaN # mulher $ue cuidava do ancião doente prestavalhe um verdadeiro au2?lio4 a mulher caseira $ue dava ao mendigo uma rabanada da$uele pão $ue ela havia amassado com penoso trabalho! prestava lhe um serviço" G mesmo ocorria a -imion dando os três cope$ues tão laboriosamente ganhados; mas eu! eu não havia trabalhado para ninguém! e sabia perfeitamente $ue meu dinheiro não representava meu trabalho" XI)) G $ue me havia condu%ido Eustamente ao erro era a ideia de $ue meu dinheiro era o mesmo $ue o de -imion" +2iste uma opinião geral! e é a de $ue o dinheiro representa a ri$ue%a; $ue esta é produto do trabalho! e $ue estão! portanto! em relação uma com o outro" )sso é tão verdade como a armação de $ue cada organismo social é a conse$uência de um contrato social" Todos se compra%em em crer $ue o dinheiro não é mais $ue um meio $ue facilita o câmbio dos produtos do trabalho" +u faço umas botas; outro fa% o pão; um terceiro alimenta as ovelhas! e para $ue as transaçHes resultem fáceis! e2istem moedas $ue nos servem de intermediárias e podemos trocar legumes por carne de carneiro ou por libras de farinha" 0este caso! o dinheiro nos facilita! a cada um de nAs! o movimento de seus produtos e representa a e$uivalência de seu trabalho" )sto é perfeitamente e2ato! se não se e2erce violência por parte de nenhum sobre os demais! e não me rero @s guerras! nem @ escravidão! mas a esse outro gênero de violências $ue protege os produtos de um trabalho em detrimento de outro" +sta teoria poderia ser ainda verdade em uma sociedade cuEos membros fossem todos éis aos preceitos de =risto e dessem o $ue se lhes pedisse! não e2igindo por isso mais do $ue dão" *as! desde o momento em $ue se e2ercem pressHes sob uma forma $ual$uer! o dinheiro perde imediatamente para o $ue o retém! seu caráter de resultado do trabalho! e representa o direito baseado na força" -e! durante uma guerra! um homem arrebata uma coisa de outro; se um soldado recebe dinheiro pela venda de sua parte no sa$ue! a$ueles valores não são! de modo algum! o produto do trabalho e têm distinta signicação $ue o salário recebido pela fabricação das botas" +ste caso apresentase também no comércio de escravos" #s aldeãs tecem o tecido e a vendem4 os servos trabalham para seu senhor4 este vende o tecido e recebe seu preço" #s mulheres e o senhor têm o mesmo dinheiro; mas no primeiro caso o dinheiro representa o trabalho! e no segundo a força"
-e meu pai me dei2ou em herança uma $uantidade de dinheiro! sabe $ue ninguém tem o direito de me arrebatálo! e $ue se me o defraudassem ou não me o entregassem na data estabelecida! encontraria proteção nas autoridades! $ue empregariam a força para fa%er $ue me fosse entregue o dinheiro" >! pois! evidente $ue esta $uantidade não possa compararse com o salário de -imion! recebido por serrar lenha" +m uma sociedade em $ue e2iste uma força $ue se apropria do dinheiro alheio ou $ue protege sua possessão! o dinheiro não pode ser considerado como o representante do trabalho" /mas ve%es será e outras não" 0ão pode sêlo senão em um meio em $ue seEam inteiramente livres as relaçHes mBtuas" oEe! depois de séculos inteiros de rapinas! $ue mudaram talve% de forma! mas $ue não dei2aram de cometerse e seguem cometendo! o dinheiro capturado! segundo a opinião de todo o mundo! constitui uma violência" G resultado do trabalho não está representado por ele senão em parte pe$uen?ssima! sendo o demais o produto de toda classe de crimes" 1i%er hoEe $ue o numerário representa o trabalho do $ue o possui é cair em um erro profundo ou mentir conscientemente" 'ode di%erse $ue assim deveria ser! e $ue isso era de deseEar; mas nada mais" +m sua denição mais e2ata e mais simples ao mesmo tempo! o dinheiro é um sinal convencional $ue dá direito! ou melhor! a possibilidade de servirse do trabalho dos outros" )dealmente! não deveria dar esse direito mais $ue $uando fosse a e$uivalência da atividade gasta por seu possuidor! e assim sucederia em uma sociedade em $ue não e2istisse a violência" G senhor carrega seus servos de empréstimos em tecidos! trigo e animais! ou lhes e2ige a $uantidade e$uivalente" /m aldeão fornece gado; mas substitui o tecido por dinheiro4 o senhor aceita este! por$ue está seguro de obter por seu meio a $uantidade de tecido $ue lhe é necessária" =om fre$uência toma mais do $ue lhe é devido para assegurarse de $ue poderá pagar o tecido" +sta soma representa! evidentemente! um direito sobre o trabalho dos muEi$ues e servirá para pagarlhes a eles mesmos! $ue se encarregariam de fa%er! por a$uele preço! a $uantidade de tecido combinada" #s pessoas $ue se ocupam nisso vêmse obrigadas! por$ue não puderam criar para o senhor um nBmero determinado de carneiros e necessitam numerário para indeni%ar @$uele mesmo dono dos carneiros $ue lhe faltam" G aldeão $ue vende seus carneiro ou fa% para poder reembolsar a seu senhor o décit causado por uma má colheita de centeio" G mesmo ocorre em todos os pa?ses e em todas as sociedades" G homem vende! na maior parte dos casos! o produto de seu trabalho passado! presente e futuro! não por$ue o dinheiro ofereça facilidades para o câmbio! mas por$ue se lhe pede como uma obrigação" ,uando os 3araAs do +gito reclamavam de seus escravos o trabalho! estes não podiam dar mais $ue sua atividade passada ou presente;
mas com a aparição e propagação da moeda e do crédito! $ue é sua conse$uência! se fe% poss?vel vender o trabalho futuro" G dinheiro! graças @ e2istência da violência nas relaçHes sociais! não representa mais $ue a possibilidade de uma nova forma de escravidão! impessoal! $ue substituiu a escravidão pessoal" G $ue possui escravos tem direito ao trabalho de 'edro! de Woão e de )sidoro; mas o rico tem direito ao trabalho de todos esses desconhecidos $ue necessitam de dinheiro" G numerário descartou o lado penoso da escravidão! por$ue o senhor sabia $ue tinha direito de vida e morte sobre a pessoa de Woão; mas suprimiu também entre o dono e o escravo todos os laços de humanidade $ue em outro tempo dulcicavam algo o pesado fardo da escravidão pessoas" +u não digo $ue esse estado de coisas não fosse necessário ao progresso da humanidade! nem $ue dei2asse de sêlo4 limitome a por em evidência a signicação do dinheiro e a indicar o erro geral em $ue eu estava ao crer $ue representava o trabalho" =onvencime do contrário por e2periência" 0a maior parte dos casos! o numerário representa a violência ou as astBcias complicadas fundadas nela" +m nossa época! o dinheiro perdeu por completo seu verdadeiro caráter! a signicação $ue se $uis atribuir e $ue não tem senão em raros casos" 'elo geral! indica a possibilidade e o direito de usar do trabalho dos outros" -ua propagação! a do crédito e a de outros diferentes valores tendem a Eusticar! cada ve% mais! esta nova signicação" > uma forma de escravidão $ue não difere da antiga senão por sua impessoalidade e pela ausência de toda relação humana entre o senhor e o escravo" G dinheiro é um valor sempre igual a ele mesmo! considerando como uma coisa Eusta e legal e cuEo uso não é considerado como imoral! como era o direito de escravidão" ecordo $ue! sendo eu muito Eovem! estabeleceuse e generali%ouse nos c?rculos um Eogo novo $ue chamavam de loteria" Todos Eogavam e se di%ia então $ue muitos se arruinavam e $ue alguns! $ue perderam o dinheiro do sco! haviamse suicidado" #$uele Eogo foi proibido e ainda subsiste a proibição" ecordo ter ouvido antigos Eogadores a $uem não se podia acusar de sentimentalismo! $ue o $ue a loteria tinha de mais agradável era $ue não se sabia o $ue se ganhava! como nos demais Eogos4 o empregado do c?rculo não entregava dinheiro! mas chas4 todos perdiam pouco e não se entristeciam pela perda" Wogase também a roleta! $ue está Eustamente proibida! e""" também com dinheiro" +u possuo o rublo fantástico; parto minhas cédulas de renda e retiro me do redemoinho dos negAcios" ,uem preEudico com isso& -ou o melhor homem e mais inofensivo" *as minha maneira de viver é! no fundo! o Eogo da loteria ou o da roleta4 não veEo o $ue se mata depois de perder! e $ue me dá esses pe$uenas cédulas $ue parto com tanto cuidado"
0ão %! não faço! nem farei nada mais $ue cortar meus t?tulos de renda! e tenha a convicção de $ue o dinheiro representa o trabalho" > para admirarseN + ainda há $uem fale de loucosN +2iste uma ideia 2a mais terr?vel $ue esta& /m homem inteligente! sábio se $uiser! e racional em tudo o mais! vive como um insensato e se tran$uili%a por$ue não acaba de pronunciar uma palavra $ue é! no entanto! necessária! se $uer $ue seu racioc?nio tenha sentido; e ele crê ter ra%ãoN =édulas representando um trabalhoN *as $ue trabalho& +videntemente não é o do $ue parte as cédulas! mas o do trabalhador" # escravidão foi abolida desde há muito tempo em oma! na #mérica e entre nAs! mas o $ue foi suprimido foram as leis e as palavras! não os atos" # escravidão é a emancipação de uns ao descarregarse do trabalho necessário @ satisfação de suas necessidades e carregálo sobre outros" +is a$ui um homem $ue não trabalha e para $uem os outros gastam sua atividade! não por afeto! mas por$ue possui o meio de fa%erlhes trabalhar4 essa é a escravidão" +2iste em proporçHes enormes em todos os pa?ses civili%ados da +uropa! onde a e2ploração dos homens é grande e é considerada como legal" G dinheiro tem o mesmo obEetivo e produ% as mesmas conse$uências $ue a escravidão" -eu obEeto é o de livrar o homem da lei natural do trabalho pessoal! necessário @ satisfação de suas necessidades" #s conse$uências são4 a criação e inversão de novos deseEos cada ve% mais complicados e mais insaciáveis" /m empobrecimento intelectual e moral e uma depravação" 'ara os escravos é a opressão e o rebai2amento ao n?vel dos animais" G dinheiro é uma forma nova e horr?vel da escravidão e! como esta! corrompe o escravo e o dono; mas esta forma moderna é mais ignAbil $ue a antiga! por$ue desliga um e outro de toda relação pessoal" XI))) #dmirome sempre $ue ouço di%er $ue uma coisa é boa em teoria! mas não na prática! como se a teoria não fosse mais $ue uma coleção de palavras bonitas necessárias em uma conversa e não constitu?ssem a base de toda ação prática" > poss?vel $ue e2istam muitas ideias tontas e isso e2plica o emprego de tal racioc?nio de ?ndole Eornal?stico" # teoria é o $ue o homem sabe! e a prática o $ue fa%" =omo pode ocorrer $ue o homem pense de uma maneira e aEa de outra& -e teoricamente! na preparação do pão! devese amassar a massa e pQla logo no forno! ninguém! a não ser um louco! fará o contrário" 0o entanto! entre nAs se encontra uma fArmula para repetir essa inconse$uência" 0o assunto em $ue me ocupo! o $ue havia pensado sempre se conrmou! a saber4 $ue a prática segue inevitavelmente a teoria e!
havendo compreendido o $ue era obEeto de minhas rePe2Hes! não posso proceder senão em conformidade com minhas ideias" ,ueria aEudar os pobres por$ue tinha dinheiro e por$ue participava da superstição geral de $ue o numerário representava o trabalho e era legal e Btil" *as tendo começado a dar! adverti $ue meu dinheiro provinha do dinheiro dos pobres" +u procedia como os antigos senhores $ue fa%iam seus servos trabalhar uns para os outros" Todo emprego do dinheiro! $ual$uer $ue seEa! tanto a compra de alguma coisa ou a simples doação de uma pessoa a outra! não é mais $ue a apresentação de uma letra de câmbio voltado contra os pobres! ou a transmissão a um terceiro da$uela letra de câmbio! para $ue os desgraçados a paguem" 'or isso compreendi $uão absurdo era $uerer aEudar os pobres perseguindolhes" G dinheiro não era mais um bem! mas um mal evidente! por $uanto $ue privava os homens do bem principal! ou seEa! do trabalho e de seus frutos naturais" Iia $ue eu era incapa% de outorgar a outros esse bem! por$ue não o tinha4 eu não trabalhava e não tinha a felicidade de viver do produto de minha atividade" 0ão parecia ter importância esse racioc?nio abstrato sobre a signicação do dinheiro! mas o fa%ia! não por acostumarme a raciocinar! mas para resolver o problema de minha vida e de meus sofrimentos" +ra para mim a resposta a esta pergunta4 F ,ue fa%er& Tendo compreendido o $ue é a ri$ue%a e o $ue é o caráter do dinheiro! vi de uma maneira clara e certa! não somente o $ue eu devia fa%er! mas o $ue deviam fa%er os outros! e o $ue farão inevitavelmente" 3a%ia Eá muito tempo $ue conhecia ao fundo a$uela teoria transmitida ao homens desde os tempos mais remotos por Suda! )sa?as! LaoTsé e -Acrates e $ue nos foi e2posta! sobretudo! em forma clara e positiva por Wesus e por seu antecessor Woão Satista" +ste! respondendo aos homens $uando lhe perguntavam o $ue deviam fa%er! lhes disse4 V,uem tiver duas tBnicas! reparta com o $ue não tem! e $uem tiver alimentos! faça da mesma maneira"V (Lucas 9488" Wesus o e2pQs com mais claridade ainda! di%endo4 V1itosos os mendigos e desgraçados os ricosN 0ão se pode servir a dois senhores! a 1eus e a seu ventreV" 'roibia seus disc?pulos $ue aceitassem! não somente dinheiro! mas roupas; disse a um homem rico $ue ele não poderia entrar no céu por causa de suas ri$ue%as e $ue era mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha $ue um rico entrar no céu dos escolhidos! e acrescentou $ue o $ue não abandonasse tudo o $ue possu?a! sua casa! seus lhos e seus campos! para seguilo! não poderia ser seu disc?pulo"
1isse sua parábola acerca do rico! $ue! no entanto! não agia tão mal com os de agora! por$ue se contentava em comer! beber e vestirse bem! não obstante o $ue perdeu sua alma" +m troca! o mendigo Lá%aro salvou a sua pelo sA fato de ser pobre" +sta verdade me era conhecida fa%ia muito tempo! mas as falsas doutrinas a tinham obscurecido tanto $ue se havia convertido para mim numa teoria! no vago sentido $ue geralmente atribu?mos a esta palavra" *as desde $ue consegui destruir em meu esp?rito os sosmas das doutrinas mundanas! a teoria se reuniu @ prática! e a realidade de minha vida e da vida dos outros homens me pareceram conse$uência inevitável dessa teoria" =ompreendi $ue o homem deve servir! não somente para seu bem estar pessoal! mas também para o dos outros" -e $uiserem buscar analogias no reino animal! como fa%em alguns para defender o princ?pio da força e da luta pela e2istência! é preciso citar animais sociáveis! como as abelhas! e por conse$uência o homem está chamado! por sua nature%a e por sua ra%ão! a ser Btil aos outros! e a perseguir um m comum e humano" =ompreendi $ue esta era a Bnica lei natural do homem! compat?vel com sua nalidade! e a Bnica suscet?vel de proporcionarlhe a felicidade" +sta lei tem sido violada sempre! e segue sendo hoEe! pelos homens $ue! parecidos aos %angHes! se e2imem do trabalho! go%am do trabalho alheio e dirigem toda sua atividade! não a um m comum! mas @ satisfação de suas pai2Hes! sempre em aumento! até $ue perecem" #s formas primitivas do desvio da lei natural foram desde logo4 a e2ploração dos seres fracos! das mulheres! por e2emplo4 depois a guerra e o cativeiro4 a escravidão veio em seguida! e agora foi substitu?da pelo dinheiro" +ste Bltimo é a escravidão oculta e impessoal dos pobres" 'or isso tomeilhe aborrecimento e % todo o poss?vel para verme livre dele" ,uando me vi dono de servos e compreendi a imoralidade da$uela situação! tratei de emanciparme deles! fa%endo valer! o menos poss?vel! de meus direitos sobre a$ueles desgraçados e dei2andoos viver como se não me pertencessem" 0ão posso dei2ar de agir da mesma maneira com o dinheiro! esta nova forma de servidão! e evito! em tudo o $ue me é poss?vel! e2plorar os outros" G fundamento de toda escravidão é o go%o do trabalho de outro e! por conse$uência! servirme da atividade dos trabalhadores e2ercendo meus direitos sobre suas pessoas ou usando desse dinheiro $ue lhes é indispensável! é absolutamente a mesma coisa" -e realmente considero como um mal semelhante go%o! não me devo aproveitar de meus direitos nem de meu dinheiro! e devo prescindir do trabalho $ue a$ueles desgraçados fa%em para mim! seEa privando me dele! seEa fa%endoo por mim mesmo"
+ esta conclusão tão simples! entra em todos os detalhes de minha vida e me livras dos sofrimentos morais $ue padecia ao 2arme nos desgraçados e na depravação dos homens" +la suprime de uma ve% as três causas $ue me impossibilitavam assistir os pobres e @s $uais cheguei a darme conta de meu fracasso" # primeira causa era a acumulação de habitantes nas cidades e o consumo $ue fa%iam da ri$ue%a dos campos" ,uando todo o mundo houver compreendido $ue a compra não é mais $ue uma obrigação $ue devem pagar os pobres! e houver concordado em privarse dela e satisfa%er com o prAprio trabalho as prAprias necessidades! ninguém abandonará mais o campo onde é fácil satisfa%er as necessidades sem o au2?lio do dinheiro! e ninguém irá a uma cidade! onde é preciso comprar ou alugar tudo" + nas aldeias! todos poderiam aEudar os necessitados" +u e2pli$uei tudo perfeitamente! e todas as pessoas $ue residem no campo estão convencidas disso" # segunda causa era a desunião $ue e2istia entre os pobres e os ricos" *as se ninguém compra e ninguém aluga! ninguém! tampouco! despre%ará fa%er o necessário para a satisfação de suas necessidades" 1esaparecerá a antiga distinção de pobres e ricos! e o homem $ue houver proscrito o lu2o e o serviço dos outros! se confundirá imediatamente com a massa dos trabalhadores e poderá aEudálos" # terceira causa era a vergonha $ue tinha ao estar convencido da imoralidade da$uele dinheiro com o $ual $ueria aEudar os pobres" *as desde o momento em $ue se compreenda seu signicado! como s?mbolo de uma escravidão impessoal! não voltará a incorrerse no erro de $ue seEa um meio para fa%er o bem! e não se tratará de ad$uirilo! mas de desprenderse dele a m de estar em condiçHes de praticar o bem para com os homens! isto é! dandolhes o prAprio trabalho e não o trabalho dos outros" X)X 1edu%i $ue se o dinheiro era a causa dos sofrimentos e da depravação dos homens! e se eu $ueria aEudar estes! não devia causar as desgraças $ue deseEava suprimir" =heguei @ conclusão de $ue o $ue não $uer ver a depravação e os sofrimentos de outro! não deve servirse de seu dinheiro para fa%er os pobres trabalharem" 1eve pedir a seus semelhantes o menos poss?vel! e fa%er por si mesmo tudo $uanto possa" 1este modo cheguei! por um largo caminho! @ mesma conclusão a $ue chegaram os chineses fa% mais de de% séculos" /m de seus provérbios di%4 V-e e2iste um homem ocioso! há outro $ue morre de fomeV" F ,ue devia fa%er eu& #s palavras de Woão Satista me deram a resposta"
,uando o povo lhe perguntava4 V,ue fa%er&V! respondeu4 V,uem tiver duas tBnicas! reparta com o $ue não tem! e $uem tiver alimentos! faça da mesma maneiraV" +stas palavras signicam $ue devemos dar aos outros o $ue nos sobra" +ste meio! $ue tão completamente satisfa% o sentido moral! me ofuscava com ofusca meus semelhantes" 'or isso não o notamos e o olhamos de soslaio" Gcorre o mesmo $ue no teatro" á uma pessoa em cena $ue vê o pBblico; mas os atores! $ue embora a veEam não devem vêla! lamentamse $ue se encontre ausente" 'or isso tratamos de remediar tomos nossos males sociais com preconceitos pol?ticos! governamentais ou antigovernamentais! cient?cos ou lantrApicos! e não vemos o $ue parece evidente a todo o mundo" 3a%emos todas nossas necessidades em nosso $uarto; e2igimos $ue outros tirei dele o penico! e ngimos compadecernos com o triste papel da$ueles desgraçados" ,ueremos tirálos da situação em $ue estão; inventamos para isso uma porção de soluçHes! e unicamente nos es$uecemos da principal! da mais simples! e é a de tirar o penico nAs mesmos! ou o $ue ainda é melhor! não evacuar mais $ue no lugar $ue! comumente! é dispensável nomear" G $ue sofre sinceramente pelas desgraças dos homens $ue lhe rodeiam tem um meio claro e e2pedito! $ue é o Bnico suscet?vel de remediar o mal e de despertar em si mesmo o sentimento da legalidade de sua vida; e é o $ue pregava Woão Satista e $ue conrmou Wesus4 não ter mais $ue uma vestimenta e carecer de dinheiro; isto é! não servirse do trabalho dos outros e fa%er todo o poss?vel por si mesmo" )sso parece tão claro como simples" *as a simplicidade e a claridade não e2istem mais $ue $uando as necessidade são simples" -uponhamos um camponês $ue está de braços cru%ados e mando um vi%inho seu! $ue é seu devedor! $ue vá cortar a lenha $ue necessita para sua co%inha" > claro $ue este muEi$ue é um preguiçoso; mas ao m compreende $ue tomo do vi%inho seus meios de trabalho! envergonhase de sua ação e vai por si mesmo cortar a lenha" *as o homem colocado no patamar mais alto da escada das pessoas ociosas não compreenderá sua falta tão facilmente como o muEi$ue" # escravidão e2iste fa% Eá tanto tempo sob todas as formas imagináveis; é tão grande o nBmero das necessidades articiais $ue engendrou! achandose tão intimamente ligados uns aos outros os gostos e os costumes relativos a essas necessidades; achamse tão afeminadas e depravadas as geraçHes! e são tão complicados os sosmas inventados para Eusticar esse lu2o e essa ociosidade! $ue é e2traordinariamente dif?cil $ue os ociosos compreendam o $ue se e2ige deles" 1o alto da escada! lhes vêm @ cabeça as mentiras em $ue vivem! $uando veem o n?vel terrestre a $ue devem descer para começar a
viver! ainda $ue não Eustamente! menos cruel e menos desumanamente $ue até agora; e por isso a ideia lhes parece estranha" #té rid?cula lhe parecerá ao homem $ue tem de% criados! um cocheiro! um co%inheiro! $uadros! bron%es! pianos e o resto! en$uanto $ue a achará simples e clara o homem $ue! sem ser bom! não é tampouco mau" =ompreenderá $ue deve fa%er por si mesmo a lenha para a$uecerse; preparar sua comida; limparse o calçado; carregar água! etc"! etc" *as ainda e2iste outra coisa $ue impede os homens ociosos de compreenderem $ue o trabalho pessoal natural e simples é obrigatArio! e é a complicação das condiçHes e dos interesses de todo gênero ligados entre si pelo dinheiro! e $ue são inerentes @ vida dos ricos" V*inha vida lu2uosa sustenta as pessoas" #onde irá meu valete! $ue é um velho! se o despeço& + como $ueres $ue todo mundo faça o $ue necessita e corte lenha& ,ue será então do princ?pio da divisão do trabalho&V +u ia esta manhã pelo corredor onde se acendem os a$uecedores" /m muEi$ue acendia o fogo para a$uecer o $uarto de meu lho" +ntrei para ver este4 ainda dormia4 eram on%e horas! e como era dia de festa e não tinha aula! dormia até muito tarde" +is a$ui um rapagão de de%oito anos $ue comeu bem na véspera e $ue permanece na cama até a$uela hora! en$uanto o muEi$ue! $ue tem a mesma idade! levantouse ao amanhecer! fe% muitas coisas e acende Eá o décimo a$uecedor" VG criado não deveria a$uecer esse corpo preguiçoso e bem alimentadoV me disse; mas me lembrei de $ue o mesmo a$uecedor a$uecia também o $uarto de nossa governanta $ue tem $uarenta anos e $ue! para preparar uma cama! estivera melando até as três da madrugada" avia se levantado @s sete e não tivera tempo de acender seu a$uecedor4 o muEi$ue o fa%ia por ela e o preguiçoso do meu lho se aproveitava da ocasião" Ierdade é $ue todos os interesses têm uma grande ligação; mas! sem cálculos prévios e sem determinadas preferências! a prApria consciência dirá a cada um de $ual parte está o trabalho e em $ual a ociosidade" Gutra coisa o dirá mais claramente ainda! e é o livro de despesas" ,uanto mais dinheiro gasta o homem! mais ocioso está; isto é! mais os outros terão $ue trabalhar por ele" ,uanto menos gasta o homem! mais trabalha" *as se me dirá4 0ão pensaste na indBstria! nas empresas sociais& e acrescentarão a isso palavras muito bonitas! como civili%ação! ciências! artes! etc" -e viver mais algum tempo! responderei Eá todas essas obEeçHes" -+./01# '#T+ # -olução
# vida na cidade ) +u entrava numa casa @s três da tarde num dia de março do ano [[[ ao virar a es$uina da ua de ubov! vi na ruela de =hamovnitschesC umas manchas pretas sobre a neve do =ampo das Iirgens! e algo $ue se movia" 0ão teria prestado atenção nisso! se um policial (gorodovoi não tivesse gritado! olhando na direção da$uelas manchas4 F 'or $ue não a tra%! Iassili& F 0ão $uer andar F respondeu uma vo%" 0o mesmo instante as manchas se moveram em direção ao agente" F ,ue ocorre& F perguntei detendome" F #cabam de caçar umas pombas na casa de EanoJ e estão sendo levadas @ delegacia! e $ue uma destas cou para trás e! como vês! se nega a seguir adiante" /m porteiro (dvorniC vestindo uma peliça de carneiro (tulupe a condu%ia! ia a empurrando por trás" Todos ?amos abrigados com roupas de inverno4 ela era a Bnica $ue não levava mais $ue um simples casaco4 sA pude distinguir na escuridão uma saia cor de canela! um lenço atado @ cabeça e outro ao pescoço" +ra de pe$uena estatura! como o são todos os miseráveis; de pernas curtas e de rosto relativamente largo e desproporcional" F 'aramos por tua causa! besta" ,uer andar ou não& F gritoulhe o policial" 'ercebiase $ue estava cansado e aborrecido com a$uela mulher" +sta deu alguns passos e voltou a deterse" G velho porteiro! bom suEeito $ue eu conhecia! a tirou do braço e disselhe ngindo incomodarse4 F Wá farei $ue você pare4 andaN +la vacilou e começou a falar com vo% rude! sendo cada uma de suas palavras uma nota falsa! uma espécie de assobio! algo semelhante a um uivo" F 1ei2eme $uieta4 não me empurre4 eu irei so%inha" F Iai se congelar F disselhe o porteiro" F 0As não nos congelamos4 sinto calor" +la $ueria fa%er um graceEo! mas suas palavras soavam como insultos" #o chegar Eunto ao farol mais prA2imo da porta de nossa casa! voltou a deterse! apoiouse contra a parede e se pQs a arranhar a saia com suas mãos in$uietas! geladas e trêmulas" 1e novo gritaram para $ue andasse! mas ela murmurou algumas palavras4 tinha numa mão um cigarro feito! e na outra um fAsforo" +u $uei atrás4 davame vergonha seguir adiante; tinhaa também de permanecer ali vendo a$uilo" 1ecidime! por Bltimo! e me dirigi até ela! $ue seguia apoiada na parede e friccionando fAsforos $ue não se acendiam! e $ue Eogava no chão" 3i2eime bem em seu rosto e! pelo desgaste! parecia ser de uma mulher de trinta anos4 era de cor
terrosa! terrosa! com olhos pe$uenos e de olhar vago com os de um bêbado4 tinha o nari% chato e os lábios torcidos! babando e com os cantos ca?dos4 por debai2o do lenço $ue levava @ cabeça! surgia um tufo de cabelos suEos e desgrenhados! e tinha a cintura larga e plana e as pernas e os braços curtos" 1etiveme frente a ela4 olhoume e se pQs a rir como se houvesse adivinhado o $ue eu pensava" =ompreendi =ompreendi $ue devia di%erlhe algo! algo $ue lhe indicasse a pena $ue me inspirava" F Tens pais& F pergunteilhe& -oltou! ao ouvirme! ouvirme! uma risada rouca! mas interrompendoa logo! ar$ueou as sobrancelhas e me olhou 2amente" F Tens pais& F voltei a perguntar; -orriu com uma e2pressão tal! $ue parecia di%er4 )sso é coisa $ue se pergunteN F Tenho mãe! F respondeu F mas $ue te importa isso& F Tens Tens $uantos anos& F 1e%esseis F disse imediatamente! como se respondesse uma pergunta feita com fre$uência" F Iamos! siga adiante e vá para o diabo! $ue vamos rebentar de frio por tua causa F gritou o agente" -aiu da parede! seguiu com passo vacilante pela ruela de =hamovnitschesC e entrou entrou na delegacia" +u entrei na minha casa e perguntei se haviam voltado minhas lhas" es esponderam ponderam $ue Eá haviam regressado regressado e $ue dormiam depois de terem se divertido muito no baile em $ue foram" )) +stava me preparando na manhã seguinte para ir @ delegacia com obEetivo de inteirarme do $ue acontecera @$uela m?sera e pobre mulher! $uando chegou para me ver um desses cavalheiros desgraçados $ue! por debilidade de caráter! dei2am de ser senhores! senhores! e $ue tão rápido se repHem como voltam a cair" 3a%ia três anos $ue nos conhec?amos! e na$ueles três anos havia dissipado várias ve%es o $ue possu?a e tivera $ue empenhar ou vender até a roupa" #cabava de ocorrerlhe um desses contratempos e passava as noites! temporariamente! na casa de EanoJ! e os dias em minha casa" +ncontroume +ncontroume na porta e sem preâmbulo algum começou a me contar o $ue havia ocorrido na Bltima noite na casa de EanoJ" 0ão havia chegado ainda na metade do relato! $uando a$uele homem! Eá velho! $ue tantas coisas havia visto em sua vida! rompeu bruscamente bruscamente a chorar e voltou o rosto @ parede interrompendo sua narração" +is a$ui o $ue me contou4 e devo advertir $ue tudo era absolutamente e2ato! segundo comprovei no local! onde recolhi mais detalhes! com os $uais completo a descrição do ocorrido" ocorrido" 0o corpo do edif?cio! no térreo! térreo! nBmero 96! onde dormia meu amigo! havia! entre os hAspedes noturnos! mulheres miseráveis $ue por
cinco cope$ues se entregavam ao $ue as $ueria! e uma lavadeira de trinta anos! loira! pac?ca! bastante bela! porém doente" # senhoria da$uele departamento é amante de um bar$ueiro" bar$ueiro" +le e2erce e2erce seu of?cio durante o verão! e no inverno vivem alugando camas para paga a noite! @ ra%ão de três cope$ues sem travesseiro travesseiro e cinco com" # lavadeira viveu ali alguns meses com tran$uilidade! mas nos Bltimos tempos todo o mundo se $uei2ava dela por$ue não dei2ava dormir ninguém com sua tosse" /ma velha de oitenta anos! $ue Eá caducava e $ue vivia ali também! a tomou entre os olhos e a ofendia sem trégua t régua nem descanso por$ue não a dei2ava dormir toda noite com sua tosse de cabra" # lavadeira o sofria com resignação por$ue devia alguns aluguéis e lhe convinha não armar escândalo algum" # saBde não lhe permitia trabalhar senão de ve% em $uando; as forças iam lhe faltando e a d?vida com sua patroa ia aumentando" 0a Bltima semana não pudera trabalhar sem um dia se$uer e com sua tosse! $ue não cessava! estivera molestando a todos! e muito especialmente @ velha $ue não sa?a @ rua para nada" 3a%ia $uatro dias $ue a senhoria se negava a manter em sua casa por mais tempo a lavadeira! $ue lhe devia Eá sessenta cope$ues! d?vida $ue não esperava cobrar" Todas as camas estavam alugadas e os in$uilinos se $uei2avam unanimemente da$uela tosse inoportuna" ,uando a senhoria despediu a lavadeira e lhe mandou $ue sa?sse do $uarto! a velha encheuse de alegria e empurrou empurrou a infeli% para $ue andasse" +sta saiu! mas na hora encontravase de vota! e a senhoria não teve coragem para e2pulsála de novo! e assim passaram um! dois! e até três dias" F #onde hei de ir& F e2clamava a lavadeira" *as ao terceiro dia! o amante da senhoria! um moscovita $ue não descuidava de seus interesses! avisou um policial" +ste chegou armado de sabre e de pistola! e com bons modos e com boas palavras pQs a lavadeira na metade da rua" +ra um dia de março muito sereno! muito claro! mas de muito frio" Gs arroios corriam; os porteiros rompiam o gelo; os trenAs saltavam sobre a neve gelada e rangiam ao tocar sobre as pedras do piso" # pobre lavadeira tomou a encosta de barro banhada pelo sol e! seguindoa! chegou até a igreEa e se sentou ao sol no átrio; mas $uando o sol começou a se pQr e as poças começaram a formar gelada crosta! sentiu frio e teve medo" Levantouse e se foi arrastando""" 'ara onde&""" 'ara sua casa! para o Bnico $uarto $ue teve nos Bltimos tempos""" 1ava alguns passos; descansava um pouco; voltava a marchar""" =omeçava a escurecer $uando chegou4 foi até a porta! entrou por ela! foi desli%ando! deu um gemido e caiu" 'assou por ali um homem e logo outro" F -em dBvida está bêbada" + passou um terceiro $ue tropeçou com ela e foi di%er ao porteiro4 F Lá! na entrada! há uma mulher bêbada4 por pouco parto a cabeça ao tropeçar com ela4 tirea de lá"
G porteiro se apro2imou apro2imou dela" +stava mortaN ))) Tal Tal foi o $ue me contou meu amigo" ,ual$uer um acreditará $ue $ue inventei ambos os fatos4 o encontro com a prostituta de de%esseis anos! e a histAria da lavadeira; mas se enganará4 os dois se passaram realmente na mesma noite4 não recordo a data e2ata! mas sei $ue em março de 8<""" 1epois de ouvir o relato de meu amigo! me deslo$uei @ delegacia e logo @ casa de EanoJ para conhecer detalhes da morte da lavadeira" G dia estava claro e esplêndido4 viamse brilhar na sombra os gelados cristais da neve! mas na praça de =hamovnitschesl! o sol fundia a neve e a água começava a correr" correr" #lgo brilhava em parte do rio4 ao outro lado a leste se via! manchadas de a%ul! as árvores do par$ue 0esCutschnD 0esCutschnD44 os pardais de plumagem loira! $ue são tão escassos no inverno! abundavam! fa%endose notar pelo e2uberante de sua alegria" Gs homens transitavam alegremente! não obstante o e2cessivo trabalho $ue denunciavam seus rostos" Guviamse os sinos tocar ao longe! e mesclados a seu vibrar! os disparos nos $uartéis! o assovio das balas e o estalo delas ao acertar o alvo" +ntrei na delegacia" Iários policiais armados! $ue estavam no portão! me encaminharam ao escritArio de seu chefe" +ste! armado também de sabre e pistola! interrogava interrogava um ancião esfarrapado esfarrapado e trêmulo $ue permanecia em pé diante dele e em tal e2tremo de debilidade! $ue não conseguia articular perceptivelmente resposta ao $ue se lhe perguntava" ,uando concluiu com o velho! se voltou a mim" 'erguntei pela mulher da véspera" # princ?pio! escutoume com atenção4 logo se pQs a rir ao ver $ue eu ignorava o motivo por $ue as detinham! e sobretudo! por$ue por$ue me admirei de sua Euventude" F 'erdão! F me disse alegremente F mas elas estão por todas as partes com do%e! tre%e e cator%e anos" # minhas perguntas referentes @ mulher da véspera! respondeu! segundo creio recordar! recordar! $ue deviam têla enviado com outras ao comitê" # minha pergunta relativa ao lugar onde as fa%iam passar a noite! respondeu de uma maneira vaga! e $uanto @ $ue concretamente eu indicava! não recordava" +ram tantas as $ue passavam por ali cada diaN 0o nBmero 96 da casa de EanoJ! encontrei o sacristão lendo Eunto @ morta" Tinhamna recolhido e encostado no leite $ue antes ocupava! e os vi%inhos! ainda $ue todos eles pobres e miseráveis! tinham feito uma coleta de dinheiro para pagar os direitos paro$uiais e para comprar um ataBde e uma mortalha" G sacristão lia na escuridão" /ma mulher! coberta com uma manta! encontravase de pé com uma vela na mão4 de pé também e com outra vela parecida! permanecia um homem (um cavalheiro dever?amos di%es! $ue vestia um bom sobretudo! camisa engomada e botas relu%entes" +ra o irmão da morta! $ue haviam avisado"
'assei por diante do cadáver! e dirigindome ao $uarto da senhoria! pedi a esta detalhes de todo o ocorrido" # senhoria se assustou com minhas perguntas4 era evidente $ue tinha medo! não $ue tentassem acusála de algo; mas foi cando conante pouco a pouco! começou a falar e acabou por cantarme tudo" #o sair me 2ei na morta" Todos os mortos são belos; mas a$uela o era muito particularmente! e estava comovedora no ataBde4 tinha o rosto limpo e pálido; os olhos fechados e algo volumosos; as bochechas afundadas; os cabelos loiros e claros no começo da testa! e por Bltimo! uma e2pressão de abatimento doce! mas não triste! como a do $ue demonstra admiração por algo" +! de fato! se os vivos não veem! os mortos se admiram" )I 0o mesmo dia em $ue eu tomava nota de tudo isso! se dava em *oscou um grande baile" Ms nove da$uela noite sa? de minha casa" G lugar em $ue vivo está rodeado de fábricas" -a? depois de ouvir os assovios $ue! passados seis dias de trabalho incessante! indicavam ao pessoal $ue dispunha de um dia livre" =ru%avame com os trabalhadores ou lhes passava adiante! en$uanto eles se dirigiam @s tabernas ou aos traCtirs4 muitos iam Eá bêbados! e algumas mulheres os acompanhavam" abito! como Eá disse! num bairro de fábricas" Todas as manhãs @s cinco! ouço um assovio! logo outro! e depois um terceiro e um décimo lá longe4 a$ueles assovios denunciam $ue inicia o trabalho para as crianças! para as mulheres e para os velhos" Ms oito! segunda rodada de assovios4 esta signica meio hora de descanso" Ms do%e! terceira rodada; uma hora para a comida! e @s oito! a $uarta para indicar a sa?da das ocinas" 'or uma casualidade! além da fábrica de cerveEa cont?gua @ minha casa! as outras três fábricas mais prA2imas não produ%em senão obEetos de uso feminino" 0uma! na mais perto! não fa%em mais $ue meias4 outra é de seda! e a terceira de perfumes e de pomadas" 'odem escutarse os assovios das má$uinas! sem darlhes outro caráter $ue a indicação de horas" VWá se ouve o assovio4 é hora de sair a passearV" *as também podem considerarse no $ue realmente determinam" G das cinco signica $ue seres humanos! com fre$uência deitados um ao lado do outro! homens e mulheres misturados num sAtão Bmido! levantamse na escuridão e se apressam a entrar num local cheio de má$uinas $ue começam a moverse com ru?do! para dedicarse a um trabalho do $ue não percebem o m nem a utilidade $ue possa ter para eles! e para trabalhar assim uma! duas três horas e até do%e ou mais ao dia" 1eitamse! voltam a levantar! e ao trabalho outra ve%! @$uela tarefa para eles estBpida! $ue não fa%em senão por necessidade" + assim transcorrem as semanas! uma atrás da outra com a interrupção dos dias festivos" + eu veEo esses trabalhadores! $ue
dei2aram livres um dia de festa! $ue saem @ rua! cheia por todas as partes de tabernas e de prostitutas! e $ue! ébrios! empurrando um ao outro! carregados pelos braços! arrastam consigo as mulheres! semelhantes @ $ue vi levar @ delegacia! tomam copos indo de taberna em taberna! se 2ingam! correm pelas ruas! e falam sem saber o $ue di%em" avia visto muitas ve%es ondas de operários de fábrica e me apartava deles! podendo apenas conter minhas censuras pelo seu proceder; mas desde $ue ouço todos os dias os assovios e compreendo seu verdadeiro signicado! a Bnica coisa $ue me admira é $ue não se prostituam mais" Gbservei! ao seguir meu caminho! a$ueles operários" +spalharamse pelas ruas até cerca das on%e! hora em $ue começou a diminuir o movimento até $ue não se veEam mais $ue alguns bêbados a$ui e ali! e grupos de homens e de mulheres $ue eram levados @ delegacia" I > poss?vel $ue se divirtam alegremente nos bailes; mas eu não posso e2plicar" ,uando vemos na sociedade e entre nAs um homem $ue não comeu e $ue tem frio! nos envergonhamos de estar alegres e não podemos seguir estando até $ue a$uele haEa satisfeito a necessidade $ue sentia de alimento e de calor4 isso sem contar $ue não se concebe $ue possa haver pessoas $ue seEam capa%es de divertirse com um pra%er $ue fa% sofrer outros" =ausanos dano a alegria dos mole$ues! dos rapa%es de ?ndole perversa! $ue sentem pra%er em amarrar uma lata no rabo de um cão! e nos causa mais dano ainda $ue isso provo$ue risadas" ,ue cegueira a nossa! $ue não vemos em nossos pra%eres a lata $ue amarramos na cauda de todas essas pessoas! $ue sofrem para $ue nAs go%emosN +ssas mulheres $ue vão a um baile com um traEe de cento e cin$uenta rublos! não nasceram em um salão de baile nem na casa de nenhuma modista célebre4 todas elas habitaram algum povoado e viram muEi$ues" ,ual$uer delas teve uma empregada cuEo pai e cuEos irmãos são tão pobres $ue! para ganhar cento e cin$uenta rublos destinados @ isbá! empregam toda sua e2istência! toda uma vida de trabalho ass?duo4 ela o sabe! e sabendoo! como leva sobre seu corpo nu essa isbá $ue é o sonho dourado do irmão de sua criada& 1emos por suposto $ue não haEa podido fa%er tal observação; mas sim a de $ue os bombons e as Pores! as rendas e os vestidos não se fa%em por si mesmos e $ue se necessitam de pessoas $ue os façam" 0ão creio $ue haEa mulher $ue possa ignorar $ue seres são os $ue fa%em tudo isso! em $ue condiçHes! e por $ue o fa%em! nem $ue ignore $ue a modista! com $uem se mostra tão chateada! não confeccionou o traEe por deferência @ ela! mas por necessidade! o mesmo para as rendas! as Pores e os veludos" 'ode suceder $ue tão ofuscado tenham o cérebro! $ue tampouco se detenham em rePetir sobre isso; mas! ao menos! perceberão $ue cinco ou seis servidores de um e outro se2o! velhos! respeitáveis! as ve%es doentes! privamse de dormir e se molestam por sua causa4
isso não podem ignorálo! por$ue viram seus rostos fatigados e sérios! como tampouco puderam ignorar $ue a$uela noite em $ue o termQmetro marcava 6< graus abai2o de %ero! o cocheiro a passou $uase toda ela sentado no gaviete" *as me consta $ue nada disso veem; $ue desde o momento em $ue essas Eovens! hipnoti%adas pelo baile! não o veem! seria inEusto condenálas" #- pobre%inhas fa%em o $ue os adultos Eulgam bom; mas como e2plicarão os adultos sua crueldade para com seus semelhantes& +stes! os adultos! dirão sempre o mesmo em sua defesa4 F 0ão violento ninguém4 os obEetos os compro! e $uanto @s pessoas! as alugo" +m comprar e alugar não há nada de mau" 0ão violento ninguém4 pago a todos o $ue me pedem por servirme; $ue há de mau nisso& 'or a$ueles dias entrei na casa de um de meus amigos4 ao passar pela primeira peça! $uei surpreendido ao ver duas mulheres sentadas a uma mesa! por$ue meu amigo era solteiro" /ma era amarela e fraca com ar de solteirona! e chegava a ter trinta anos; tinha Eogado um 2ale pelos ombros! e rapidamente! com grande rapide%! fa%ia algo com suas mãos e seus dedos em cima da mesma tremendo nervosamente como de padecesse de um ata$ue" # seu lado sentava uma Eovem $ue fa%ia igualmente algo! com o mesmo temos nervoso" #pro2imeime e olhei atentamente o $ue fa%iam4 ambas cravaram em mim seus olhos mas não se detiveram em sua tarefa4 estavam enrolando cigarros" # mulher triturava o tabaco com as palmas das mãos! o formava com uma lâmina! dava voltas com esta e lançava o cigarro feito @ Eoven%inha! $ue fa%ia as cabecilhas! e conclu?do um! o dei2ava para pegar outro; mas tudo isso feito com uma rapide%! com uma tensão imposs?vel de descrever; a$uela rapide% me surpreendeu" F 3a% cator%e anos $ue não faço outra coisa F disse a mulher" F + esse trabalho é penoso& F -im4 fe%me car doente do peito4 o odor é muito penetrante" 0ão necessitava ter dito! pois bastava olhar a Eovem4 esta não fa%ia mais de três anos $ue trabalhava! mas! ao vêla! se reconhecia nela um organismo vigoroso em caminho de arruinarse" *eu amigo! e2celente pessoa e liberal! havia alugado a$uelas mulheres para $ue %essem cigarros a ra%ão de dois rublos e meio o milhar" > homem de dinheiro e o troca por trabalho" ,ue tem isso de mal& +le se levanta ao meiodia4 desde as seis da tarde até as duas da madrugada! inverte o tempo ao Eogar cartas ou em tocar piano4 se alimenta com manEares delicados4 todos os trabalhos $ue passam os outros redundam em proveito sei" )maginou um novo pra%er! o do cigarro4 ainda recordo $uando começou a fumar" #li estão uma mulher e uma Eovem $ue apenas podem cobrir suas necessidades transformandose em má$uinas! e $ue passam sua vida inteira respirando tabaco e destruindo com ele sua saBde" +le tem dinheiro! $ue não ganhou com seu trabalho! e prefere Eogar cartas a fa%er seus cigarros" 1á dinheiro @$uelas mulheres com a Bnica
condição de $ue continuem vivendo tão penosamente como vivem; isto é! para $ue sigam fa%endo cigarros" +u gosto de limpe%a e dou dinheiro com condição! unicamente! de $ue a lavadeira lave a camisa $ue tiro ou troco duas ve%es ao dia! e estas camisas esgotam as Bltimas forças da lavadeira! e ela morre" ,ue mal há nisso tudo& Gs $ue compram e alugam não necessitam de meu concurso para obrigar os outros $ue sigam fabricando veludos e bombons4 eles seguirão alugando! por sua prApria conta! as mulheres para $ue lhes façam cigarros e as lavadeiras para $ue lhes lavem a roupa" 'ara $ue! então! privarse de veludos! de bombons! de cigarros e de camisas limpas! Eá $ue está estabelecido assim para sempre& +ste é o racioc?nio $ue ouço com fre$uência! $uase sempre4 é o mesmo $ue inspira os cães $uando um deles! lançandose sobre outro! o derruba e os outros se lançam sobre o ca?do e o fa%em em pedaços @s dentadas" 'osto $ue a coisa começou e Eá se consumou o estrago por $ue não aproveitarme dele" *as $ue sucederá se eu uso a camisa suEa e faço por mim mesmo os cigarros& Tirará o trabalho de alguém& F perguntam os $ue $uerem Eusticarse" -e não estivéssemos tão longe da verdade! causaria rubor responder a tal pergunta; mas estamos pervertidos de tal modo! $ue esta nos parece completamente natural! e por rubor $ue nos custe! devemos respondêla" F ,ue diferença haverá se eu uso a camisa uma semana em ve% de usála um dia e se confecciono os cigarros por mim mesmo! ou não fumo! em ve% de mandar $ue alguém faça isso& F 'ois a seguinte4 $ue a lavadeira e a fabricante de cigarros gastarão menos suas forças! e $ue o dinheiro $ue eu dava pela lavagem e pela confecção de cigarros posso dálo a essas mesmas trabalhadoras ou a outras a $uem o trabalho esgotou! e $ue! em ve% de trabalhar mais do $ue suas forças permitem! terão então a possibilidade de descansar e de tomar uma 2?cara de chá" Guvi replicar a isso $ue se uso a roupa suEa e não fumo para dar o valor disso aos pobres! nem por isso lhes sacricará menos! por$ue uma gota de água no mar não serve para nada! e a esta obEeção os ricos e os partidários do lu2o devem ter corado" *ais vergonha causa ainda responder a obEeção semelhante! mas há $ue respondêla! e como a obEeção é rotineira! a resposta será simples" 1i%em $ue a ação de um sA é uma gota de água ca?da no mar" /ma gota de água ca?da no marN =onta uma lenda hindu $ue um homem dei2ou cair no mar uma pérola! e $ue pegou um cubo e se pQs a tirar água e a Eogála na margem; $ue seguiu trabalhando nisso sem descanso! até $ue ao sétimo dia o esp?rito do mar temeu $ue o homem acabasse por secar este e lhe devolveu a pérola" -e nosso mal social! $ue é a opressão do homem! fosse o mar! bem mereceria a pérola $ue perdemos $ue sacricássemos a vida para esgotar o oceano de tal mal" G esp?rito do mundo se assustaria e se submeteria! antes! talve%! $ue o esp?rito do mar" *as o mal social não
é um oceano! mas uma fétida fossa de imund?cies $ue enchemos cuidadosamente" Sastarianos despertarmos! compreender o $ue fa%emos e não ter carinho a essas nossas imund?cies! para $ue esse mar! $ue nAs formamos! casse logo seco e para $ue possu?ssemos no ato a pérola inestimável da vida fraternal! humana"
# vida do campo ) *as o $ue fa%er& 0ão somos nAs $uem fe% isso& F 0As não" +ntão $uem& 1a mesma maneira $ue as crianças $uando $uebram algo di%em $ue não foram elas! $ue a$uilo se $uebrou so%inho! assim nAs di%emos não o termos feito! $ue sem dBvida se fe% por si mesmo! e acrescentamos $ue ao residirmos nas cidades! sustentamos e alimentamos a $uem nelas habita! posto $ue remuneramos seu trabalho e seus serviços" *as nada disso é verdade! e eis a$ui por $uê" 0ão temos $ue fa%er outra coisa além de olharmos a nAs mesmos e ver como vivemos no campo! e como sustentamos e alimentamos nele as pessoas" #caba o inverno na cidade; chega a semana de 'áscoa" 0os bulevares! nos Eardins! nos par$ues e no rio! mBsicas! teatros! passeios! variadas iluminaçHes e fogos de artif?cio; mas! no campo! algo melhor ainda4 os ares são mais puros; as árvores e as Pores são mais frescas; o campo é verde e frondoso" =hegou o momento de transladarse ao campo onde tudo se espalha e tudo Poresce" + a maior parte dos ricos se vão ao campo respirar a$ueles ares sãos e contemplar os campos e os bos$ues embele%ados" + ali! entre a$ueles pobres muEi$ues esfarrapados! $ue se mantêm com pão e cebola; $ue trabalham de%oito horas por dia e $ue não dormem o $ue necessitam dormir! ali vão se instalar os ricos" 0inguém ensinou nada @$ueles muEi$ues4 ali não há arma%éns nem fábricas4 não se encontram tampouco braços desocupados como abundam nas cidades" #s pessoas não são sucientes ali para reali%ar as tarefas do verão! e ainda sem greves! geralmente parte da safra é perdida por não poder ser colhida a tempo4 homens! mulheres! crianças e idosos! todos trabalham mais! mas muito mais do $ue suas forças permitem" + como os ricos ordenam sua vida no campo&""" 1a maneira seguinte4 -e tiverem Eá casa antiga! edicada no tempo dos servos! a restauram e a decoram; mas se não a têm! fa%em construir uma de dois ou três pisos" Gs $uartos! em nBmero de do%e a vinte! ou ainda mais! têm uma altura de teto de U!6R metros4 são bem pavimentadas; pHemse grandes cristais em todas as portas e Eanelas; -ão colocados tapetes e enchese de mAveis de grande preço" 3a%se limpar de pedras os arredores da casa; as pedras são polidas; são improvisados
Eardins; tra%em par$ues imensos! e @s ve%es estufas! e se estabelecem globos rePetores" + ais a? como uma fam?lia honrada de cavalheiros ou de tchinovniCs vai viver no campo" Gs indiv?duos da fam?lia e seus hAspedes em meados de Eunho! havendose dedicado até então a estudar e a sofrer os testes4 chegam em meados de Eunho! isto é! na época da colheita! e permanecem no campo até setembro! ou seEa! até $ue se arma%ene o fruto colhido" =omo $uase todas as pessoas do grande mundo! habitam o campo desde $ue começam os grandes trabalhos agr?colas! mas não veem seu término $ue se prolonga até o m de setembro! em cuEa data se escava as batatas; partem $uando começa a decair a tarefa" #o seu redor e a seu lado se reali%a na$uele per?odo o rude trabalho agr?cola de verão! trabalho tão rude! $ue não se pode formar ideia e2ata dele $uem não o haEa feito por si mesmo! se$uer haEa ouvido falar dele ou o tenha visto" +! no entanto! as fam?lias ricas vivem como na cidade" # colheita começa por volta do dia de -ão 'edro! $uando os aldeHes não têm para comer mais $ue pão e cebola! e Cvas (sidra para beber" # colheita é a operação mais importante do mundo" ,uase todos os anos! e por falta de braços e de tempo! ca por colher uma parte! e o feno corre o perigo de $ue a chuva os faça se perderem" -egundo a maior ou menor rapide% com $ue se e2ecutem as operaçHes agr?colas! os rendimentos implicarão uns vinte por cento mais ou menos em favor do pobre povo" /m bom rendimento constitui a carne para os velhos e o leite para as crianças" #ssim é $ue! para todos em geral e para cada um dos ceifeiros em particular! a $uestão se resolve em pão para o inverno! e em leite para si e para seus lhos! Todos o sabem; todos! até os meninos4 nenhum ignora $ue se trata de um assunto capital! e $ue é preciso trabalhar até onde humanamente o permitam as forças; levar o cântaro de Cvas ao campo onde trabalha o pai e! trocando de mão! correr descalço! o mais depressa poss?vel! a duas verstas do povoado para chegar na hora da comida e para $ue o pai não brigue" Todos sabem $ue! desde a colheita até a arma%enagem do fruto! o trabalho não guardará festas e $ue não há $ue pensar em descansar durante esse tempo" *as não se trata unicamente da colheita4 é preciso ademais remover a terra e rastelála" #s mulheres tecem! fa%em a comida e lavam4 os muEi$ues vão ao moinho! @ cidade! ao tribunal para seus assuntos e @ casa do prefeito ou de seu tenente4 condu%em os carros e dão alimento aos cavalos durante a noite" Todos! velhos! Eovens e até os doentes! fornecem suas Bltimas forças" #penas se permitem tomar alguns momentos de descanso antes de ter terminado sua tarefa" #s mulheres trabalham da mesma maneira! muitas delas grávidas e muitas outras com crianças de colo" G trabalho é e2cessivo e interessante" Todos se esgotam em um supremo esforço; todos gastam na$uela tarefa! não somente o economi%ado em muitos dias! mas também os Bltimos restos de sua despensa" 0ão estavam gordos ao começar os trabalhos ao verão!
mas todos estão fracos ao terminálos! por conse$uência de seu rude labor" )) +is a$ui um grupo de ceifeiros4 um idoso! seu sobrinho! Eovem casado! e um sapateiro! magro e musculoso" +sta colheita é o pão para o inverno dos três" Trabalham infatigavelmente e sem darse momentos de descanso desde duas semanas" # chuva suspendeu seu trabalho" 1epois da chuva e $uando o vento secou a safra! decidem colocála em montes! e para fa%êlo mais de pressa! cada um é aEudado por duas mulheres" G idoso tra% sua mulher $ue Eá tem cin$uenta anos e esta desgastada pelo trabalho e por on%e partos! e $ue! além disso! é surda! e tudo isso não lhe impede de trabalhar ainda bastante bem! e tra% igualmente uma lha sua de tre%e anos! de bai2a estatura! mas robusta e direita" G sobrinho fa% vir sua mulher! alta e forte como um verdadeiro muEi$ue! e sua cunhada! casada com um soldado! e grávida no momento" G sapateiro chama sua mulher! uma trabalhadora vigorosa! e sua mãe! idosa de oitenta anos $ue ganha a vida mendigando" Todos rivali%am em ardor e trabalham desde o amanhecer até a noite em pleno mês de Eunho" =ada hora de trabalho tem um preço inestimável" ,ue incQmodo ter $ue abandonar o trabalho para ir buscar água ou cidraN F /m garoto! o neto da velha! trará a água" # velha! preocupada pelo deseEo de não ser despedida do trabalho! empunha o rastelo com mãos crispadas! e fa% esforços vis?veis! lhe custa até mesmo moverse" G garoto! encurvado pelo peso e troteando a passo curto com seus pés descalços! leva o cântaro de água! passandoo de uma mão a outra! cântaro $ue pesa mais $ue ele" # menina carrega sobre seus ombros um maço de feno $uase tão pesado $uanto ela! dá alguns passos! detémse e o dei2a cair! pois não tem bastante força para leválo" # mulher de cin$uenta anos rastela infatigavelmente; depois! com o 2ale ca?do de um lado! carrega feno e o leva com passo vacilante e respirando com diculdade" # velha dos oitenta anos não fa% mais $ue rastelar! como Eá se disse! mas inda isso é superior a suas forças4 arrasta com trabalho seus pés calçados com laptiZ! e com rosto emburrado e ar sombrio! olha ante de si como um doente sem esperança ou como um homem $ue vai morrer" G velho a envia! de propAsito! separado dos outros! para rastelar perto dos montes! para $ue trabalhe menos; mas não interrompe sua tarefa! e com o mesmo semblante sombrio e pensativo! trabalha tanto como os outros" G sol se oculta atrás do bos$ue; mas ainda não se conseguiu pQr em ordem os afa%eres e falta ainda bastante para isso" Todos compreendem $ue Eá é hora de interromper o trabalho; mas ninguém o di% esperando $ue outro o diga" 'or m! o sapateiro! compreendendo $ue estavam esgotadas as forças de todos! propHes ao velho dei2ar para o dia seguinte a formação dos montes! e este consente nisso4 e sem perder tempo as
mulheres correm a recolher seus obEetos! os cântaros e os rastelos; e a velha se agacha com preste%a no mesmo lugar em $ue estava de pé; logo se deita! olhando sempre diante de si com o mesmo olhar turvo; mas as mulheres se pHem em marcha! e! ao vêlas! se levanta dando um gemido! e se arrasta atrás delas" + todas estas cenas se reprodu%irão em Eulho! $uando os muEi$ues! com falta de sono! colhem durante a noite a aveia para $ue o grão não caia; $uando as mulheres se levantam antes do raiar do dia para preparar as ataduras de grama retorcida; $uando a$uela idosa se encarrega de todo o trabalho da casa; $uando as mulheres grávidas e as Eovens se sentem esgotadas; $uando os braços de todos! e os cavalos e os carros são insucientes para carregar a$uele trigo $ue há de alimentar todo o mundo! a$uele trigo $ue tem na Bssia um consumo diário de milhHes de al$ueires! para $ue as pessoas vivam" ))) + nAs vivemos absolutamente como se não e2istisse relação alguma entre a lavadeira morta! a prostituta de de%esseis anos! a tensão e2cessiva das fabricantes de cigarro! o pesado e insuportável trabalho das velhas e das crianças mal alimentadas e sobrecarregadas pela fadiga4 vivemos como se não e2istisse relação alguma entre sua vida e a nossa" #chamos $ue a dor é uma coisa e nossa vida é outra" Lemos a descrição da vida de oma e nos admiramos da crueldade de LBcido! o homem sem coração $ue se empanturrava de manEares e de vinhos delicados en$uanto o povo morria de fome" Salançamos a cabeça surpreendidos ante a barbárie de nossos avQs $ue! senhores de servos! criavam entre eles bandas de mBsica e teatros! e desde o alto de nossa grande%a ol?mpica! nos admiramos de sua inumanidade" )sa?as disse4 \=ap?tulo I! < F #i dos $ue aEuntam casa a casa! dos $ue acrescentam campo a campo! até $ue não haEa mais lugar! de modo $ue habitem sAs no meio da terra]N \88 F #i dos $ue se levantam cedo para correrem atrás da bebida forte e continuam até a noite! até $ue o vinho os es$uente]N \86 F Têm harpas e alaBdes! tamboris e p?fanos! e vinho nos seus ban$uetes; porém não olham para a obra do -enhor! nem consideram as obras das mãos dele]" \8< F #i dos $ue pu2am a ini$Oidade com cordas de falsidade! e o pecado como com tirantes de carros]N \67 F #i dos $ue ao mal chamam bem! e ao bem mal; $ue pHem as trevas por lu%! e a lu% por trevas! e o amargo por doce! e o doce por amargo]N \68 F #i dos $ue são sábios a seus prAprios olhos! e astutos em seu prAprio conceitoN ] V66 F #i dos $ue são poderosos para beber vinho! e valentes para misturar bebida forteV" Lemos estas palavras! e achamos $ue não se referem a nAs" Lemos no +vangelho de *ateus! )))! 874 VG machado Eá está posto @ rai% das
árvores! e toda árvore $ue não der bom fruto será cortada e lançada ao fogoV" + estamos convencidos absolutamente $ue nAs somos a árvore $ue produ% bom fruto! e $ue as palavras anteriores não se referem a nAs! mas a outras pessoas perversas" + disse )sa?as4 V=ap?tulo I)! 87 F +ngorda o coração deste povo! e endurecelhe os ouvidos! e fechalhe os olhos; para $ue ele não veEa com os olhos! e ouça com os ouvidos! e entenda com o coração! e se converta! e seEa sarado]" V88 F +ntão disse eu4 #té $uando! -enhor& + respondeu4 #té $ue seEam assoladas as cidades! e $uem sem habitantes! e as casas sem moradores! e a terra seEa de todo assoladaV" Lemos! e estamos absolutamente convencidos de $ue essas palavras admiráveis não se dirigem a nAs! mas a outro povo! e não vemos $ue foram ditas para nAs" 0em vemos! nem ouvimos! nem compreendemos" 'or $ue sucede assim& 1eus! ou esta lei da nature%a pela $ual foram criados o mundo e os homens! procederá bem ou procederá mal; mas a situação dos homens no mundo é tal! desde $ue o conhecemos! $ue! nus! sem véu no corpo! sem cova onde abrigarse! incapa%es de achar sustento nos campos! como obinson na ilha! todos têm a necessidade de lutar sem trégua nem repouso contra a nature%a para cobrir suas carnes! para fa%er suas roupas! para rodearse de um cercado! para levantar um teto sobre sua cabeça! para preparar seus alimentos com o obEetivo de saciar sua fome duas ou três ve%es ao dia! e com ela a de seus lhos! demasiado fracos para trabalhar! e a dos idosos" > indiferente o lugar e a época em $ue nos 2emos para observar a vida dos homens! na +uropa! na #mérica! na =hina! na Bssia4 e2aminemos todo o gênero humano! ou uma de suas partes! nos tempos antigos! na época nQmade ou em nosso tempo com os motores a vapor! as ma$uinas de coser! a agricultura aperfeiçoada e a lu% elétrica! e por todas partes veremos a mesma coisa! isto é; $ue os homens! trabalhando até não poder mais! não podem ganhar o suciente para eles! para seus lhos e para seus idosos; não podem ganhar bastante para atender suas roupas! a seu abrigo e a sua manutenção! e $ue a maior parte! hoEe como antes! morre com falta de recursos ou $ue! para obter estes! sucumbem a um trabalho desproporcional a suas forças" Gnde $ueira $ue habitemos! sem traçamos em nosso redor um c?rculo de mil verstas! de cem! de uma sA versta de raio e nos pomos a considerar a vida das pessoas compreendidas nesse c?rculo! encontramos crianças miseráveis! idosos de um e outro se2o! mulheres $ue recém pariram! doentes e seres fracos! $ue se cansam mais do $ue suas forças permitem! $ue não têm nem os alimentos nem o descanso necessário para poder viver! e $ue! como é natural! morrem prematuramente! e veremos seres! na força de sua idade! sucumbir ao peso de um trabalho fatigante e mortal"
Iemos! desde $ue o mundo e2iste! $ue os homens lutam contra suas necessidades comuns! a custa de incr?veis esforços! privaçHes e sofrimentos! e $ue não podem vencêlas""" #cerca do destino da ciência e da arte ) # Eusticativa de $ue $ual$uer um pode emanciparse do trabalho! se apoia na ciência e2perimental positiva" +is a$ui o $ue disse a teoria cient?ca4 V0ão e2iste mais $ue um método seguro para estudar as leis $ue regem a vida das sociedades humanas! e esse método é a ciência positiva cr?tica" V0ão e2iste mais $ue a sociologia! baseada na biologia! como esta o está em todas as ciências positivas! $ue podem formular as leis da vida do gênero humano" G gênero humano! ou as sociedades humanas! são organismos Eá formados! ou organismos em formação! submetidos a todas as leis da evolução dos organismos" V/ma destas leis essenciais é a distribuição das funçHes entre as diferentes partes dos Argãos" -e uns mandam e outros obedecem; se uns vivem na abundância e os outros na escasse%! isso consiste! não em $ue 1eus o haEa disposto assim! nem por$ue o governo seEa a e2pressão das necessidades sociais! mas em $ue! nas sociedades como nos organismos! a vida do ser inteiro tem! por condição necessária! a divisão do trabalho4 uns e2ecutam! nas sociedades! o trabalho muscular; os outros! o trabalho intelectualV" 0essa doutrina se apoia a Eusticativa favorita de nosso tempo" 0ão fa% ainda muito $ue dominava na esfera dos sábios a losoa do esp?rito! a losoa de egel! cuEas conclusHes eram $ue tudo o $ue e2iste é racional; $ue não há nem bem nem mal; $ue o homem não tem $ue lutar contra o mal! posto $ue não e2iste! e $ue deve 2arse em demonstrar sua inteligência4 este! no serviço militar; a$uele na magistratura! e o outro! na arte de tocar violino! etc" +2istiam! no entanto! numerosas e distintas e2pressHes da sabedoria humana! conhecidas todas no século X)X" +ram conhecidos ousseau e Lessing! -pino%a e Sruno4 era conhecida também a sabedoria antiga; mas a multidão não $ueria saber nada dela" 0ão se pode %er $ue o ê2ito de egel estivesse em relação com o harmonioso de sua teoria4 e2istiam teorias não menos harmQnicas! como as de 1escartes! Leibnit%! 3ichte e -chopenhauer" # Bnica causa de $ue essa teoria losAca fosse por muito tempo a doutrina de todo o mundo foi a de $ue se aEustava! por suas conse$uências! aos v?cios dos homens" Tratava de estabelecer $ue tudo era natural! $ue tudo era bom! e $ue ninguém era culpado de nada" G hegelianismo era a base de tudo $uando eu comecei a viver4 se respirava no ar; se lia nos artigos e nas revistas dos periAdicos; nos cursos de histAria e de direito; nas novelas! nos tratados! nas artes! nos sermHes! e na conversa particular" G homem $ue não conhecia egel não tinha direito para falar4 o $ue deseEava conhecer a verdade
necessitava estudar egel" Tudo descansava nele! em sua losoa! e não transcorreram ainda $uarenta anos e Eá ninguém se recorda dele! como se egel não houvesse e2istido nunca" + o mais surpreendente é $ue o hegelianismo dei2ou de e2istir sem $ue ninguém o haEa refutado nem destru?do! não4 tal como era é; mas careceu repentinamente de nalidade e de obEetivo aos olhos dos sábios" ouve um tempo em $ue os doutores hegelianos instru?am solenemente a multidão! e em $ue esta! sem compreender nada! acreditava em tudo cegamente! encontrando na$uela losoa a conrmação do $ue Eulgava benéco para si mesma! e persuadida de $ue o $ue considerava obscuro e contraditAria era! no topo da$uela losoa! claro como a lu% do sol" *as chegou o momento em $ue a$uela teoria resultou gasta e em $ue apareceu em seu lugar outra; um tempo em $ue a multidão! desdenhando a teoria antiga e dirigindo o olhar aos santuários misteriosos dos sacricadores! se convenceu de $ue na$uela não havia mais $ue palavras obscuras e conceitos absurdos" Tudo isso se passou em tempos $ue eu recordo" *as os possuidores da ciência atual dirão $ue tudo isso ocorreu por$ue a$uela teoria era um conEunto de absurdos do per?odo teolAgico e metaf?sico; $ue agora e2iste uma ciência positiva e cr?tica $ue não pode enganar! por$ue se apoia na instrução e na e2periência; $ue agora nossos conhecimentos não são Eá inseguros como o foram antes! e $ue unicamente marchando por esse caminho é como poderão resolverse todos os problemas humanos" Ierdade é $ue isso mesmo di%iam os antigos; $ue nossos antepassados não eram imbecis! e $ue entre eles Poresceram grandes talentos4 isso mesmo di%iam os hegelianos! segundo recordo! com não menos segurança nem com menos aplauso da multidão $ue se di%ia ilustrada e entre a $ual guravam nomes $ue não contradi%iam nossos ert%en! -tanCevitch e SelinsCi" *as então como e2plicar o fenQmeno de $ue os sábios haEam professado com tanta segurança doutrinas tão falsa como absurdas! e $ue a multidão as acolhessem com tanto entusiasmo& # Bnica ra%ão! a causa Bnica era a de $ue a$uelas doutrinas Eusticavam aos homens os erros de sua vida" )) /m Eornalista vulgar inglês! cuEas obras! perfeitamente nulas! todo mundo es$ueceu! escreveu um tratado sobre a população! no $ual registrou a imaginária lei de $ue as substâncias alimentares não guardavam a relação devida com o incremento da população! e estabelecendo a lei ao amparo de fArmulas matemáticas desprovidas de fundamento! a deu @ lu%" 1ada a ligeire%a e a nulidade do livro! se deveria supor $ue não chamasse a atenção de ninguém e $ue ca?sse em profundo es$uecimento como todas as obras sucessivas do mesmo autor; mas sucedeu precisamente o contrário! e a$uele Eornalista chegou a ad$uirir grande reputação! $ue conservou cerca de meio século"
*althusN # teoria de *althusN G incremento da população seguindo uma progressão geométrica! en$uanto $ue as substâncias alimentares seguiam uma progressão aritmética" G remédio natural e racional representado pelo decaimento da procriaçãoN Toda uma série de verdades cient?cas! in$uestionáveis! $ue não se demonstravam e $ue serviam! como a2iomas! para demonstraçHes ulteriores" )sso! $uanto @s pessoas ilustradas e de ciência; pois $uanto @ multidão! @ generalidade das pessoas ociosas! esses se limitavam a admirar humildemente as grandes leis de *althus" + como sucedeu isso& 1everia crerse $ue se tratava de uma teoria cient?ca $ue nada de comum tinha com os instintos da multidão; mas sA pode Eulgálo assim $uem imagine $ue tal ciência tem algo de independente e de infal?vel como a )greEa! e não $ueira ver $ue não é outra coisa! em realidade! $ue uma invenção de pessoas superciais e e2traviadas $ue não concedem importância ao fundo das ideias! mas @ eti$ueta da ciência" Sasta dedu%ir as conse$uências práticas da teoria de *althus! para ver $ue tal teoria era a mais aplicável ao homem com ns determinados! #s conse$uências $ue dela se derivam diretamente! são estas4 # situação desgraçada dos trabalhadores o é em virtude de uma lei imutável! independente dos homens! e se há algum culpado disso! são os prAprios trabalhadores famintos" 'or $ue os tontos vêm ao mundo sabendo $ue não teriam o $ue comer nele& +m favor de tão precioso resultado para a pessoa ociosa! todos os sábios fecharam os olhos no $ue concerne @ irregularidade e @ arbitrariedade absolutas de semelhantes conclusHes desprovidas de provas! en$uanto $ue a multidão das pessoas letradas! $uer di%er! dos ociosos! compreendendo por instinto aonde condu%em a$uelas conclusHes! adota a teoria com entusiasmo! conferelhe o selo da verdade! ou o $ue é o mesmo! o da ciência! e a segue durante meio século" 0ão é esta a causa $ue e2plica a segurança dos arautos do positivismo e a humilde submissão da multidão ao $ue eles pregam& 'arece estranho! @ primeira vista! $ue a teoria cient?ca da evolução possa Eusticar @s pessoas de sua falsidade! e parece natural $ue não se ocupasse senão em observar os fenQmenos; mas tudo isso não é mais $ue pura aparência" G mesmo acontecia com a doutrina de egel em proporçHes mais vastas $ue em particular com a doutrina de *althus" G hegelianismo parecia não ocuparse mais $ue nas construçHes lAgicas sem relação alguma com a vida dos homens! de igual modo $ue a teoria de *althus parecia não ter outro obEeto $ue os fatos estat?sticos; mas repito $ue tudo isso não era mais $ue pura aparência" # ciência contemporânea trata também de fatos unicamente! e os observa; mas de $ue fatos& 'or $ue se ocupa de uns e não de outros& Gs seguidores da ciência contemporânea repetem a cada passo! solenemente e com segurança de e2pressão4 V0ão estudamos mais $ue os fatosV! e se imagina $ue suas palavras tenham algum sentido" +studar unicamente os fatos resulta imposs?vel! por$ue são
inumeráveis! no sentido prAprio da palavra! os fatos dignos de estudo" #ntes de estudar os fatos! é preciso estabelecer uma teoria segundo a $ual se lhes estude! $uer di%er! $ue se eleEam entre a massa inumerável de fatos! estes ou a$ueles" + tal teoria e2iste e está clara e e2plicitamente formulada! mesmo $ue os seguidores da ciência contemporânea @s ve%es o ignorem! ou @s ve%es nEam ignorálo" -empre sucedeu o mesmo com todas as doutrinas reinantes e diretoras" # teoria fornece sempre os elementos constitutivos de cada doutrina! e os chamados sábios não fa%em mais $ue descobrir as conse$uências ulteriores da$ueles elementos! uma ve% fornecidos" 1e igual modo! a ciência contemporânea elegeu os fatos em conformidade com os elementos de uma teoria $ue conhecia @s ve%es! $ue @s ve%es não $uer conhecer e $ue em ocasiHes desconhece em absoluto" +! no entanto! essa teoria e2iste" ))) IeEaa a$ui4 G gênero humano em sua totalidade constitui um organismo vivo4 os homens são as diferentes part?culas de Argãos! cada um dos $uais tem sua missão especial $ue serve ao organismo inteiro! distribuem o trabalho na luta pela e2istência! desenvolvendo tal faculdade! restringindo tal outra e formando Argãos especiais para satisfa%er melhor as necessidades de todo o organismo! e de igual maneira $ue os animais sociais! como as formigas e as abelhas! dividem o trabalho! dedicandose a fêmea a pQr os ovos! os %angHes a fecundá los e as abelhas Eovens a trabalhar pela vida do en2ame! assim também sucede com o gênero humano e com as sociedades humanas" 'ara encontrar a lei da vida do homem! é preciso estudar as leis da vida e da evolução dos organismos! e nessa vida e nessa evolução dos organismos! tropeçamos com a lei de diferenciação e de integração; com a lei $ue determina $ue todo fenQmeno suporte outras conse$uências além da conse$uência imediata; com a lei da instabilidade! com a da homogeneidade! etc"! etc" Tudo isso parece muito pueril; mas basta dedu%ir as conse$uências de todas essas leis para compreender em seguida $ue essas leis tendem ao mesmo m $ue tendiam as de *althus" Todas elas têm por obEetivo Bnico fa%er ver essa distribuição da atividade $ue e2iste nas sociedades humanas como organismo! $uer di%er! com caráter necessário! e por conse$uência! para considerar a falsa situação em $ue nos encontramos os $ue nos emancipamos do trabalho! não @ lu% da ra%ão e da Eustiça! mas como um fato inevitável $ue conrma a lei geral" # losoa do esp?rito Eusticava a crueldade e a abominação; mas sA de uma maneira losAca e! portanto! falsa! en$uanto $ue a ciência demonstra tudo isso de uma maneira cient?ca! e in$uestionável! por conseguinte" + como não acolher tão bela teoria& Sasta considerar a sociedade humana como um campo de observação! para $ue eu possa estar
convencido de $ue minha atividade! $ual$uer $ue seEa a forma $ue adote! é uma atividade funcional do organismo do gênero humano! sem $ue necessite preocuparme se é ou não Eusto $ue! ao aproveitar me do trabalho de outro! faça eu unicamente o $ue me agradar! nem se a divisão do trabalho entre a célula do cérebro e a dos mBsculos é ou não e$uitativa" =omo não admitir! pois! uma teoria tão sedutora $ue permite guardar a consciência no bolso de uma ve% por todas! e viver uma vida animal sem freio algum! ao amparo de um apoio cient?co rm?ssimo! segundo nosso tempo& + veEa de $ue modo se fundamenta hoEe! nessa doutrina nova! a Eusticação da ociosidade e da crueldade dos homens" )I +sta doutrina abriu passo não fa% ainda muito tempo; fará uns cin$uenta anos! e seu principal fundador foi o sábio francês #uguste =omte" #uguste =omte homem ao mesmo tempo sistemático e religioso! apoderouse! sob a inPuência das descobertas siolAgicas de Sichat! então completamente novas! da antiga ideia! emitida Eá por *enenio #grippa! de $ue as sociedades humanas! e até a humanidade inteira! podem ser consideradas como um todo orgânico! e os homens como part?culas de Argãos diferentes! cada um destes com funçHes determinadas e especiais cooperativas do organismo inteiro" +ssa ideia agradou de tal modo #uguste =omte! $ue se dedicou a edicar sobre ela um sistema losAco! e tão longe lhe levou este sistema! $ue es$ueceu em absoluto $ue o ponto de partida de sua teoria não era outra coisa $ue uma bela analogia muito apropriada numa fábula; mas $ue de maneira alguma podia servir de base a uma ciência" =omo sucede com fre$uência! =omte tomou por a2ioma uma hipAtese $ue o sedu%iu! e imaginou logo $ue toda sua teoria estava edicada sobre cimentos sAlidos" -ua teoria tende a estabelecer $ue! sendo o gênero humano um organismo! não se pode saber o $ue é o homem nem $uais deve ser suas relaçHes com o mundo! se não se conhecem as propriedades da$uele organismo" 'ara conhecer estas propriedades! o homem pode fa%er observaçHes sobre os outros organismos inferiores e sobre sua vida! e obter deles induçHes" #ssim! pois! em primeiro lugar! o método verdadeiro e Bnico da ciência! segundo #uguste =omte! é o método indutivo e toda a ciência reconhecer como base Bnica a e2perimentação; e em segundo lugar! o obEetivo e a hierar$uia das ciência constituem uma ciência nova! a do organismo imaginário do gênero humano! ou seEa! a sociologia" 1este modo de considerar a ciência em geral! se derivava $ue todas as ciências anteriores eram falsas! e $ue toda a histAria do gênero humano! desde o ponto de vista da evolução intelectual! se dividia! falando propriamente! em dois per?odos4 o per?odo teolAgico e metaf?sico $ue compreendeu desde o princ?pio do mundo até #uguste
=omte! e o per?odo atual! o da ciência Bnica e verdadeira! o positivismo $ue começou com #uguste =omte" Tudo isso era de uma grande perfeição e não reconhecia mais $ue um sA defeito! a saber4 $ue todo o edif?cio estava constru?do sobre areia! isto é! sobre a armação arbitrária e ine2ata de $ue o gênero humano é um organismo" Tal armação é arbitrária! en$uanto $ue não temos mais direito para admitir a e2istência do organismo humano! não suscet?vel de observação! $ue para armar a e2istência de $ual$uer outro ser $uimérico e invis?vel; e é ine2ata $uanto @ noção do gênero humano! ou seEa! a noção dos homens! $ue caminha Eunto @ ideia de organismo! uma ve% $ue o gênero humano carece do caráter essencial dos organismos; isto é4 da sensibilidade ou da consciência^" *as não obstante o arbitrário e falso da tese fundamental da losoa positivista! os chamados sábios não dei2aram de acolhêla com entusiasmo" > de notar! a este propAsito! $ue das duas partes da obra inteira de #uguste =omte4 losoa positiva e losoa pol?tica positiva! os sábios não acolheram mais $ue a primeira! a $ue Eusticava! com novas ra%Hes dedu%idas da e2periência! o mal e2istente nas sociedades humanas" ,uanto @ segunda parte! a $ue trata dos deveres morais do altru?smo! deveres derivados da assimilação do gênero humano a um organismo! tão pouca importância lhe concederam! $ue a declararam nula e anticient?ca" -ucedeu nisso o mesmo $ue com as duas partes da obra de Kant" # cr?tica da ra%ão pura foi bem acolhida pelo mundo dos sábios; mas a cr?tica de ra%ão prática! a $ue contém a essência de sua moral! a rechaçaram" 0a obra de Kant! proclamaram! como cient?co! unicamente o $ue Eusticava o mal reinante" *as a losoa positiva aceita pelo pBblico! losoa fundada numa teoria arbitrária e falsa! era inconsistente por si mesma e! portanto! instável! e não poderia subsistir por si prApria" + eis a$ui $ue no nBmero de todos a$ueles ociosos do pensamento! entre os seguidores da$uela losoa! surgiu esta outra armação! também arbitrária e falsa! a saber4 $ue os seres vivos! isto é! os organismos! se formavam uns dos outros e não sA um de outro! mas um de vários; isto é! $ue num per?odo de tempo muito grande! ao cabo de milhHes de anos! por e2emplo! não somente podem descender de um ancestral comum um ganso e um pei2e! mas $ue de um en2ame de abelhas se pode formar um boi ou outro animal $ual$uer" + o mundo soube acolher com ainda mais bondade tão arbitrária e falsa armação; arbitrária! por$ue ninguém Eamais viu como alguns organismos geram outros! ra%ão pela $ual a hipAtese de origem das espécies será sempre uma hipAtese e nunca um fato e2perimental; e falsa! por$ue a solução do problema da origem das espécies! pelos princ?pios da sucessão e da adaptação ao meio num per?odo de tempo innitamente longo! não é de modo algum uma solução! mas uma maneira nova de colocar o problema de outra forma" 0a teoria de *oisés! cou estabelecida pela vontade de 1eus e por seu poder innito a variedade das espécies vivas; mas! na teoria da
evolução! a$uela variedade de seres vivos é o resultado da casualidade e das diversas inPuências da sucessão e do meio num per?odo de tempo innitamente longo" # teoria da evolução! falando em termos muito claros! não arma mais $ue isto4 $ue! num per?odo de tempo innitamente longo! se pode obter o $ue $uiser" G problema não foi! pois! resolvido4 subiste o mesmo ainda $ue colocado de modo diferente4 a vontade foi substitu?da pela casualidade! e o coeciente do innito foi elevado @ potência do tempo" *as essa nova armação corrobora a de #uguste =omte! e! por outra parte! tendo em conta a ingênua conssão do prAprio autor da teoria dar_inista! este inspirou a ideia de seu sistema na lei de *althus e edicou sobre ela sua teoria da luta dos homens e dos demais seres vivos pela e2istência! como lei fundamental de todo ser animado" *as não necessitava mais da turba de ociosos para sua Eusticação" 1uas teorias instáveis! incapa%es de car em pé! sustentavam uma @ outra e ad$uiriam as aparências da estabilidade! #mbas implicavam esta conclusão! preciosa para a multidão4 os homens não têm culpa do mal $ue e2iste nas sociedades humanas4 a ordem e2istente é precisamente o $ue deve e2istir" + a nova teoria foi aclamada pela multidão com uma conança e um transporte nunca vistos nem conhecidos" + sobre estas duas teses arbitrárias e falsas! aceitas como dogmas! se elevou a nova doutrina cient?ca" -pencer! numa de suas primeiras obras! a formulava assim4 V#s sociedades e os organismos se parecem4 8` +m $ue! formados por pe$uenas agrupaçHes! aumentam insensivelmente sua massa até alcanças @s ve%es um desenvolvimento seis mil ve%es maior $ue o de sua massa primitiva" 6` ,ue en$uanto $ue! em sua origem! é tal sua estrutura! $ue se pode considerálos como desprovidos dela! ao desenvolverse tomam uma estrutura $ue cada ve% vai sendo mais complicada" 9` ,ue ainda $uando em seu per?odo rudimentar primitivo não e2iste entre as partes dependência alguma! esta vai se estabelecendo gradualmente e de um modo rec?proco! e acaba por ser tão sAlida! $ue a atividade e a vida de cada parte não podem e2istir sem a atividade e a vida das outras" U` ,ue a vida e o desenvolvimento da sociedade são independentes da vida e do desenvolvimento de cada uma das unidades $ue a formam! e duram muito mais tempo4 estas unidades nascem! se desenvolvem! trabalham! se reprodu%em e morrem! en$uanto $ue o corpo pol?tico! composto por essas unidades! continua vivendo uma geração atrás da outra! desenvolvendo sua massa! sua atividade funcional e seus progressosV" *ais adiante indica as diferenças entre os organismos e as sociedades; demonstra $ue essas diferenças são apenas aparentes! e acrescenta $ue os organismos e as sociedades são semelhantes em absoluto" I
Todo homem de bomsenso não pode menos $ue se perguntar4 F *as de $ue falas& =omo pode ser o gênero humano um organismo ou semelhante a um organismo& 3alas $ue as sociedades se assemelham aos organismos por esses $uatro caracteres; mas não é assim" Limitaste a tomar alguns caracteres do organismo! e neles embutis as sociedades humanas" =itais $uatro caracteres de semelhança! e logo tomais os pontos diferenciais! os redu%is a meras aparências e dedu%is! em conclusão! $ue as sociedades humanas podem ser consideradas como organismos" *as isso não é mais $ue um Eogo de dialética perfeitamente ocioso" =om igual ra%ão pode introdu%irse o $ue se $uiser nos caracteres do organismo" Tomo o primeiro $ue me ocorre4 uma selva! por e2emplo! $ue é semeada na plan?cie e cresce cada dia mais" V8`" 3ormada em sua origem por pe$uenas agregaçHes! aumenta imperceptivelmente sua massa! etcéteraV" G mesmo sucede com os campos $uando se fa%em neles plantaçHes! $ue pouca a pouco se convertem em Poresta alta" V6`" -ua estrutura! simples no princ?pio! se complica cada ve% mais! etc"V G mesmo sucede @ selva4 no princ?pio as bétulas; depois os salgueiros e as nogueiras $ue crescem direitos e $ue entrelaçam logo seus ramos" V9`" # dependência das partes se fa% tão sAlida! $ue a vida de cada uma delas depende da vida ativa das demais! etc"V G mesmo ocorre @ selva4 a pereira dá abrigo aos troncos dos arbustos4 se o cortas! estes se congelarão" #s copas abrigam do vento; as sementes continuam as espécies; as grandes árvores espessas fornecem sombra! e a vida de uma árvore dependa da de outra" VU`" Gs indiv?duos podem morrer! mas o todo sobreviveV" )gual acontece @ selva4 esta não chora a perda de nenhuma árvore" #o demonstrar $ue podeis! com idêntico racioc?nio! e em virtude dessa teoria! considerar a selva como um organismo! imaginas ter demonstrado ao partidários da doutrina orgânica a falsidade de sua denição; mas não há nada disso" # denição $ue dão do organismo é de tal modo ine2ata! de tal maneira ampla! $ue podem fa%er entrar nela o $ue $ueiram" F -im! F dirão F até a selva pode ser considerada como um organismo" # selva é a ação rec?proca de indiv?duos $ue se conservam um pelo outro; um agregado cuEas partes podem confundirse numa dependência cada ve% mais estreita! e $ue! como o en2ame de abelhas! pode chegar a ser um organismo" F *as então! F dirás F os pássaros! os insetos! as ervas dessa selva $ue atuam uns nos outros e $ue se conservam uns pelos outros! poderão ser considerados também como partes componentes! com as árvores! de um organismo Bnico& + também o admitirão" Todas as coleçHes de seres animados atuam umas sobre as outras e se conservam umas pelas outras; logo podem! segundo suas teorias! ser consideradas como organismos" 'odes armar a dependência e a ação rec?proca entre tudo $uanto $ueiras! e armar! em virtude da evolução! $ue! num per?odo de
tempo innitamente longo! da$uilo $ue $ueiras pode sair $uanto $ueiras" + o mais surpreendente é $ue essa mesma losoa preconi%a! como o Bnico meio de chegar @ verdadeira ciência! o método cient?co determinado por ela! entendendo por tal o senso comum" + esse senso comum a condena a cada passo" 1esde $ue os papas compreenderam $ue nada de santos restava Eá neles! começaram a chamaremse -antos 'adres" 1esde $ue a losoa compreendeu $ue nada de sensato restava nela! começou a chamarse o $ue Eulga $ue há de mais sensato! isto é! losoa cient?ca" I) # divisão do trabalho é a lei de tudo o $ue e2iste! e assim! deve reger as sociedades humanas" > poss?vel $ue assim seEa; mas surge esta pergunta4 +ssa distribuição do trabalho $ue agora veEo na sociedade humana é verdadeiramente a $ue deve ser& + se acho fora de ra%ão e inEusta $ual$uer distribuição do trabalho! não haverá ciência alguma no mundo $ue possa demonstrarme e convencerme de $ue deve e2istir o $ue eu considero inEusto e irracional" # distribuição do trabalho é uma condição da vida dos organismos e das sociedades humanas; mas o $ue é $ue se deve considerar nestas como distribuição orgânica do trabalho& 'or mais $ue a ciência estude a distribuição do trabalho nas células dos vermes! suas observaçHes não obrigarão o homem a reconhecer como legitima uma distribuição do trabalho $ue sua ra%ão e sua consciência rechacem" 'or mais $ue seEam os argumentos $ue fornecem a divisão do trabalho nas células dos organismos observados! $uem ainda não houver perdido a ra%ão dirá $ue um homem não nasceu para tecer algodão toda sua vida! e $ue isso não é a divisão do trabalho! mas a opressão do homem" -pencer e outros asseguram $ue e2istem povos de tecelHes e $ue! por conseguinte! o tecido resulta de uma distribuição orgânica do trabalho4 os tecelHes são! pois! um efeito dessa distribuição" 'oderia di%erse isso! se os povos de tecelHes se %essem por si mesmos; mas todos sabemos $ue não se fa%em eles! mas $ue nAs os fa%emos" Tratase agora de saber se %emos os tecelHes seguindo a lei orgânica ou como" +is a$ui um grupo de pessoas $ue vivem e se sustentam como é de costume no campo" /m homem instala uma forEa e constrAi seu carrinho4 chega um vi%inho seu e lhe pede $ue construa também o seu! oferecendolhe em troca seu trabalho ou dinheiro" =hegam logo um terceiro! e um $uarto! e na$uela sociedade se estabelece uma distribuição do trabalho devido @ forEa" Gutro homem instruiu bem seus lhos4 seu vi%inho lhe leva os seus e lhe pede $ue os edu$ue da mesma forma! e a$ui tens um professor" *as o ferreiro e o professor chegaram a sêlo e continuam sendoo! unicamente por$ue lhes pediram $ue o fossem! e continuam em seu
of?cio en$uanto $ue lhes peçam $ue o e2erçam" -e suceder $ue há muitos ferreiros e muitos professores ou $ue seus serviços são desnecessários! dei2am na hora seu of?cio! conforme o bom senso! e como ocorre sempre ali onde nada turva a distribuição regular do trabalho! ao dei2ar o of?cio voltam @ agricultura" #o fa%er isso! obedecem a sua ra%ão e a sua consciência! e por isso nAs! dotados de consciência e de ra%ão! concordamos $ue é Eusta essa distribuição do trabalho" *as se ocorre $ue os ferreiros têm poder para obrigar outros a trabalhar para eles e continuam forEando ferraduras $uando não há necessidade delas! e $ue os professores sigam ensinando $uando não têm disc?pulos a $uem ensinar! é evidente para todo ser dotado de ra%ão e de consciência como o é o homem $ue a$uilo não é a divisão do trabalho! mas a usurpação do trabalho do outro" + é isso o $ue a losoa chama particularmente de divisão do trabalho" # causa da miséria econQmica de nosso tempo está no $ue os ingleses chamam de overproduction! ou seEa! e2cesso de produção! $uando fabricam em $uantidade e2cessiva obEetos $ue não se sabe onde colocar ou $ue ninguém necessita" -eria insAlito $ue um sapateiro! por e2emplo! cresse $ue as pessoas estivessem no dever de alimentálo por$ue ele seguisse fabricando! sem repouso! sapatos $ue a$uelas não necessitassem em muito tempo; mas $ue di%er dessas pessoas $ue não costuram! $ue não produ%em nada $ue seEa Btil para ninguém! cuEa mercadoria não encontra comprador! e $ue não pedem com menos afã nem menos resolutamente! argumentando sobre a divisão do trabalho! $ue se as sustente bem e $ue se as vista melhor& 'ode haver e há feiticeiros cuEos of?cios são solicitados e de $uem se ad$uirem pAs e frascos; mas é dif?cil imaginar o $ue seria dos bru2os cuEos sortilégios não servissem a ninguém e $ue pedissem atrevidamente $ue os sustentassem" )sso é o $ue acontece no mundo e tudo isso ocorre em virtude dessa falsa noção da divisão do trabalho! $ue se apoia! não na ra%ão e na consciência! mas na observação! divisão $ue os chamados sábios proclamam com tanta unanimidade" # divisão do trabalho e2istiu sempre! e e2iste de fato; mas não é Eusta senão $uando está baseada na ra%ão e na consciência! e não na observação" + a consciência e a ra%ão de todos os homens resolvem essa $uestão de uma maneira simples! segura e unânime deste modo4 # divisão do trabalho é Eusta unicamente $uando a atividade especial de um homem é de tal modo necessária @s pessoas! $ue estas mesmas! ao reclamar seus serviços! se ofereçam espontaneamente para alimentá lo em pagamento ao serviço $ue lhes presta; mas $uando um homem pode viver! desde sua infância até os trinta anos de idade! @s custas dos outros! prometendo fa%er algo de Btil! $ue ninguém necessita! $uando houver aprendido a fa%êlo! e $uando! desde os trinta anos até a morte! pode viver do mesmo modo! prometendo sempre fa%er algo $ue ninguém necessita! isso não será a divisão do trabalho! mas a usurpação do trabalho alheio pelo mais forte! usurpação $ue teve em outro tempo diferentes nomes; $ue os lAsofos chamaram de
Vformas necessárias da vidaV! e $ue hoEe a losoa cient?ca chama de Vdivisão orgânica do trabalhoV" # losoa cient?ca não tem outro signicado" +ssa losoa chegou a ser hoEe a distribuidora das patentes de ociosidade! por ser a $ue analisa e determina em seus tempos o $ue são a atividade parasita e a atividade orgânica do homem no organismo social" =omo se cada homem não estivesse em estado de conhecêlo por si mesmo de um modo mais Eusto e mais natural apenas consultando sua ra%ão e sua consciênciaN 'arece aos partidários da losoa cient?ca $ue não deveriam e2istir dBvidas neste ponto! posto $ue a Bnica atividade orgânica é a sua4 eles são os agentes da ciência e da arte! as células mais preciosas do organismo4 as do cérebro" I)) Gs seres racionais sempre distinguiram o bem do mal! desde $ue o mundo e2iste; aproveitandose dos esforços de seus predecessores; lutando contra o mal; buscando o caminho mais reto e melhor! e avançando por esse caminho" + sempre encontraram diante de si! barrando sua passagem! os fatores da mentira com a pretensão de demonstrarlhes $ue é preciso viver a vida tal como ela é" Gs seres racionais! a custo de esforços e de lutas! foram se emancipando da mentira pouco a pouco! $uando eis a$ui $ue uma nova personagem! a pior de todas! lhes intercepta o caminha4 essa personagem é a mentira cient?ca" +ssa nova mentira é! no fundo! o mesmo $ue as antigas4 seu obEetivo essencial é substituir a atividade da ra%ão e da consciência! $ue é a nossa e a de nossos antepassados! por outra coisa e2terna denominada observação! na mentira cient?ca" G laço desta ciência consiste em $ue! depois de haver mostrado aos homens as alteraçHes mais grosseiras da atividade da ra%ão e da consciência! tende a destruir neles a crença na ra%ão e na consciência mesma e a persuadirlhes $ue tudo o $ue di%em a si mesmos! como tudo o $ue di%iam aos esp?ritos mais privilegiados! a ra%ão e a consciência desde $ue o mundo e2iste! tudo isso é condicional e subEetivo" F > preciso descartar tudo isso" F di%em F 'or meio da ra%ão não se pode chegar ao conhecimento da verdade sem correr o risco de enganarse4 há outro caminho mais seguro de chegar a ele! meio $uase mecânico! e é o de estudar os fatos" *as para estudar os fatos é necessário tomar por base a losoa cient?ca; $uer di%er! uma dupla hipAtese sem fundamento4 o positivismo e a evolução $ue se dão por verdades indubitáveis" + a ciência reinante declara! com solenidade enganosa! $ue não é poss?vel a solução dos problemas da vida senão por meio do estudo da nature%a! e especialmente dos organismos" + a Euventude crédula! sedu%ida pela novidade deste dogma! $ue a cr?tica não destruiu nem se$uer tocou ainda! se apressa a estudar esses fenQmenos nas ciências naturais por esse Bnico caminho $ue segundo a ciência reinante pode condu%ir ao esclarecimento dos problemas da vida" *as
$uanto mais avançam os Eovens nesse estudo! mais e mais longe deles retrocede a possibilidade e até o deseEo de resolver a$ueles problemas; e $uanto mais se acostumam! não tanto a observar como a crer sob a fé de sua palavra nas observaçHes de outro! nas células! nos protoplasmas! na $uarta e2istência dos corpos! etc"! mais oculto ca o fundo atrás da forma! e tanto mais perdem a consciência do bem e do mal e a faculdade de compreender essas e2pressHes e determinaçHes do bem e do mal $ue o gênero humano elaborou no curso de sua vida inteira" ,uanto mais se assimila esse Eargão cient?co especial e esses termos condicionais $ue não tem sentido algum geral e humano; $uanto mais se enredam no labirinto de observaçHes $ue nada esclarecem! tanto mais perdem a faculdade de pensar independentemente e a de compreender o pensamento de outro! humano e espontâneo! $ue se encontra fora de seu talmude" *as o pior é $ue passam seus melhores anos em desacostumarse da vida! $uer di%er! do trabalho; em habituarse a considerar como leg?tima sua situação; em converterse em parasitas incapa%es de um esforço f?sico $ual$uer; em deslocarse o cérebro! e em acabar por ser os eunucos do pensamento" + @ medida $ue acresce sua estupide%! ad$uirem tal conança em si mesmos $ue os afasta de toda possibilidade de reintegrarse @ simples vida do trabalho! ao pensamento simples! claro e humano" # divisão to trabalho e2iste! e e2istirá sempre! sem dBvida alguma! na sociedade humana; mas a $uestão! para nAs! não é o saber se e2iste e e2istirá! mas o saber como fa%er $ue seEa Eusta" Tomar por critério a observação é! por esse mesmo fato! rechaçar todo critério4 $ual$uer distribuição do trabalho $ue veEamos e $ue nos pareça Eusta! a acharemos Eusta! com efeito; $ue é ao $ue condu% a losoa cient?ca preponderante" # divisão do trabalhoN /ns estão dedicados ao trabalho intelectual e espiritual; os outros! ao trabalho f?sico muscular""" =om $ue segurança armam issoN""" +les preferem pensar e creem $ue com isso reali%am uma troca de serviços absolutamente Eusta" *as tanto perdemos de vista o dever por efeito de nossa cegueira! $ue até es$uecemos em nome de $ue reali%amos nosso trabalho! e $ue %emos desse mesmo povo! a $uem $uer?amos servir! o obEeto de nossa atividade cient?ca e art?stica" G estudamos e o descrevemos por gosto e para nossa distração e nos es$uecemos de $ue não o devemos estudar e descrever! mas servir" Todos perdemos de vista o dever $ue nos incumbe4 tampouco observamos $ue o $ue tentávamos fa%er no dom?nio das ciências e das artes! Eá o %eram outros! e $ue nosso lugar estava ocupado" -im4 en$uanto $ue disputávamos! ora sobre a geração espontânea dos organismos! ora sobre o espiritismo; agora sobre a forma dos átomos! logo sobre a pangênese! depois sobre o protoplasma! etc"! o povo reclamava seu alimento espiritual! e os frutos secos da ciência e da arte! sob a direção de especuladores a $uem não guiava mais $ue o incentivo da ganância! forneceram e forneceram ao povo esse alimento espiritual" IeEa a$ui $ue! desde fa% $uarenta anos na +uropa e uns de% na Bssia! se desli%am por milhHes os livros! os $uadros e as cançHes;
$ue se abrem livrarias e $ue o povo olha! canta e recebe um alimento espiritual $ue não procede de nAs a $uem correspondia dálo; e nAs $ue de tal modo Eusticamos nossa ociosidade! o presenciamos de braços cru%ados" *as não devemos seguir com os braços cru%ados! por$ue vai faltarnos a Bltima Eusticativa" -omos especialistas4 cada um de nAs tem sua função particular4 somos o cérebro do povo4 ele nos sustenta e nAs lhe ensinamos; mas $ue lhe ensinamos e $ue seguimos ensinandolhe& +le esteve esperando anos e décadas e séculos! e nAs discut?amos! nos instru?amos um ao outro! e nos divert?amos es$uecendo completamente o povo; e tanto o hav?amos es$uecido! $ue outros deveram ensinarlhe e distrairlhe sem $ue nem se$uer nisso 2ássemos a atenção" 3alamos tão inconsideravelmente da distribuição do trabalho! $ue demos! sem reparo algum! como Bnica desculpa! os pretendidos serviços $ue prestamos ao nosso povo" I))) # ciência e a arte se reservaram o direito @ ociosidade e ao go%o dos trabalhos dos outros! e fracassaram em sua missão" + o fracasso provém tão somente de $ue seus adeptos! apoiandose no princ?pio falsamente estendido de divisão do trabalho! se arrogara o direito de usurpar o trabalho dos outros4 perdera o sentimento de sua missão ao proporse como obEetivo! não o interesse do povo! mas o interesse da ciência e da arte! e se dei2aram arrastar @ ociosidade e a uma depravação menos sensual $ue intelectual" 1i%em4 F # ciência e as artes prestaram grandes serviços @ humanidade" > verdade; mas não por$ue os adeptos da ciência e da arte vivam @ custa do povo trabalhador amparados pela divisão do trabalho! mas a pesar disso" # repBblica romana não foi poderosa por$ue seus cidadãos tivesse a faculdade de não fa%er nada! mas por$ue havia nela muitos valentes! e o mesmo passa com a ciência e com as artes" -e a ciência e as artes prestaram grandes serviços @ humanidade! não é por$ue seus adeptos antes e agora tivera a possibilidade de emanciparse do trabalho! mas por$ue houve gênio $ue! sem usar dessa faculdade! %eram a humanidade progredir" # classe de sábios e de artistas $ue! apoiandose em uma falsa distribuição do trabalho! reclama o direito de usurpar o trabalho dos outros! não pode assegurar a e2pansão da verdadeira ciência nem da arte verdadeira! por$ue a mentira não pode produ%ir a verdade" Tal é a ideia $ue temos formada de nossos representantes favoritos! debilitados no trabalho intelectual! $ue nos admira e estranha a ideia de ver um sábio ou um artista lavrando as terras ou carregando esterco" 'arecenos $ue tudo se haveria perdido; $ue toda sua ciência caria sepultada na terra natal; $ue as grandes imagens art?sticas $ue leva concebidas no cérebro! cheirariam a esterco! e tão acostumados estamos a isso! $ue não nos parece estranho ver o servidor da ciência! $uer di%er! o servidor e mestre da verdade!
obrigar $ue os outros façam para ele o $ue ele poderia fa%er por si mesmo e passasse a metade do tempo comendo bem! fumando! falando! murmurando sobre o liberalismo! lendo periAdicos e novelas! e fre$uentando os teatros4 não nos parece estranho ver nosso lAsofo no café! na comédia! no baile! nem encontrálo em companhia desses artistas $ue dulcicam e enobrecem nossas almas! e $ue passam sua vida bebendo! Eogando cartas! fre$uentando as casas de trato! ou outras coisas piores" #s ciências e ar artes são coisas muito belas; mas! Eustamente por$ue são belas! é preciso não desgurálas aliandoas de um modo forçado @ depravação! $uer di%er! emancipandoas do dever $ue todo homem tem de sustentar com o trabalho de sua vida a vida do outro" F # ciência e as artes fa%em a humanidade progredir" -im! mas não por$ue os adeptos da ciência e das artes se livrem! ao amparo da divisão do trabalho! do dever humano mais necessário e mais indubitável4 o de trabalhar com suas prAprias mãos na luta comum da humanidade com a nature%a" F 'ois precisamente essa divisão do trabalho $ue livra os sábios e os artistas do cuidado de preparar seus alimentos! é o $ue fe% poss?vel esse maravilhoso progresso das ciências! $ue vemos em nosso tempo" F obEetarão alguns F -e todos tivéssemos $ue arar a terra! não ter?amos obtido esses grandiosos resultados $ue nossa época obtém; esses progressos milagrosos $ue aumentaram de tal modo o poder do homem sobre a nature%a; esses descobrimentos $ue cativam de tal modo o esp?rito humano e asseguram a navegação4 não haveria nem vapores! nem estradas de ferro! nem pontes admiráveis! nem tBneis! nem motores a vapor! nem telégrafo! nem fotograa! nem telefone! nem má$uinas de tecer! nem fonAgrafos! nem eletricidade! nem telefones! nem telescApios! nem espectroscApios! nem microscApios! nem clorofArmio! nem cura de Lissner nem ácido fênico" 0ão enumero tudo a$uilo de $ue se orgulha nosso século" +ssa enumeração e esses transportes de entusiasmo ante si mesmo e ante as prAprias proe%as se encontram em $uase todos os periAdicos e em todos os livros populares" +sses transportes se reprodu%em com tanta fre$uência! $ue estamos todos convencidos de $ue a ciência e as artes não Poresceram nunca tanto como hoEe; e todas essas maravilhas as devemos @ divisão do trabalho; como negálo& -uponhamos $ue o progresso de nosso século seEa em verdade grandioso! admirável! milagroso4 suponhamos $ue somos uns mortais tão feli%es! $ue vivemos em época e2traordinária; mas tratemos de avaliar esses progressos! não segundo o entusiasmo $ue nos produ%em! mas segundo o princ?pio $ue busca sua Eusticação em tais progressos4 o da divisão do trabalho" =onfessamos $ue todos esses progressos são admiráveis; mas! por uma casualidade desgraçada! $ue os mesmos sábios fa%em constar! esses progressos não melhoraram até hoEe! em ve% disso pioraram bastante! a situação do maior nBmero! isto é! a do povo trabalhador" -e o trabalhador pode ir pela estrada de ferro em ve% de ir a pé! essa estrada de ferro lhe incendiou seu bos$ue! lhe tomou seu trigo em
suas barbas e Eogouo num estado parecido @ escravidão! suEeitando o ao capitalista" -e! graças aos motores de vapor e @s má$uinas! o trabalhador pode ad$uirir por preço mAdico um algodão algo forte! esses motores e essas má$uinas lhe tomaram o dinheiro ganhado com seu trabalho! e o redu%iram @ escravidão absoluta! suEeitandoo ao fabricante" -e tem telefones! telescApios! versos! novelas! teatros! bailes! sinfonias! Aperas! galerias de $uadros! etc"! não melhorou por isso a vida do trabalhador! por$ue todo o enunciado resulta inacess?vel para ele! por efeito dessa mesma casualidade desgraçada" #ssim é $ue! até o presente! e os homens de ciência convêm nisso! todos esses progressos e2traordinários! todas essas maravilhas da ciência e da arte! em nada melhoraram a vida do trabalhador e talve% a tenham piorado" #gora4 se medimos a realidade dos progressos obtidos pelas ciências e as artes! não pelo entusiasmo $ue nos inspiram! mas pelo princ?pio em $ue se apoia a divisão do trabalho! ou seEa! o interesse do povo trabalhador! veremos $ue carece de fundamento sAlido esse entusiasmo $ue sentimos e a $ue voluntariamente nos entregamos" G muEi$ue tomará a estrada de ferro; a mulher comprará o algodão; haverá na isbá uma lâmpada em ve% de uma tocha e o muEi$ue acenderá o cachimbo com um fAsforo! tudo o $ue é mais cQmodo! mas co $ue direito hei de di%er $ue a ferrovia e as fábricas prestaram um serviço ao povo& -e o muEi$ue toma a via férrea! compra a lâmpada! o algodão e os fAsforos! é unicamente por$ue ninguém o impede; mas todos sabemos $ue a construção das estradas de ferro e das fábricas não tiveram nunca por obEetivo o interesse do povo" 'or $ue! pois! alegar como provas de serviços feitos ao povo por esses estabelecimentos as comodidades acidentais de $ue pode fa%er uso o trabalhador& 0ão há mal $ue não produ%a algum bem" #pAs um incêndio! alguém pode a$uecerse e acender o cachimbo com uma brasa; mas deverá di%erse por isso $ue o incêndio é Btil& )X Gs amigos da ciência e da arte poderiam di%er $ue sua atividade é Btil ao povo! se se propusessem a servir este em ve% de servir! como fa%em o governo e os capitalistas" Também nAs poder?amos di%êlo! se tivessem por obEetivo o interesse do povo; mas não sucede assim" Todos os sábios estão abstra?dos e2ercendo o papel de sacricadores4 descobrem os protoplasmas! as análises espectrais dos astros! etc"; mas $ue machado é o melhor machado& ,ue foice é a mais cQmoda& =omo se amassa melhor o pão& =om $ue classe de farinha& Gnde encontrála& =omo a$uecer o forno& =omo construir os fogHes& ,ue alimentos! $ue bebidas tomar& ,ue louça é a mais cQmoda e a mais econQmica em determinadas condiçHes& ,ue cogumelos podem ser comidos e como cultiválos& =omo preparálos mais facilmente& 1e nada disso cuida a ciência! e! no entanto! esse é seu obEetivo"
-ei $ue! por essência! a ciência deve ser inBtil! $uer di%er! sA a ciência pela ciência; mas essa é uma evasão evidente" G obEetivo da ciência é servir aos homens" )nventamos o telégrafo! o telefone e o fonAgrafo; mas $ue melhoramos na vida! no trabalho do povo& =ontamos dois milhHes de pe$uenos besouros" 1omesticamos um sA animal desde os tempos b?blicos em $ue nossas espécies estavam domesticadas fa%ia Eá muito tempo& G alce! o cervo! a perdi%! o estorninho e o cortiçol dos bos$ues ainda seguem em estado selvagem" Gs botânicos encontraram a célula! e nas células o protoplasma! e no protoplasma algo! e neste algo outra coisa também" > evidente $ue estes descobrimentos não terminarão logo por$ue não têm m! e por isso os sábios carecem de tempo para ocuparse e coisas de utilidade para o povo" 1a? $ue! desde os tempos do antigo +gito e da Wudeia! em $ue se cultivavam o trigo e as lentilhas! até nossos dias! não se haEa descoberto nenhuma planta nova! e2ceto a batata! $ue tenha vindo a aumentar a alimentação do povo! e a batata não a devemos @ ciência" )nventaram os torpedos! os dispositivos dosimétricos! etc"; mas a roda! o $uadro para a tecelagem! o torno de ar! a carreta! o machado! a marreta! o ancinho! a cai2a! a roldana! seguem os mesmos $ue nos tempos de uriC! e se algo sofreu ligeira modicação! não se deve aos homens da ciência" G mesmo sucede com a arte" +levamos uma multidão de pessoas @ categoria de grandes escritores! e os passamos pela peneira! e amontoamos as cr?ticas sobre seus trabalhos! e os cr?ticos sobre as cr?ticas! e as cr?ticas sobre as cr?ticas de cr?ticas4 reunimos galerias de $uadros! e estudamos minuciosamente as diversas escolas de arte! e tantas e tais são as sinfonias e as Aperas! $ue Eá nos é dif?cil recordálas; mas $ue acrescentamos a nossas lendas populares! a nossos contos e a nossas cançHes& ,ue $uadros demos ao povo& ,ue mBsica& +m 0iColsCoDa publicamse livros e fa%emse $uadros para o povo e em Tula! gaitas; as nem a$ui nem lá contribu?mos em nada" G mais chocante e mais evidente é a falsidade da tendência de nossa ciência e de nossas artes! especialmente nesses dom?nios em $ue! por seu obEetivo mesmo! ciência e artes parece $ue deveriam ser de utilidade ao povo! e em $ue! por efeito de sua falsa tendência! se mostram mais preEudiciais $ue Bteis" G engenheiro! o médico! o professor! o pintor! o escritor! por sua prApria especialidade! parece $ue deveriam servir ao povo; mas em $ue& .raças @ tendência atual! unicamente podem causarlhe preEu?%os" G engenheiro e o mecânico necessitam do capital para trabalhar" -em capital nada podem fa%er" -eus conhecimentos são de tal ?ndole $ue! para aplicálos! lhes é necessário capital! em grandes $uantidades! e a e2ploração do trabalhador! e isso sem contar $ue eles estão acostumados a gastar de mil e $uinhentos a dois mil rublos ao ano! pelo menos! e $ue não podem ir! por conseguinte! a u povoado onde ninguém tem meios para remunerálos desse modo4 a nature%a mesma de sua ciência os fa% imposs?veis de servir ao povo" G engenheiro pode determinar por cálculos matemáticos o arco de uma
ponte; calcular a potência de um motor! etc"; mas! ante as simples necessidades do trabalhador! encontrase @s escuras" =omo melhorar as condiçHes do arado e da carreta& =omo atravessar um arroio& Tudo isso corresponde @s condiçHes de e2istência do trabalhador! e de tudo isso o engenheiro não entende uma palavra! nem o compreende se$uer4 o Bltimo muEi$ue sabe mais $ue ele de semelhantes coisas" 1êlhe ocinas com muitos operários! faça vir má$uinas do estrangeiro! e então ele dará instruçHes; mas! dadas as condiçHes de um trabalho comum a milhHes de pessoas! encontrar os meio de facilitar o trabalho! isso não sabe nem pode sabêlo! por$ue seus estudos! seus costumes e suas necessidades o separam de tal missão" 'ior ainda é a situação do médico" Toda sua ciência está combinada de modo $ue não possa tratar senão @s pessoas $ue não fa%em nada" 0ecessita de um nBmero considerável de coisas caras! de instrumentos! de medicamentos! de condiçHes higiênicas" +studou com os eminentes professores da capital! cuEos clientes podem cuidarse na cl?nica ou ad$uirir as má$uinas necessárias para servir se delas em sua casa4 podem trocar em $ual$uer momento o dia pela noite! ou ir a tal ou $ual estabelecimento balneário" -ua ciência é tal! $ue $ual$uer médico de distrito se $uei2a da carência de recursos para atender o povo trabalhador! demasiado pobre para assegurar ao doente condiçHes higiênicas; e esse mesmo médico declara com sentimento $ue carece de hospitais e $ue não pode obter bons resultados! escasso como está de prossionais" + $ue prova tudo isso& 'rova $ue a maior desgraça do povo! no $ue se engendram! propagam e perpetuam as enfermidades! é a falta de recursos necessários @ vida" + eis a$ui como a ciência! sob a bandeira da divisão do trabalho! chama seus combatentes em socorro do povo" # ciência médica concentrou todos seus esforços nas classes ricas4 se impQs como tarefa assistir @s pessoas $ue podem ad$uirir tudo! e pretende cuidar! pelos mesmos meios! das $ue carece de tudo; mas faltam os recursos e de onde tomálos& 1o povo $ue está doente! contaminado e e2austo" + os defensores da medicina popular vão di%endo $ue o desenvolvimento do mal é menor agora" > evidente $ue se desenvolve menos por$ue se! 1eus me livre $ue aconteça! houvesse vinte médicos! parteiras e prossionais por distrito! como eles $uerem! em ve% de dois! a metade do distrito sucumbiria sob o peso do corpo médico $ue teria $ue sustentar! e logo não restaria ninguém a atender" # adaptação da ciência ao povo! de $ue falam os defensores da$uela! há de vericarse de uma maneira muito distinta! e essa adaptação! tal como deve ser! não começou ainda4 começará $uando o homem da ciência! engenheiro ou médico! cesse de considerar leg?timo e2igir por seus honorários! não Eá centenas de milhares de rublos! mas mil ou $uinhentos rublos; $uando viva em meio dos trabalhadores! nas mesmas condiçHes de e2istência $ue estes e apli$ue seu saber @s $uestHes de mecânica! higiene e medicina populares" *as hoEe a ciência! $ue se nutre @ custa do povo trabalhador! es$ueceu por completo as condiçHes de e2istência desse povo ou as
ignora! e se irrita ao ver $ue seus conhecimentos especulativos não têm aplicação no povo" G dom?nio da medicina! como o da higiene! se encontra ainda ine2plorado" #s $uestHes relativas @ melhor maneira de vestir! de calçar! de resistir @ umidade! ao frio! de lavarse! de alimentar as crianças e de embrulhálos ou envolvêlos! etc"! conforme as condiçHes de e2istência do povo trabalhador! ainda não foram levantadas nem resolvidas" G mesmo sucede com a pedagogia" oEe! como antes! a ciência arranEou as coisas de maneira $ue não possam ad$uirir instrução mais $ue os ricos! e $ue o professor! como o engenheiro e como o médico! 2ase involuntariamente no dinheiro" + não pode ser de outro modo! por$ue uma escola modelo (pela regra geral! $uanto melhor organi%ada para ensinar está uma escola! mais cara resulta! com bancos aparafusados! esferas estéreis! mapas! biblioteca! métodos para os disc?pulos! professores e estagiários! e2ige tal gasto! $ue para fa%er frente a isso seria necessário duplicar os impostos" )sso é o $ue a ciência pede" G povo tem necessidade de dinheiro para atender a seus trabalhos! e tanto mais o necessita $uanto mais pobre é" 1i%em os defensores da ciência4 F # pedagogia Eá presta grandes serviços ao povo e com o tempo se desenvolverá e os prestará melhores" -im; e $uando se desenvolver e em ve% de vinte escolas por distrito houver cem! todas elas cient?cas! e o povo tiver $ue pagálas! se empobrecerá mais ainda! e necessitará ainda mais do trabalho de seus lhos" F ,ue fa%er então& F perguntam" G governo fundará escolas; decretará o ensino obrigatArio como na +uropa; mas os recursos os terá $ue facilitar o povo! como em todas as partes; e o povo sofrerá cada ve% mais! e descansará menos! e a instrução forçada não será verdadeira instrução" á um verdadeiro caminho de salvação4 $ue o professor viva nas mesmas condiçHes $ue o trabalhador e ensine em troca da retribuição $ue se lhe dê livre e espontaneamente X Tal é a tendência falsa da ciência $ue a desvia de sua missão! $ue consiste em servir ao povo" *as essa falsa tendência não se evidencia em nada tão visivelmente como na atividade da arte $ue! por sua ?ndole! deveria ser acess?vel para o povo" # ciência pode invocar ainda a desculpa estBpida de $ue trabalha para si mesma e $ue! $uando os sábios a desenvolverem! se fará acess?vel ao povo; mas a arte deve ser acess?vel para todos! e mais ainda para a$ueles em cuEo nome se e2erce" + nossa arte! tal como é! acusa gravemente seus adeptos de $ue não sabem! nem podem! nem $uerem servir ao povo" G pintor! para a e2ecução de suas grandes obras! tem necessidade de um estBdio ou ocina em $ue caberiam $uarenta sapateiros ou
carpinteiros! comodamente! en$uanto $ue hoEe o fa%em em porHes ruins! gelados de frio ou sufocados de calor" *as isso não é tudo4 necessita do au2?lio da nature%a! da indumentária e das viagens" 1esperdiçamse milhHes para dar impulso @s artes! e os produtos dessas artes não são acess?veis nem necessários ao povo" Gs mBsicos! para e2pressar suas grandes ideias! necessita reunir du%entos homens esmeradamente vestidos e usando gravatas brancas! e o vestuário e os adereços de uma Apera custam centenas de milhares de rublos" + as produçHes desta arte não podem provocar no povo! supondo $ue alguma ve% consiga desfrutar delas! mais $ue in$uietude e incQmodo" Gs escritores e os autores parecem $ue não deveriam necessitar nem de ocinas nem da nature%a! nem de or$uestra nem de cantores; mas o escritor! o autor! aparte de um local confortável e das del?cias da vida! necessita para a e2ecução de suas grandes obras fa%er viagens! ver palácios! estudar gabinetes! fre$uentar bibliotecas! go%ar da arte! fa%er visitas! assistir a teatros e a concertos! tomar banhos! etc"! etc" -e não ganham por si mesmos o dinheiro necessário para atender a seus gastos! são patrocinados para $ue escrevam melhorar" + logo! essas obras $ue resultam tão caras! semeiam a fome entre o povo e não lhe servem para nada" *as $ue sucederia se! como di%em os amigos das ciências e das artes! se multiplicassem os produtores do alimento espiritual e fosse necessários criar em cada povoado ocinas! organi%ar or$uestras! manter os escritores nas condiçHes de e2istência $ue os adeptos da arte Eulgam necessárias& =reio $ue os trabalhadores prescindiriam logo e para sempre das sinfonias! dos versos e das novelas! a m de não ter $ue manter tantos ociosos" + depois de tudo! $ue necessidade tem os povos de semelhantes artistas& 0ão há isbá $ue não tenha suas esculturas e suas imagens4 não há muEi$ue nem mulher $ue não cante4 muitos possuem uma gaita4 todos contam histArias e recitam versos! e a maior parte lê" =omo! pois! se estabeleceu tal desacordo entre duas coisas feitas uma para a outra! tão complementares como a fechadura para a chave! e $ue não se veEa a possibilidade de unilas& 1iga a um pintor $ue pinte $uadros de cinco cope$ues! prescindindo de ter estBdio! nem indumentária! nem contemplar a nature%a! e lhe responderá $ue prefere renunciar @ arte! tal como ele a compreende" 1iga ao poeta e ao escritor $ue prescindam de compor poemas e de escrever novelas e $ue se dedi$ue a colecionar cantos populares! lendas e contos acess?veis @s pessoas incultas! e lhe responderão $ue estás louco" G povo se utili%ará das ciências e das artes $uando os homens de ciência e os artistas! vivendo entre o povo e como o povo! sem reivindicar direito algum! oferecerem ao povo seus serviços! e $uando depender da vontade do povo remunerálos ou não" 1i%se $ue a atividade das ciências e das artes contribuiu ao progresso da humanidade! entendendo por atividade o $ue hoEe assim se denomina! o $ue é como di%er $ue a agitação desordenada $ue impede a marcha de um navio em direção determinada
contribuiu ao movimento desse navio; $uando não fa% outra coisa $ue preEudicálo" # divisão do trabalho! $ue chegou a ser na época atual a condição da atividade da ciência e da arte! foi e segue sendo a causa principal da lentidão com $ue progride a humanidade" # prova disso é $ue todos os partidários da ciência reconhecem $ue os benef?cios $ue esta e as artes produ%em não são acess?veis @s massas trabalhadoras por efeito da má distribuição das ri$ue%as" # irregularidade desta distribuição! longe de atenuarse @ medida $ue as ciências e as artes aumentam! vai se agravando mais" Tais partidários afetam sentir e lamentar vivamente essa desgraçada circunstância! independente de sua vontade; mas essa circunstância desgraçada foi provocada por eles! por$ue a irregularidade na distribuição das ri$ue%as não reconhece outra origem $ue a teoria da distribuição do trabalho! preconi%ada pelos partidários da ciência e da arte" # ciência proclama a divisão do trabalho como lei imutável4 vê $ue a distribuição das ri$ue%as! $ue descansa na distribuição do trabalho! é inEusta e até funesta! e arma $ue sua atividade! $ue proclama a referida divisão! condu%irá os homens @ felicidade" -eguese disso $ue uns usurpam o trabalho dos outros; as $ue! se o usurparem por muito mais tempo e em proporçHes mais consideráveis! cessará essa inEusta distribuição de ri$ue%as! ou o $ue é o mesmo! a usurpação do trabalho alheio" )maginemos ver alguns homens colocados Eunto a um manancial cuEa Puide% cresce sem cessar! dedicados a impedir $ue se apro2imem dele os $ue sentem sede! di%endolhes $ue são eles $ue produ%em a$uela água e $ue logo cará estagnada em $uantidade suciente para $ue todo mundo beba! e imaginemos $ue a água corre e corre incessantemente sem deterse nem estagnarse saciando a sede de toda a humanidade" G $ue ocorre é $ue a água não se produ% pela atividade dos homens $ue rodeiam o manancial! como eles asseguram! mas $ue corre e se espalha ao longe! a pesar do esforço da$ueles homens em deter seu curso" -empre e2istiram uma ciência e uma arte verdadeiros! e foram verdadeiros não por$ue assim se intitularam! #os $ue pretendem ser representantes da ciência e da arte em um época determinada! parece $ue reali%aram! reali%a e! sobretudo! $ue reali%arão logo! no ato mesmo! coisas admiráveis! milagrosas! e $ue antes deles não e2istiam nem a ciência nem a arte" #ssim ocorreu com os sostas! com os escolásticos! com os al$uimistas! com os cabalistas! com os talmudistas! e assim ocorre hoEe com os partidários da ciência pela ciência e da arte pela arte" X) F *as a ciênciaN # arteN""" 0egas a ciência e a arte& ,uer di%er $ue negas a$uilo pelo $ue vive a humanidade& Tal é sempre! não a réplica! mas o subterfBgio de $ue se valem para rechaçar meus argumentos sem e2aminálos"
F 0ega a ciênciaN 0ega a arteN ,uer retroceder os homens ao estado selvagemN 'ara $ue! pois! discutir com ele& )sso é inEusto" 0ão apenas não nego a ciência nem nego a arte! mas é em nome da verdadeira ciência e da verdadeira arte $ue digo o $ue digo" + o $ue digo! o digo unicamente para fa%er poss?vel @ humanidade sua sa?da desse estado selvagem em $ue lhe Eoga a falsa ciência de nossos tempos" # ciência e a arte são tão necessárias aos homens! e talve% ainda mais necessários! $ue o comer! o beber e o vestir; e tão necessários são! não por$ue tenhamos decidido $ue o seEam! mas por$ue o são realmente" -e presenteassem os homens com feno para saciar seu apetite animal! o rechaçariam! por mais $ue lhes dissessem $ue a$uele era o alimento $ue necessitavam! e inBtil seria $ue lhes dissessem4 F 'or $ue não comes feno! ao passo $ue este é o alimento $ue te fa% falta& G alimento é necessário! mas pode ocorrer $ue o $ue se oferece ao homem não seEa tal alimento" + isso é precisamente o $ue ocorre com nossa ciência e com nossa arte" 'arecenos $ue se acrescentamos a uma palavra grega as terminaçHes logia ou graa! e a isso chamamos ciência! será ciência! de fato! e $ue se a $ual$uer coisa obscena! como a uma dança de mulheres nuas! damos por denominação uma palavra grega coreograa! e di%emos $ue isso é a arte! arte há de ser precisamente; mas! por mais $ue digamos $ue contar os insetos!analisar a composição $u?mica das estrelas da via láctea! pintar as ninfas das águas e os $uadros de histAria e escrever novelas e sinfonias constitua a ciência e a arte! não o será en$uanto $ue como tal ciência e tal arte não o Eulguem e acolham a$ueles para $uem o %emos! e até hoEe não o acolherem de maneira alguma" -e somente a uns estivesse permitido produ%ir os alimentos e proibido a todos os demais! ou estes se veriam na absoluta impossibilidade de produ%ilos! imagino $ue se rebai2aria a classe e a condição dos alimentos! e $ue se o monopAlio deles residisse nos aldeHes russos! não haveria para o consumo da humanidade mais o pão preto! a sopa de couve e o Cvas! $ue é o $ue mais fre$uentemente comem e do $ue mais gostam" + o mesmo sucederia com a atividade humana superior das ciências e das artes! se o monopAlio estivesse reservado a uma sA classe; mas com uma diferença4 o alimento corporal não pode ser muito desnaturali%ado4 o pão e a sopa! embora não seEam alimento delicado! se comem sem diculdade; en$uanto $ue o alimento espiritual pode ser desnaturali%ado em grande escala" á $ue possa digerir durante muito tempo alimentos espirituais inBteis! indigestos e até venenosos; há até $uem possa into2icarse com o Apio e com o álcool intelectuais! e esse é o alimento $ue oferecem @s massas" -im! isso é o $ue sucedeu entre nAs; e sucedeu por$ue a situação dos partidários da ciência e da arte em nosso tempo e em nosso tempo é privilegiada! e por$ue a ciência e a arte representam! não a total atividade intelectual de toda a humanidade consagrando suas
melhores forças @ ciência e @ arte! mas a atividade de um pe$ueno grupo de pessoas $ue fe% disso um monopAlio e $ue se chamam os iniciados na ciência e na arte! cuEa noção desnaturali%am e $ue! havendo perdido o sentimento de sua missão! se ocupam unicamente em arrancar de seu penoso incQmodo o pe$ueno c?rculo de ociosos em cuEo centro vivem" X)) Gs homens compreendiam sempre a ciência em seu sentido mais simples e mais amplo" # ciência! $uer di%er! o conEunto de todos os conhecimentos ad$uiridos pela humanidade! e2istiu e e2iste sempre! e sem ela a vida é imposs?vel" +ssa ciência Eá não é poss?vel atacála nem defendêla" *as é tão variado o dom?nio da ciência geral da linhagem humana! desde a arte de e2plorar uma mina de ferro até o conhecimento de como se movem os astros! $ue o homem se perde! como num labirinto! nessa multiplicidade de conhecimentos atuais e em sua innidade! se não tem um o condutor $ue lhe permita coordenálos e classicálos! segundo o grau de sua importância e signicado" #ntes de começar a estudar $ual$uer coisa! deve decidir se o obEeto de seu estudo é de importância para ele! mais importante e mais necessário $ue os outros obEetos de estudo inumeráveis de $ue está rodeado" #ntes de estudar um obEeto! deve! pois! decidir por $ue estudará a$uele e não outros; mas estudálos todos! com os partidários da losoa cient?ca proclamam em nosso tempo! sem considerar o $ue resultará da$uele estudo! é coisa absolutamente imposs?vel! por$ue o nBmero de obEetos para estudar é innito! e alguns dos obEetos $ue estudássemos não teriam nenhuma importância nem signicado algum" 'or isso nos antigos tempos! e ainda nos modernos até a aparição da losoa cient?ca! a sabedoria superior da humanidade consistia em encontrar o o condutor $ue permitisse coordenar as ciências e determinar as $ue eram de primeira importância e as $ue não tinham senão uma importância secundária" + esta ciência! reguladora de todas as outras! foi chamada por todos a ciência por e2celência" Tal ciência e2istiu sempre! antes de nossa época! nas sociedades humanas desprendidas da barbárie primitiva" 1esde $ue o mundo e2iste apareceram sábios em todos os povos $ue elaboravam a ciência por e2celência! a ciência de saber o $ue mais importa ao homem conhecer" +sta ciência tinha sempre por obEetivo determinar o destino! e portanto! o verdadeiro bem de cada um em particular e de todos em geral" +sta era a ciência $ue servia de o condutor para estabelecer a importância respectiva de todas as demais; era a ciência de =onfBcio! de Suda! de -Acrates! de *aomé e de outros; a ciência como a compreendia e a compreende todo o mundo! e2ceto nosso c?rculo dos chamados sábios" 0ão sA esta ciência havia ocupado o primeiro lugar! mas era a Bnica $ue determinava a importância de todas as outras! e o ocupava! não por$ue os sacerdotes falaciosos! mestre em tal ciência! lhe atribu?ssem tal signicado! como creem os pretendidos sábios de nosso tempo! mas
por$ue efetivamente! como podem todos reconhecêlo pela e2periência interior e pelo racioc?nio! sem a ciência do destina e do verdadeiro bem do homem! não pode e2istir nenhuma outra! por ser innito o nBmero dos obEetos suscet?veis de estudo (grifo a palavra innito tomandoa em seu sentido prAprio -em esta ciência é imposs?vel fa%er uma escolha acertada! e todas as demais ciências e todas as artes se convertem! como se converteram entre nAs! numa diversão preEudicial e ociosa" # humanidade! desde sua origem! viveu com a ciência do destino e do verdadeiro bem dos homens" Ierdade é $ue! para um observador supercial esta ciência do verdadeiro bem parece diferente entre os budistas! brâmanes! Eudeus! cristãos! confucianos e muçulmanos; mas onde $ueira $ue veEamos os homens sacudir seu estado selvagem! ali encontraremos essa ciência" *as eis a$ui $ue de repente surgem em nossos dias homens $ue asseguram e estabelecem $ue a$uela ciência! reguladora até a$ui de todas as ciências humanas! obstrui tudo" Tratase de construir um edif?cio4 um ar$uiteto apresenta o primeiro plano! outro ar$uiteto um segundo plano e outro! igualmente! um terceiro" Gs três planos coincidem no essencial e sA se diferenciam em algum detalhe; assim é $ue! na opinião de todos! o edif?cio cará solidamente edicado! observando em sua e2ecução $ual$uer dos três planos apresentados" *as eis a$ui $ue chegam pessoas $ue asseguram $ue o essencial para a construção é prescindir de planos e $ue se edi$ue assim! num relance; e este assim chamam de losoa cient?ca! a mais e2ata" 0egam toda a ciência ao negar a averiguação do destino e do verdadeiro bem dos homens; e a esta negação da ciência dão o nome de ciência" # humanidade produ%iu! desde $ue e2iste! grandes talentos! $ue! @s voltas com as e2igências da ra%ão e da consciência! se perguntaram4 F +m $ue consiste o bem! o destino e o bem! não unicamente o meu! mas o de cada homem& ,ue $uer de mim a força $ue me gerou e $ue me impulsiona! e $ue $uer de cada um dos outros& ,ue devo fa%er para completar os deveres $ue me impHe o interesse particular e o interesse geral&""" +u sou um todo F disseram F e uma part?cula de algo imenso! innito" ,uais são minhas concomitâncias com as part?culas semelhantes a mim! $ue são os demais homens! e com o todo! $ue é o mundo& + atentos @ vo% de sua consciência e de sua ra%ão como aos descobrimentos feitos por seus antecessores e seus contemporâneos! $ue se haviam formulado as mesmas perguntas! a$ueles grandes talentos dedu%iram doutrinas simples! claras! acess?veis a todos e eminentemente práticas" +sses homens se encontram em todas as linhas! desde a primeira até a Bltima; de tais homens o mundo está cheio" Todo a$uele $ue vive se pergunta como poderá conciliar sua aspiração @ vida individual com a consciência e a ra%ão4 e por meio desse trabalho comum se elaboram com lentidão! mas sem interrupção! novas formas de vida mais e harmonia com as e2igências da ra%ão e da consciência"
X))) -urge logo uma nova casta de homens $ue di%em4 F Tudo isso são bobagens" á $ue dei2ar de lado tudo isso" )sso é o método dedutivo do entendimento (ninguém pode compreender ainda em $ue consiste a diferença entre a dedução e a indução" +ssas são as fArmulas do per?odo teolAgico e metaf?sico" Tudo o $ue os homens descobriram pelo caminho da e2periência interior; o $ue se transmitiram uns aos outros a respeito da lei de sua vida (de sua atividade funcional! como di%em em seu Eargão! tudo o $ue desde o começo do mundo %eram por esse caminho os grandes esp?ritos da humanidade! tudo são bobagens sem importância alguma" 1esta nova doutrina resulta o seguinte4 >s uma célula! mas! como vês! ao meso tempo $ue célula! és uma atividade funcional rigorosamente determinada $ue não somente observas! mas $ue sentes em vosso interior4 és uma célula pensante e inteligente e! portanto! podes perguntar a outra célula falante se sente também o mesmo $ue sentes e conrmar desse modo! uma ve% mais! vossa e2periência; podes aproveitar ou utili%ar o $ue as células falantes $ue e2istiram antes de ti elaboraram sobre o mesmo ponto! e tens milhHes de células cuEa conformidade com as células $ue registraram por escrito seus pensamentos conrma tuas observaçHes; mas tudo isso não tem importância alguma; tudo isso procede de um método falso e mal?ssimo" + eis a$ui! agora! $ual é o método cient?co! o Bnico verdadeiro4 -e $ueres conhecer vosso destino e vosso verdadeiro bem! o destino e o verdadeiro bem da humanidade em geral e de cada homem em particular! deves! antes de tudo! dei2ar de escutar a vo% e as e2igências da consciência e da ra%ão $ue se manifestam em ti e em cada um de teus semelhantes4 deves dei2ar de crer em tudo o $ue di%em os grandes mestres da humanidade acerca da ra%ão e da consciência! considerar tudo isso como bobagens e começar de novo" e! para compreender tudo! deves e2aminar com o microscApio os movimentos dos micrAbios e das células nos vermes! ou o $ue é mais simples! crer no $ue digam acerca disso os adeptos! providos de uma patente de infalibilidade" + observando os movimentos desses micrAbios e dessas células! ou lendo o $ue outros observaram! atribuirás a essas células sentimentos humanos; determinarás logo o $ue deseEam; para onde correm; $uais são seus costumes! e dessas observaçHes ( das $ue cada palavra contém um erro de e2pressão ou de pensamento dedu%irás! por analogia! o $ue és e $ual é teu destino e em $ue consiste teu verdadeiro bem! e o mesmo a respeito das células semelhantes @ tua" 'ara conhecêlos! deves estudar! não somente o verme $ue vês! mas as substâncias microscApicas $ue apenas distinguis! e as transformaçHes sucessivas dos seres $ue ninguém nunca viu e $ue tu certamente não verás Eamais" G mesmo ocorre com a arte" # arteN""" Gnde está a verdadeira ciência! está sempre sua e2pressão"
Gs homens viam! desde $ue e2istem! na e2pressão das diferentes ciências a principal e2pressão do destino e do verdadeiro bem do homem! e a e2pressão desta ciência era a arte no sentido estrito da palavra" 1esde $ue o mundo e2iste! houve sempre nature%as vibrantes! apai2onada pelo problema da felicidade e do destino do homem! $ue e2pressaram nos salmos ou na lira! pela palavra ou pela imagem! sua luta e a luta humana contra as mentiras $ue os desviavam de sua verdadeira missão! e e2pressara seus sofrimentos nessa luta e suas esperanças no triunfo do bem! e seus desesperos $uando o mal triunfava! e seu ê2tase ao sentir iminente a vitAria denitiva do bem" 1esde $ue os homens e2istem! a verdadeira arte! altamente apreciada por eles! não era outra coisa $ue a e2pressão da ciência do destino e do verdadeiro bem do homem! -empre! até estes Bltimos tempos! a arte se consagrava ao estudo da vida e então era apreciada pelos homens! acima de tudo" *as ao mesmo tempo em $ue a ciência verdadeira do destino e do verdadeiro bem era substitu?da pela ciência de tudo o $ue se $uiser! a arte desaparecia com a$uela! por$ue é uma parte da atividade humana" # arte e2istiu em todos os povos e e2istirá en$uanto $ue o $ue chamamos de religião seEa olhado como a ciência Bnica" +m nosso mundo europeu! a arte se refugiou na igreEa! e foi a arte verdadeira en$uanto esta representou a ciência do destino e do verdadeiro bem e sua doutrina foi considerada como a ciência verdadeira; mas! desde $ue a arte saiu da )greEa para dedicarse @ ciência e $ue a ciência se dedicou a $ual$uer coisa! a arte perdeu toda sua importância! e apesar de seus direitos testemunhados por sua antiga glAria e da absurda armação da arte pela arte! $ue unicamente prova $ue perdemos o sentimento de sua missão! a arte se converteu em um of?cio $ue proporciona @s pessoas sensaçHes agradáveis! e $ue se confunde fatalmente com as artes coreográca! culinária! capilar e outras! cuEos adeptos se chamam artistas! com o mesmo t?tulo $ue os poetas! os pintores e os mBsicos de nosso tempo" -e olhares atrás de ti! verás num per?odo de milhares de anos e na massa de milhares de milhHes de pessoas $ue viveram! emergir algumas de%enas escassas de =onfucios! de Sudas! de -Alons! de -Acrates! de -alomHes! de -ênecas e de omeros" Ierdade é $ue houve poucos deles entre os homens! mesmo assim a humanidade inteira! e não uma sA casta! contribuiu em formar a$ueles verdadeiros sábios e verdadeiros artistas! produtores do pasto espiritual" 0ão em vão a humanidade os estimou tanto! e os segue estimando ainda" *as hoEe se di%! segundo os $ue o di%em! $ue todos a$ueles grandes mestres antigos da ciência e da arte não são mais necessários" oEe! os mestres da ciência e da arte cabe fabricálos em virtude da lei da divisão do trabalho! e fabricamos em de% anos mais $ue os $ue nasceram entre os homens desde o princ?pio do mundo" oEe temos a corporação dos sábios e dos artistas! $ue nos prepara! seguindo um procedimento aperfeiçoado! todo o posto espiritual $ue a humanidade necessita! e essa corporação o prepara em tão grande $uantidade!
$ue Eá não temos necessidade de invocar os antecessores antecessores antigos nem modernos" á $ue varrer de nossa inteligência e de nossa memAria a atividade do per?odo teolAgico e metaf?sico4 a atividade verdadeira e racional deu @ lu% fará uns cin$uenta anos! e durante esses cin$uenta anos fabricamos tantos homens grandes! $ue se contam pelo menos de% por cada ciência! e criamos tantas ciências (verdade é $ue as criaram! como dissemos! com grande facilidade acrescentando acrescentando @ uma palavra grega as terminaçHes logia ou graa e dando @ palavra composta o t?tulo de ciência! criamos tantas ciências! $ue não sA é imposs?vel i mposs?vel a um homem conhecêlas! mas $ue até lhe é imposs?vel reter na memAria a nomenclatura das e2istentes! pois bastaria para formar! por si sA! um grande dicionário! não obstante o $ual! seguem criandose todos os dias ciências novas" 0ossos chamados sábios %eram o mesmo $ue a$uele professor nlandês $ue ensinava @s crianças a l?ngua da 3inlândia em ve% da francesa" +nsinavaa perfeitamente; mas! por desgraça! e2ceto eu! ninguém a compreendia e todos disseram $ue a$uilo eram inBteis bobagens" )sso! por outro lado! pode e2plicarse também deste modo4 -e os homens não compreendem toda a utilidade da losoa cient?ca! é por$ue ainda se encontram sob a inPuência do per?odo teolAgico! da$uele per?odo pretérito em $ue o povo inteiro! o mesmo entre os Eudeus $ue entre entre os chineses! o mesmo entre os indianos indianos $ue entre os gregos! compreendiam tudo $uanto lhes di%iam seus grandes mestres" *as! $uais$uer $ue fosse as causas! o fato é $ue as ciências e as artes e2istiram sempre! e $ue en$uanto verdadeiramente e2istiram! foram necessárias e acess?veis a todos os homens" 0As produ%imos algo a $ue damos o nome de ciências e de artes! mas resulta $ue esse algo $ue produ%imos não é necessário nem acess?vel aos homens! e da? $ue! por ais lindas $ue seEa as coisas $ue produ%imos! não temos o direito de darlhes o nome de ciências e de artes" X)I F *as isso $ue fa%es me dirão não é mais $ue dar outra denição mais restrita da ciência e da arte! denição em desacordo com a ciência4 a atividade cient?ca e art?stica foi sempre a mesma e segue sendo a mesma $ue tiveram os .alileus! os omeros! os Srunos! os *ichelangelos! os Seethovens e todos os sábios e artistas de igual ou de menor cultura $ue sacricaram sua vida @ ciência e @ arte e $ue foram e seguem sendo os benfeitores da humanidade" +is a$ui o $ue se di% e se redi%! tratando de es$uecer o novo princ?pio em $ue se apoia a ciência e a arte para reivindicar hoEe uma situação privilegiada! e o $ue nos permite pe rmite decidir! com provas e em escala certa! se a atividade $ue toma o nome de ciência e de arte tem ou não o direito de orgulharse assim" ,uando os sacerdotes do +gito ou da .récia elaboravam seus mistérios! ignorados pela multidão! e di%iam $ue a$ueles mistérios continham em si toda a ciência e toda a arte! eu não teria podido
comprovar! por seus serviços prestados ao povo! a verdade de sua ciência! da$uela ciência $ue se apoiava! segundo eles di%iam! no sobrenatural; sobrenatural; mas hoEe temos uma denição muito precisa e muito clara da atividade da ciência e da arte! denição $ue e2clui todo o sobrenatural4 sobrenatural4 a ciência e a arte serve para consagrar a atividade do cérebro cérebro da humanidade ao serviço da sociedade ou da humanidade em sua totalidade" +sta denição da ciência e da arte pela doutrina nova é absolutamente Eusta; mas! desgraçadamente! a atividade das ciências ciênc ias e das artes atuais não combina com ela" /ns produ%em coisas nocivas; os outros! coisas inBteis! e os demais! coisas indiferentes $ue não convêm mais $ue aos ricos" 0ão abriga os propAsitos registrados registrados em sua denição! e têm! portanto! tão pouco direito a considerarse considerarse os representantes representantes da ciência e da arte! como um clérigo pervertido! $ue não cumprisse os deveres por ele assumidos! teria em considerarse considerarse como o depositário da verdade divina" + é evidente a causa pela $ual os atuais partidários da ciência e da arte não reali%aram nem podem reali%ar sua missão4 não a reali%am! por$ue converteram em direitos seus deveres" # atividade cient?ca e art?stica! no verdadeiro sentido da palavra! é unicamente fecunda $uando se reconhece tão somente deveres e não direitos" -omente por ser assim e por$ue tal é sua nature%a! a humanidade estima em tão alto preço sua atividade" Gs seres $ue estiverem chamados a servir aos outros por meio de um trabalho espiritual não verão nesse trabalho mais $ue um dever! e o cumprirão apesar das diculdades! das privaçHes e dos sacrif?cios" G pensador e o pintor não devem pairar na serenidade das alturas ol?mpicas! como demos a crer4 o pensador e o pintor devem sofrer com os homens para salválos e para consolálos! e sofrem mais por$ue vivem em uma in$uietação! e uma agitação perpétuas4 poderiam descobrir e e2pressar o $ue desse aos homens a felicidade; o $ue os livrasse de seus sofrimentos; o $ue os consolasse; mas ainda não descobriram nada; não e2pressaram nada em tal sentido! e amanhã $uiçá seEa demasiado tarde! por$ue terão morrido" 'or isso serão sempre o sofrimento e o sacrif?cio o prêmio do pensador e do artista" G pensador e o pintor não serão os $ue! educados em um estabelecimento em $ue tem o encargo de formar o sábio ou o pintor (e no $ue! falando com propriedade! formam um destruidor da ciência ou da arte! recebam o diploma ou t?tulo de garantia! mas os $ue! sem haver $uerido pensar nisso nem e2pressar o $ue sentem em suas almas! não possam dei2ar de fa%êlo obrigados pela pressão de duas forças insuperáveis4 o impulso interior e a necessidade dos homens" 0ão há pensadores nem artistas bem alimentados! gordos! nem satisfeitos com si mesmos4 a atividade espiritual e sua e2pressão e2pressão realmente necessária aos outros! é a missão mais penosa do homem! a cru%! como se di% no +vangelho! e o sintoma Bnico! inevitável da vocação real! é a abnegação! o sacrif?cio de si mesmo para manifestar a força posta no homem $ue tem a missão de ser Btil a outros" 0ão se forma sem um grande esforço o fruto espiritual"
1ar a conhecer o nBmero de cochonilhas $ue há no mundo! e2aminar as manchas do sol! escrever novelas e Aperas! pode fa%erse sem sofrer; mas ensinar aos homens seu verdadeiro bem! renunciando por completo a si mesmo e sacricandose pelo prA2imo! não se pode fa%er sem grande abnegação" =risto não morreu em vão na cru%! nem os mártires sofrem e vão pelo triunfo de sua causa" *as nossa ciência e nossa arte estão garantidos! vencedores com diplomas e t?tulos e todos têm! igualmente! o cuidado de garantilos melhor fa%endoos cada ve% menos adaptáveis ao serviço dos homens" +2istem dos caracteres indubitáveis da verdadeira ciência e da verdadeira arte4 o primeiro! interior! é $ue o servidor da ciência e da arte cumpre seus deveres com abnegação e não por interesse; e o segundo! e2terior! é $ue a obra do servidor da ciência ou da arte seEa acess?vel a todos os homens cuEo bem tem presente" #li onde os homens colo$uem seu destino e seu verdadeiro verdadeiro bem! ali será a ciência o estudo desse destino e desse bem verdadeiro! verdadeiro! e a arte a e2pressão de tal estudo" G $ue entre nAs se chama de ciência e de arte é o produto p roduto de esp?ritos e de sentimentos ociosos $ue tem por obEetivo adular esp?ritos e sentimentos não menos ociosos; são ciência e arte incompreens?veis $ue nada di%em ao povo! por$ue não tiveram em consideração para nada o bem do povo" XI 'or mais $ue se remontem nossos conhecimentos sobre a vida da humanidade! encontramos sempre! e por todas as partes! uma doutrina dominante $ue toma o falso nome de ciência e $ue esconde dos homens o sentido da vida! em ve% de descobrilo" #ssim sucedeu entre os gregos com os sostas; logo aos cristãos com os m?sticos; aos gnAsticos com os escolásticos; aos Eudeus com os cabalistas e os talmudistas! e assim por todas as partes até nossos dias" ,ue felicidade mais especial a de viver numa época privilegiada na $ual esta atividade intelectual $ue se chama ciência não incorre incorre no erro! e se encontra! segundo asseguram! no caminho do verdadeiro progressoN progressoN 'rovirá! acaso! essa felicidade especial de $ue o home não pode nem $uer ver sua fragilidade& *as por $ue não cara mais $ue palavras de todas a$uelas ciências sostas! cabal?sticas e talmudistas! e nAs somos tão especialmente feli%es& Gs sintomas são os mesmos; igual satisfação de si prAprio! a mesma segurança cega de nAs; mas nAs! nAs estamos no caminho certo! e é para nAs! unicamente para nAs! para $uem começa o presente" *as esta e2pectativa em $ue estamos de algo e2traordinário $ue descobriremos descobriremos e breve! muito em breve! rasga o véu de nossos erro não menos $ue esse mesmo sintoma principal4 a sabedoria reside em nAs; a massa do povo não a compreende! compreende! não a aproveita! nem necessidade de compreendêla nem de aproveitála" 0ossa situação é muito grave; mas por $ue não olhála de frente&
Wá é tempo de $ue nos corriEamos e nos Eulguemos" 0ão somos mais $ue eruditos e fariseus $ue nos sentamos no trono de *oisés; $ue arrebatamos as chaves do reino dos céus! e $ue não $ueremos entrar neles nem dei2ar $ue os outros entrem" 0As! os sacerdotes da ciência e da arte! somos os piores embusteiros e temos menos direito @ nossa situação privilegiada $ue os sacerdotes mais trapaceiros e mais malvados! posto $ue nada a Eustica" Gs sacerdotes podiam aspirar @ sua situação; di%iam $ue ensinavam @s pessoas o caminho da vida e da salvação; mas nAs os substitu?mos e não ensinamos aos homens nem ainda o caminho da vida4 além disso! reconhecemos $ue não é necessários ensinarlhes nada4 a Bnica coisa $ue ensinamos a nossos lhos é nosso prAprio talmude! ou seEa! a gramática grecolatina! para $ue possa continuar por sua ve% esta mesma vida de parasitas $ue nAs levamos" 1i%emos agora4 F +2istiam castas e Eá não e2istem mais" *as $ue signicado tem essa armação sendo $ue uns trabalham e os outros não& 3aça vir um ?ndio ignorante de nossa l?ngua e façao ver a vida europeia e a nossa! e reconhecerá as duas castas principais $ue e2istem em seu pa?s! perfeitamente distintas4 a dos trabalhadores e a dos $ue não trabalham; e neste pa?s como no seu! o direito de não trabalhar! consagrado por um privilégio particular $ue denominamos de ciência e de arte! e! em geral! de instrução" + eis a$ui como essa instrução! com a atroa da ra%ão $ue é conse$uência dela! nos condu%iu a esta singular demência de esp?rito $ue fa% $ue não nos dei2a ver o $ue é tão claro e indubitável" XI) *as o $ue fa%er& ,ue é $ue devemos fa%er& +sta pergunta! $ue implica a conssão de $ue nossa vida é má e ileg?tima! e igualmente a desculpa de não podêla corrigir nunca! esta pergunta a ouvi e a ouço por todas as partes" egistrei meus sofrimentos! minhas investigaçHes! as respostas $ue me dei a essa pergunta" -ou um homem como os outros! e se por algo me distingo de outro homem ordinário de nosso c?rculo! é! em primeiro lugar! por$ue contribui mais $ue ele para formar a falsa doutrina de nosso mundo4 recebi mais elogios dos adeptos da doutrina dominante e por isso me perverti mais $ue os outros e segui o caminho errado" + por essa ra%ão espero $ue a solução do problema $ue encontrei para mim satisfaça a todos os homens sinceros $ue se %eram ou se fa%em a mesma pergunta" #ntes de tudo! @ pergunta \,ue fa%er&] me respondi4 0ão mentir aos outros nem a mim mesmo! e não temer a verdade onde $uer $ue ela me leve" Todos sabemos o $ue é mentir aos outros e não tememos mentirnos a nAs mesmos! sendo assim $ue a pior mentira! a mentira mais c?nica dita a outro não é nada! em suas conse$uências! comparada com a
mentira $ue se di% a si mesmo! posto $ue amoldamos a ela nossa vida" 1esta mentira há $ue guardarse muito para responder @ pergunta \,ue fa%er&] +! de fato! como responder a esta pergunta \,ue fa%er&] $uando tudo o $ue faço! $uando minha vida inteira reconhece por base a mentira! $uando eu apresento essa mentira! como se fosse a verdade! aos outros e a mim mesmo& 0ão mentir nesse sentido é não temer a verdade; é não imaginar nem acolher as fugas imaginadas pelos homens para ocultarse de si mesmo as obrigaçHes da ra%ão e da consciência; é não ter medo de romper com os $ue nos rodeiam! para permanecer el a essa consciência e a essa ra%ão; é não temer o estado a onde a verdade possa condu%ir! na convicção de $ue! por mais horroroso $ue esse estado seEa! não pode sêlo tanto como o $ue reconhece por base a mentira" 0ão mentir! para nAs! pessoas privilegiadas! trabalhadores do pensamento! é não temer a comprovação" Talve% seEa tão grande tua d?vida $ue não possas pagála; mas! por maior $ue seEa! tudo é prefer?vel a seguir sendo insolvente" 'or mais $ue tenhas avançado pelo mal caminho! tudo é prefer?vel a avançar por ele um paço mais" # mentira dita aos outros não dei2a de ser incQmoda" Tudo se resolve melhor e mais rápido pela verdade $ue pela mentira" # mentira dita aos outros confunde as coisas e atrasa sua solução; mas a mentira $ue se di% a si mesmo! transformada em verdade! perde nossa vida inteira" -e o homem! metido em mau caminho! o considera como o verdadeiro! cada passo $ue dá por ele o afasta de seu obEetivo; se esse homem! depois de ter avançado muito por tão falsa via! é avisado ou ouve di%er $ue está perdido! e se assusta de verse tão longe e trata de convencerse de $ue continuando por ela é poss?vel $ue chegue a encontrar o bom caminho! Eamais chegará encontrálo" -e o homem se desanima ante a verdade; se ao ver esta não a reconhece; se considera a mentira como a verdade! então Eamais saberá o $ue deve fa%er" 0As! os homens ricos! privilegiados e! segundo di%em! instru?dos! tão internados nos encontramos na falsa rota! $ue necessitamos! ou de muita audácia ou de sofrer muitos contratempos e desgostos nessa falsa rota para voltar a nAs mesmos e reconhecer a mentira em $ue vivemos" +u! graças aos sofrimentos $ue passei no falso caminho $ue seguia! reconheci a mentira de nossa vida! e ao reconhecer $ue ia e$uivocado! concebi a audácia de ir! ao princ?pio apenas com o pensamento! por onde me levaram a ra%ão e a consciência! sem considerar por onde me levariam; e obtive a recompensa de minha audácia" Todos os fenQmenos da vida! $ue me rodeavam! complicados! discordantes e confusos! se esclareceram subitamente! e minha situação! antes estranha e penosa! fe%se de repente natural e cQmoda" + Eá nessa nova situação! surgiu minha atividade sob sua verdadeira forma! não a de antigamente! mas uma atividade nova! muito mais
tran$uila! muito mais grata e alegre" G $ue antes e espantava! começou a atrairme" 'or isso creio $ue o $ue se perguntar sinceramente4 \,ue fa%er&] e ao responderse não se engane a si mesmo e vá aonde a ra%ão lhe leve! terá decidida a $uestão" =ontanto $ue não minta a si mesmo! saberá como! onde e $ue fa%er" XI)) /ma coisa $ue pode entorpecer a investigação é o falso orgulho e a alta opinião de si mesmo e de sua situação! e isso aconteceu comigo! e por isso a segunda resposta! derivada da primeira! @ pergunta V,ue fa%er&V consiste para mim em humilharme em toda a acepção da palavra! ou seEa! em apreciar de outra maneira diferente minha situação e minha atividade; em reconhecer em ve% da utilidade e da importância de minha atividade! seu perigo e sua fra$ue%a; em ve% de minha instrução! minha ignorância; em lugar de minha bondade e de minha moralidade! minha imoralidade e minha dure%a! e em ve% de minha grande%a! minha pe$uene%" 1igo $ue! além da obrigação de não me mentir necessitava humilhar me! por$ue embora uma coisa seEa derivação da outra! estava tão arraigada e mim a falsa ideia de minha grande%a! $ue até $ue eu não me humilhasse sinceramente! até $ue não rechaçasse tão falsa opinião de mim mesmo! não poderia ver bem toda a e2tensão da mentira em $ue vivia" /nicamente $uando me humilhei! $uando dei2ei de considerarme como um homem aparte e me vi igual a todos os homens! foi $uando vi claro o caminho" #té então não podia responder @ pergunta4 V,ue farei&V pergunta $ue! na verdade! não estava feita na devida forma" #ntes de humilharme! havia a formulado deste modo4 V,ue atividade escolher para mi! para um homem $ue recebeu a instrução e o ensino $ue eu recebi& =omo compensar! por meio dessa instrução e desse ensino! o $ue tomei e tomo do povo&V # pergunta estava mal feita! por$ue envolvia a falsa ideia de $ue eu não era um homem como os outros! mas um ser aparte! chamado a servir @s pessoas com minha instrução e meu talento! fruto de um prática de $uarenta anos" +u e fa%ia a pergunta! mas! no fundo! haviaa respondido previamente por$ue Eá tinha determinado o gênero de atividade $ue mais me agradava e mais me impelia a servir aos homens" 3alando com propriedade! me perguntava4 F =omo eu! tão bom escritor! $ue ad$uiri tantos conhecimentos cient?cos! hei de empregálos em interesse do povo& + veEa a$ui como deve fa%erse a pergunta! como se poderia fa%er a um rabino sábio $ue houvesse estudado o Talmude e houvesse aprendido o nome das letras de todos os livros santos e todos os detalhes de sua ciência4 veEa a$ui como eu deveria formulála! tanto para mim como para o rabino" F ,ue farei eu! $ue! por minha condição desgraçada! passei os melhores anos escolares estudando gramática! geograa! ciências Eur?dicas! retArica e prática! histAria! l?ngua francesa! sistemas losAcos! piano e e2erc?cios militares! em ve% de endurecerme na
fadiga; eu! $ue empreguei os melhores anos de minha vida em ocupaçHes ociosas e corrompidas& ,ue devo fa%er! apesar dessas desagradáveis condiçHes de meu passado! para li$uidar minha d?vida com essas pessoas $ue durante todo esse tempo me alimentaram e vestiram e $ue ainda seguem alimentandome e vestindome& -e! depois de humilhado! se me %esse a pergunta4 V,ue deve fa%er um homem tão pervertido&V a resposta seria fácil" F +sforçarme! antes de tudo! em sustentarme honradamente; $uer di%er4 aprender a não viver @ custa dos outros! e uma ve% aprendido! servir aos outros em toda ocasião com mãos! pés! cérebro e coração em tudo e por tudo o $ue os homens necessitem" 'or isso digo $ue além da obrigação de não mentirse a si mesmo nem mentir aos outros! o homem de nosso c?rculo necessita humilhar se! despoEarse do orgulho $ue despertam em nAs a instrução! a educação e o talento; reconhecerse! não como um benfeitor do povo! ou como o $ue se digna a compartilhar com o povo o tesouro de seus conhecimentos ad$uiridos! mas como um culpado! como um homem pervertido e inBtil $ue deseEa corrigirse e! sem fa%er o bem! dei2ar unicamente de afrontar e inEuriar" Guço com fre$uência Eovens $ue estão em desacordo com minha teoria di%erem4 F + $ue devo fa%er para ser Btil! agora $ue terminei meus estudos na /niversidade ou em outro estabelecimento& +sses Eovens perguntam! mas no fundo de suas almas sentem o orgulho $ue lhes causa a instrução $ue receberam e $ue deseEam servir ao povo com ela" 'or isso se guardarão muito de e2aminar sincera! honrada e escrupulosamente o $ue eles chamam de sua instrução! e de perguntarse se é boa ou se é má; mas! se o fa%em! a renegarão e voltarão a estudar de novo! $ue é o $ue necessitam" +sses Eovens não podem responder @ pergunta V,ue fa%er&V por$ue! para! eles! a pergunta deve fa%erse deste outro modo4 F =omo eu! abandonado e inBtil! $ue por minha desgraçada condição perdi os melhores anos de minha vida no estudo do talmude cient?co! estudo $ue perverte a alma e o corpo! como posso corrigir me de meu erro e fa%erme Btil aos homens& *as eis a$ui como eles a fa%em4 F =omo eu! $ue ad$uiri tantas ciências belas! me farei Btil aos homens por meio delas& 1a? $ue nenhum desses homens responderá Eamais @ pergunta V,ue fa%er&V en$uanto $ue não se tenha humilhado" + a penitência não é terr?vel como não o é a verdade! mas alegre e proveitosa" Sasta acolher sinceramente a verdade e humilharse com toda fran$ue%a! para compreender $ue não há ninguém $ue tenha nem possa ter no mundo e na vida direitos! vantagens nem caracteres distintos; $ue pelo contrário os deverem não têm nem m nem limites! e $ue o primeiro! o mais indubitável dever do homem! é o de sua participação na luta com nature%a em prA de sua vida e da vida dos outros" XI)))
+ este conhecimento do dever do homem é o $ue constitui o fundo da terceira resposta @ pergunta4 V,ue fa%er&V +u me esforçava em di%erme a verdade e em arrancar de eu coração os Bltimos vest?gios da falsa ideia $ue tinha da importância de minha instrução e de meu talento! humilhandome francamente; mas uma nova diculdade me impediu ainda de satisfa%er a pergunta4 V,ue fa%er&V 1evia fa%er tantas coisas diferentes! $ue necessitava de uma indicação sobre o $ue deveria fa%er com preferência ao resto! e essa indicação a encontrei no sincero arrependimento do mal em $ue vivia" V,ue fa%er! $ue fa%er mais especicamente&V )sso é o $ue todos perguntam e o $ue eu me perguntei também! até $ue me dei conta de $ue! não obstante a alta ideia $ue havia formado de minha missão! o primeiro e mais inilud?vel de meus deveres era o de alimentarme! vestirme! a$uecerme e abrigarme por mim mesmo! e então servir a meu prA2imo! por$ue desde a criação do mundo essa foi o primeiro e mais inilud?vel dever de todo homem" 1e fato! $ual$uer $ue seEa a missão $ue o homem se atribua4 governar um povo; defender seus compatriotas; celebrar o culto; ensinar os outros; inventar meios para fa%er a vida mais agradável; descobrir as leis do universo; encarnar as virtudes eternas nas formas da arte! etc"! o dever $ue se impHes a um homem racional de tomar parte na luta contra a nature%a para assegurar sua vida e a dos outros! será sempre o primeiro e o mais inilud?vel de seus deveres" +ste dever é o primeiro de todos por$ue nada é mais necessário $ue sua vida! e é preciso conservála para defender os outros homens! ensinarlhes e fa%erlhes mais doce a e2istência! en$uanto $ue meu afastamento da luta e minha usurpação do trabalho dos outros constitu?am um atentado mortal contra a vida alheia" 'or isso resulta insensata a pretensão de $uerer servir @ vida dos homens; e não é poss?vel di%er $ue eu presto serviço @ humanidade se com meu gênero de vida a preEudico ostensivamente" # luta contra a nature%a para con$uistar os meios de e2istência será sempre o primeiro e mais inilud?vel dos deveres do homem! por$ue esse dever é a mesma lei da vida cuEa violação arrasta atrás de si! como castigo inevitável! a destruição da vida! seEa corporal! seEa racional! do homem" ,uando este se emancipa do dever de lutar! vivendo sA! e seguida é castigado com a destruição de seu corpo4 $uando se emancipa dele obrigando os outros $ue ocupem seu posto! é castigado em seguida com a destruição de sua vida racional! $uer di%er! da vida $ue tem um sentido racional" 'elo contrário! o homem encontra no mero cumprimento desse dever uma satisfação completa das necessidades de sua nature%a! tanto corporais como espirituais4 se alimenta! se veste! cuida de si e dos seus! e isso lavra a satisfação de suas necessidades corporais4 alimentar! vestir e cuidar do prA2imo é o $ue lavra a satisfação de suas necessidades espirituais" 0ão é leg?tima nenhuma outra forma de atividade! Eá $ue não cumpre com a satisfação dessas necessidades! por$ue na satisfação delas reside toda a vida do homem"
Tão desnaturali%ado estava por minha vida passada e tão oculta anda pelo mundo esta primeira e indubitável lei de 1eus ou da nature%a! $ue a e2ecução dele me pareceu estranha! monstruosa! até vergonhosa inclusive! como se a e2ecução de uma lei eterna e indubitável pudesse ser estranha! inconceb?vel e vergonhosa! e não o fosse sua violação" 1esde logo supus $ue para reali%ar o obEetivo! era preciso um arranEo4 certa organi%ação; a associação de pessoas unanimemente penetradas das mesmas ideias; o consentimento da fam?lia! e a vida do campo4 então pensei $ue era vergonhoso e2ibirse ante o mundo fa%endo uma coisa tão incomum em nossa sociedade como o trabalho f?sico! e não sabia como lidar com isso" *as me bastou compreender $ue não era eu $uem devia dar a minha atividade uma forma determinada! mas $ue esta atividade era a chamada a tirarme da falsa situação em $ue me encontrava e levar me @ situação natural $ue deveria ocupar!e a chamada também a corrigir a mentira dentro da $ual eu vivia! e me bastou! repito! conhecer tudo isso! para $ue todas as diculdades se afastassem" 0ão tinha $ue pensar em arranEo algum! nem em prepararme! nem em obter o consentimento dos outros! por$ue! $ual$uer $ue fosse minha situação! haveria sempre pessoas obrigadas a alimentarse! a vestirse e a a$uecerse! e eu com elas! e por$ue em todas as partes e em todos os casos! eu poderia fa%êlo por mim mesmo para mim e para elas! contando com tempo e forças para reali%álo" ,uanto a sentir vergonha pela reali%ação de um trabalho tão incomum como singular aos olhos do mundo! não o temia! por$ue o $ue me causava vergonha era não havêlo feito ainda" X)X #o chegar a ter esta convicção e ao começar a obter o resultado prático da mesma! me vi plenamente recompensado de não haver retrocedido ante as conse$uências da ra%ão e de haverme dei2ado levar a onde elas me empurravam" #o chegar a tal resultado prático! me admirou a facilidade e simplicidade com $ue se iam resolvendo todas essas $uestHes $ue tão dif?ceis e complicadas me pareceram antes" M pergunta4 V,ue devo fa%er&V surgia a resposta mais natural e apropriada4 $ue! antes de tudo! devia preparar meus utens?lios de co%inha! meu fogão! a água $ue necessitasse! minhas roupas! tudo a$uilo $ue houvesse de necessário e eu pudesse preparar por mim mesmo" M pergunta4 VGs outros não acharão estranho $ue eu faça isso&V me respondi $ue a$uela estranhe%a lhes duraria uma semana! ao cabo da $ual o $ue lhes pareceria estranho seria $ue eu voltasse aos meus antigos costumes" -obre a pergunta4 V-erá preciso organi%ar algum trabalho f?sico ou fundar alguma sociedade em um povoado para o cultivo da terra&V me respondi $ue não havia necessidade de nada disso! por$ue se o trabalho tem por obEetivo satisfa%er necessidade e não ad$uirir
através dele os meios de viver ocioso e de usurpar o trabalho alheio ($ue é ao $ue tende o das pessoas $ue empilham dinheiro! esse trabalho atrai naturalmente da cidade ao povoado e do povoado ao campo! onde é mais frut?fero e alegre" 0ão era necessário organi%ar sociedade alguma! por$ue o trabalhador vai espontaneamente somar se com a sociedade de trabalhadores Eá formada" -obre a pergunta4 V+sse trabalho absorverá todo meu tempo e entorpecerá o e2erc?cio desta atividade intelectual @ $ual tenho carinho e estou acostumado e $ue! em meus momentos de presunção! Eulgo $ue não é inBtil para os outros&V a resposta $ue me dei foi a mais inesperada" # energia de minha atividade intelectual! uma ve% emancipada de todo o supérPuo! aumentou e seguia crescendo em relação @ minha energia corporal" esultou $ue! consagrando ao trabalho corporal oito horas! a$uela metade do dia $ue antes empregava em lutar penosamente contra o tédio! me restavam ainda outras oito! das $ue sA necessitava cinco para o trabalho intelectual" 1edu%i $ue se eu! escritor fecundo $ue não havia feito outra coisa $ue escrever e $uarenta anos e $ue levo escritas tre%entas folhas de impressão! tivesse me atido ao trabalho f?sico como um operário e! e2cetuando as noites de inverno e os feriados! houvesse consagrado diariamente cinco horas a ler e a estudar sem escrever mais $ue duas páginas por dia (eu escrevia @s ve%es uma folha inteira de impressão! teria escrito a$uelas tre%entas folhas em cator%e anos" + dedu%i! por Bltimo! algo $ue me admirou4 o cálculo aritmético mais simples $ue uma criança de sete anos pode fa%er e $ue eu Eamais havia feito até então" /m dia completo tem vinte e $uatro horas; damos oito horas ao descanso! e restam de%esseis" -e um trabalhador do pensamento consagra cinco a sua tarefa intelectual! $uando muito! em $ue empregará as on%e horas restantes& + resultou $ue o trabalho f?sico não e2clu?a o e2erc?cio da atividade intelectual! mas $ue aumentava sua dignidade e a estimulava" ,uanto @ pergunta4 V+ste trabalho f?sico me priva dos pra%eres inocentes $ue são naturais ao homem! como os go%os art?sticos! as a$uisiçHes da ciência! a sociedade do mundo! e em geral! as doçuras da vida&V obtive tudo ao contrário4 $uanto mais intenso era o trabalho! $uanto mais se apro2imava dos trabalhos da terra $ue são Eulgados como grosseiros! mais sens?vel era aos go%os da arte e das ciências; mais estreitas e cordiais se fa%iam minhas relaçHes com os homens! e mais gostava das doçuras da vida" M pergunta ($ue com tanta fre$uência ouvi fa%er pessoas não de todo sinceras4 V,ue resultado esperar de minha gota innitesimal de trabalho f?sico pessoal! no mar do trabalho comum ao $ual concorro&V obtive a mesma resposta satisfatAria e inesperada" esulta $ue bastou fa%er do trabalho f?sico o costume de minha vida para $ue se desprendessem de mim! sem esforço algum de minha parte! meus $ueridos costumes mentirosos e meus gostos de ociosidade e mole%a" -em falar do costume $ue fa% do dia noite e da noite dia! nem da comida! da roupa e da higiene meticulosa! imposs?veis em realidade e
$ue impedem o trabalho f?sico! a $ualidade dos alimentos e a necessidade de uma boa mesa se modicaram por completo" +m ve% dos manEares escolhidos! raros! complicados! carregados de especiarias! $ue antes tomava! me viciei nos pratos mais simples4 sopa de couves! Cacha (polenta! pão integral! e chá com um torrão de açBcar na boca" 1este modo se foram transformando pouco a pouco minhas necessidades! como conse$uência de minha vida trabalhadora! sem falar da inPuência $ue em mim e2erceram os trabalhadores comuns! gente $ue se contentava com pouco e com a $ual contra? relaçHes durante meu trabalho f?sico4 de sorte $ue minha gota dYágua pessoal no mar do trabalho comum se fa%ia cada ve% maior @ medida $ue me acostumava e assimilava os conhecimentos técnicos4 de igual modo ia diminuindo a necessidade $ue sentia do trabalho dos outros @ medida $ue meu prAprio trabalho se fa%ia mais fecundo; e minha vida se foi encaminhando sem esforços e se privaçHes para uma simplicidade tal! como não a poderia imaginar antes de cumprir com a lei do trabalho" esultou $ue as necessidades mais imperiosas de minha vida! especialmente as de vaidade e distração! a ociosidade as criava e sustentava4 com o trabalho f?sico desapareceu a vaidade e não necessitei de distraçHes! posto $ue tinha o tempo agradavelmente ocupado e resultou $ue! depois da fadiga! o simples repouso $ue desfrutava tomando chá! lendo um livro ou falando com os meus! era incomparavelmente mais agradável para mim $ue o teatro! as cartas! o concerto e a sociedade do mundo; mais agradável $ue todas essas coisas necessárias ao $ue está ocioso! e $ue tão caras custam" M pergunta4 V+sse trabalho incomum não altera a saBde $ue se necessita para servir aos homens&V resultou $ue! $uanto mais intenso era o trabalho! mais vigoroso! bom! alegre e espirituoso me sentia! contra as armaçHes redondas $ue %eram os médicos eminentes de $ue o trabalho f?sico intenso! sobretudo @ minha idade! pode causar as mais graves conse$uências e $ue eram prefer?veis a ginástica sueca! a massagem e outros procedimentos destinados a substituir as condiçHes naturais da vida do homem" 3icou provado indubitavelmente $ue! como todos esses artif?cios do esp?rito humano denominados4 periAdicos! teatros! concertos! visitas! bailes! cartHes! novelas! etc"! $ue não são mais $ue meios para sustentar a vida espiritual do homem fora das condiçHes naturais do trabalho para outro $ue são as prAprias! os artif?cios higiênicos e médicos imaginados pelo esp?rito humano para a alimentação! a bebida! o abrigo! a ventilação! a calefação! a roupa! os banhos! a massagem! a ginástica! o tratamento pela eletricidade e todo o mais! não são outra coisa $ue meios para sustentar a vida corporal do homem fora de suas condiçHes naturais de trabalho" esultou $ue todos a$ueles artif?cios do esp?rito humano para fa%er agradável a vida dos ociosos são idênticos aos $ue os homens puderam inventar para fabricar! em local hermeticamente fechado! por meio de aparatos mecânicos! de vapori%adores e de plantas! um ar melhor para a respiração! $uando bastaria para isso abrir a Eanela"
Todas as invençHes da medicina e da higiene se assemelham! em conEunto! a um ma$uinista $ue! depois de ter a$uecido bem uma caldeira de vapor! $ue não funciona! e de haverlhe fechado todas as válvulas! inventasse um meio para impedir $ue e2plodisse" +m ve% de dedicarse tanto e tão mal a organi%ar pra%eres! conforto e procedimentos médicos e higiênicos para curar os homens de suas enfermidades espirituais e corporais! sA uma coisa é necessária4 cumprir com a lei da vida e fa%er o $ue é apropriado! não somente ao homem! mas ao animal! isto é4 devolver em forma de trabalho muscular a energia recebida em forma de alimentos! ou falando em linguagem vulgar4 .anha o pão $ue comes; não comas se trabalhar! ou! segundo comes! assim trabalha" XX + $uando compreendi tudo isso! me pareceu singular" #través de uma série cont?nua de duvidas! de investigaçHes! por uma laboriosa reticação do pensamento! havia chegado a esta verdade e2traordinária4 $ue se o homem tem olhos! é para $ue veEa com eles4 $ue se tem ouvidos! é para $ue ouça4 $ue se tem pernas é para $ue ande4 $ue se tem braços e espinha dorsal articulada! é para $ue os e2ercite trabalhando; e por Bltimo! $ue se o homem não emprega seus membros no uso a $ue estão destinados! tanto pior será para ele" +u cheguei @ conclusão de $ue nos sucedeu a todos os privilegiados o $ue aconteceu aos cavalos de um amigo meu" /m de seus servidores! pouco inteligente sobre cavalos! recebeu ordem de seu amo de tra%er aos estábulos os melhores cavalos $ue encontrasse na feira4 os escolheu entre muitos4 os meteu num bom celeiro; dei2oulhes aveia e lhes deu água; mas temendo $ue alguém estragasse tão preciosos animais! não decidiu conar seu cuidado a ninguém! nem se atreveu a montálos nem a dei2ar $ue os levassem para passear" Todos os cavalos caram sobrecarregados! se encheram de be2igas e outros tumores e depois não serviram para nada" G mesmo ocorre conosco; mas com a diferença de $ue os cavalos não se pode enganar e $ue para impedir $ue saiam! há $ue prendêlos! en$uanto $ue a nAs é a mentira $ue nos acorrenta com seus funestos laços e $ue nos retém numa situação totalmente contrária @ nossa nature%a" 3orEamonos uma vida contrária @ nature%a moral e f?sica do homem e empregamos todas as forças de nossa inteligência em persuadir o homem de $ue a$uela é a verdadeira vida" Tudo isso $ue chamamos de cultura! ou seEa! ciências! artes e o aperfeiçoamento das coisas agradáveis @ vida! são outras tantas tentativas para enganar as necessidades morais do homem4 tudo isso $ue chamamos de higiene e medicina são outras tantas tentativas para enganar as necessidades f?sicas naturais da nature%a humana" *as esses enganos têm seus limites e Eá vamos nos apro2imando deles"
F -e assim é a verdadeira vida! vale mais não viver F di% a losoa reinante! a e2emplo de -chopenhauer e de artmann" F -e assim é a vida! vale mais não viver F di% o nBmero crescente de suicidas na classe privilegiada" F -e a vida é assim! vale mais não nascer F di%em os artif?cios inventados pela medicina para a destruição da fecundidade na mulher" Lêse na S?blia como lei para a humanidade4 F Tu ganharás o pão com o suor de teu rosto! e tu parirás com dor" F *as nAs mudamos tudo F como di% o e2travagante personagem de *olire! proclamando $ue o f?gado está @ es$uerda" 0As mudamos tudo4 as pessoas não necessitam trabalhar para alimentarse4 tudo se fará por meio de má$uinas! e as mulheres não devem parir" # medicina ensinará os meios para isso! e ainda haverá sobra de gente no mundo" /m muEi$ue esfarrapado vaga pelo distrito de KrapivensCi" 1urante a guerra era comprador de trigo! dependente do empreiteiro de suprimentos" +m contato com este! vivendo fácil e vida alegre! enlou$ueceu4 imaginou $ue podia viver sem trabalhar e $ue tinha entre suas mãos uma cédula do imperador" +sse muEi$ue é intitulado agora de o pr?ncipe militar seren?ssimo Slochine! fornecedor dos suprimentos de guerra de todos os Argãos! e di% de si V$ue passou por todas as graduaçHesV! e $ue! depois de servir nos Argãos militares! deve receber do imperador um banco aberto! roupas! uniformes! e$uipamentos! cavalos! criados! chá! ervilhas e toda classe de suprimentos" 'arece um verdadeiro comediante; mas! para mim! é horr?vel o signicado de sua loucura" ,uando lhe pergunta se $uer trabalhar em algo! responde sempre com arrogância4 F Gbrigado4 os aldeHes resolverão isso" ,uando lhe replicam $ue os aldeHes não $uerem fa%êlo! replica4 F # ordem não é dif?cil para os aldeHes ('ela regra geral! fala com afetação" F oEe se inventam má$uinas! F di% F para facilitar o trabalho dos aldeHes" Wá não enfrentarão diculdades" ,uando lhe pergunta para $ue vive! responde4 F 'ara vagabundear" Glho sempre este homem como $uem olha um espelho4 nele me veEo a mim mesmo e veEo toda nossa classe" 'assar por todas as graduaçHes para viver vagabundeando e receber letra aberta num banco! en$uanto $ue os aldeHes! a $uem a invenção das má$uinas elimina todas as diculdades! resolvem todos os negAcios4 tal é a fArmula da religião insensata das pessoas de nosso mundo" ,uando perguntamos o $ue devemos fa%er! não perguntamos nada4 armamos unicamente (sem ter os escrBpulos do seren?ssimo pr?ncipe Slochine! $ue passou por todas as graduaçHes e perdeu por completo a ra%ão $ue não $ueremos fa%er nada" G $ue tiver senso comum não pode di%er isso! por$ue! por uma parte! tudo $uanto consome foi produ%ido pela mão dos homens! e por outra parte! todo homem sensato! tão logo tenha se levantado da cama e tomado o desEeEum! sente a necessidade de trabalhar com as pernas! com os
braços e com o cérebro" 'ara encontrar trabalho basta $uerêlo4 $uem considera vergonhosa toda ocupação! como a senhora $ue roga a seu hAspede $ue não se incomode em abrir a porta e $ue espere $ue ela chame um criado para $ue o faça! esse é o Bnico $ue pode perguntar se4 V,ue fa%er em particular&V 0ão é indispensável inventar um trabalho! por$ue os há de sobra para si mesmo e para os outros! mas desprenderse desta opinião criminal! referente @ vida! de V$ue se come e dorme por prAprio pra%erV e assimilar esta outra com a $ual cresceu e vive o trabalhador4 V,ue o homem é! antes de tudo! uma má$uina $ue se conserva por meio do alimento; $ue é imposs?vel e vergonhoso comer sem trabalhar no estado mais perverso e mais contrário @ nature%a! e! portanto! o mais perigoso! o mais semelhante @ sodomiaV" Tenhase consciência disso! e o trabalho não faltará! e será sempre alegre e responderá @s necessidades do corpo e do esp?rito" XX) *inha nova vida e ofereceu o seguinte aspecto4 G dia está dividido pelas refeiçHes em $uatro partes! para cada homem! ou em $uatro turnos! como di%em os muEi$ues4 G primeiro! até o desEeEum4 o segundo! desde o desEeEum até o almoço; o terceiro! desde este até o lanche! e o $uarto! desde a merenda até a Eanta" # atividade do homem! $ue é para ele uma necessidade! por impulso da nature%a! se divide em $uatro gêneros4 primeiro! a atividade da força muscular! ou seEa! o trabalho das mãos! das pernas e das costas! trabalho penoso $ue fa% suar; segundo! a atividade dos dedos e dos punhos! $ue constitui a habilidade do of?cio; terceira! a atividade do esp?rito e da imaginação; e $uarta! a tendência a associarse com os outros homens! ou seEa! a sociabilidade" Também se dividem em $uatro partes os bens de $ue o homem fa% uso4 +m primeiro lugar! os produtos de um trabalho penoso! como são o pão! o gado! as casas! os poços! os reservatArios! etc"; em segundo lugar! os produtos dos diferentes of?cios! como são as roupas! as botas! as ferramentas! etc"; em terceiro lugar! os produtos da atividade intelectual! como são as ciências! as artes! etc"; e em $uarto lugar! as relaçHes estabelecidas entre os homens" 1edu%i $ue o melhor seria desenvolver diariamente as $uatro formas da atividade e desfrutar das $uatro classes de bens de $ue o homem fa% uso! de modo $ue uma parte do dia! o primeiro turno! estivesse dedicado ao trabalho penoso; o segundo! ao trabalho intelectual; o terceiro! ao de um of?cio! e o $uarto! @s relaçHes sociais" #creditei $ue sA dessa maneira se aboliria a falsa divisão do trabalho $ue reina em nossa sociedade e $ue em seu lugar se estabeleceria uma Eusta distribuição! $ue não perturbaria a felicidade do homem" +u! por e2emplo! me ocupei toda a vida no trabalho intelectual" +u me di%ia $ue dividia meu trabalho de tal sorte $ue os manuscritos originais! $uer di%er! meu trabalho do esp?rito era minha ocupação essencial! e $ue as outras ocupaçHes necessárias as encarregava (ou obrigava a fa%er a outros" *as este arranEo! $ue pareci muito cQmodo
para o trabalho intelectual! era! pelo contrário! perfeitamente incQmodo! apesar de minha inEustiça" Todo minha vida havia subordinado minhas refeiçHes! o sono e minhas distraçHes @s horas $ue dedicava @$uela tarefa essencial e fora dela nada fa%ia" 1isto resultava! em primeiro lugar! $ue restringia meu campo de observação4 com fre$uência carecia de meios de estudo; muitas ve%es me propunha descrever a vida das pessoas (obEetivo acostumado de toda atividade intelectual e reconhecia a insuciência de meu saber! vendome obrigado a instruirme e a interrogar! sobre coisas familiares! $ual$uer pessoa menos absorta $ue eu numa tarefa especial" +m segundo lugar! $ue me sentava a escrever sem sentir interiormente a menor necessidade de fa%êlo! e ninguém me pedia manuscritos originais pelo mérito $ue poderiam ter meus pensamentos! mas por minha assinatura! para o re$uerimento4 tratava de e2primir a imaginação! e @s ve%es produ%ia algo mau! e outras nada! e isto me desconsolava e entristecia" *as desde $ue reconheci a necessidade do trabalho f?sico e grosseiro e o trabalho de um of?cio! as coisas mudaram" *inhas ocupaçHes eram! sem dBvida! modestas! mas certamente Bteis! alegres e instrutivas para mim! e não as dei2ava para pegar a caneta! senão $uando sentia a necessidade de fa%êlo ou $uando me pediam verdadeiramente manuscritos originais" 1e tais demandas dependia então a ?ndole de minha obra especial! e portanto! sua utilidade" #ssim! resultava $ue a$ueles trabalhos f?sicos! necessários para mim como para todo homem! não somente não impediam minha atividade especial! mas eram a condição necessária da utilidade! bondade e pra%er da$uela atividade" # organi%ação do pássaro obedece @ necessidade $ue tem de voar! de andar! de bicar! de olhar! e $uando fa% tudo isso! se vê satisfeito e alegre! e então é um pássaro" G mesmo ocorre com o homem4 $uando anda! volta! se levanta! se senta e trabalha com os olhos! os dedos! os ouvidos! a l?ngua e o cérebro! se sente satisfeito! e unicamente então é um homem" G $ue houver reconhecido a missão $ue tem de trabalhar! se sentirá impulsionado naturalmente a essa alternativa do trabalho $ue condu% @ satisfação de suas necessidades e2teriores e interiores! e não mudará essa ordem alternada senão $uando sentir em si um impulso irresist?vel a uma tarefa e2clusiva! e2igida por suas demais ocupaçHes" > tal a essência natural do trabalho! $ue a satisfação de todas as necessidades do homem reclama essa mesma alternância das diversas formas do trabalho $ue fa% deste! não uma carga! mas um pra%er" # falsa crença de $ue o trabalho é uma maldição é a Bnica $ue pQde persuadir os homens a e2imirse dele em suas diferentes formas! $uer di%er! a usurpar o trabalho dos outros! por$ue o trabalho especial de uns impHes aos outros uma ocupação forçada! e isso é o $ue tem sido chamado de divisão do trabalho"
XX)) +stamos tão acostumados a nosso falso ponto de vista a respeito da organi%ação do trabalho! $ue nos parece $ue seria melhor para o sapateiro! o mecânico! o escritor ou o mBsico verse livre do trabalho prAprio do homem; mas onde são se e2erça violência sobre o trabalho alheio! onde se apague a falsa crença nas del?cias da ociosidade! nem um se$uer negará o ombro ao trabalho f?sico necessário @ satisfação de suas necessidades! por$ue essa tarefa especial não é um pra%er! mas um sacrif?cio $ue o homem se impHe em prA de sua vocação e de seus semelhantes" G sapateiro do povoado! se abandona o habitual e alegre trabalho da terra pelo de fabricar ou remendar o calçado de seus vi%inhos! é unicamente por$ue ele gosta de costurar4 sabe $ue ninguém pode fa%êlo melhor $ue ele e $ue seus vi%inhos o agradecem; mas! não obstante! não pode sentir o deseEo de renunciar para toda sua vida @ alegre alternativa do trabalho" G mesmo sucede ao estaroste! ao mecânico! ao escritor e ao sábio" 0As somos os $ue! com nossas ideias desnaturali%adas! imaginamos $ue! se o contador é enviado para ser muEi$ue e $ue se um ministro é deportado @ -ibéria! se está causandolhes um preEu?%o! $uando em realidade o $ue se fa% é enchêlos de benef?cios! por$ue os fa% dei2ar um trabalho penoso! especial! e tomar a alegre alternativa do trabalho" 0uma sociedade natural! as coisas ocorrem de outro modo" =onheço um mir< onde os aldeHes não necessitam de ninguém" # um dos habitantes do mir! mais instru?do $ue outros! lhe pediam $ue lesse @s noites! para o $ue se preparavam durante o dia" +le condescendia voluntariamente! mas se fatigou com a$uele trabalho e2clusivamente intelectual e cou doente4 os habitantes do mir se compadeceram dele e rogaramlhe $ue fosse trabalhar no campo" +mbora se considere o trabalho como a medula e a alegria da vida! no fundo! a base da vida será sempre a luta contra a nature%a! $uer di%er! o trabalho dos campos! o trabalho dos of?cios! o trabalho intelectual e as relaçHes sociais" Wá não se verá a derrogação de uma ou de várias formas deste trabalho! nem de trabalho especial! mas $ue no caso em $ue o homem $ue fa% um trabalho especial! afeiçoado a ele e sabendo $ue o fa% melhor $ue os demais! se sacri$ue pela satisfação imediata de necessidades $ue lhe forem e2postas devidamente" /nicamente essa ou parecida noção do trabalho e a natural distribuição do mesmo $ue dela se deriva! destroem o anátema $ue nossa imaginação fa% pesar sobre ele; e todo trabalho se converte em alegria por$ue o homem! ou reali%ará uma tarefa indubitavelmente Btil e alegre e de nenhum modo fatigante! ou terá a consciência de $ue se sacrica numa tarefa e2clusiva e mais dif?cil! mas Btil para a felicidade dos outros" F *as a divisão do trabalho é mais vantaEosa" F 'or $ue é mais vantaEosa& F > mais em conta fa%er sapatos e tecer algodão! tão rápido e tanto como for poss?vel" F *as $uem fará esses sapatos e
tecerá esse algodão& Gs $ue de geração em geração não fa%em mais $ue alnetes" =omo pode chamar isso de vantagens aos homens& -e se trata de fabricar alnetes e algodHes! tudo bem; mas do $ue se trata é dos homens! de sua felicidade! e a felicidade dos homens está na vidam e a vida é o trabalho" + como pode chamar de vantagem aos homens a necessidade de um trabalho doloroso e forte& /ma sA coisa há $ue tenha para eles mais vantagem! a mesma $ue deseEo para mim4 alguma felicidade e a satisfação de todas estas necessidades f?sicas e espirituais! destas aspiraçHes da consciência e da ra%ão $ue são inatas em mim" + eis a$ui $ue cheguei a convencerme de $ue! para a satisfação de minhas necessidades! não tinha $ue fa%er mais $ue curarme da loucura em $ue vivia antes com o louco de KrapivensCi! dessa loucura $ue consiste em crer $ue alguns escapam @ necessidade do trabalho e $ue Voutros resolverão tudoV; e $ue para curarme! não tinha $ue fa%er mais $ue o $ue é prAprio do homem! $uer di%er! trabalhar satisfa%endo as necessidades da prApria nature%a" + ao convencerme disso! me convenci também de $ue o trabalho! assim compreendido! se divide por si mesmo em diferentes partes! das $uais cada uma tem seu encanto! e $ue! longe de oprimirnos! nos descansam uma da outra" +u dividi aleatoriamente! e sem ânimo de defender a propriedade e a Eustiça dessa divisão! o trabalho segundo as necessidades $ue tenho na vida! em $uatro partes! correspondentes aos $uatro turnos de $ue se compHe a Eornada! procurando satisfa%er tais necessidades! e eis a$ui as respostas $ue me dei @ pergunta V,ue fa%er&V4 8`" F 0ão me mentir a mim mesmo! por mais desobediente e separada $ue esteEa minha vida do verdadeiro caminho $ue a ra%ão abre a meus olhos" 6`" F 1ei2ar de crer na legitimidade de minha vida! em minha superioridade e em $ue sou diferente dos demais homens! e reconhecer e confessar $ue sou culpado" 9`" F =umprir a lei eterna e indubitável do homem pelo trabalho de todo meu ser! sem envergonharme Eamais por nenhuma classe de trabalho! e lutar contra a nature%a para assegurar minha vida e a dos outros"
-obre o trabalho e o lu2o ) #cabei Eá com o $ue pessoalmente me corresponde; mas não posso resistir ao deseEo de acrescentar algumas palavras aplicáveis a todo o mundo! e de comprovar! por meio de consideraçHes gerais! as conclusHes particulares a $ue cheguei" ,uero di%er por $uê me parece $ue muitos de nossa esfera social devem vir aonde eu vim e o $ue ocorreria se viessem! ainda $ue fosse em pe$ueno nBmero"
=reio $ue muitos virão aonde eu vim! por$ue se as pessoas de nosso c?rculo! de nossa casta! e2aminaremse seriamente! os Eovens $ue vão atrás de sua felicidade pessoal se estremecerão de medo ante a desgraça de sua vida! desgraça $ue é crescente e $ue os leva a sua perdição; os conscienciosos tremerão ante a dure%a e a ilegitimidade de sua vida! e os t?midos retrocederão ante o risco da sua" # desgraça de nossa vida" F > inBtil $ue nAs! os ricos! corriEamos e sustentemos com nossa ciência e com nossa arte nossa vida mentirosa4 esta vida se debilita mais cada ano e se fa% mais doentia e mais dolorosa4 cada ano é maior o nBmero de suicidas e o das mulheres $ue resistem a conceber4 sentimos! de ano em ano! crescer o peso angustioso de nossa e2istência! e de geração em geração vão enfra$uecendose mais as pessoas de nossa classe" > evidente $ue a salvação não pode residir nessa multiplicação de comodidades e de doçuras da vida! nem nos tratamentos de toda classe! nem nos artif?cios imaginados para o aperfeiçoamento da vista! do ouvido! do apetite! das dentaduras postiças! dos cabelos! da respiração! das massagens! etc" > indubitável $ue as pessoas $ue não usam esses procedimentos aperfeiçoados estão mais robustas e go%am de melhor saBde! e a trivialidade chegou a tal ponto! $ue nos periAdicos publicamse anBncios sobre os pAs estomacais para o uso dos ricos! com o t?tulo de Slessings for the poor (a Senção dos pobres! nos $uais se di% $ue unicamente os pobres fa% uma digestão regular; mas $ue os ricos necessitam de digestivos! em cuEo nBmero se encontram tais pAs" 0ão é poss?vel corrigir o mal por meio de distraçHes! comodidades nem pAs4 o Bnico remédio $ue há para corrigilo é mudar de vida" # discordância de nossa vida com nossa consciência" F 'or mais $ue tentemos Eusticar aos nossos prAprios olhos nossa traição para com a linhagem humana! nossas pretensHes de Eusticação caem feito pA ante a evidência" #s pessoas morrem ao nosso redor! sobrecarregadas por um trabalho superior a suas forças e pela carga esmagadora da miséria4 destru?mos o trabalho alheio! e o alimento e a roupa $ue lhes são necessários! com o Bnico m de encontrar distraçHes e variedade para dissipar o tédio de nossa vida" 'or isso! embora seEa pouca a consciência $ue reste ao homem de nossa casta! esse resto de consciência não pode adormecerse! e envenena todas essas comodidades! todas essas doçuras $ue nos fornecem nossos irmãos doloridos e sobrecarregados de trabalho" Todo homem de consciência sente isso! e se alegraria de es$uecêlo; mas não pode" # nova e efêmera retaliação da ciência pela ciência e da arte pela arte não resiste @ lu% do bomsenso" # consciência dos homens não pode tran$uili%arse com invençHes novas! senão por uma vida nova na $ual não haEa nem necessidade nem ocasião de Eusticarse" 1uas ra%Hes demonstram aos homens $ue pertencem @s classes ricas a necessidade de mudar de vida4 o cuidado de sua felicidade pessoal e da de seus semelhantes! não asseguradas no caminho pelo $ual vão! e a obrigação de satisfa%er a vo% da consciência $ue lhes é imposs?vel cumprir com sua e2istência atual" +stas ra%Hes unidas
devem impulsionar as pessoas das classes ricas a mudar sua vida de modo $ue assegurem sua felicidade e satisfaçam sua consciência" + para vericar essa mudança! não há mais $ue um caminho4 dei2ar de mentir! humilharse e proclamar o trabalho! não como a maldição! mas como a alegria da vida" F *as $uando eu dedicar de%! oito! cinco horas a um trabalho f?sico $ue fariam de bom grado milhares de muEi$ues para ter o dinheiro $ue eu tenho! $ue resultará disso& F me perguntam" G primeiro! simples e incontestável resultado será $ue carás mais alegre; $ue terás melhor saBde; $ue se sentirás melhor e $ue aprenderás a conhecer a verdadeira vida $ue te ocultavas a ti mesmo ou $ue desconhecias" G segundo! $ue se tens consciência! não sofrerá como sofres no presente vendo o trabalho dos homens! cuEa importância e2ageramos ou diminu?mos sempre; $ue estarás contente por cumprir melhor cada dia com as obrigaçHes de tua consciência! e com sair dessa horr?vel situação na $ue o mal se acumula em nossa vida até tal ponto! $ue é imposs?vel fa%er bem aos homens; $ue saborearás a felicidade de viver livremente e de poder fa%er o bem! e $ue abrirás a Eanela e amanhecerás nos dom?nios do mundo moral! antes vedado para ti" )) *as nos di%em; F 'ara $ue essas manias tratandose de nAs& 'ara $ue essas perguntas profundas! losAcas! cient?cas! pol?ticas! art?sticas! religiosas e sociais! para nAs senadores! ministros! acadêmicos! professores e artistas! cuEo tempo é precioso! segundo o mundo& 'ara $ue fa%ermos perder tempo com essas manias& 'ara $ue fa%er $ue nos limpemos as botas; $ue nos lavemos as camisas; $ue cavemos a terra; $ue plantemos batatas; $ue demos de comer @s aves e ao gado! etc"! coisas $ue em nosso lugar fa%em com gosto o porteiro! o co%inheiro e milhares de pessoas $ue valori%am o tempo de $ue nAs dispomos& + por $ue! então! nos vestimos! nos lavamos e nos penteamos& 'or $ue pu2amos as cadeiras para as senhoras e aos cavalheiros $ue nos visitam! e abrimos e fechamos a porta! e aEudamos a subir na carruagem e fa%emos muitas outras coisas semelhantes $ue em outro tempo sA fa%iam nossos escravos& 'ois as fa%emos! por$ue consideramos $ue assim deve de ser e $ue nisso reside a dignidade humana! $uer di%er! o dever do homem" + o mesmo sucede com o trabalho f?sico" # dignidade do homem! o dever mais sagrado deste é o de empregar as pernas e os braços! $ue lhe foram dados! no uso para $ue foram criados! e o dedicarse a produ%ir os alimentos com $ue se nutre! sem dei2ar $ue suas mãos se atroem! limitandose a laválas! cuidálas e fa%er $ue levem @ boca! unicamente! os alimentos! a bebida e os cigarros" Tal é o sentido do trabalho f?sico para o homem em toda sociedade; mas em nossa sociedade! na $ual a derrogação desta lei natural se converteu na desgraça de uma classe inteira! o trabalho f?sico toma um signicado
mais4 o de uma pregação e o de uma atividade capa%es de afastar as calamidades $ue ameaçam a linhagem humana" )sso de di%er $ue não tem importância alguma o trabalho f?sico para o homem instru?do é como di%er! tratandose da construção de um monumento4 F ,ue importância tem colocar uma pedra em seu lugar! precisamente& *as todo assunto de importância se reali%a como coisa corrente! sem ostentação! com simplicidade4 não se lavra a terra nem se leva a pastar o gado com batidas de tambor nem tilintar de sinos" Gs grandes! os verdadeiros negAcios sempre revestem simplicidade e modéstia" G assunto de mais importância $ue solicita nossa atenção é a resolução dessas terr?veis contradiçHes em meio das $uais vivemos! e os meios $ue resolvem essas contradiçHes são modestos! impercept?veis! e ao parecer! rid?culos4 servirse a si mesmo; trabalhar corporalmente para si e! se puder! para os outros4 eis a$ui os meios $ue se nos oferecem! a nAs ricos! se compreendemos a desgraça! a ilegitimidade e o perigo desta situação em $ue ca?mos" F + $uanto a mim! e a outro e a um terceiro! e a um décimo $ue não repugnamos o trabalho f?sico! por considerálo necessário @ felicidade e @ tran$uilidade de nossa consciência! $ue nos sucederá& -upondo $ue haEa um! ou dois! ou três! ou de% $ue! sem disputar com ninguém! sem entravar o governo! sem violência revolucionária! resolvem por si mesmos a terr?vel $uestão por todos levantada e $ue divide as opiniHes! e $ue a resolvam de maneira tal! $ue se tran$uili%e sua consciência e $ue nada tenham $ue temer! em tal caso! resultará $ue os outros homens verão $ue a felicidade $ue por todas partes buscam está perto deles; $ue as contradiçHes $ue parecem insolBveis! entre a consciência e a organi%ação da sociedade! se resolvem da maneira mais fácil e mais satisfatAria! e $ue em ve% de temer @s pessoas $ue nos rodeiam! devemos apro2imarnos mais a elas! e amálas" +sta $uestão econQmica e social $ue parece insolBvel se parece ao cofre do célebre fabulista Krilov" G compartimento se abre com facilidade; mas não com tanta facilidade $ue não e2iEa para isso a coisa mais simples! e é $ue o abram" ))) G homem ordena sua prApria biblioteca! sua prApria galeria de $uadros! seu prAprio apartamento! suas roupas prAprias! e ad$uire em propriedade o dinheiro para comprar tudo $uanto necessita! e @ força de ocuparse nesta propriedade imaginária como se fosse verdadeira! acaba por perder absolutamente a consciência do $ue lhe pertence em verdadeira propriedade! da$uilo sobre o $ue pode e2ercer sua atividade! da$uilo $ue pode usar e $ue permanece sempre em poder seu! e do $ue não lhe pertence; $ue não pode ser propriedade sua! dêlhe o nome $ue $uiser! e $ue não pode ser obEeto de sua atividade"
#s palavras têm sempre um sentido claro desde $ue não lhes demos intencionalmente um duplo sentido" ,ue é a propriedade& # propriedade signica o $ue me pertence a mim apenas! e2clusivamente; a$uilo de $ue posso dispor sempre como eu $uiser; o $ue ninguém pode tomarme Eamais; o $ue permanece sempre meu até o m de minha vida; o $ue devo empregar! acrescer e melhorar" #ssim! pois! esta propriedade é de cada homem! dele mesmo! e e2clusivamente sua" *as $uando uma de%ena de homens lavra a terra! derruba um bos$ue e fabrica botas! não por necessidade! mas por convicção de $ue o homem deve trabalhar e de $ue $uanto mais trabalhe se encontrará melhor! o $ue resulta& esultará $ue bastam esses de% como basta um sA! para demonstrar aos homens! em fato e em princ?pio! $ue esse terr?vel mal de $ue padecem não é conse$uência de uma lei do destino nem da vontade de 1eus! nem de nenhuma necessidade histArica! mas de uma superstição de nenhum modo formidável nem terr?vel! de uma superstição sem força e sem fundamento na $ual basta não crer para verse livre dela e para varrêla como uma teia de aranha" ,uem se dedicar a trabalhar para cumprir com a lei satisfatAria de sua vida! $uer di%er! $uem trabalha para satisfa%er a lei do trabalho! se verá livre da$uela superstição $ue se chama a propriedade imaginária" -e o trabalho completa a vida do homem! e se este conhece os pra%eres do descanso! não tem necessidade de salHes! de mAveis! de roupas elegantes e variadas! de alimentos caros! de meios de transporte! nem de distraçHes" *as! sobretudo! o homem $ue considerar o trabalho como o obEetivo e a alegria de sua vida não buscará o al?vio de seu trabalho no trabalho dos outros" G homem $ue cifrar sua vida no trabalho proporseá um afa%er maior! $ue complete mais sua vida! @ medida $ue vá ad$uirindo mais agilidade! mais destre%a! e se vá endurecendo mais" 'ara $uem cifrar sua vida no trabalho e não em seus resultados! lhe será indiferente a $uestão de instrumentos para a a$uisição da propriedade" -em dei2ar de escolher os mais produtivos! go%ará das mesmas satisfaçHes de trabalho e de repouso! embora trabalhe com os instrumentos mais imperfeitos ou improdutivos" -e tem um arado @ vapor! se servirá dele4 se não o tem! fará uso de uma parelha! e se lhe falta também esta! cavará a terra com uma en2ada! e em $ual$uer dos três casos reali%ará seu obEetivo de consagrar sua e2istência a uma tarefa Btil aos homens! e desfrutará disso" + a situação do $ue assim proceder! tanto pelas condiçHes e2teriores como pelas condiçHes interiores de sua vida! será mais feli% $ue a de um homem $ue cifrar sua vida na a$uisição da propriedade" 'or suas condiçHes e2teriores nunca se verá necessitado! por$ue! ao verem as pessoas seu deseEo de trabalhar! tratarão de fa%er o mais produtivo $ue for poss?vel seu trabalho! e assegurarão sua e2istência material! coisa $ue não fa%em em favor dos $ue perseguem a propriedade; e tudo o $ue o homem necessita é ter sua e2istência material assegurada"
'or suas condiçHes interiores! tal homem será sempre mais feli% $ue o $ue persegue a propriedade! por$ue este não obterá nunca tanto $uanto deseEa! en$uanto $ue ele! e na medida de suas forças! encontrese fraco! velho ou moribundo! en$uanto respirar! obterá! com satisfação completa! a estima e a simpatia dos homens" )I +is a$ui o $ue resultará de $ue alguns seres originais! de $ue alguns loucos lavrem! consertem as botas! etc" em ve% de fumar! de Eogar! de viaEar e de arrastar o tédio durante as de% horas $ue ao trabalhador intelectual cam livres num dia" esultará $ue esses loucos demonstrarão com seu e2emplo $ue a$uela propriedade imaginária em perseguição da $ual os homens padecem e se atormentam e atormentam aos outros não é necessária @ felicidade humana! mas $ue a impede! e $ue não é mais $ue uma superstição; $ue a propriedade Bnica! a verdadeira propriedade! reside na cabeça! nos braços e nas pernas; $ue para e2plorar de um modo Btil! efetivo e agradável esta verdadeira propriedade! é necessário repudiar a falsa noção da propriedade levada para além de nosso corpo! e pela $ual perdemos as melhores forças de nossa vida" esultará $ue a$ueles loucos demonstrarão $ue $uando o homem dei2ar de crer na propriedade imaginária! e sA então! cultivará sua propriedade verdadeira! seu corpo e seu esp?rito! e a cultivará de modo $ue lhe dê frutos centuplicados e uma felicidade de $ue não temos ideia; $ue unicamente então o homem chegará a ser Btil! vigorosos! bom e capa% de reporse de $ual$uer fracasso; $ue em todas as partes! e para todos! será sempre um irmão $uerido! necessário e acess?vel" + as pessoas! ao ver um! ou dois! ou de% destes loucos! compreenderão o $ue devem reali%ar para desfa%er esse terr?vel nA $ue lhes dei2ou a superstição da propriedade! e para safarse da miserável situação em $ue gemem todos em un?ssono! sem poder prever a sa?da" F *as $ue fará um sA homem ante a multidão discordante& 0ão há racioc?nio $ue demonstre melhor o erro dos $ue o fa%em" Gs sirgadores: pu2am o barco rio acima! e não é poss?vel encontrar um sA sirgador $ue seEa tão estBpido $ue se negue a pu2ar o o! argumentando $ue não tem força suciente para arrastar ele sA a barca contra a corrente" ,uem reconhece por cima de todos seus direitos a vida animal! como o comer e o dormir! um dever humano! sabe perfeitamente em $ue consiste esse dever! como o sabe o sirgador $ue pu2a o cabo4 este sabe $ue não tem $ue fa%er mais $ue pu2ar e seguir na direção $ue se lhe indicou" Wá verá o $ue tem $ue fa%er! e como tem $ue fa%êlo! $uando houver soltado o cabo" G $ue sucede com o sirgador e com todos os $ue estão unidos em um trabalho comum! sucede também no grande negAcio da totalidade do gênero humano" 0inguém deve soltar o cabo! mas pu2ar todos na direção indicada pelo mestre" 'or isso se deu a todos a mesma ra%ão! para $ue essa direção seEa sempre a mesma; e essa direção se encontra tão vis?vel e indubitavelmente indicada! o mesmo na vida
inteira das pessoas $ue nos rodeiam! $ue na consciência de cada um e em todas as manifestaçHes da sabedoria humana! $ue unicamente não a vê $uem não $uer trabalhar" F ,ue restará! pois! de tudo isso& F ,ue um ou dois homens pu2arão; $ue! ao vêlos! se lhes unirá um terceiro; $ue logo seguirão os melhores! até $ue o assunto se ponha em movimento e marche francamente! incitando e decidindo pu2ar também @$ueles $ue não compreenderem o $ue se fa% nem por $ue se fa%" #os $ue trabalharem com o propAsito deliberado de cumprir a lei divina! se lhes unirão desde logo os $ue houverem adotado os mesmos sentimentos! metade por propAsito deliberado! metade por conança4 logo se lhes unirá um nBmero mais crescido de pessoas $ue os houverem adotado unicamente pela fé $ue lhes inspiram os mais avançados! e por Bltimo! a maioria das pessoas! e sucederá então $ue os homens dei2arão de perderse e encontrarão a felicidade" I )sso sucederá logo! $uando as pessoas de nosso c?rculo! e a seu e2emplo a maioria dos homens! dei2arem de considerar $ue é vergonhoso fa%er uma visita com botas @ russa! e não achar $ue o seEa usar chinelos diante de pessoas $ue não têm espécie alguma de calçado; $uando dei2arem de crer $ue é vergonhoso não conhecer o francês e não saber a Bltima not?cia! e acham $ue o seEa comer pão sem saber como se fa%; $ue é vergonhoso não usar camisa passada a ferro nem roupas limpas! e o seEa usálos limpos por efeito da ociosidade; $ue é vergonhoso estar com as mãos suEas! e não creia $ue o é estar com elas limpas de calos" + tudo isso sucederá $uando a opinião solicitar4 e a opinião pBblica o solicitará $uando da imaginação dos homens desaparecerem os sosmas $ue disfarçam a verdade" ecordo $ue se reali%aram grandes mudanças neste sentido! e $ue essas mudanças se reali%aram pela mudança operada na opinião pBblica" ecordo $ue era uma vergonha para os ricos não sair em carruagem pu2ada por $uatro cavalos e com dois lacaios; $ue o era não dei2arse lavar! vestir e calçar por um valete ou por uma criada! e eis a$ui $ue no presente! e de repente! se tornou vergonhoso não vestirse e calçarse a si mesmo e sair com lacaios no carro" Todas essas mudanças se reali%aram pela opinião pBblica" + acaso não são bem evidentes as mudanças $ue essa mesma opinião está preparando hoEe& Levou apenas vinte e cinco anos para $ue o sosma $ue Eusticava a escravidão desaparecesse! para $ue mudasse a opinião pBblica4 bastará $ue desapareça o sosma $ue Eustica o poder do ouro sobre os homens para $ue a opinião pBblica mude sobre o $ue é digno dela e o $ue é vergonhoso! e a mudança de opinião produ%irá a mudança de vida"