FICHAMENTO VILAR, Pierre. A transição do feudalismo ao capitalismo. Rio de Janeiro: Eldorado, 1974, p. 3952. (pág. 39) “A passagem qualitativa da sociedade feudal à sociedade capitalista não deve ser
colocada de uma maneira acabada (existem variações segundo os diversos países); mas não deixa de ser útil assinalar desde seu aparecimento os fatores que preparam, desde longo tempo, essa mudança de natureza. Temos de imediato que todo to do elemento contrário ao princípio do modo de produção feudal prepara sua destruição”. - Para Pierre Vilar, a transição do feudalismo para o capitalismo não se deu de modo instantâneo. Houve um período logo e divididos em várias etapas. Todos os processos de cunho contrário ao modo de produção feudal, como terra limitada para cada pessoa, ajudam a destruir esse modelo. (pág. 39) “As trocas exteriores perturbam este circuito, a circulação monetária desenvolve -se,
a propriedade feudal, os homens livres (ricos ou pobres) são cada vez mais numerosos que aqueles ainda vinculados às relações feudais, a cidade adquire uma grande importância ao lado dos campos, constituem-se fortunas mobiliárias, os impostos do Estado vêm competir com os tributos senhoriais: todos estes atos são ameaças à pureza do regime feudal e preparam sua desagregação”. - As trocas entre países, o uso da moeda se desenvolvendo, aumento da propriedade absoluta,crescimento das cidades, dentre outros, estremeceram o regime feudal ocasionando o seu fim. (pág. 40) “Mas estes esboços isolados retrocedem em seguida, e não podemos falar de
verdadeira passagem ao capitalismo senão quando regiões suficientemente extensas vivem sob um regime social completamente novo. A passagem somente é decisiva quando as revoluções políticas sancionam juridicamente as mudanças de estrutura, e quando novas classes dominam o Estado. Por isso a evolução dura vários séculos”.
- Segundo Vilar, não se pode falar de uma passagem para o capitalismo se apenas algumas áreas estão de acordo com as características desse modo. Só pode falar de tal mudança quando grandes regiões adotam a transformação e são corroboradas por sanções jurídicas de mudança de estrutura. Por isso a demora a mudança de fato. (pág. 41) “Somente a partir do século XI é que se generalizou o grande comércio. Sua
penetração combinou-se com o crescimento da produção local destinada ao mercado, com a progressiva substituição das oficinas confiadas aos servos na reserva senhorial para a fabricação de objetos de uso corrente pelas oficinas urbanas”.
- Dá-se início a partir do século XI, de fato, o aumento do comércio. A produção local com objetivo comercial. (pág. 42) “As grandes burguesias enriquecidas vivem daí em diante de rendas, ou compram
terras feudais; imitam os grandes senhores. São elas que sustentam sempre os senhores quando se produzem as guerras camponesas”. - A formação de uma nova classefinanceira, que até empresta dinheiro a juros, surge e percebe-se a mudança do foco monetário. A figura dos comerciantes aparecerem como nova potência econômica e evidencia o enraizamento de uma nova política estrutural.
(pág. 42) “Foi precisamente ao longo da crise geral do feudalismo (com relação a ela, sem dúvida) que numerosas invenções vieram modificar o nível das forças de produção”. (pág. 43) “Observamos que, pela primeira vez, téc nicas de comunicação ultrapassaram a
técnica agrícola. É o começo de um processo que colocará a indústria no primeiro plano do progresso”.
- Novas técnicas foram desenvolvidas para ajudar nas produções. Com isso, a indústria passa a ser mais rentável que o campo. Logo, as populações migram para a cidade. (pág. 43) “Este impulso interno foi finalmente interrompido, a partir dos últimos anos do século XV, por uma injeção de riqueza exterior devido à expansão marítima e colonial”.
- A expansão marítima ganhou impulso nesse período, a era dos descobrimentos impulsionou riquezas e novas possiblidades de comércio. (pág. 44) “Marx demonstrou magistralmente que, se o capital se reproduz e se acumula
somente pelo livre jogo das forças econômicas, foi preciso, entretanto, que sua acumulação primitiva se fizesse graças à crise, às violências, aos desequilíbrios, aos açambarcamentos e às usuras que marcaram o fim do regime feudal e a expansão dos europeus através do mundo”. (pág. 44) “Expropriação-proletarização: são os dois termos da ‘acumulaçãoprimitiva’ no estado
puro, a perfeita separação, mediante a violência legalizada, do produtor com seus meios de produção”. (pág. 46) “... desde o tempo de Elizabeth, uma das grandes fontes de enriquecimento da corte
real inglesa fora a pirataria, a pilhagem direta dos carregamentos espanhóis”. - O acúmulo de capital se deu por três fatores principalmente: expropriação agrária, proletarização das massas rurais, exploração colonial e saques. A violência legalizada, os saques às riquezas das terras aonde o “descobrimento” chegou enriqueceram os co fres europeus. (pág. 46) “... uma chegada em massa de ouro, e, sobretudo de prata: isto desencadeia uma ‘revolução de preços’; o preço dos produtos europeus sobe, por vezes, numa propo rção de 1 a
4. Como os salários sobem muito menos, produz-se uma inflação de lucros e o primeiro grande episódio de criação capitalista”. (pág. 47) “... deste modo, vemos que a intensidade da acumulação monetária na Europa,
condição para a instalação do capitalismo, dependeu do grau de exploração do trabalhador americano. Isto não vale somente para as minas”.
- A exploração das terras para recolhimento de ouro e prata causa um aumento grande dos preços dos produtos europeus. O preço dos metais diminui, mas aumentam os dos produtos. Contudo, o preço dos salários não aumenta com a mesma proporção. (pág.50) “O país mais característico desta fase é a Inglaterra de finais do século XVII. A evolução que sofreu desde o século XV – concentração da propriedadeagrária, proletarização
da mão-de-obra, atividade marítima colonial – permitiu-lhe superar definitivamente os países dos primeiros descobrimentos – Espanha e Portugal, paralisados pelo excessivo afluxo de
dinheiro e parasitismo das rendas”.
- O país que mais serve de exemplo para tais transformações, datadas no século XVII estendendo suas modificações ao século XVIII, é a Inglaterra. Priorizaram as mudanças na área industrial, organizando seus meios de produção e dividindo o trabalho. (pág. 50) “... a produção industrial em massa será a fonte essencial do capital, pela distância
estabelecida entre o valor produzido pelo operário e o valor que lhe é restituído sob a forma de salário por aqueles que dispõem dos novos meios de produção”.
- A manufatura será substituída pela maquinofatura, aumentando os resultados e diminuindo os gastos. A relação entre patrão e empregado modifica-se. (pág. 52) “... um regime social não está constituído exclusivamente por seus fundamentos
econômicos. A cada modo de produção corresponde não somente um sistema de relações de produção, como também um sistema de direito, de instituições e de formas de pensamento”.
- Não se pode deter aos aspectos econômicos para ter como referencial nas mudanças ocorridas com todo esse processo de transição do modo feudal para o capital. Há também relações de produção e toda a conjuntura estrutural dos mesmos. Seus direitos e deveres e formas de análise alterando todo um regime social e sua forma de pensar e agir.